Christmas Week - Olicity Version escrita por Ciin Smoak, MylleC, Thaís Romes, Megan Queen, Natty Lightwood, Overwatch


Capítulo 5
Love Is The Last Resort - Ciin Dorileo


Notas iniciais do capítulo

Oi minhas amoras lindas, olha quem veio postar a fanfic de hoje!!!!

Eu sei que estou devendo minhas outras fanfics pra vocês (principalmente End Game), mas acabei ficando muito ocupada com o projeto e não tive tempo de dar a devida atenção às outras, mas não se preocupem porque logo logo vamos ter capítulos novos saindo do forno.
Gostaria de agradecer a cada uma das meninas que topou participar do projeto e que estão trazendo tantas fanfics incríveis pra vocês, queria agradecer a elas por terem acreditado em mim...Gostaria de agradecer também a cada uma que está lendo, favoritando, deixando seu review, vocês não tem ideia do quanto isso é importante pra gente!
O natal é minha data favorita no ano inteiro e acho que tentei passar todo esse meu amor na one, espero de coração que vocês gostem e sem mais delongas, vamos pra fic!



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Loving can heal
Loving can mend your soul
And is the only thing that I know, know
I swear it will get easier
Remember that with every piece of ya
And is the only thing we take with us when we die

Photograph - Ed Sheeran

 

 

Algumas pessoas amavam viajar, pois conhecer novos lugares era uma forma de se divertir e aprender, outras adoravam trabalhar, porque achavam que caso se esforçassem o suficiente, seriam recompensadas. Também existia a parcela de pessoas que amava ir a festas e se divertir, viver como se o mundo fosse acabar no dia de amanhã.

E entre viagens, trabalho, festas, passeios, aniversários e outras datas comemorativas, estavam às pessoas que amavam uma data em especial, data essa em que o amor e o perdão reinavam, em que famílias se reuniam e esqueciam as brigas que tiveram ao longo do ano.

Eu era uma dessas pessoas!

O natal era a minha data favorita desde os meus oito anos de idade, meu pai havia abandonado a mim e a minha mãe naquele ano e tudo o que eu fazia desde então era chorar e me lamentar, eu não entendia, achava que havia feito algo de errado e que se eu tivesse sido uma garota melhor, meu pai teria escolhido ficar conosco. Me lembro de acordar na manhã de natal daquele ano e grudar minha bochecha na janela fria do meu quarto, me lembro de ter ficado ali por horas observando a neve e esperando que o meu pai surgisse em meio a paisagem branca ou que pelo menos me ligasse, eu só queria ter a certeza de que os filmes não estavam mentindo quando falavam sobre “o milagre de natal”, eu queria que existissem esses tais milagres e queria que um desses acontecesse comigo.

—Ah, querida! Eu sinto tanto, faria qualquer coisa pra que você não precisasse mais chorar, eu te amo tanto minha bebê! –Voltei os meus olhos marejados na direção da minha mãe e nesse momento ela correu até mim e me pegou no colo, ficou me balançando até que eu parasse de chorar e começasse a respirar direito novamente.

—Ele não vai voltar, não é mamãe? O papai não ama a gente e o Papai Noel também não existe, eu descobri isso no natal passado. Não existem milagres de natal, era tudo mentira! –Mamãe dizia que eu era a garota mais inteligente entre todas da minha idade e eu sempre achei que isso era maravilhoso, mas agora já não tinha mais tanta certeza porque eu entendia coisas que as outras garotas da minha idade não entendiam e isso estava me fazendo sofrer.

—É claro que existem milagres de natal meu bem, não só de natal, milagres existem todos os dias, mas no natal as coisas acontecem muito mais nitidamente, não é mesmo? Eu tenho certeza de que eles são reais porque um já aconteceu comigo. –Mamãe estava dizendo que um milagre de natal já havia acontecido com ela? Como? Porque ela nunca me contou?

—Que milagre, mamãe? –Ela sorriu e por um momento eu pude ver pequenas ruguinhas ao redor dos olhos dela.

—Há alguns anos atrás, no dia 24 de dezembro, eu descobri que estava grávida e aquele foi o momento mais emocionante e assustador da minha vida, alguns meses depois eu tive uma linda garotinha de olhos azuis. É você querida, você é o meu milagre de natal.

Eu a abracei com toda a força que os meus bracinhos pequenos permitiam e senti meu ombro molhado, mamãe estava chorando.

—Nós não temos muito, não temos como fazer uma grande festa ou algo do tipo, mas temos uma à outra e isso é tudo o que importa, bebê! Eu não sei se o seu pai vai voltar, mas o importante é que eu estou aqui e nunca vou te abandonar, agora sempre que o natal chegar quero que você se lembre que é o meu milagre e que você está destinada a fazer coisas incríveis, um dia algo muito bom vai acontecer com você também nessa data, porque de todas as pessoas do mundo você é a que mais merece!

Naquela noite, apesar de sermos judias, mamãe e eu cantamos músicas natalinas e fizemos biscoitos, ela me deu um antigo globo de neve que era da vovó, dentro dele estavam apenas duas pessoinhas, um menino e uma menina e eles estavam de costas um para o outro, embora suas mãos parecessem querer se alcançar. Eu não entendi muito bem o significado daquilo, mas ela me explicou que a vovó havia entregado a ela antes de morrer falando que era pra mim e que um dia me ajudaria muito, apesar de não entender o significado daquilo gostei do mesmo jeito e desde então ele sempre estava na minha prateleira.

Desde aquele dia eu passei a adorar o natal, todo o ano minha mãe me dava um calendário enfeitado por ela mesma e eu acordava cedo na manhã de 1º de dezembro para começar a marcar os dias até a data que eu tanto esperava. Eu falava do natal pra todo mundo, mas as outras crianças da minha escola que já me achavam esquisita, pareceram achar ainda mais depois disso e eu preferi não falar mais nada por lá, elas diziam que eu era estranha e apesar da mamãe sempre dizer que isso não era verdade, eu me sentia diferente e não sabia se isso era bom ou não.  

Foi no natal dos meus 12 anos que as coisas mudaram pra mim e embora na época eu achasse que era uma ótima coisa, hoje eu já não tinha tanta certeza. Eu adorava fazer biscoitos com minha mãe na véspera de natal para que pudéssemos comê-los e cantar em volta da árvore no dia seguinte, mas naquele dia ela havia se esquecido de comprar os ingredientes e eu resolvi que sairia para comprar na venda que ficava a algumas quadras da nossa nova casa, – eu havia nascido e crescido em Vegas, mas mamãe e eu nos mudamos para Star City depois que meu pai nos abandonou – mamãe ficou um pouco preocupada por estar nevando muito lá fora, mas eu não me importei porque as tradições eram importantes e valia a pena aguentar um pouco de neve para poder fazer os nossos biscoitos e come-los na manhã seguinte.

Me arrumei rapidamente e saí do nosso pequeno apartamento, fui até a venda sem nenhum problema, mas quando estava voltando pra casa, notei algo que não estava lá antes.

Um garoto. Sentado no balanço do parquinho que ficava na esquina da minha casa!

Pensei em continuar o meu caminho, afinal eu não o conhecia, mas ele me parecia triste e as pessoas não deveriam ficar tristes no natal, eu mais do que ninguém sabia disso. Me aproximei dele com dificuldade devido a neve que estava acumulada em volta do pequeno ­­parque e percebi que ele só me notou quando eu cheguei bem perto.

—Está frio aqui fora! –Eu não sabia como iniciar uma conversa, eu não tinha muitos amigos e os olhos azuis dele de alguma forma estavam me deixando nervosa.

—É lógico que está frio, está nevando! –Ele não me parecia muito a fim de conversa, mas eu não desisti mesmo assim.

—Você vai ficar doente, deveria ir pra sua casa!

—E você deveria cuidar da sua vida. –Em outra situação eu já teria desistido, porque aquele menino era muito mal educado, mas eu consegui ver os seus olhos vermelhos e percebi que não era pelo frio, ele estava chorando antes de eu chegar.

Estendi minha mão pra ele e sorri da melhor maneira que consegui.

—Eu sou a Felicity! –O menino olhou pra minha mão por um longo tempo, mas por fim suspirou e retribuiu o aperto.

—Eu sou o Oliver. –Mesmo com o frio que eu estava sentindo, me sentei ao lado dele e não soltei a sua mão.

—Por que você está aqui sozinho? –Ele pareceu relutante em me contar, mas acho que algo nos meus olhos o fez perceber que eu só queria ajudar.

—Meus pais brigaram de novo e eu fugi! Eles sempre brigam, mas quando alguém aparece eles fingem que nada aconteceu, é isso que eles querem fazer hoje, todo ano eles fazem uma festa de natal gigante e nós temos que ficar sorrindo pra todo mundo, eu não gosto disso. Minha irmã Thea ainda é muito pequena pra perceber, mas eu vejo que nada ali é de verdade!

Eu me senti triste por ele, pois apesar da vida simples, eu e minha mãe amávamos comemorar juntas, fazer uma festa pra um monte de gente que você nem conhece não parecia um natal muito legal pra mim.

—Você pode vir comigo pra minha casa, eu moro bem ali naquele prédio, tá vendo? Somos só eu e minha mãe e nós sempre assamos biscoitos e cantamos ao redor da árvore, você pode ficar com a gente!

Mal dei tempo de ele responder, me levantei rapidamente e puxei sua mão, saímos correndo em meio à neve e quando chegamos ao apartamento, estávamos completamente ofegantes.

Minha mãe ficou surpresa ao me ver com ele, mas eu os apresentei rapidamente e expliquei a situação pra ela, Oliver parecia muito tímido, mas minha mãe o abraçou e o acalmou, ficamos conversando por algum tempo e ela disse que precisávamos ligar para os pais dele, pois eles deviam estar muito preocupados.

