Christmas Week - Olicity Version escrita por Ciin Smoak, MylleC, Thaís Romes, Megan Queen, Natty Lightwood, Overwatch


Capítulo 7
You're my always - MylleC


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Boa noite, que saudades que eu estava de postar pra vocês.
Primeiramente é claro que eu gostaria de agradecer á Ciin por ter me convidado, eu não esperava, e fiquei muito feliz e é claro que foi uma honra e muito gostoso fazer parte desse projeto, fazia já algum tempo que eu não postava nada do nosso casal e esse foi uma ótima oportunidade para voltar.
Infelizmente hoje é o ultimo dia e todas nós agradecemos a todo mundo que leu, comentou e se divertiu tanto quanto nós a cada capitulo e eu não poderia deixar de agradecer em especial a “Aninha” que foi a primeira a recomendar o projeto e nós ficamos absurdamente felizes e gratas, obrigada amor.
Sem mais delongas, espero que gostem da One. Boa Leitura!



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Há uma casa construída de pedras

Com chão de madeira, paredes e peitoril de janelas

Mesas e cadeiras cobertas todas de poeira

Esse é um lugar em que não me sinto sozinho 

Esse é um lugar onde me sinto em casa

Porque, construí uma casa

Para você

Para mim

(...)

Pelas ranhuras da pele, subi ao topo

Subi a árvore para ver o mundo

Quando as rajadas chegaram para me derrubar

Segurei tão forte quanto você segurou a mim

Segurei tão forte quanto você segurou a mim

Porque, construí uma casa

Para você

Para mim

(To build a home – The Cinematic Orchestra)

 

XXXX

O dia estava frio e a neve caía sem dó do lado de fora, cobrindo tudo com seu manto branco fazendo a vista mais bonita e com um clima gostoso de natal. Já fazia algum tempo que não nevava em Star City, então era comum ver as pessoas aproveitando a vista e crianças brincando. 

Eu não costumava comemorar o natal com tanta vontade como todo mundo fazia, realizar costumes como o de se reunir com a família e fazer uma grande ceia no dia de ação de graças, porém eu participava das festas que Oliver costumava fazer. Na verdade comecei a participar dessa forma do feriado de Natal por causa dele, já que antes de conhecê-lo eu apenas ficava em casa como se fosse um dia comum. Contudo, nos últimos anos estou sempre marcando presença no grande evento que Oliver Queen e sua família sempre proporcionam, e infelizmente tendo sobrado apenas Oliver e Thea na família sinto que é ainda mais importante eu estar presente, assim como todos os nossos amigos.

Oliver e eu estamos separados, porém não brigados exatamente, apenas em páginas diferentes e apesar de tudo ainda somos um time. Tenho ele como um amigo e ainda o amo e sei que ele me ama também, eu apenas não podia ignorar a sua mentira para mim e deixar que tudo ficasse bem, quando eu não estava. Uma mentira como a da situação, onde Oliver tinha um filho e não me contou sobre ele, machucava por um longo período de tempo, então não vejo como poderíamos dar certo novamente algum dia.  Eu não estava profundamente magoada ainda, o problema maior é o de reatarmos e ele voltar a repetir os mesmo erros de sempre e eu acabar na mesma situação, portanto preferia não arriscar.

Abro mais as cortinas do quarto para que a luz do sol cubra todo o cômodo, em um ato sedento por calor natural, mas até mesmo a luz parecia fria como o vento que soprava do lado de fora.

Me jogo na cama sentindo a famosa preguiça em uma manhã gelada, agradeço a todos os céus por não precisar passar na empresa hoje, apenas na prefeitura onde ficava nosso esconderijo e monitorar alguns bandidos que estavam dando problemas. Alguns segundos após deitar me sento assustada na cama quando sinto um formigamento estranho nas pernas, como quando você dorme de mau jeito e o membro que você dormiu por cima fica meio morto. No entanto essa não parecia ser a causa daquela sensação estranha, e é claro que qualquer coisa de estranho com elas batia uma enorme preocupação em mim. É o que acontece quando você fica paraplégica e um Chip "mágico" te faz andar novamente.

O formigamento passa após alguns segundos e suspiro aliviada, pois não devia ser nada, não era a primeira vez que eu tinha dessas paranoias com qualquer coisa que sentia nas pernas. Curtis era um gênio e apesar de ser sempre bom aprimorar o que criamos, a probabilidade do Bioestimulador ter alguma falha sozinho é quase nula.

Me levando circulando o quarto e caminhando até meu armário, dou uma olhada na roupa que usaria a noite na festa, era um longo vestido vinho, com uma abertura na perna e alguns detalhes discretos na parte de cima, nada muito chamativo. Pensei sobre como eu ainda tinha que passar em alguma loja comprar presentes para Oliver, Diggle e Thea, mas faria isso na manhã do dia seguinte, afinal ainda seria natal.

O dia foi cheio, com uma vida dupla eram raros os dias que estávamos tranquilos, então as horas correram rápidas como em um piscar de olhos e quando me dei conta já  beirava perto das sete da noite quando cheguei em casa para começar a me arrumar para o jantar de natal dos Queen.

Meu celular começou a tocar antes que eu tivesse tempo de chegar até o chuveiro, era Oliver. Meu coração disparou sem que eu tivesse qualquer controle e me convenci de que era apenas apreensão e que o motivo de Oliver estar ligando era provavelmente para falar sobre Lucius, o cara que andava causando problemas na cidade na última semana.

—Olá Oliver, nenhum sinal de Lucius ainda. — digo pegando a toalha no armário, ansiosa para  meu banho — acho que até um bandido como ele vai passar a noite de natal com quem quer que ele se importe e parar de importunar a cidade.

— Oh, não é sobre isso que eu liguei. - ele se enrola um pouco, parecendo ansioso. -Vamos pegar ele logo com certeza. É que... Estou com um pequeno problema.

— O que aconteceu? — seu nervosismo estava me deixando nervosa também.

— Você sabe, o chuveiro do covil queimou, e Diggle não me atende, então eu pensei se... Pensei se seria hãm... Se...

— Quer se arrumar aqui? — seguro um pouco a risada, era engraçado como ele havia ficado sem jeito com tão pouco, algo tão raro de se ver em Oliver. Pelo menos ultimamente. Era algo mais comum quando estávamos juntos, eu tinha conhecido todos os lados dele que mais ninguém conhecia e eu sentia falta disso.

