Há quase um ano atrás, coloquei "encontra o amor" em minhas resoluções de Ano Novo, bem ao lado de "ser saudável", "visitar minha tia-avó todas as semanas", "atualizar meu livro de feitiços" e outras coisas. Falhei em realizar grande parte do que planejei ­­— o único legume que lembro de ter comido foi batata, e estava frita —, mas tive sucesso em ser amada e amar de volta. E sem usar magia para isso.

Descobri coisas sobre o Amor durante esse período. A primeira delas é que ele gosta de pregar peças: distanciar-se quando deveria estar por perto, levar as pessoas até becos sem saídas e pisar no meu calcanhar de propósito só para ver minha cara brava após quase cair na rua de paralelepípedos. A outra revelação, que se completa com a primeira, é que o amor muda de forma. Ás vezes, literalmente.

E por fim, ele gosta de carros antigos. Nós concordamos sobre a liberdade que trás e odiamos as práticas ultrapassadas de bruxaria que tentam manter na sociedade contemporânea — isso significa que não entendemos o porquê do uso de vassouras para locomoção atualmente. O ponto em que estou tentando chegar é que meu amor e eu vamos sair hoje.

Ajeito os óculos redondos e a gola alta da blusa, para que não me sufoque e ainda assim deixe meu pescoço quentinho. Quando eu sento na minha cama, a olhar para a decoração sem pensar em nada porque estou ocupada demais tentando não surtar de ansiedade, sinto-me como uma adolescente apaixonada. E eu estou perdidamente apaixonada feito uma adolescente.

Ouço o ronco do motor e logo em seguida a buzina, e, de repente, já estou no carro, bem ao lado do amor. Hoje, é uma bela mulher de cabelos violetas e orelhas furadas. Sua aparência muda, mas o olhar cintilante e brincalhão são sempre os mesmos.

—Boa noite, Meg.

—Boa noite, meu amor.

—Vem cá, deixa eu limpar esse óculos.

Amor puxa a barra da blusa por debaixo da jaqueta e desliza sobre as lentes. Dá-me bronca por não cuidar direito da minha visão, diz que o sebo cria uma camada que me impede de ver direito. Está exagerando porque se preocupa comigo. Ao terminar, liga o veículo e parte comigo para nosso lugar favorito: o topo da colina ao norte da cidade.

Amo observar suas mãos no volante, os dedos batucando ao ritmo da música. O caminho até a colina é variado: vai da pequena movimentação da cidade — mesmo em véspera de Ano Novo — à completa calmaria da floresta; aí o terreno vai se elevando e as árvores vão sumindo, mas continuamos seguindo de carro até o ponto mais alto. E ao chegar lá, é como se eu e meu amor estivéssemos no meu paraíso particular.

Pulo para fora do carro e encosto no capô para dar uma bela olhada na cidade, minúscula se observada daquela altura, com as luzes acesas das residências formando um mar a cintilar. Senta ao meu lado, puxando-me para mais perto pela cintura.

—Já fez sua lista de resoluções para o próximo ano, Meg?

—Mais ou menos, — digo ao buscar o pedaço de papel nos bolsos da minha jaqueta — eu só copiei os itens da antiga lista, então é bem estúpido.

—Posso ver?

—Claro, mas você me conhece, eu sou uma procrastinadora que nunca vai fazer que estiver escrito aí.

—Você encontrou o Amor.

—Literalmente.

—Você pode colocar "Manter o Amor" na sua lista. Tenho certeza que vai cumprir isso.

Amor dá uma risada gostosa.

—Você é uma graça, mas tem um ego enorme, não é?

E, sem notar, já é meia noite e um novo ano se inicia. Os fogos de artifício começam tímidos, mas agora invadem o céu noturno com seus tons claros de azul e intensos de vermelho. Então Amor segura meus rosto, trazendo-o para mais perto de si.

—Se você me beijar durante os fogos, vai ser a coisa mais clichê do mundo inteirinho.

—Tudo bem, eu posso esperar.

Antes que se afaste, prendo suas mãos onde estão com as minhas.

—Eu acho que não ligo de ser clichê.

***

Lista de Resoluções (da Meg)

Ser saudável

Visitar minha tia-avó todas as semanas

Atualizar o livro de feitiços

Descobrir como derreter pedras lunares na panela de pressão (APOSENTAR O CALDEIRÃO)

Guardar dinheiro

Manter o Amor