Oliver não quis no começo, mas ela acabou o convencendo e quando ele nos disse o sobrenome dele para que procurássemos na lista telefônica, descobrimos que se tratava de Oliver Queen, a família dele era uma das mais ricas da cidade. Minha mãe telefonou e ficou por alguns minutos falando, ela parecia estar dando uma bronca em quem quer que estivesse do outro lado da linha e eu quase tive pena dessa pessoa.

Quase uma hora mais tarde a nossa campainha tocou e nos deparamos com Moira Queen. Apesar de parecer uma verdadeira rainha, ela estava envergonhada e teve que implorar para Oliver ir pra casa com ela, ele disse que só aceitava ir caso minha mãe e eu pudéssemos estar com ele na festa de natal e a senhora Queen concordou rapidamente, ela tirou os convites da bolsa e nos entregou e em seguida levou Oliver embora.

Mamãe e eu estávamos com vergonha de aparecer, pois nem sequer tínhamos roupa pra isso, mas eu disse que precisávamos ir, porque o Oliver estava contando com a gente, ela sorriu e disse que eu estava certa e em seguida fomos procurar as melhores roupas que tivéssemos para usar.

Quando chegamos à mansão dos Queen , eu nem sequer sabia para que canto olhar, tudo era grandioso e brilhante e eu me senti um peixinho fora dá agua, mamãe parecendo perceber isso se aproximou do meu ouvido e sussurrou baixinho:

—Lembre-se, estamos aqui pelo Oliver!

Isso me motivou a seguir em frente e adentramos a festa, algumas pessoas nos olharam de maneira estranha, mas Oliver logo nos viu e saiu correndo em nossa direção. Ele pulou em cima de mim e me abraçou bem forte, em seguida abraçou minha mãe enquanto eu ainda tentava controlar as bochechas coradas.

Eu gostei de ser abraçada por ele!

Seus pais logo apareceram e nos cumprimentaram, agradecendo mais uma vez por termos ficado com o Oliver. A irmãzinha dele parecia encantada comigo e com a minha mãe e assim ficamos a festa inteira, mas quando faltavam poucos minutos para o dia 25 e Thea estava entretida no colo da minha mãe, Oliver me puxou e corremos escada acima até o sótão da sua casa.

Ele abriu a janela e fomos nos sentar no telhado, cada um levando um cobertor consigo, ficamos em silêncio por alguns minutos e quando o relógio de pulso do Oliver apitou e começamos a escutar as palmas e comemorações no andar debaixo, percebemos que era natal.

Eu tomei a iniciativa dessa vez e o abracei apertado, ele retribuiu o abraço e sussurrou em meu ouvido.

—Feliz natal, Felicity! –Eu sorri e me afastei dele.

—Feliz natal, Oliver!

Ficamos por mais algum tempo em silêncio e de repente, ele se virou pra mim com uma expressão animada no rosto.

—Essa vai ser a nossa tradição de natal, o que acha? –Franzi o cenho em confusão e ele pareceu perceber que eu não havia entendido. –Vamos fazer essa promessa, todo ano vamos passar a virada do dia vinte e quatro para o dia vinte e cinco juntos. –Eu sorri, finalmente entendendo o que ele queria dizer, mas logo em seguida me senti retraída.

—Você promete que sempre vai passar a virada comigo? De verdade? O meu pai me prometeu que sempre ficaria comigo e ele foi embora.

—Eu prometo, Felicity! Sempre vou estar com você, você é minha nova melhor amiga agora e o Tommy vai adorar conhecer você!

—Quem é Tommy? –Ele riu baixinho e me estendeu a mão.

—É o meu outro melhor amigo, mas e então? Vamos passar a virada do natal juntos ou não?

Gritei um sonoro “sim” e entrelaçamos nossos dedos mindinhos como uma forma de selar a promessa.

A partir daquele dia, eu e Oliver nos tornamos praticamente inseparáveis, eu consegui uma bolsa na escola dele e estávamos sempre juntos. Eu também adorava o Tommy, ele era o meu outro melhor amigo, mas o que eu sentia pelo Oliver era diferente, embora eu ainda fosse muito nova para entender isso.

Nós dois cumprimos a promessa por anos, sempre estávamos juntos na virada da véspera para o natal, só nós dois, como havia sido da primeira vez. Oliver havia prometido que não ia me abandonar e ele estava mantendo a promessa, eu tinha certeza de que ele era o milagre de natal sobre o qual eu e minha mãe havíamos falado.

Mas o destino não parecia querer ser meu amigo!

Estávamos ambos com dezoito anos e dessa vez havíamos ido passar a festa de natal na casa das irmãs Lance, o pai delas estava trabalhando então era uma festa só pros jovens. Eu havia sido convidada por Sara, eu a considerava a irmã boa e gentil, já que a outra, Laurel, parecia me odiar desde a primeira vez em que havia colocado os olhos em mim.

Eu não queria estar ali, preferia estar com a minha mãe, mas Oliver e eu havíamos feito uma promessa e eu precisava estar com ele como fazíamos todos os anos. Além do mais, hoje as coisas seriam diferentes, eu iria finalmente falar sobre os meus sentimentos pra ele, eu vinha guardando tudo isso há muito tempo e estava prestes a sufocar.

Eu estava apaixonada pelo meu melhor amigo!

Eu não sabia dizer quando ou como aconteceu, mas se tivesse que chutar, acho que diria que estava apaixonada por ele desde a primeira vez em que o vi triste no parquinho, eu só ainda não sabia o que era amor, não do tipo entre homem e mulher, pelo menos. Eu confesso que Oliver estava um pouco mudado, havia ficado com várias garotas, enquanto eu havia beijado um garoto só, Cooper Seldon, um completo idiota, mas ele estava sozinho agora e eu tinha certeza que ele vinha me olhando de forma diferente de uns tempos pra cá.

Talvez ele também estivesse querendo falar comigo, mas estivesse sem coragem, com medo de estragar a nossa amizade.

—Ele não apareceu ainda? –Me virei na direção da voz de Tommy e antes mesmo que eu pudesse piscar, estava sendo abraçado efusivamente pelo meu outro melhor amigo.

—Ele deve estar ocupado com algo, mas vai aparecer a tempo, é uma promessa que fizemos, afinal de contas. –Continuamos abraçados por mais algum tempo, era fácil estar com Tommy, ele me entendia como ninguém e mesmo sem nunca ter dito em voz alta, eu tinha certeza que ele sabia sobre os meus sentimentos pelo Oliver.

—Pessoal, faltam cinco minutos para o natal, então vamos indo pra sala de jantar porque a senhora Ashford já está colocando a comida na mesa! –Sara era uma pessoa estridente, totalmente diferente da irmã, que apesar de gostar de ser o centro das atenções, era um pouco mais comedida.

Todos riram alto diante da empolgação dela para comer e começaram a caminhar em direção à sala de jantar, eu me limitei a lançar um sorriso para o Tommy e ele beijou minha testa antes de sair, faltavam cinco minutos para o natal, Oliver com certeza iria chegar a qualquer minuto.

Caminhei para a varanda da casa dos Lance e me coloquei a olhar as estrelas enquanto esperava, os minutos se passaram e meu coração foi ficando cada vez mais apertado, será que algo havia acontecido?

No momento em que o meu celular vibrou, eu sabia que se tratava do despertador que eu havia programado avisando que era meia noite, senti lágrimas chegando aos meus olhos, mas segurei cada uma delas, eu não iria chorar.

Fiquei ali por mais alguns minutos tentando me controlar e quando estava prestes a sair daquele lugar e voltar pra minha casa, senti alguém me abraçando pela cintura e reconheci Oliver de imediato.

—Me desculpa, eu estava resolvendo uma coisa e acabei perdendo a noção do tempo, por favor não me odeie! –Ele estava realmente desesperado e eu ri baixinho com isso, me desvencilhei dos seus braços e virei o meu corpo na direção dele.

—Tudo bem, mas o que aconteceu? Eu tenho uma coisa importante pra falar com você! –Essa era a hora, eu precisava colocar tudo o que estava me consumindo pra fora, eu não suportava mais trancar todos aqueles sentimentos dentro de mim, estar ao lado dele e não poder beija-lo era uma tortura cotidiana.

—Que bom, eu também tenho uma coisa importante pra te contar, mas pode falar primeiro! –Eu sorri em antecipação, será que ele também queria se declarar pra mim?

—Não, eu espero, pode falar primeiro. Eu estou curiosa Queen! –Ele abriu um sorriso de orelha a orelha e eu senti meu coração disparar.

—Muito bem, lá vai. Eu acabei de pedir a Laurel em namoro e ela aceitou! –Tive que me segurar firme nas barras atrás de mim para não cair, aquela simples frase destroçou o meu coração e eu precisei de toda a força que eu tinha para continuar sorrindo e acenando. Quer dizer que ele havia quebrado a nossa tradição para pedir aquela estúpida em namoro? Oliver não pareceu perceber que estava acabando comigo e continuou falando. –E tem mais, a carta de admissão dela chegou e ela também foi aceita em Harvard, quer dizer, nós três vamos pra lá, eu estudando administração e vocês duas estudando direito, é capaz de vocês até estudarem juntas.

Oliver não tinha ideia de que Laurel me odiava, ela fazia questão de me tratar como uma amiga quando estava perto dele e eu simplesmente não encontrava a coragem necessária para falar que a agora namorada dele era uma vaca.

Ele estava sorrindo pra mim, esperando que eu falasse alguma coisa e tudo o que eu queria era chorar. Como eu pude ser tão burra? Como eu pude pensar que ele me veria de alguma forma além de uma boa amiga? Eu devia saber que gente como ele não fica com gente como eu.