—Isso. Se não for incomodar.

—Oliver, você é o prefeito, pelo amor de Deus, não está na hora de alugar um apartamento?

—Hmm... Eu farei isso assim que esta festa acabar. — disse, com um meio sorriso soando em sua voz.

—Pode vir sim, não queremos que se atrase para a sua própria festa, não é? Muitas pessoas ricas ficariam decepcionadas. — não pude evitar provocá-lo. — Vão pensar que o antigo Oliver Queen está de volta.

—Oh, definitivamente não queremos isso, mas tenho outro problema.

—O que?

—Poderia vir me buscar aqui? Com o seu carro? Sabe que se eu sair daqui com o meu e meu motorista...

—Os paparazzis vão atrás e vai chover fotos de você descendo na minha casa pouco antes da festa.

—E eles provavelmente vão ficar aí até nós dois sairmos novamente.

Eu realmente ainda não estava acostumado sobre como existiam pessoas pagas apenas para ficar vinte e quatro horas esperando o prefeito ou qualquer outra pessoa pública fazer algo de mais "interessante" da vida só para poderem tirar milhares de fotos, fazer milhares de perguntas, e postarem em milhares de sites e revistas com metade da notícia verdadeira e metade exagerada ou manipulada. Eu realmente não sou nada fã dos paparazzis. E Oliver sabia disso.

—Tudo bem então, vou pegar um atalho para chegar aí mais rápido, ou vamos os dois nos atrasar de qualquer maneira.

—Okay, obrigado, até logo.

—Até.

Desligo e rapidamente levo minha mão ás costas em aflição pela fisgada repentina que senti. Me encosto na parede e respiro fundo, massageando o local enquanto a dor vai diminuindo. Talvez eu tenha dormido de mal jeito. É claro que esse deveria ter sido meu primeiro sinal de que algo não estava bem.

Procuro nas gavetas o potinho com comprimidos para dor que meu médico havia passado para mim. Tomo um e me obrigo a parar de pensar na área dolorida, caçando meu tênis confortável para dirigir até Oliver e trazê-lo para o Loft.

Pego as chaves do carro e saio às pressas, eu realmente tinha que me apressar ou a brincadeira se tornaria realidade e iriamos nos atrasar.

O caminho seria um pouco longo e com transito, então como disse a Oliver, iria pegar o atalho. A estrada alternativa passava pelo meio do parque central, indo pela floresta ao redor do lago da cidade, circulando metade do caminho e saindo perto da prefeitura, e em metade do tempo eu estava em frente ao local. Mandei uma mensagem para Oliver para que soubesse que eu estava a sua espera.

A noite havia caído e o frio devido a neve estava impiedoso. Aumentei um pouco o aquecedor do carro e massageie a coluna ainda um pouco dolorida. A porta se abre e enquanto Oliver entra a rajada do vento frio me faz estremecer, o que faz a dor piorar e mordo a língua para não gemer com o desconforto.

—Tudo bem? — é claro que ele percebeu que algo estava errado. Ignorei novamente e respirei fundo.

—Sim, é só que... Está frio.

—É, está quentinho aqui, acho que essa vai ser uma noite daquelas, neve, neve e mais neve.

Que ótimo, agora estávamos falando sobre o tempo, típico de quem está evitando qualquer outro assunto.

—Você chegou rápido.

—Sim, eu dei a volta no lago e passei pelo pequeno bosque. Vou voltar por ele também, ou realmente vamos nos atrasar.

—Diggle me respondeu, ele vai se atrasar, estava ajudando a Lyla com algo na A.R.G.U.S. então é bom que nós dois vamos juntos.

—O que quer dizer? Qual a diferença? - levanto uma sobrancelha para ele, esperando que explicação ele iria pra esse comentário.

—Hm, bem, você sabe o que aconteceu no último natal, nós não temos muita sorte, você vai estar mais segura comigo.

Solto o ar dos meus pulmões com força, irritada e nem um pouco surpresa com a sua super proteção sobre mim.

—É impressionante como você sempre acha que eu corro perigo. Não vejo como eu poderia correr qualquer perigo essa noite, nós não estamos juntos então nenhum maluco teria motivos pra querer alguma coisa comigo como da última vez. -não pude evitar alfineta-lo com isso, visto que metade do nosso impasse para ficarmos juntos não nos últimos anos era Oliver alegar que eu corria perigo por estar com ele. 

—Mesmo assim. -ele fingiu não se importar com a provocação, apesar dos músculos retraídos em seu rosto mostrarem claramente que ele se esforçou para não rebater. -Você sabe que com o que fazemos estamos sempre em perigo.

Reviro os olhos, ele não tinha jeito, aquele mesmo discurso de sempre. Deixo o humor tomar conta de mim, não adiantava discutir, algumas coisas nunca mudam.

Aperto os olhos para enxergar melhor a paisagem, devido a escuridão e ao frio que chegava a embasar os vidros, principalmente ali em meio ao bosque onde haviam tantas árvores e o lago que contribuía para o clima gelado.

—É eu sei, com certeza eu sei, mas Oliver... Relaxa. — empurro seu ombro com o meu de brincadeira. — Você está sempre muito tenso ultimamente, e... é natal.

Oliver pisca algumas vezes, me olhando como se me visse pela primeira vez.

—Você está na vibe natal então, hem?

Dou de ombros.

—Bem, é um pouco inevitável quando todos estão, é uma coisa contagiante. Ou talvez eu apenas queira presentes.

—Ah, entendi, então se você estiver em clima natalino isso dá direito de ganhar presentes. — Eu realmente sentia falta de simplesmente jogar conversa fora com ele, com provocações nas entrelinhas.

—Claro, porque eu tenho presentes pra vocês - ainda que eu estivesse atrasada e não tivesse realmente presentes ainda.

—Talvez eu tenha presentes pra você também.

—É bom mesmo, por que... - havia um amontoado de neve se formando logo à frente eu iria reduzir a velocidade do carro para evitar qualquer acidente, o único problema era que o freio não funcionava.

—Felicity, você devia ir devagar. - Oliver me alertou, apreensivo.