Eu não suportaria ir pra Harvard com ele e a Laurel e ser obrigada a ficar olhando os dois pelos próximos anos, era pedir muito de mim, meu coração estava em frangalhos e eu não acho que ele iria se recuperar tão cedo, mas o que eu podia fazer?

Como dizer pro seu melhor amigo que você está apaixonada por ele e não quer que ele namore com outra pessoa? É simples, você não diz. Então você foge!

—Então, essa era a coisa importante que eu queria falar com você, eu não vou pra Harvard, eu vou pra Oxford! –A expressão dele desmoronou no mesmo momento e eu senti lágrimas vindo aos meus olhos.

Eu havia sido aceita nas duas universidades, mas optara por Harvard para poder ficar perto do Oliver, ele já até tinha se inscrito na mesma, mas eu como sempre havia me atrasado e fiquei de mandar a documentação no dia 26, pós-festas de natal. Eu havia ficado tão chateada por não ter mandado a minha inscrição junto com ele, mas agora estava mais do que agradecida, talvez o destino estivesse me dando uma mãozinha para evitar um sofrimento ainda maior, afinal de contas.

—O que? Felicity, nós combinamos que íamos pra Harvard, eu, você e o Tommy, nós fizemos planos. Como assim você não vai? O que aconteceu? Você recebeu bolsa nas duas, então por que não pode ir pra Harvard?

—Planos mudam, Oliver! O pessoal de Oxford me enviou um e-mail falando que além da bolsa eu ganharia uma espécie de auxílio moradia e isso vai me ajudar muito, então eu aceitei, já até enviei a minha inscrição pra lá, está feito! –Eu não havia recebido e-mail algum, teria que trabalhar na biblioteca ou em algum lugar da faculdade para ajudar a me sustentar, e muito menos havia mandado a droga da inscrição, mas ele não precisava saber disso.

—Quando você pretendia me contar? –Ele parecia traído e isso me deixou tão nervosa que simplesmente comecei a caminhar para fora da sacada.

—Bem, eu estou contando agora! Não foi algo planejado Oliver, mas com certeza é o melhor pra mim! –Ele se limitou a assentir e eu vesti o meu casaco para ir embora, meu coração estava quase explodindo dentro do peito, eu não aguentaria ficar nem mais um segundo ali.

—Feliz natal, Felicity! –Escutei seu sussurro enquanto estava descendo as escadas, mas não respondi, lágrimas grossas já desciam dos meus olhos e eu sabia que não conseguiria falar, então simplesmente continuei o meu caminho e fui embora da festa sem falar com ninguém.

Os dias se passaram, Oliver e eu nos falávamos pouco e isso doía muito, mas o meu coração já estava partido, então não fazia muita diferença. Quando a segunda metade de janeiro chegou, eu já não estava mais aguentando e decidi que precisava ir embora de uma vez, anunciei a todos que eu estava de partida no próximo dia e passei a noite encaixotando as coisas com a minha mãe.

Ela não havia me perguntando o motivo da minha partida repentina, não precisava. Naquela noite de natal eu havia chegado em casa chorando tanto que minha mãe começou a chorar junto comigo, em meio aos soluços e gemidos de dor, eu contei a ela o que tinha acontecido e tudo o que ela fez foi me abraçar e me consolar da melhor maneira que podia.

No dia marcado todos foram me levar ao aeroporto, Tommy, Thea, Oliver, minha mãe e Sara, o senhor e a senhora Queen iam a uma reunião de negócios então foram no meu apartamento se despedir e me encher de presentes, Moira havia chorado tanto que o apartamento quase ficara alagado.

Estávamos todos em silêncio, mas quando eu ouvi a chamada para o meu voo, me levantei desajeitadamente e comecei a abraçar um por um. Sara prometeu que me ligaria todos os dias e me ameaçou de morte caso eu resolvesse esquece-la, minha mãe aprontou um escândalo dizendo que ela ia morrer de saudade e que o mundo dela estava acabando, todos riram porque não seria minha mãe se não fizesse um drama.

Quando chegou a vez de Oliver, eu o abracei apertado e ele retribui com igual força, senti o meu ombro molhado e percebi que ele estava chorando.

—Eu vou sentir muito a sua falta, Felicity! –Travei com força os olhos para não chorar e deixei um leve beijo em seu pescoço antes de me afastar.

—Eu também Oliver, mais do que você imagina!

Caminhei até Thea e Tommy rapidamente e eles me puxaram pra longe do grupo antes de me esmagarem em um abraço de urso.

—Eu não acredito que você está indo embora, é tudo culpa do meu irmão! Por que você não fala pra ele como se sente? –Eu nem sequer fiquei surpresa, pois tinha total consciência de que Tommy e Thea já sabiam dos meus sentimentos, então me limitei a dar de ombros e sorrir da melhor maneira que pude.

—Acho que eu cheguei atrasada, Thea! Mas tudo bem, acho que não era mesmo pra ser!

—Uma ova que não era pra ser, Smoak! Vocês nasceram um pro outro e eu vou fazer questão de mostrar isso pro Oliver.

—Tommy, não faça nenhuma besteira, ok? Deixa pra lá, se ele está feliz, então isso é tudo o que importa.

Os dois reviraram os olhos e eu ri baixinho, como eu amava essa dupla dinâmica.

—Não se preocupe Fel, nós já combinamos tudo! Tommy vai infernizar os dois enquanto estiverem na faculdade e eu vou inferniza-los enquanto eles estiverem aqui, eles não vão ter sossego.

—Ah, eu não duvido disso, mas agora eu preciso ir porque estão chamando o meu voo de novo, eu amo vocês!

Os abracei mais uma vez e segui sem olhar pra trás, me lembro de chorar o voo inteiro e assustar o homem que estava ao meu lado, mas naquele momento nada mais importava.

Eu fiquei catatônica por meses, estudava, fazia as minhas atividades, trabalhava na biblioteca, mas não interagia com ninguém de verdade, não fazia amigos, atendia as ligações de maneira automática e tentava não pensar nele.

O que era quase impossível, já que ele me ligava todos os dias!

Podia ser um pouco masoquista da minha parte, mas a melhor parte do meu dia ainda era quando ele me ligava. Quer dizer, eu estava sofrendo por um amor não correspondido, mas antes de ser o cara que eu amava, Oliver Queen era meu melhor amigo e eu sentia falta dele.

Com o tempo as coisas foram melhorando, a dor não passou, mas eu aprendi a conviver com ela. Percebi que sempre o amaria, mesmo que eu não quisesse, mesmo que eu ainda tivesse muito que viver, ele sempre estaria ali, entrelaçado em meu coração.

O natal daquele meu primeiro ano de faculdade chegou e como era de costume, lá estava eu na mansão Queen. Oliver estava com Laurel grudada em seu pescoço (Tommy parecia uma velhinha fofoqueira e havia me contado que eles haviam terminado e voltado umas cinco vezes só nesse ano) e eu estava ao lado de Tommy e Thea, Sara não estava presente nesse ano, pois havia brincado um pouco demais na faculdade e estava tendo que estudar como louca para recuperar as matérias perdidas, mas eu daria um jeito de visita-la antes de voltar para Oxford.

Quando Moira anunciou que faltavam poucos minutos para a ceia, eu continuei onde estava. Oliver ficaria com a Laurel, então não tinha porque me iludir achando que estaríamos juntos outra vez, talvez a promessa não fosse mais importante pra ele.

Tommy e Thea haviam se afastado alegando que iam buscar o meu presente e eu apenas acenei com a cabeça, ainda com a mente dispersa. Fui tirada dos meus devaneios quando uma sombra enorme se agigantou na minha frente, levantei a cabeça e me deparei com os olhos azuis de Oliver me encarando.

—Você não vem? –Franzi o cenho em confusão e ele suspirou antes de me puxar pela mão e me colocar de pé. –Pro telhado, Felicity! Precisamos ir ou vamos nos atrasar!

Ele saiu me puxando escada acima e quando finalmente nos acomodamos no telhado com cobertores ao nosso redor, pareceu que nada tinha mudado.

—Achei que você iria estar com a Laurel! –Ele negou com a cabeça e me puxou para o seu colo rapidamente, em seguida acariciou os meus cabelos enquanto eu encaixava a cabeça em seu pescoço.

—Eu posso estar com qualquer pessoa Felicity, mas esse momento sempre vai ser nosso! Eu me atrasei ano passado e sinto muito por isso, eu nunca vou conseguir me perdoar, mas eu nunca vou abandonar você como eu disse que não faria, sempre estaremos juntos nesse dia, é uma promessa que fizemos um ao outro e eu sempre vou cumpri-la!

Ficamos ali em silêncio e quando finalmente o despertador do celular dele tocou, ele me abraçou ainda mais apertado e sussurrou em meu ouvido.

—Eu te amo, feliz natal!

—Eu também te amo, feliz natal! –Senti vontade de chorar, pois sabia que as três palavrinhas dele não eram dotadas dos mesmos sentimentos que as minhas, eu seria a eterna amiga, a pessoa que ele via como irmã e nunca como mulher.

Isso era uma droga!

Os anos se passaram e eu fiz amigos na universidade, dois pra falar a verdade, Caitlin e Barry, eles era namorados e enquanto ela fazia medicina, ele cursava física. Éramos o trio de nerds de Oxford e eu estava feliz pela primeira vez em muito tempo.

Oliver ainda estava com a Laurel. Oliver ainda me ligava todos os dias. Oliver ainda terminava e voltava com a Lance em um eterno efeito sanfona. Oliver e eu ainda passávamos os natais juntos.

Uma boa parte da minha vida se resumia a ele e isso era de certa forma deprimente, ainda mais depois que Thea havia jogado na cara dele que Laurel me odiava e só me tratava bem na frente dele, me lembro de Tommy me ligando (como sempre a velhinha fofoqueira) para contar que Oliver havia terminado com a vaca Lance depois de ter descoberto isso e eu como a grande idiota que era, achei que dessa vez as coisas seriam definitivas.

Eu havia me enganado, de novo!

Eles ficaram separados por longos meses, mas acabaram voltando depois que ela apareceu na porta do dormitório dele chorando e dizendo que só estava com ciúmes da nossa amizade, mas que daquele momento em diante me trataria melhor.

Eu conseguia ver que ela realmente estava me tratando melhor, tanto na frente dele quanto quando ele não estava por perto, mas eu também conseguia ver o ódio velado nos olhos da Lance, ela me odiava e eu tinha certeza de que tudo isso fazia parte de um plano para retomar a confiança de Oliver. Assim que ela tivesse a chance, tentaria me afastar dele.

Apesar de tudo, eu ainda achava que Oliver era o meu milagre de natal, nós não estávamos juntos, mas ele me amava, mesmo que não fosse da forma como eu queria. Ele estava cumprindo sua promessa de não me abandonar e passar os natais comigo e eu estava aprendendo a conviver com ele e Laurel, eles sempre ficavam mais tempo separados do que juntos, então eu não precisava atura-la por um período muito extenso. Eu já havia aceitado que minha vida seria assim e estava tentando ficar feliz com isso.

Até que um dia tudo mudou!

Eu estava com 24 anos, havia acabado de terminar a faculdade e tinha recebido diversas propostas de emprego em vários lugares diferentes, mas queria voltar pra Starling para ficar perto da minha mãe e dos meus amigos e também do Barry e da Caitlin já que eles iriam pra Central City.

Eu estava feliz, Oliver havia ido me visitar no feriado de ação de graças junto com Tommy e Thea e foi como se nada nunca tivesse mudado, ele estava com a Laurel, mas Thea  e Tommy não haviam deixado que ela viesse e eu seria eternamente grata por isso, já eu havia acabado de terminar o meu “lance” com Bill Malone, outro completo idiota.

As coisas estavam indo bem, eu estava finalmente voltando pra casa pra ficar e mais uma vez estava na ceia de natal da família Queen. Ainda faltavam algumas horas para a meia noite e eu estava me sentindo bem, não era mais a garotinha insegura que se achava sem graça, sem valor. Eu sabia das minhas qualidades e não deixava ninguém me diminuir, eu havia aprendido muita coisa nesses anos de faculdade e era grata por isso.

—Você precisa provar esse champanhe, Felicity! –Revirei os olhos diante da empolgação de Sara, mas aceitei a taça que ela me oferecia mesmo assim.

—É champanhe, Sara. Não é tudo igual? –Ela pareceu indignada diante da minha declaração e bufou irritada.

—Por que mesmo que eu ainda falo com você! –A abracei de lado e ri baixinho.

—Porque eu sou maravilhosa e você me ama!

Ela gargalhou alto e saiu de perto de mim alegando estar de olho no garçom que havia acabado de passar, eu fiquei olhando a loira desaparecer no meio da multidão e como Tommy ainda não havia chegado e Thea estava ocupada cumprimentando alguns convidados, decidi ir até o escritório do Robert, eu havia deixado o meu casaco lá quando fui vê-lo e precisaria dele pra sair da mansão já que a neve caía em pequenos flocos do lado de fora.

Subi as escadas lentamente e caminhei até o escritório, mas parei ao escutar vozes vindas de lá. Me aproximei sorrateiramente e percebi que a porta estava entreaberta, quando olhei pela fresta vi Laurel pendurada no pescoço de Oliver. A cena me deixou enjoada e eu estava pronta para sair dali quando escutei a frase que fez o meu mundo se despedaçar completamente.

—Eu nem acredito que vamos nos casar, precisamos fazer o anúncio hoje no momento em que seus pais forem chamar os convidados para o jantar! –Senti meu estômago se embrulhando e de repente nada mais fazia sentido.

Eu poderia tentar suportar Oliver e Laurel nessas idas e vindas, mas não era capaz de suportar os dois casados, não era capaz de ser obrigada a olhar pra ela todos os dias e vê-la sendo chamada de Senhora Queen.

Isso era mais do que eu podia suportar!

—Ainda não Laurel, vamos fazer o anúncio depois do jantar, eu preciso contar pra Felicity primeiro e chama-la pra ser minha madrinha! –Meus olhos se encheram de lágrimas e eu segurei um soluço, eu seria capaz de fazer isso? Seria capaz de ajudar ele a planejar um casamento com outra mulher?

Em meio aos meus devaneios nem sequer percebi Laurel se afastando dele de maneira abrupta, quando voltei a mim ela já estava gritando como uma louca.

—Você não vai chama-la pra ser nossa madrinha Oliver, é o meu casamento e eu não quero que ela faça parte dele. Eu tentei atura-la por você, mas isso já é demais, ela me odeia e é obvio que quer você pra ela. Aquela mulherzinha vai fazer de tudo pra estragar o nosso casamento e isso eu não vou...

—Chega Laurel, nunca mais fale assim dela! Você está sendo ridícula, Felicity nunca faria mal a uma mosca e ela é minha melhor amiga, é lógico que eu a quero do meu lado.

—A escolha é sua, Oliver. Se você insistir tanto nessa sua amiguinha não vai ter casamento algum!

Saí de lá antes que pudesse ouvir mais alguma coisa e em meio aos tropeços me dirigi ao banheiro, coloquei todo o champanhe que eu havia bebido pra fora e as lágrimas saíam em torrentes tão fortes que eu já não estava conseguindo mais respirar.

Por que ele precisava escolhê-la? Ela nunca o entenderia como eu, ela nunca o amaria como eu. Por que eu tinha que me apaixonar por um homem que nunca olharia para mim da maneira que eu queria? Que eu precisava?

Eu a odiava com todas as minhas forças, mas eu o amava e queria que ele fosse feliz, então se a felicidade de Oliver estava com Laurel, eu ficaria feliz por ele.

Eu sabia que um dia ela daria um bote, Laurel sempre tentaria me afastar de Oliver e dessa vez ela havia conseguido. A vadia havia lançado um ultimato, mas ao contrário dela eu não era capaz de fazê-lo escolher. Se Oliver ficasse com ela, perderia a melhor amiga, mas se ficasse comigo perderia a mulher que ele amava, eu não podia deixar que isso acontecesse.

Então eu escolhi por ele!

Limpei os olhos da melhor maneira que consegui e tirei o telefone de dentro da bolsa, respirei fundo e fiz a ligação.

—Que bom que me ligou senhorita Smoak!

—Aquele emprego em Singapura ainda está de pé?

...

—Finalmente eu te achei, vamos pro telhado, daqui a pouco vai ser natal. Além do mais eu tenho uma notícia pra te dar! –Respirei fundo ao ouvir a voz de Oliver atrás de mim, estava fazendo um tremendo frio e eu estava perto da fonte com nada além do meu fino casaco, mas no momento isso não importava, nada mais importava.

Eu tinha uma missão, Oliver nunca me deixaria ir de bom grado e eu seria obrigada a fazê-lo escolher, mas eu não queria que nada disso acontecesse. Eu garantiria a felicidade dele, mas eu não estaria mais aqui para observar.

Eu já estava lutando com as lagrimas teimosas que insistiam em querer continuar a cair, mas eu precisava segurar cada uma delas por mais um tempo, eu precisava terminar o que havia começado aqui, só havia uma maneira de sair da vida de Oliver sem prejudicar o seu relacionamento com a Laurel.

Ele precisava me odiar!

—Felicity?

—Eu não vou passar a droga do natal com você, Oliver! Eu cansei disso, cansei de ser a amiguinha perfeita que precisa ficar implorando migalhas da sua atenção, eu não preciso desses natais com você, na verdade é você quem sempre precisou. Eu sempre tive a minha mãe, mas você era o garotinho sem ninguém e eu fiz de você a minha boa ação, mas agora chega! –Eu praticamente rosnava cada uma daquelas palavras e a cada segundo meu coração se rasgava mais e mais, eu não pensava nada daquilo, mas eu precisava parecer sincera ou ele nunca se afastaria de mim.

—Felicity, eu não estou entendendo! Por que você está falando essas coisas? Nós somos amigos! –A expressão de Oliver era de pura confusão e desolação, eu podia perceber que aquele homem enorme estava a beira das lágrimas e tudo o que eu queria era me jogar aos pés dele e falar que era mentira, que eu estava fazendo isso porque eu o amava demais.

Mas a vida não era um conto de fadas, eu não era uma princesa e o “cara” não iria ficar comigo no final!

—Nós não somos amigos, Queen! Eu estou tão farta de você, sempre tendo a vida perfeita e esfregando na nossa cara que nós não somos tão bons, sempre tentando nos obrigar a fazer as escolhas que você prefere. Você não queria que eu fosse pra uma faculdade diferente da sua porque você gosta de me controlar, porque eu sempre fui a Felicity bobinha que ficava atrás de você com o rabinho abanando. Eu não suporto mais essa farsa, as coisas só são importantes quando você quer, você me largou no natal pra pedir aquela vadia em namoro e agora está fazendo essa cara ridícula só porque eu estou retribuindo o favor.

Ele tentou se aproximar de mim, mas eu dei vários passos pra trás rapidamente mostrando que queria distância, a essa altura ele já estava chorando e eu me sentia o ser humano mais desprezível do mundo por estar fazendo isso com ele, ainda por cima na data que havíamos partilhado por tantos anos.

—Para, o que tá acontecendo? Essa não é você! –Ri alto e a essa altura do campeonato eu já não conseguia mais segurar as lágrimas, elas já escorriam livremente pelo meu rosto e tudo o que eu pensava era que precisava ser firme por mais cinco minutos e depois eu poderia desabar.