Congelo ao perceber que não, o freio não era o problema. Minha perna não me obedecia, ela não se movia e a realidade caiu sobre mim com um baque assustador. Eu me sentia morta da cintura pra baixo e isso definitivamente, era um problema.

Minha respiração acelerou e o medo queimava em minhas entranhas quando tudo aconteceu muito rápido.

—Oliver! Eu não consigo frear!

—O que? Qual o problema do carro?

—O carro não é o problema! 

—Felicity, cuidado! - foi tudo o que eu ouvi antes de Oliver puxar o freio de mão do carro, mas não antes dele passar pela neve na velocidade que estava fazendo o veículo derrapar com velocidade e ir para a direita devido a eu ter virado o volante na intenção de desviar da neve. O veículo seguiu deslizando entre a mata, muitos galhos batiam no vidro e quando o carro chegou na primeira árvore batemos com força na beirada da parte de trás fazendo o carro rodar alguns metros, escorregando por um barranco de neve e finalmente parando, caído pro lado de Oliver, quase virando de ponta cabeça, mas a árvore ao lado o sustentou no lugar, impedindo que capotássemos por completo, mas nos mantendo na posição lateral do carro. Quando pensei que tudo havia passado ouvi um barulho estrondoso atrás de nós e apenas pude virar o pescoço para ver o que tinha de errado. Nós estávamos muito abaixo no barranco e toda essa movimentação fez uma parte de acúmulo de neve despencar, como uma pequena avalanche, e ela vinha com velocidade para cima de nós.

—Oliver! - ele estava desacordado e sua testa sangrava, assim como a minha, coisa que apenas percebi agora.

Ainda que estivesse acordado não teríamos tempo de fugir da avalanche que caiu em peso por cima do carro, completamente soterrando a parte de trás, entrando pelos vidros quebrados e atolando tudo desde as costas dos nossos bancos da frente. Um pouco da neve gelada caiu sobre meu corpo, felizmente não foi o suficiente para nos soterrar, mas era impossível acessar a parte de trás do carro onde tinha minha bolsa, com o celular dentro.

—Oliver! Acorda, fala comigo, Oliver! - tentei chegar até ele, mas além do cinto de segurança eu ainda estava sem sentir nenhuma das pernas. Não sabia por qual motivo eu ficava mais apavorada, se por minha falta de mobilidade, se por Oliver estar desacordado ou se pelo acidente.

Tateei com a mão direita seu bolso da jaqueta, a procura do celular, não estava ali, nem no bolso da calça, pelo menos não do lado que eu conseguia alcançar.

Coloco a mão em seu peito para sentir seu coração bater, depois levei até o pescoço para sentir a pulsação, ele estava vivo.

—Pensa Felicity, pensa. - murmuro para mim mesma, ofegante.

Com a adrenalina se esvaindo do meu corpo começo a sentir as dores, e tateei a mim mesma a procura de ferimentos. Nada havia me atravessado a não ser pelo pedaço de vidro que havia cortado meu braço, local onde saia uma quantidade considerável de sangue. Os demais cacos não fizeram grande estrago.

Oliver parecia fisicamente bem, a não ser pela testa sangrando, até ali poderíamos considerar um milagre estarmos ambos vivos.

No momento não tínhamos celular para nos comunicar com ninguém, ou sequer havíamos falado pra alguém sobre Oliver ir até minha casa e muito menos sobre o atalho que decidimos pegar. As chances de nos encontrarem ali eram poucas, se quiséssemos sobreviver tínhamos que sair e tentar pedir ajuda, mas como?

Por algum motivo eu estava novamente paralisada da cintura pra baixo e Oliver estava desacordado, o carro estava tombado para o lado e seria extremamente difícil sairmos dali.

Minha cabeça parecia girar, meu estomago estava embrulhado e a dor em meu braço começava a se tornar mais do que incomoda. As lágrimas começaram a queimar em meus olhos, como sairíamos dali?

—Oliver... -sussurro em uma súplica para que ele acordasse.

Meu corpo tremeu pelo frio, a neve continuava a cair do céu em cima de nós, nossas roupas estavam rasgadas em muitas partes, não protegendo totalmente do frio.

Oliver enfim se mexeu, parecia ter sido tanto tempo, mas foram apenas alguns minutos.

—Oliver! Graças a Deus, como você está?

—Felicity.... – sussurrou, as palavras um pouco enroladas em sua boca. — onde estamos?

Ele abriu os olhos com dificuldade e olhou ao redor, percebendo como o lado direito de seu corpo estava em contato com o chão coberto de gelo por causa do vidro quebrado da janela da sua porta, olhou para trás vendo toda a neve que havia soterrado metade do carro, felizmente livrando a nós dois de estamos de baixo dela também.

—Merda, sofremos um acidente! Como você está? Esta machucada?

—Estou bem, você perdeu a consciência, como se sente?

—Eu...  Não sei, acho que estou bem. - levou a mão a cabeça, percebendo todo o sangue que escorria por seu rosto. —Precisamos sair daqui, antes que a gente congele. - o problema com essa frase é que ela era no sentido literal, o frio ali estava absurdo e se não tivéssemos ajuda logo, poderíamos morrer ali não só pelo acidente.

Oliver destravou o seu cinto de segurança, o que era seguro para ele fazer, no meu caso se eu soltasse ia cair direto em cima dele já que eu estava meio que pendurada e o que me sustentava no lugar era o cinto.

—Vamos ter q sair pelo seu lado, ou pela frente. — o vidro da frente estava absurdamente trincado, mas não chegou a cair por inteiro como aconteceu com o das janelas. E algo me dizia que seria complicado e arriscado terminar de quebrá-lo para podermos sair.

—Se você conseguir se segurar para tirar o cinto sem cair em mim, talvez consiga abrir a porta e mantê-la aberta para poder sair, e eu vou logo atrás. -sugeriu Oliver.

Oh, ele ainda não tinha parado para pensar no que estava acontecendo.

—Oliver, você não entende. Não sofremos o acidente por causa do carro, foi por minha causa... Eu.... Não consigo sentir as pernas. — O choque em sua expressão era evidente, e a confusão também. —Algo deu errado com o Chipdo Bioestimulador da minha coluna.

—Como da última vez?

—Não, aquele dia no covil, Chase pensou naquilo, ele sabia o que a explosão iria causar em mim e agora foi sem motivo algum, ele simplesmente pifou.