—Eu não vou voltar a morar em Starling agora, tudo o que eu quero é ficar bem longe de você e da sua vidinha perfeita. Eu cansei disso tudo e espero sinceramente nunca mais ter que falar com você!

Virei as costas e comecei a caminhar o mais rápido possível para longe dele. Oliver nunca me entenderia, ninguém entenderia o que eu estava fazendo agora, mas ninguém o amava como eu amava e se tem uma coisa que eu entendi com o passar dos anos é que quando se ama alguém, de verdade, com todo o seu coração, você faz qualquer coisa pra ver aquela pessoa feliz, mesmo que isso sacrifique a sua felicidade.

—Você me fez prometer que não te abandonaria, Felicity e agora é você quem está fazendo isso. Você é igual ao seu pai sabia? Droga, eu confiei em você!

Estaquei no lugar sentindo cada uma daquelas palavras penetrarem em meu coração como adagas afiadas e senti vontade de morrer ali mesmo. Era isso o que eu queria, eu queria que ele me odiasse, mas eu não tinha ideia de que fazer isso iria me destruir completamente no processo.

Ainda de costas pra ele, dei de ombros e respirei fundo. Eu só precisava dar a facada final pra acabar com aquilo e então eu poderia desmoronar sozinha sabendo que o homem que eu amo nunca mais olharia pra mim.

—Confiou mesmo, grande erro!

...

Três anos depois!

—Querida, chegueeeeeeeei! –Escutei a tranca da porta sendo aberta antes mesmo de escutar a voz dele, Curtis possuía a chave do meu apartamento porque segundo ele caso algo acontecesse, nenhuma porta precisaria ser arrombada. Gargalhei alto da entrada nada triunfal do meu amigo e me levantei rapidamente para abraça-lo, estava com saudades de Curtis, ele havia ido fazer um curso de um mês no Japão e Paul e eu estávamos nos sentindo sozinhos.

—Finalmente você voltou, eu estava pra ficar louca sem você. Paul também já estava um porre só, quase enforquei seu marido umas cinco vezes! –Ele riu baixinho e deixou a pasta no chão antes de se sentar ao meu lado no sofá.

—Ele me ama, o que posso fazer se minha ausência afeta vocês dessa maneira? –Revirei os olhos e soquei seu ombro de leve. –Mas agora vamos falar sério, Felicity! Você e o Ray terminaram, não foi?

Encolhi os ombros e assenti antes de me jogar contra o encosto do sofá. Eu havia aceitado trabalhar na parte jurídica da filial das Indústrias Palmer na noite fatídica e havia vindo pra Singapura depois das festas de ano novo, desde então eu trabalhava lado a lado com Ray Palmer, filho do meu chefe. No começo foi extremamente difícil sair do meu mundinho e fechado e sombrio, mais uma vez eu estava trancada em mim mesma sofrendo por Oliver e simplesmente não conseguia me relacionar com ninguém, mas depois de quase um ano aqui Curtis e Paul apareceram e foram a minha salvação.

Curtis era extrovertido e rapidamente me fez ser sua amiga, quer dizer, era impossível não conversar com ele porque o moreno é extremamente divertido e balbuciava as vezes assim como eu, isso fez com que nos identificássemos rapidamente. Paul por outro lado era mais fechado, mas era um ombro amigo pra todas as horas, ele e o marido foram os meus pilares aqui em todas as vezes em que me senti sozinha.

Os dois fizeram com que eu me tornasse mais aberta e sociável, embora eu precise admitir que ainda estava longe de ser como eu era antigamente, mas era um tremendo avanço. Com o passar do tempo Ray e eu começamos a nos aproximar e um dia ele acabou por me chamar pra sair, um encontro levou a outro e acabamos namorando, eu achei que estava tudo ótimo, mas bem, o namoro acabou antes mesmo de completar um ano.

—Felicity, o que aconteceu?

—O que você acha? Ele disse que quem quer que seja o cara do meu passado, eu não sou capaz de esquece-lo e isso sempre vai ser um fantasma no meio das minhas relações, ele gosta muito de mim, mas não é capaz de competir com uma pessoa que eu me recuso a esquecer e blablabla. –No momento em que Ray começou a me falar essas coisas no meio do nosso jantar, fiquei extremamente irritada e saí de lá esbravejando, mas quando cheguei em casa e me obriguei a refletir, vi que ele estava certo.

Eu não confiava em Ray, não o suficiente pra contar sobre Oliver e mesmo que não querendo sempre acabava o comparando com o meu ex melhor amigo. Ray estava certo, eu não era capaz de esquecer o Queen, três anos longe dele sem nenhuma notícia não haviam sido capazes de tira-lo do meu sistema.

Eu havia feito tudo o que podia, me obriguei a não olhar notícias dele e cheguei a discutir feio com Thea, Tommy, Sara e até minha mãe para que nenhum deles sequer tocasse no nome de Oliver perto de mim, era difícil pra cada um deles, eu podia perceber que as vezes eles pareciam desesperados para me falar algo, mas eu sempre mudava de assunto antes de que pudesse ceder a tentação. Eu não precisava ficar sabendo que agora Oliver estava casado, com dois filhos e um cachorro, nem precisava saber que ele me odiava, pois disso eu já tinha certeza.

—Isso é uma droga, Felicity! Mas sinceramente? Eu sabia que isso aconteceria, o gostosão loiro está completamente dentro do seu coração e não acho que dê pra tira-lo daí! Como você vai fazer agora que vamos ir pra Starling? –Bufei o mais alto que consegui e caminhei rapidamente em direção à cozinha com Curtis atrás de mim.

Se eu ia falar sobre Oliver, precisava de chocolate!

Eu sabia que meu contrato era temporário desde o momento em que havia aceitado o emprego, inicialmente eu ficaria dois anos aqui, mas acabei ficando por mais um e embora houvesse acabado de receber uma proposta para ficar em Singapura permanentemente, tive que recusar. Eu havia passado os últimos 10 anos da minha vida longe de casa por ser uma covarde e não podia continuar fazendo isso.

—Eu não sei Curtis, nós temos amigos em comum, mas eu fui bem sucedida em evitar tudo o que se relacionava com ele até hoje, então posso continuar fazendo isso, é provável que eu acabe o encontrando uma vez ou outra, mas posso tentar agir socialmente por cinco minutos antes de sair correndo como um ratinho assustado, mas eu não preciso me preocupar com isso já que você vai pra Starling também. –Me calei no mesmo momento em que as palavras saíram da minha boca e voltei o meu olhar totalmente chocado na direção do homem que ria sem parar. –Pera, como assim você vai pra Starling também?

—Achou que ia se livrar da gente, bobinha? É Claro que não! Paul e eu viemos pra cá porque eu recebi essa proposta de trabalho incrível, mas agora que a aventura já acabou, queremos voltar pra nossa terra natal. A sede das Indústrias Palmer fica em Starling e eu recebi uma proposta pra ir pra lá e como você já vai trabalhar lá também, eu pensei por que não? Vamos continuar sendo Felicity e Curtis contra o mundo e aí você vai poder correr pra nossa casa sempre que precisar.

Pulei no colo do meu amigo rapidamente, gargalhando alto com a boca ainda cheia de chocolate, eu estava feliz, estava mais do que feliz pra falar a verdade.

Eu tinha Thea, Tommy e Sara, mas eles me amavam tanto quanto amavam Oliver e por isso as vezes era difícil falar com eles, ainda mais levando em consideração que apesar de respeitarem a minha escolha, eles nunca a entenderam verdadeiramente. O trio ainda achava que eu devia ter me declarado, devia ter impedido Oliver de seguir com Laurel, mas eles não entendiam, se ele a amava que direito eu tinha de tentar exigir algo?

Amor não é algo forçado, ele precisa vir naturalmente e se mesmo com a relação conturbada que eles tinham, Oliver a amava, então era com ela que ele deveria ficar. Eu não poderia tê-lo obrigado a escolher entre nós duas, se ele me escolhesse, acabaria me odiando algum dia por ter perdido a mulher que ele amava, então já que Oliver acabaria me odiando de qualquer forma, preferi que ele perdesse apenas a mim, do que as duas.

—Você está divagando de novo! Eu sei muito bem no que você pensa quando faz essa carinha. Sério Fel, vocês vão estar na mesma cidade, como é que você vai fazer pra não encontra-lo?

—É claro que eu vou ter que encontra-lo Curtis, não vai dar pra não fazer isso, mas no que depender de mim, esse encontro irá demorar o máximo possível para acontecer!

—Bom, semana que vem começa o mês de dezembro, então faça esse pedido pro papai Noel, ele pode ajudar você!

Me limitei a revirar os olhos e caminhar pra sala com a caixa de chocolate nos braços, eu estava cansada de falar sobre Oliver e sobre o natal também, essa não era mais uma data feliz pra mim, tudo o que eu queria era terminar as minhas delícias açucaradas antes de ter que começar a arrumar todas as minhas coisas. Eu chegaria em Starling no primeiro dia de dezembro e não sabia se isso seria bom, mas de uma coisa eu tinha certeza...

Eu não ficaria no mesmo ambiente que o Oliver estivesse tão cedo!

...

—Parece que o Papai Noel não gosta muito de você amiga! –Me controlei para não bater no homem ao meu lado e bufei pela milésima vez.

ISSO NÃO PODIA ESTAR ACONTECENDO!

Eu havia chego à cidade há dois dias, somente dois dias e o que me acontece? As Indústrias Palmer juntamente com as Indústrias Merlyn e a Queen Consolidation resolvem promover um baile beneficente e todos os funcionários das três empresas são obrigados a participar.

Por que diabos isso estava acontecendo comigo? A advocacia ficava no sexto andar, eu iria me jogar de lá e morrer rapidinho!

—Relaxa Fel, tem um monte de gente aqui. Provavelmente você só vai vê-lo na hora que ele passar por aquela porta e depois quando os três magnatas forem fazer os seus discursos, não tem nada pra se preocupar!