Ele passou a mão pelos cabelos curtos em um gesto nervoso.

—Temos que chamar alguém. – disse, enquanto tateava os bolsos. -Mas não consigo achar o meu celular.

—Sim, eu já tentei, não consegui encontrá-lo também e duvido que o meu esteja funcionando além de não estar acessível por causa de toda neve ali em cima dele. — indico a parte de trás do carro.

—Isso quer dizer que estamos presos em um buraco, soterrados de neve, a noite e não temos como pedir ajuda?

—Só se alguém passar pela mesma estrada que nós e por acaso notar que algo saiu da rota e caiu aqui, porque tenho certeza que não somos visíveis lá de cima.

—Tudo bem, tentarei passar por você e abrir a porta, depois tento te puxar.

Era nossa melhor opção, era melhor do que ficarmos e esperarmos algum resgate. As pessoas da festa somente sentiriam nossa falta quando não aparecêssemos, e ainda tínhamos duas horas até que ela começasse, e então notassem nossa falta, pra depois de um tempo alguém começar a se preocupar e a procurar.

—Tudo bem.

Oliver se moveu pela primeira vez e quando o fez imediatamente recuou, gemendo de dor com a mão em cima das costelas.

—O que foi? O que tem de errado?

Ele tirou a mão, que veio com sangue.

—Tenho um corte.

—Oh, eu tenho um no braço também, só não sei o quão profundo.

—O que? Você tem um corte e não me falou nada antes?

—Me esqueci, não sei você, mas no momento tudo dói em mim, é difícil me lembrar do que está sangrando ou não.

—Precisa pressionar com algo.

Foi quando ele começou a tirar a jaqueta grossa, com dificuldade e fazendo uma careta de dor.

— O que está fazendo? - pergunto.

Ele então tira a camisa que vestia, voltando a colocar a jaqueta. Começa a rasgar o tecido da camiseta, tirando um grande pedaço da roupa.

—Consegue se inclinar mais pra cá, para eu poder te alcançar?

Tentei, esticando o corpo, mas tinha a sensação que eu iria cair com tudo em cima dele, independente do cinto, complicava o fato de ter muita pouca mobilidade e controle sobre meu corpo.

Oliver tentou esconder a dor enquanto se esticava para chegar até mim, tentei ajudar como podia, mas ele alcançou meu braço e deu algumas voltas com o tecido no local, puxando o nó com força.

—Tudo bem? - meus olhos encontraram os dele e acenei com a cabeça em afirmativo, sem desviar o contato visual, sua mão descansava em meu ombro.

—Estou bem.

—Temos que sair daqui.

—Sair? Eu tinha pensado nisso, mas achei que você acharia perigoso demais.

—É bem perigoso, mas olha só pra isso, a gente está... -olhou em volta, parecendo se impressionar uma vez mais com as imagens que conseguia enxergar na escuridão - Nós estamos em um buraco, com o carro coberto de neve, está um frio absurdo e não temos como ligar pra ninguém. Talvez se conseguirmos sair daqui e pedir alguma ajuda na estrada seja mais rápido do que esperar que alguém nos veja aqui.

Ele tinha razão é claro, ninguém nos viu cair, e em um dia frio como aquele havia muita neblina principalmente por ser em meio ao bosque. Ninguém andaria prestando atenção em como ao galhos das árvores estavam mais tortas que o normal, ou em alguma marca de pneu no chão, que provavelmente não existiam devido ao fato de termos deslizado pela neve.

—Mas como? Se eu soltar o cinto vou cair em você, se abrir a porta tem que segurá-la para não fechar de novo e no momento não estou muito em condições de abri a porta e sair ao mesmo tempo.

Oliver olhou para o vidro da frente trincado de fora a fora.

—Fecha os olhos, vou quebrar o vidro.

Eu sabia que ele conseguiria. Algumas batidas e o vidro já era, mas seria muito vidro quebrado caindo em cima da gente, coisa que poderia causar ainda mais ferimentos. Oliver encostou a perna esquerda no vidro, prestes a dar a primeira pancada, olhando de mim para o vidro, claramente tendo a mesma preocupação do que eu.

—Não. - Desistiu - Vou subir e tentar te puxar, é mais seguro.

—Seguro, mas mais demorado.

Naquele momento cada minuto era precioso.

—Não, vou ser o mais rápido possível, é melhor assim. - parecia que tentava convencer a si mesmo. Assenti com a cabeça, dos dois jeitos era arriscado, qualquer decisão que tomássemos ali arriscava nossas vidas, então podíamos ao menos dar apoio um ao outro.

Oliver agiu rápido, se apoiou no painel do carro com uma mão e com a outra segurou firme no encosto do banco, os poucos pedaços que sobrou do tecido da camisa ele enrolou nas mãos para que quando segurasse na janela com o vidro quebrado, não o machucasse. Oliver passou por mim no espaço apertado entre meu corpo e o volante, fechei os olhos torcendo para que ele tivesse sucesso, escutei o barulho do estralar do vidro. Com os braços para fora, foi fácil para ele se impulsionar para sair com o resto do corpo. O carro rangeu com o peso extra por cima dele. Felizmente não tinha como ele cair para nenhum dos lados, um havia a árvore e do outro muita neve o mantendo no lugar.

—Você está bem? - pergunto, preocupada que ele descobrisse mais algum machucado.

—Tudo bem. - o bafo quente que saia de sua boca em contraste com o frio fez uma visível fumaça, deixando evidente o quão frio fazia ali. -Pronta? - perguntou estendendo uma mão para mim.

—Quando você estiver. - digo segurando sua mão com força.

Seria complicado, não havia muito espaço onde ele estava para que coubessem nós dois, além do fato de que a lataria do carro deveria estar bem escorregadia.

—Segure em meus braços, no três você solta a cinto de segurança. - concordo com a cabeça. Meu coração começa a ficar ainda mais disparado, muitas coisas poderiam dar errado ali.- Um...

Seguro firme em seu braço com a mão esquerda, enquanto ele também me segura firme.

—Dois...- estendo a mão direita para o botão do cinto, pronta para soltar. -Três!

Aperto o botão e rapidamente seguro em Oliver que consegue me impedir de cair, me deixando pendurada. Me sinto muito mais pesada do que realmente era, seria como puxar meu corpo desacordado, pois eu não poderia ajudar impulsionando para cima ou ajudando como deveria.

—Tudo bem, vou te puxar.

—Cuidado para não cair. - alerto.

Ele respira fundo novamente, tendo segurança da firmeza com a qual me sustentava no lugar.

Quando Oliver começou a me puxar para cima eu podia ver que aquilo demandava a ele muito mais força do que ele queria admitir, quando minha cintura já estava para fora da janela comecei a procurar qualquer coisa para me segurar caso fossemos cair dali, uma vez que a altura entre o carro e o chão era grande. Ele conseguiu se locomover para a parte de trás completamente coberta de neve, terminando de me puxar para fora.

Nós dois deitamos sobre o amontoado gelado abaixo de nós, exaustos. O vento gelado cortava nossas bochechas e meu corpo estremeceu, por mais frio que estivesse dentro do carro nem se comparava com o lado de fora completamente exposto.

—Vamos descer. - Oliver sussurra, parecendo cansado. -Você primeiro.

Eu sabia que para ele seria fácil descer, entendi que deveria ser a primeira já que não conseguiria descer sozinha. Novamente seguramos nos braços um do outro enquanto deixei que minhas pernas pendessem primeiro para fora e, mais uma vez, lá estava eu suspensa no ar sendo segurada por Oliver que começou a descer o próprio corpo para que eu conseguisse alcançar o chão e quando achou que poderia me soltar com seguranças nossos olhos se encontraram.

—Pronta?

—Pronta.

Ele me soltou e senti apenas o impacto com o chão, nenhuma dor adicional. Aparentemente havia muitas camadas de neve abaixo de mim.

Como imaginei em dois segundos Oliver havia pulado e no próximo estava ao meu lado para se certificar de que eu estava bem.

—Estou bem. - Digo antes mesmo dele perguntar.

—Temos que nos afastar do carro, ele pode cair.

Concordo novamente e ajudo Oliver a me puxar pela neve, me afastando do local. Olhamos em volta percebendo mais uma vez como estávamos basicamente em um buraco gigante, ninguém que visse de cima iria nos perceber ali, pelo menos não a noite.

—Você deveria subir e ir até a estrada ver se encontra alguém. - sugiro.

—Não vou te deixar sozinha aqui. Nós vamos juntos.

—Oliver, será muito mais rápido se você for sozinho. Seja tiver alguém passando  em dois minutos você estará de volta com ajuda.

—E se eu chegar lá e demorar meia hora pra passar alguém você vai estar aqui sozinha, pode... não sei, ter animais por ai, ou eu posso morrer congelado e você não vai saber e ai vai acabar morrendo também me esperando voltar.

Apesar de ser meio exagerado ele tinha razão. Era exagerado porque eu sabia que ele não me deixaria sozinha por mais do que vinte minutos e precisava mais do que isso para ele morrer congelado.

—Tudo bem, nós estamos é perdendo tempo, vamos subir.

Ele assentiu satisfeito pela discussão ter acabado. Cavou com as mãos os primeiros buracos em meio a neve para poder se apoiar, começando sua escalada de aproximadamente um metro e meio e ao chegar no topo deu algumas pancadas na beira para que a neve ai se desfizesse e diminuísse a subida para que fosse mais fácil me puxar para cima. Deitando-se de barriga para baixo Oliver me estendeu as mãos pela terceira vez naquele dia para me puxar, me deitei também de barriga para baixo e me arrastei pelo chão até alcançar os primeiros buracos que ele havia feito, tendo me apoiado ali consegui alcançar suas mãos, que geladas como as minhas me seguraram firme, me puxando sem muito esforço dessa vez, pois a neve deslizar ajudara bastante.

Suspirei aliviada ao chegar no topo da subida, inconscientemente me aconchegando em seu braços. A superfície de nossas roupas estavam um pouco úmidas e a neve que caía encostava quase que queimando nossa pele. O frio começava a nos abalar.

Depois de tomar folego nos afastamos e Oliver se ajoelhou no chão para que eu subisse em suas costas.

—Temos que ir.

Soprando minhas mãos a fim de esquentá-las assenti, me arrastando um pouco até ficar confortável para me apoiar nele. Em um impulso rápido Oliver se levantou comigo em suas costas, segurando abaixo dos meus joelhos. Isso era quase como um dejávú da ultima vez, mas ao menos Oliver não estava machucado ou grogue, podendo me carregar sem problemas por hora.

 Começando a caminhar a passos calculados para não ter nenhuma surpresa pelo caminho, Oliver permaneceu estranhamente calado.

—Esta tudo bem? - Sussurrei.

—Sim. É só que... Eu estava pensando como temos tido sorte com natais ultimamente.

Meu coração errou uma batida ao me lembrar dos acontecimentos do ano anterior onde ficamos noivos e sofremos um atentado no mesmo dia, atentado esse que me deixara paraplégica. Brinquei com os dedos em alguns fios de seu cabelo.

—Hm, sim acho que no próximo ano podemos considerar ficarmos em casa torcendo para dar meia noite logo e o dia começar com nós dois vivos e inteiros.

Ele riu, me ajeitando em suas costas.

—Ou contratar a A.R.G.U.S. Para nos escoltar para cada canto que formos.

Escutamos o som do nosso riso ecoar pelo silencio que fazia ali naquele momento. Observo ao meu redor, as árvores com seus galhos congelados e estremeço pela rajada de vento que nos atinge. Tento encolher meus dedos gelados, a fim de protegê-los e me amaldiçoo mentalmente por não ter pego luvas antes de sair. Deito a cabeça nas costas de Oliver, respirando seu cheiro que a muito eu não sentia tão de perto, fazendo algo dentro de mim se aquecer.

—Você achaque já notaram nossa falta?

—Hm, acho que não. Faz uns quarenta minutos que nós caímos ali, ainda tem mais uma hora para a festa começar e alguém perceber que sumimos. Mesmo que alguém tente nos ligar antes disso, quando perceberem que nós dois sumimos, bem...

—Vão pensar que estamos juntos.

—Sim.

—Estamos ferrados.

Enfim chegamos na beira da estrada, tão deserta quanto a floresta a pouca iluminação era devido aos postes de luz que tinham mais distancia um do outro do que deveriam.

—E agora? Nós esperamos ou andamos até alguém aparecer? - pergunto.