Deixei meus ombros caírem um pouco e suspirei de frustração, eu não queria que Oliver me visse de maneira alguma, não sei se seria capaz de ver o ódio e a mágoa em seu olhar.

Isso estava com cara de armação! Eu avisei pras duas pestes que chegaria em Starling no começo de dezembro e não, não existia nenhuma festa programada! Isso era tão Thea e Tommy, eu iria mata-los!

—Ainda está pensando em um jeito de matar seus cunhados?-Fuzilei Curtis com o olhar e Paul riu baixinho ao seu lado, ele estava calado durante todo esse tempo, mas sabia que estava atento a cada palavra que falávamos.

—Eles não são os meus cunhados, Curtis Holt! –Paul riu um pouco mais alto dessa vez e passou o braço pelo ombro do meu amigo.

—Se eu fosse você ficaria calado, amor! Ela te chamou pelo nome completo e isso nunca é bom! –Curtis revirou os olhos, mas se calou no mesmo momento e eu estava pronta para soltar alguma piada sobre isso quando percebi que os olhares de todos estavam se voltando para a porta do salão!

Lá estava a família coroada de Starling, Oliver e Thea na frente e Moira e Robert lado a lado atrás dos filhos. Eles ficavam lindos juntos, como uma maldita pintura! Senti minha boca secar e meu coração bater acelerado ao mirar o meu ex melhor amigo, ele estava tão lindo e meu Deus, como eu senti falta dele!

—Amiga, cadê a bruxa e os catarrentinhos? Por que seu homem está com a irmã? –ignorei a parte do “meu homem” e franzi o cenho em confusão, isso não era nada normal. Por que Oliver não entraria com a esposa? E Thea? Até onde eu sabia, ela ainda estava com o Roy.

—Eu não estou entendendo nada Curtis, isso não faz sentido! Thea também está sozinha, mas ela tem namorado então por que não trouxe o Roy?

—Por que Roy foi visitar os pais! –Nos viramos rapidamente só pra dar de cara com Thomas Merlyn sorrindo como um idiota. –A propósito, você está linda Felicity!

Sorri de leve e antes mesmo que eu pudesse falar uma só palavra, ele me engoliu em um abraço de urso gigantesco e me rodopiou pelo salão, se antes eu estava tentando ser invisível, agora havia atraído a atenção de todos, inclusive daquele par de olhos azuis que eu tanto amava.

Evitei olhar por mais que um segundo para Oliver e me soltei de Tommy rapidamente. –Por que você fez isso? Eu não queria chamar a atenção de ninguém! –Meu amigo sorriu como um verdadeiro cafajeste antes de passar o braço ao meu redor e nos afastar da multidão, olhei em volta procurando Curtis e Paul e os encontrei mais afastados fazendo sinal de positivo pra mim.

—Não queria chamar a atenção do Ollie, você quer dizer! –Empurrei-o de leve e revirei os olhos, Tommy nunca mudaria e isso era o que eu mais odiava e amava nele. –A propósito, respondendo a pergunta do seu amigo, Oliver não está com a esposa e os filhinhos, porque ele não tem esposa e muito menos filhos!

Abri e fechei a boca mais vezes do que eu posso contar e tudo o que Tommy sabia fazer era gargalhar da cara de idiota que eu provavelmente estava fazendo.

—Como assim não tem mulher e filhos? Cadê a Laurel? Ai meu Deus, ela morreu?

—Morreu? Que nada, aquela peste não vai sumir das nossas vidas fácil assim. Ollie se separou da Laurel, na verdade eles terminaram de acertar o termos do divórcio na justiça no mês passado, depois de muita gritaria e coisas sendo jogadas. Laurel estava tentando usar a influência dela como promotora pra arrancar as coisas do Oliver, mas por sorte o juiz não caiu no jogo daquela vaca sem coração!

Eu senti o meu mundo girar por alguns segundos e fui amparada pelo meu amigo que rapidamente me levou para uma sala vazia e me colocou sentada em um sofá elegante.

—Desculpe, eu não queria jogar tanta informação em cima de você, mas eu estava sufocando. Durante todo esse tempo eu quis te contar o que estava acontecendo, mas você não queria nem escutar o nome do Ollie, então eu estava tentando respeitar a sua decisão. –Assenti, me sentindo ainda tonta e comecei a respirar fundo para tentar clarear a mente.

Como assim ele não estava mais casado? Ele não a amava? Por que eles haviam se separado?

—Mas se ele a amava, por que se separaram? Isso não faz sentido!

—Meu irmão nunca amou aquela vaca! –Me virei rapidamente em direção à porta e me deparei com Thea me olhando fixamente com um sorriso no rosto. –Não faça essa cara pra mim, a culpa é toda sua por não nos deixar falar nem o nome dele perto de você.

Revirei os olhos e ela se sentou perto de mim rapidamente enquanto Tommy se dedicava a acariciar os meus cabelos.

—Oliver nunca amou a Laurel, ele a pediu em casamento porque ela disse que estava grávida e por mais que estejamos no século XXI, o paspalho decidiu agir como um cavalheiro e se casar com a futura mãe do seu filho. –Tommy tinha a voz carregada de deboche e sarcasmo e eu franzi o cenho, totalmente confusa.

—Mas você me disse que ele não tinha filhos! –Ele abriu a boca para me responder, mas Thea foi mais rápida.

—Mas ele não tem mesmo. Depois que ele anunciou o noivado com ela naquela noite em que vocês brigaram, Laurel passou alguns meses se dedicando a falar somente dessa bendita gravidez e blablabla. Um belo dia, Ollie recebeu uma ligação do hospital e quando ele chegou lá, Laurel estava em prantos falando que havia perdido o bebê, quer dizer, eu cheguei a estranhar porque a história toda estava muito mal contada e ela não tinha barriga nenhuma, mas acabei deixando pra lá. Meu irmão ficou arrasado e acho que não teve coragem de desfazer o noivado com ela depois disso, ela estava desolada e a única coisa que parecia ser capaz de consola-la era planejar o casamento.

—Continuando a história, Ollie e Laurel se casaram um pouco mais de um ano depois do anúncio do noivado e tudo parecia bem nos primeiros meses, mas você conhece os dois e depois de um tempo as brigas constantes começaram, coisas sendo jogadas na parede e palavras horríveis sendo proferidas. A casa do Ollie virou um campo de guerra, Thea e eu nem pisávamos o pé lá com medo de sermos atacados. As coisas se estenderam assim por quase um ano, mas depois de uma revelação bombástica, ele mandou aquela vadia catar coquinho e decidiu se separar dela. Laurel fez um escândalo e começou a dificultar as coisas no processo e por isso eles arrastaram esse divórcio na justiça por quase um ano, mas graças a Deus mês passado tudo se resolveu.

Eu estava tão chocada que parecia estar com o corpo anestesiado, tudo parecia estranho ao meu redor, eu não entendia nada do que estava acontecendo, não fazia sentido. Como diabos eles ficaram casados por tão pouco tempo?

—Você disse que o Oliver descobriu uma notícia bombástica e isso o fez querer o divórcio. Que notícia foi essa? –Thea e Tommy se olharam rapidamente e ela se levantou para pegar um copo de água antes de responder.

—Laurel nunca esteve grávida, ela mentiu sobre a gravidez e depois mentiu sobre a perda do bebê, tudo para fazer o Oliver se casar com ela. Não me pergunte como o Ollie descobriu isso, ele nunca contou porque não gosta de ficar falando sobre isso, mas a briga que os dois tiveram foi muito feia e desde aquele dia eles nunca mais se falaram sem estar acompanhados de seus advogados. –Ela me entregou o copo com água, que eu peguei com as mãos trêmulas, eu ainda estava completamente chocada e não sabia o que dizer.

—Você quer ficar um pouco sozinha pra processar tudo? Sabemos que é muita coisa! –Eu me limitei a assentir em concordância à pergunta de Tommy e alguns segundos depois senti os dois se levantando do sofá e aplicando beijos em minha testa antes de sair.

Perdi a noção de quanto tempo fiquei ali sentada apenas divagando, será que eu havia errado em abandona-lo e ir embora? Eu pensei que eles se amavam, mas agora nada disso parecia verdade.

Percebi pelo canto do olho a porta sendo aberta e levantei o meu olhar só para dar de cara com o dono dos olhos azuis que me atormentavam a anos.

—Eu estava procurando o Tommy e a Thea! –Assenti, com o coração quase saindo pela boca. Fazia tanto tempo que eu não ouvia a voz de Oliver!

—Eles saíram a alguns minutos atrás, devem estar circulando pelo salão. –Oliver assentiu rapidamente e se preparou para fechar a porta, eu sabia que ele me odiava, mas não consegui me controlar. –Eu sinto muito pelas coisas que aconteceram com a Laurel, eu não sabia!

Ele voltou o seu olhar pra mim rapidamente e eu quase solucei quando por alguns segundos vi a dor estampada ali antes dele mascara-la com raiva e desprezo.

—Você me abandonou a três anos atrás, disse que não era minha amiga e que não se importava comigo e agora vem me dizer que sente muito por algo ruim que aconteceu comigo?

Eu merecia aquilo, merecia ouvir cada uma daquelas palavras. Mas saber que eu merecia não tornava mais fácil ouvi-las.

—Eu sei que você não vai acreditar em mim, mas dizer tudo aquilo pra você doeu mais em mim do que você imagina. –Ele me fitou por alguns segundos e eu senti vontade de jogar os meus braços em volta dele e nunca mais solta-lo.

—Tem razão, eu não acredito em você!

Ele saiu da sala rapidamente e chorei em silêncio, eu havia quebrado o que tínhamos na tentativa de deixa-lo ser feliz com Laurel, mas se ele nem sequer a amava, então eu tinha estragado tudo, certo?