—Acho que a pior coisa que a gente deveria fazer é ficarmos parados no mesmo lugar. O que você acha?- Oliver vira a cabeça um pouco tentando me ver por ciam de seu ombro.

—Acho melhor nós andarmos, está muito frio pra gente arriscar ficar parado de baixo da neve.

—Acha que a temperatura vai cair muito? - Oliver pergunta enquanto começa a andar novamente na beira da estrada, ambos atentos a qualquer sinal de algum carro.

—Provavelmente, não para de nevar, a tendência é cair cada vez mais.

—Você está me apertando.

—Desculpa.- afrouxo um pouco o aperto em volta dele. -É que é mais difícil nós começarmos a ter consequências do frio se dividirmos o calor.

Eu estava realmente apreensiva com isso. As temperaturas começavam a cair cada vez mais, e nesse ritmo nós dois teríamos apenas algumas horas até termos hipotermia ou coisa pior.

Caminhamos em silencio nos minutos que se seguiram, deitei novamente a cabeça em suas costas, também tentando protegê-lo do frio visto que ele estava apenas com a jaqueta no corpo. Fecho os olhos apreciando por alguns segundos outra vez estar tão próxima dele. Eu sentia falta todos os dias de estar assim, de abraçá-lo, de beijá-lo e de deixar que ele me amasse. Quase me esquecia do porque de estarmos separados.

Senti um movimento incomum e abri os olhos, olhando em volta e percebendo que tudo estava igual, a estrada vazia e escura. Oliver parou de andar, ofegante.

—Qual o problema? - pergunto atenta, procurando por qualquer anormalidade.

—Nada, só estou... tomando folego.

—Devemos parar um pouco. - ele nega com a cabeça, teimoso como sempre.

—Oliver! Cinco minutos, ou de qualquer forma você vai ser obrigado a parar quando não aguentar mais andar.

Claramente contrariado ele andou mais para a lateral da estrada, onde estaríamos seguros caso viesse algum carro.

—Tudo bem. - Ele se abaixa para que eu desça e depois se senta ao meu lado, me trazendo para perto dele.

Circulo sua cinturo com meus braços e ele me envolve pelos ombros, um aquecendo o outro. Ainda assim ambos os corpos tremiam com o frio impiedoso e o medo aumenta dentro de mim quando percebo que a neve havia aumentado.

—A festa deve estar começando. - digo baixinho. -Acha que estão vindo?

Ele não diz nada, já servindo como uma resposta. Ninguém estava vindo ainda, precisaria de mais para que considerassem que estávamos desaparecidos.

—Felicity...

—Sim?

—Você acha que algum dia vai conseguir me perdoar? - seu tom era tão vulnerável, tom esse que eu poderia contar nos dedos de uma mão quantas vezes ele o tinha usado em minha frente.

Engulo em seco, completamente desprevenida pra aquela pergunta.

—Isso não é justo, Oliver. Discutir a relação quando estamos lutando pra sobreviver.

—Parece que sempre é o único modo que encontramos de realmente ouvir um ao outro.

—Não acho que seja isso, é só que é mais difícil brigar quando a gente pode morrer na próxima hora. E infelizmente estamos mais vezes nessa situação do que a maioria das pessoas.

Ambos ficamos em silêncio e eu não sabia o que isso queria dizer. Comecei a perceber o quão estranha eu estava me sentindo, meu corpo estava letárgico, minhas articulações doíam mais do que minutos atrás e meus olhos pesavam mais do que nunca. Notei também como eu estava tremendo menos a cada minuto.

—Oliver! Acho que devemos continuar, o frio está começando a ser um problema real agora.

Me afasto para olhar para ele ao não receber nenhuma resposta. Seus olhos estavam fechados.

—Oliver!- o sacudi de um lado para o outro tentando acordá-lo.

Suas pálpebras se abriram assustados e seus olhos desfocados varreram todo o cenário gelado, pousando por último em mim.

—Felicity.

—Nós não estamos bem, o frio está nos atingindo, você consegue andar?

É claro que ele tentou, se afastando de mim e se apoiando em uma árvore para tentar ficar de pé, cambaleando um pouco. Porém foram poucos segundos de sustentação, novamente ele se curvou, segurando mais firmemente na árvore, se encolhendo de frio.

—Não da, alguma coisa está errada.

Ele disse "alguma coisa" como se o clima do monte Everest ao nosso redor não fosse nenhuma pista.

—Claro que tem algo errado, estamos ficando hipotérmicos.

Ele se ajoelhou de costas para mim, respirando ofegante.

—Pode subir.

—Tem certeza?

—Temos que continuar o máximo que pudermos.

Minhas mãos formigaram enquanto me apoiava em seus ombros, demorando para responder aos meus comandos.

Quando Oliver recomeçou a andar, era bem mais lento que anteriormente e me concentrei em envolver seu corpo o máximo que podia para mantê-lo aquecido.

—Você sabe que já te perdoei, Oliver, falamos nisso. - resolvi retomar o assunto anterior, a fim de distrair nossas cabeças mesmo que fosse um assunto delicado. Ele pareceu surpreso pela volta do assunto repentinamente.

—Felicity, trabalhar comigo normalmente e ser minha amiga não quer dizer que me perdoou pela mentira, apenas que está convivendo com isso.

—Ainda não gosto de você ter mentido, ocultado ou o que for. Mas eu não odeio você por isso ou coisa do tipo, apenas seria um empecilho muito grande se estivéssemos em um relacionamento.

Ele parou de andar novamente.

—Acho que se eu der mais um passo vou cair com nós dois.

Ele praticamente caiu ajoelhado e imediatamente eu o soltei.

—Merda, não é possível que ninguém esteja nos procurando ainda. - novamente nos aconchegamos na beira da estrada. Meu corpo todo formigava e o frio estava cada vez pior, minhas unhas estavam azuladas e quando olhei para Oliver percebi seu rosto pálido e a coloração em volta de seus olhos começarem a mudar.

—Talvez estejam... Nós precisamos torcer para que cheguem a tempo.

A escuridão era tão assustadora quanto ideia de sentar ali e esperar, mas era a nossa única opção. As lágrimas inundaram meus olhos e me esforcei para que não escorresse mas pelos meus olhos, pois se fôssemos morrer ali, eu não queria que a última coisa que Oliver visse era eu chorando.

—Me desculpe. - eu o escutei sussurrar após alguns minutos em silencio. -Se você não tivesse ido me buscar... Nada disso teria acontecido.

—Hey, não é bem por ai. Se eu tivesse dado mais atenção ás coisas que estava sentindo, não teria resolvido dirigir hoje.

—Acha que teríamos mais chances se tivéssemos ficado no carro?

Era uma pergunta difícil para se responder com certeza, por isso optei por não dizer nada. Ele procura minha mão gelada, na intenção de aquecê-la, enquanto nos aproximamos mais em uma busca desesperada por calor.

—Não pense muito nos "E se" - digo por fim.

—Foi um risco muito grande sair de lá.

—Foi, mas não se engane. Se estivéssemos lá estaríamos nos perguntando "e se tivéssemos saído daqui."

Ele percebeu que eu tinha razão, oferecendo um sorriso preguiçoso e derrotado para mim, fechando os olhos e se apoiando na árvore atrás de nós.

—De qualquer modo, sempre que tomamos alguma decisão arriscada... nós tomamos juntos.

—Bem, somos um ótimo time. - ele respondeu.

Não pude evitar as lágrimas de escorrerem, então escondi meu rosto mais próximo de seu peito, para que não me visse.

—Não podemos desistir, alguém vai aparecer, alguém precisa aparecer. - digo, infelizmente não conseguindo esconder a voz embargada.

—Não tenho dúvidas de que vão aparecer. - me surpreendo por sua voz ter saído tão embargada quanto a minha. -O problema é o quanto iremos aguentar, se vai ser tempo suficiente.

Os minutos que ficamos em silêncio eram mútuos, como se combinássemos de ter reservando-os para tomar fôlego novamente para falar mais.

—Oliver, se não conseguirmos... Se...

—Felicity, não pode perder as esperanças.

—Não estou. Apenas... no caso de não conseguirmos, eu preciso que você saiba, eu... Entendo você ter escondido Willian, tentei ao máximo não desistir e simplesmente perdoar você, porque você foi um idiota de ter mentido para mim, mas eu entendo, e...

Engulo em seco, respirando fundo para continuar.

—"E..."? - Oliver pergunta, curioso.

Me afasto um pouco só para que nosso olhos se encontrem.

—Se sairmos daqui... Eu dou outra chance pra você, para nós.

Ele me puxa novamente contra ele para me abraçar.

—Nós vamos conseguir, eu não vou deixar que nada aconteça com você, Felicity, nada.

Ele não podia fazer nada naquele momento, mas guardei esse comentário para mim.

—Eu amo você. - ele sussurrou, enquanto eu ainda estava protegida em seus braços, sentindo seu cheiro, me sentindo bem como em muito tempo não me sentia. Seus lábios beijarem o topo de minha cabeça, pouco antes que me consciência me deixasse e eu desmaiasse em seus braços, com a sensação de estar novamente em casa após muito tempo.

XXX

Eu conseguia perceber a claridade atrás das pálpebras dos meus olhos, e ao perceber o quão quentinhos meus dedos estavam solto um gemido de contentamento.

Mas, porque exatamente eu estava quente? Não tinha nenhum som em particular ao meu redor que denunciasse onde eu estava, então a única solução era eu me forçar a abrir meus olhos pesados como chumbo.

Não enxerguei muita coisa, primeiramente por eu estar sem óculos, e depois pela claridade que me cegava ainda mais. 

Tateei o criado mudo ao meu lado e suspirei aliviada quando meus dedos tocaram a armação gelada dos meus óculos e ao colocá-los não tive muita surpresa ao perceber que estava em um quarto de hospital. A ótima noticia era de que estávamos vivos, mas... como?

Como se ouvisse meus pensamento a porta do quarto se abriu e por ela passou Diggle, com um copo de café na mão, ficando completamente estático ao me ver acordada.

—Felicity! Você acordou, como se sente?

—Hum... dolorida, mas estou bem. O que aconteceu? Como nos encontrou? Oliver está bem?

Ele se sentou na poltrona ao meu lado, pousando o copo de café no criado mudo.

—Foi meio complicado, mas não precisou de muito para eu perceber que tinha coisa errada.

—Parece que o subestimamos então.

—Oh, eu já ouvi isso do seu parceiro de crime, parece que os dois não acharam que eu ia notar tão fácil que vocês sumiram, não é?

—Hey, não é bem por ai, a gente só achou que não teria um motivo para se preocuparem, talvez pensassem que tínhamos sumido juntos.

—Talvez, mas o celular dos dois dava desligado, e talvez eu não estranhasse se caísse na caixa postal, mas os dois desapareceram. É claro que eu só comecei a ligar quando nenhum dos dois apareceram na festa e pelo que Oliver me disse vocês já estavam em apuros há algum tempo a essa hora.

Confirmo com a cabeça.

—Bem, ai eu fui à sua casa, e nada. Fui até o esconderijo e nada, então eu perguntei para os seguranças na prefeitura e todos me disseram que ele tinha saído de carro com alguém. Descreveram o carro e eu soube que era o seu. E ai eu comecei a pensar em muitas coisas, até me lembrar que Oliver tinha me ligado perguntando sobre eu ir na festa e tudo o mais, e disse para mim que iria resolver o problema da carona. Eu só fui juntando as peças, falei com a policia e é claro que não deram muita atenção no começo, porque fazia poucas horas que vocês tinham sumido, e ai eu falei com Quentin é claro e ele também achou estranho e começamos a procurar. Vocês estavam no ultimo lugar que achei que estariam, aquele atalho é bem perigoso pelas circunstancias, Felicity. Estava escuro e nevando, vocês são loucos.

—Era o único jeito de realmente chegarmos a tempo. E o que causou o acidente mesmo foi...

De repente me lembrei do porque sofremos o acidente e imediatamente me sente na cama, afastando os cobertores e olhando minhas pernas, completamente intactas e funcionando.

Olhei completamente confusa para Jhon.

—Não se preocupe, Curtis já concertou. Oliver acordou um pouco antes de você e nos contou detalhes.

—E o que tinha de errado?

—Bem, parece que, ham... - sorrio com sua expressão completamente confusa. -Isso é papo de Nerd, Felicity, você vai poder falar com ele mais tarde.