Demorei alguns minutos pra me recompor e assim que me senti um pouco melhor, caminhei em direção ao grande salão rapidamente e pedi a Curtis e Paul que me levassem em casa, eles fizeram isso de bom grado e eu contei a eles o que havia acontecido no caminho. Assim que me deixaram na porta do meu prédio, os dois me abraçaram e prometeram fazer o que fosse possível pra que eu ficasse bem, agradeci aos meus amigos e saí do veículo rapidamente.

Eu havia decidido voltar a morar com a minha mãe, tínhamos somente uma à outra e assim nos faríamos companhia, mas agora morávamos em um apartamento bem melhor do que aquele que alugamos quando chegamos a Starling. Peguei o elevador e torci para que ele fosse até o meu andar o mais rápido possível, eu precisava da minha mãe agora, ela era meio louca, mas sempre sabia o que falar pra me acalmar.

Assim que a caixa de metal se abriu, corri em direção à minha porta rapidamente e como se sentindo que eu estava chegando, minha mãe abriu a mesma antes mesmo que eu pudesse tirar a chave da bolsa. Ela me encarou por alguns segundos e uma expressão de entendimento passou pelo rosto dela.

—Você descobriu sobre o Oliver!

Assenti e ela me puxou pra dentro rapidamente, eu estava congelando de frio e ela me guiou até o meu quarto e ligou o aquecedor antes de me deitar em minha cama e me abraçar.

—Eu o deixei porque achei que ele a amava, mas se ele nunca a amou então tudo o que eu fiz foi por nada? Eu fiz a pessoa que eu mais amava no mundo me odiar por nada! –Eu estava a beira das lágrimas e ela acariciou os meus cabelos antes de começar a falar.

—Você não pode voltar no tempo meu amor, então não tem porque ficar se torturando desse jeito, pensar essas coisas só vai te fazer mal. Além do mais, eu não acho que tenha sido por nada, vocês não estavam prontos naquela época. –Me voltei na direção dela com o cenho franzido e ela continuou a falar. –Oliver não estava pronto pra te amar naquela época, bebê! Ele podia até não amar a Laurel, mas se escolhesse você e ela aparecesse com essa história de ter perdido o bebê, ele se odiaria achando que era culpa dele. Além disso, acho que por mais que você soubesse que o amava, também não estava pronta para estar com ele.

—Se nós não estávamos prontos antes, podemos estar agora? Aliás, por que eu estou perguntando isso? Ele me odeia, isso não importa!

—Ele não te odeia querida, ele pensa que te odeia, mas não odeia de verdade, Oliver não é capaz de te odiar. E sobre vocês estarem prontos ou não, eu não posso te responder isso, talvez sim, talvez não. Só o tempo irá dizer.

Ela limpou as lágrimas que estavam caindo dos meus olhos e se levantou rapidamente depois de beijar minha testa.

—Eu vou fazer um chocolate quente pra você, sua avó dizia que ele sempre melhorava tudo! –Eu sorri de leve e assim que ela saiu do quarto, me sentei na cama e peguei o globo de neve que estava em cima do meu criado mudo.

Eu sentia falta da vovó, eu tinha apenas seis anos quando ela morreu, mas mesmo com tão pouca idade eu conseguia me lembrar de cada momento que havia passado ao seu lado. Comecei a brincar com o globo de neve em minhas mãos e sorri, o presente dela sempre havia me confundido, eu não entendia o significado daquilo, mas nem mesmo isso era capaz de faze-lo menos especial pra mim.

Os dois bonequinhos dentro do globo estavam separados, de costas um pro outro, mas suas mãos estavam erguidas, como se estivessem tentando se encostar. Era como se os dois estivessem separados, mas o corpo e a alma estivessem implorando para que eles se aproximassem um do outro. Continuei admirando o globo por vários minutos e quando passei os dedos por debaixo dele, senti uma pequena saliência e franzi o cenho antes de vira-lo.

Tinha uma fito grudada em baixo dele, ela havia sido pintada da mesma cor da base do globo para que não ficasse perceptível. Comecei a beliscar a ponta da mesma e quando finalmente consegui arrancar a tal fita me deparei com uma frase entalhada no pequeno globo de neve.

“Amor é o último recurso!”

De alguma maneira senti o fôlego fugindo dos meus pulmões e por vários minutos fiquei ali parada, apenas lendo e relendo aquela pequena frase, mas sem entender verdadeiramente o sentido dela. Só fui capaz de sair dos meus devaneios quando escutei o som de passos no corredor e percebi que minha mãe deveria estar voltando.

Coloquei o globo em seu devido lugar e voltei a me deitar. Minha mãe entrou no quarto com um sorriso no rosto e decidiu dormir comigo para que eu não me sentisse sozinha.

Os dias se passaram lentamente e já fazia uma semana desde o ocorrido na festa beneficente, eu não havia visto Oliver desde então e apesar de saber que isso era o certo, meu coração se sentia despedaçado com essa situação.

Eu havia ficado três anos longe dele e apesar da imensa saudade, as coisas não eram tão difíceis assim, acho que agora o meu desespero se devia ao fato de saber que estávamos na mesma cidade.

Tão perto e tão longe ao mesmo tempo!

Suspirei pela milésima vez e retirei os meus óculos para poder massagear minhas têmporas por um instante, essa situação toda estava me deixando improdutiva, eu não conseguia ler um simples texto sem sentir uma puta dor de cabeça. Já havia passado do horário de ir embora e por isso o setor jurídico estava completamente vazio, eu sabia que também deveria ir pra casa, mas estava tentando encontrar coragem pra me levantar, além do mais, Curtis havia me dito que assim que terminasse algo no setor de TI viria aqui me buscar para irmos ao Big Belly com o Paul e a minha mãe.

Me permiti ficar com os olhos fechados por mais alguns minutos, mas assim que escutei passos perto de mim, abri os olhos rapidamente e comecei a arrumar minhas coisas.

—Graças a Deus, eu confesso que estou sem coragem pra me levantar da cadeira, mas eu também estou com tanta fome que um Big Belly parece motivo suficiente pra isso, além do mais, eu... –Enquanto falava decidi me virar para Curtis para ver o motivo de todo aquele silêncio, mas perdi o ar no mesmo momento em que vi quem realmente estava na minha sala.

—O que está fazendo aqui? –Minha voz saiu completamente esganiçada e me arrependi rapidamente de ter me levantado, pois agora eu sentia que minhas pernas estavam prestes a virar gelatina.

Oliver se aproximou de mim lentamente e só parou quando estava a poucos palmos de mim.

—Eu acho que mereço algumas respostas, Felicity! –Franzi o cenho em confusão, ainda incapaz de falar e isso pareceu irrita-lo. –Você aparece novamente na minha vida depois de três anos dizendo que sente muito e que ir embora doeu mais em você do que eu era capaz de imaginar. O que droga significa isso? O que eu faço com um pedido de desculpas? Se doeu tanto assim em você, por que foi embora? Eu exijo respostas porque eu as mereço.

Eu não sabia o que dizer, não sabia o que sentir. Oliver parecia estar com tanta raiva, mas eu conseguia ver em seus olhos algo além disso, eu via dor, muita dor. Minha garganta estava travada e eu sabia que precisava sair dali o mais rápido possível.

Eu não queria ter essa conversa com Oliver e muito menos queria que fosse agora!

Comecei a balançar a cabeça em negativa e me afastar dele, mas isso pareceu enfurece-lo e de alguma maneira, a sua raiva me deixou com raiva também. Ele me segurou pelo pulso de maneira forte, mas não ao ponto de me machucar e praticamente gritou na minha cara.

—EU DISSE QUE MEREÇO UMA RESPOSTA! –Eu tentava me soltar de suas mãos, mas ele parecia me segurar com cada vez mais força. –FALA DE UMA VEZ, POR QUE ME ABANDONOU?

—PORQUE EU TE AMO, DROGA! –Oliver me soltou quase que imediatamente e se pôs a me encarar, atônito. Em qualquer outra situação eu recuaria e sairia correndo, mas não agora, agora eu havia aberto minhas barreiras, agora eu iria falar.

—Eu ouvi você falando sobre o seu casamento com a Laurel e ouvi ela dizer que não me aceitaria como sua madrinha, ela claramente te mandou escolher entre mim e ela e eu não podia deixar que você fosse obrigado a fazer essa escolha, eu achei que você a amava, então eu escolhi por você!

—Com que direito você fez isso? Você me abandonou, me fez pensar que você me odiava!

—Eu fiz o que fiz porque achei que era o certo, se você a escolhesse, ficaria pra sempre com o peso na consciência de ter abandonado sua melhor amiga, mas se você me escolhesse, acabaria me odiando com o tempo, achando que havia perdido sua chance com ela, que a culpa dela ter perdido o bebê seria sua por tê-la abandonado. –Minha respiração saía em lufadas e meu coração estava tão acelerado, que eu realmente tinha medo de ter um ataque. –Não pense nem por um segundo que foi fácil fazer o que fiz, cada uma daquelas palavras que eu disse arrancaram um pedaço do meu coração, eu não queria te abandonar, ainda mais praquela mulher desprezível que eu tanto odeio.

—Se você a odiava tanto, por que me deixou ficar com ela? –Ri baixinho, mesmo sem estar achando graça de nada nessa maldita situação e apesar do medo, decidi dar a ele a última parte do meu coração.

Sempre havia sido dele pra fazer o que quisesse mesmo!

—Porque eu te amava demais e se a sua felicidade era ela, então que Deus me ajudasse, mas eu ficaria feliz por você!

Não tive tempo de interpretar seu olhar, não tive tempo sequer de respirar antes de sentir a boca de Oliver se grudando na minha.