—Claro. - rio enquanto afundo novamente nos travesseiros. -Quando vou poder sair daqui? Oliver está bem?

—Sim, vocês dois estão bem e talvez fiquem aqui até amanhã ainda.

—Eu posso vê-lo?

—Eu posso perguntar, okay? - concordo enquanto o assisto se levantar. 

—Posso ficar com o seu café? - pergunto.

—Claro, aqui.

Nunca pensei que sentir o café quente em minha boca fosse ser tão absurdamente delicioso.

—Hey, Jhon! - o chamo antes que saísse do quarto.

—Sim?

—Feliz natal.

Seu sorriso era radiante.

—Feliz natal, Felicity.

Não muito tempo depois a porta se abre, Oliver entra sendo empurrado em uma cadeira de rodas por uma enfermeira.

—Obrigado.- ele diz para ela antes que a mesma saísse.

Meus olhos se enchem de lagrimas, aliviada ao vê-lo bem

—Olá. - Ele diz.

—Você está bem? Porque está...? - aponto a cadeira de rodas.

—Oh, isso não é nada, a enfermeira disse que era protocolo para me mover de lugar. - diz enquanto se levanta e caminha devagar até minha cama.

—Como se sente? - pergunta.

—Estou bem. Parece que conseguimos.

Franzo a sobrancelhas confusa quando ele estende uma mão para mim.

—Quero te mostrar algo.

Sorrio e seguro sua mão, enquanto me levanto devagar, ainda um pouco receosa de que minhas pernas não fossem me sustentar. Quando apoio o primeiro pé no chão sinto meu joelho ceder momentaneamente, mas é claro que Oliver estava ali para me segurar e me impedir de cair.

—Opa. -Seguro em seus braços quentes outra vez.

—Tudo bem?

—Sim.

Ainda segurando minha mão nós caminhamos até a enorme janela e Oliver sorri para mim antes de puxar a cortina e eu olho para a janela, procurando ver algo de especial enquanto o pano se abrir revelando a vista. Que era espetacular.

O sol ainda estava nascendo, conseguíamos ver apenas o alaranjado ao longe no céu, a neve ainda caía tornando a imagem ainda mais bonita. O chão e as árvores estavam cobertos de neve e bem ao centro do jardim do hospital havia um enorme pinheiro, todo decorado com luzes e enfeites de natal.

—Nós conseguimos. - Oliver afirmou.

Sorrio uma vez mais e me aproximo, grudando mais nossas mãos e encostando minha cabeça em seu ombro, apreciando a vista.

—Talvez a nossa sorte com o natal comece a mudar daqui por diante.- digo baixinho.

—Bem, pra mim ainda falta uma coisa. - ele responde.

—O que? - nos viramos de frente um para o outro.

—Bem... - sua mão vai em direção ao meu rosto e afasta uma mexa do meu cabelo, que provavelmente estava um ninho naquele momento. -Falta eu ganhar o meu presente.

—Oh, isso vai ser um problema. - Dou risada da sua cara enquanto inclino a cabeça aproveitando o contato de sua mão em meu rosto. -Eu planejava comprá-los hoje de manhã, sinto muito.

—Então você mentiu quando disse aquela hora que tinha presentes para nós?

—Não, eu só omiti que ainda não os tinha tirado da loja.

Oliver ri, mas seu olhar de adoração para mim não some de seus olhos nem por um segundo.

—Não, não é desse tipo de presente que eu estava me referindo. - diz sereno. -É um muito melhor do que qualquer coisa que você possa pensar em comprar para mim.

Claramente me faltaram palavras naquele momento.

—E o que seria? - pergunto após longos minutos.

—Bem, talvez podemos começar com aquela chance que você mencionou, porque com ela eu poderia fazer muito mais coisas.

—Como o que?

Seus dedos antes em minha bochecha começaram a percorrer por meu rosto, tocando suavemente o canto dos meus lábios, descendo um pouco mais para o queixo. A outra mão segurava a minha carinhosamente e o sorriso que se formou em seus lábios foram os mais sinceros, e seu olhar quase que me hipnotizava, um convite profundo para me perder neles.

—Como nunca mais ser o louco que vai mentir para você, como ser a pessoa mais sortuda do mundo em acordar e dormir ao seu lado, conhecer mais de você do que qualquer outra pessoa. Te fazer rir e estar com você por qualquer motivo que te tenha tirado lagrimas, saber que eu vou ter você para voltar ao fim de cada missão e nunca mais te magoar tanto quanto eu já magoei.

Fecho os olhos e respiro fundo, tomando folego após toda essa declaração e com o sorriso ainda brincando em meus lábios eu me aproximo, pousando uma das minhas mãos em sua cintura, segurando entre os dedos a camisola de hospital, fazendo nossos corpos estarem ainda mais próximos.

—Se você vai ganhar tudo isso com o meu presente para você, qual vai ser o meu?

Ele devolve meu sorriso, se aproximando mais, o olhar queimando em meus lábios.

—Eu vou te dar todo o meu amor e acordar todos os dias na intenção de te fazer ainda mais feliz que no dia anterior. Eu amo você, Felicity Smoak.

É claro que eu não pude segurar uma lagrima que escorreu quente por minha bochecha.

—Então Feliz Natal, Oliver. - sussurro, deixando claro que meu presente para ele era seu agora, estava em suas mãos e eu sabia que ele cuidaria bem dele.

—Feliz natal, Felicity. - sussurrou de volta, enfim quebrando a distancia que nos separava e grudando seus lábios aos meus, quentes e macios.

Eram como eu me lembrava, despertavam em mim as mesmas sensações, ainda mais intensa. A de segurança e comprometimento. Eu sabia enquanto os pelos dos meus braços se arrepiavam que eu teria aquilo todos os dias, a sensação acolhedora de lar e de amor, principalmente amor e eu não poderia estar mais grata por momentos como esse serem o meu "para sempre".


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim! Infelizmente né, espero que tenham gostado da One e de todas as anteriores, tenham aproveitado bastante o projeto e sintam saudades assim como nós. Se não comentaram ainda as outras Ones não esqueçam de dar uma passadinha lá, é muito importante, e de deixar o seu comentário aqui também, todas nós adoramos saber o que acharam de cada uma.
Desejamos a todos um Feliz Natal!