O contato de nossas bocas, por mais inesperado que fosse, foi maravilhoso e quente. No início tudo não passou de um roçar de lábios, mas logo o ambiente ao nosso redor começou a mudar e rapidamente Oliver pediu passagem com a língua, passagem essa que eu prontamente cedi. O beijo se tornou voraz e devastador em questão de segundos e quando dei por mim já estava agarrando o loiro de forma totalmente inapropriada para o meu local de trabalho, nossas línguas batalhavam pelo controle e meus pulmões imploravam por ar, mas aquele contato estava tão bom que eu simplesmente não conseguia encontrar forças em mim para parar, eu nunca havia imaginado em todas as minhas noites insones que um simples beijo dele teria o poder de me fazer perder a cabeça!

Oliver me empurrou em direção a minha mesa e me colocou sentada em cima dela, em seguida se encaixou no meio de minhas pernas e eu gemi baixinho ao sentir sua masculinidade contra mim, mas foi nesse momento, nesse exato momento, que eu comecei a me indagar sobre o que diabos nós estávamos fazendo.

Eu amava Oliver e sem dúvida alguma queria ficar com ele, mas o que eu estava sentindo nesse beijo não era amor –de nenhuma das partes –, era raiva, desejo e sobretudo confusão. Eu não podia fazer isso comigo mesma, com nós dois, merecíamos mais que isso.

Me afastei dele rapidamente e ergui a cabeça para olhar em seus olhos, sua respiração estava ofegante assim como a minha e eu precisei de um tempo para encontrar a minha voz.

—O que estamos fazendo? Isso não está certo, Oliver! –Minha frase pareceu clarear a mente dele e o Queen se afastou de mim rapidamente.

—Tem razão, isso não está nada certo!

Ele saiu da sala antes mesmo que eu pudesse proferir uma única palavra e desabei em minha cadeira logo em seguida. Eu não fazia ideia do que havia acabado de acontecer ali e apesar de termos nos beijado, eu não estava feliz. Oliver não havia me beijado por amor e sim por estar confuso, não era assim que era pra acontecer.

Nada disso deveria ter acontecido!

—Fel, você está bem? Aconteceu alguma coisa? –Levantei a cabeça e me deparei com Curtis me olhando confuso, eu não sabia o que havia acabado de acontecer, então preferi sorrir.

—É claro, só estou cansada. Vamos?

...

—Você precisa falar com ele, sabe disso, não sabe? –Tirei o travesseiro do rosto para olhar pro meu amigo e ele sorriu, Barry parecia um menino com suas covinhas e seu sorriso fácil, mas eu sabia que ele também havia passado por muita coisa.

Ele e Caitlin haviam chegado hoje para passar o natal comigo, minha mãe, Curtis e Paul. Nós não iríamos na festa dos Queen esse ano e por isso Sara, Tommy e Thea haviam prometido que sairiam de lá o mais rápido possível para poderem ficar conosco.

—O que eu poderia falar, Barry? Tommy me ligou e disse que Oliver está mal e não sabe o porquê, mas eu sei, ele está mal desde o dia em que nos beijamos e droga, se essa foi a reação dele ao beijo o que eu devo pensar? –Barry sorriu levemente e se sentou ao meu lado na cama, somente ele e Caitlin sabiam do acontecido, eu não havia conseguido contar para mais ninguém.

—Significa que ele te ama e não sabe como agir agora que descobriu que você foi embora porque o amava e não porque não o queria mais por perto. –Eu abri a boca para argumentar e ele me silenciou com o olhar rapidamente para continuar falando. –Ele passou três anos tentando te odiar, Felicity. Três anos sofrendo de saudades suas, achando que você simplesmente não se importava e agora ele descobre que é totalmente o oposto, acho que ele tem o direito de ficar confuso. Eu sei que eu ficaria!

—Mas quem garante que ele me ama desse jeito, Barry? Quem garante que ele ainda não me enxerga só como a melhor amiga?-O homem a minha frente riu baixinho e acariciou os meus cabelos.

—Eu vi o modo como ele olhou pra você há anos atrás, no dia em que ele e os outros foram passar o dia de ação de graças com você em Oxford e naquele dia eu tive certeza.

Ele beijou minha testa e se levantou rapidamente, eu fiquei atônita por alguns segundos, mas no momento em que ele estava atravessando a porta, eu encontrei minha voz.

—Você teve certeza de que? –Ele sorriu em minha direção e piscou rapidamente daquele jeito fofo que só ele conseguia.

—Que melhores amigos não se olhavam do jeito que vocês se olhavam! –E eu encarei de boca aberta e ele saiu do quarto rapidamente, mas mesmo assim pude ouvir sua voz do corredor. –Se eu fosse você me arrumaria logo e desceria pra nos ajudar a preparar a ceia!

Lentamente, fiz o que ele me pediu e quando estava pronta me encarei em frente ao espelho, eu estava vestida de maneira simples, pois não precisava de luxo para ceiar com a minha família, mas eu via em meus olhos uma fragilidade que não estava lá antes. Eu sabia que o amava e por Deus como eu sentia falta dele, mas simplesmente não conseguia achar a coragem necessária dentro de mim para ir atrás dele e tentar resolver as coisas.

Tinha medo de que as coisas entre nós já não tivessem mais conserto, eu não suportaria ter a certeza de que o havia perdido pra sempre. Éramos pessoas diferentes agora e se eu não o conhecesse mais? Será que sua cor favorita ainda era verde? Será que ele ainda alisava os cabelos quando estava nervoso?

Olhei ao redor do meu quarto e meus olhos pararam em cima do globo de neve que a vovó havia me dado, durante todos esses dias aquela frase não saía da minha cabeça e eu simplesmente não conseguia encontrar um real significado pra ela.

Escutei o grito da minha mãe me chamando do andar debaixo e suspirei baixinho antes de sair do meu quarto e rumar para a central do natal. Mamãe parecia um general, mandando o Curtis massagear o peru para que ele ficasse mais macio e brigando com Barry para que ele não estragasse as rabanadas.

Eu acabei rindo um pouquinho alto demais e isso atraiu a atenção dela pra mim, nesse momento eu soube que estava encrencada.

—Bebê, que bom que você resolveu descer. Caitlin e Paul estão ocupados cuidando dos legumes e dos bolinhos de bacalhau, então você precisa ir fazer o purê de batatas!

Nem tive tempo de contestar antes de ser chutada pra cozinha e passei as horas seguintes cozinhando, recebendo ordens e rindo dos puxões de orelha que Curtis estava levando da minha mãe. Por um momento eu me senti feliz, por um momento senti que apesar de tudo o natal ainda estava presente em minha vida, porque era disse que o natal se tratava, do amor de uma família reunida.

Não importavam os presentes ou a comida, no final tudo o que importava era o amor!

Quando faltava cerca de uma hora pra meia noite, peguei as chaves do carro e saí discretamente do apartamento, eu sabia onde precisava ir, mas não sabia se teria a coragem necessária para o fazer.

—Pensando se vai atrás dele ou não? –Me virei surpresa para Caitlin e ela se encostou em meu carro do mesmo jeito que eu estava, ficamos apenas nos olhando por um momento e então ela suspirou e pegou minha mão. –Você não pode desistir, Felicity! É sua felicidade que está em jogo!

—Eu não sei o que fazer, Caitlin! –Ela sorriu de leve e me abraçou rapidamente antes de voltar a se afastar para mirar meu rosto.

—Sabe sim, você só está com medo e isso é normal!

Voltamos a ficar em silêncio por um tempo e de repente ela sorriu carinhosamente e seus olhos brilharam de uma forma estranha.

—Me diga senhorita advogada, como vocês descrevem quando um caso chegou ao final? Quando não dá mais pra entrar com nenhum recurso e está tudo acabado? –Franzi o cenho com sua pergunta, pois não sabia onde ela gostaria de chegar, mas respondi mesmo assim.

—Quando isso acontece, a gente diz que transitou em julgado!

—É disso que eu estou falando, Felicity. A nossa vida só transita em julgado quando morremos, enquanto isso não acontece ainda podemos fazer de tudo para as coisas darem certo, ainda podemos manter a esperança porque o amor é o ultimo recurso!

Eu, que estava de cabeça baixa, voltei meus olhos na direção dela de maneira tão rápida que até me senti tonta, não era possível que ela tivesse falado aquela última frase.

—Desculpe, o que você disse no final?

—Eu disse que o amor é o último recurso! –Agarrei os braços dela com certo desespero e percebi que de alguma forma, ela me entendeu.

—O que isso quer dizer?

—Isso quer dizer que quando tudo o mais falhar, você sempre vai ter o amor ao seu lado. Ele é o ultimo recurso das nossas vidas, Felicity e não pode ser destruído. O amor pode se transformar, se dividir ou se multiplicar, mas ele nunca acaba. Você e ele ainda estão aqui, então ainda existe uma chance!

Eu senti meus olhos se encherem de água, pois naquele momento entendi o motivo pelo qual a vovó me deu o pequeno globo de neve e tive certeza de que ela havia me enviado Caitlin de onde ela estivesse justamente para esse momento. Para me ajudar a encontrar o caminho e a coragem necessária. .

Minha amiga pareceu perceber que eu finalmente havia entendido e se limitou a apontar para o carro com uma expressão que dizia uma só palavra...

“Vá!”

Entrei no veículo rapidamente e comecei a dirigir até a mansão dos Queen, mas mesmo que agora eu estivesse decidida a falar com o Oliver, ainda precisava de um tempo para me preparar, por isso optei por ir pelo caminha mais longo.

Coincidentemente ele passava pelo bairro que eu morava quando cheguei em Starling e decidi passar em frente ao meu prédio para ver como ele estava. Dirigi até lá e parei em frente ao parquinho distraidamente, admirei de longe o meu prédio por alguns segundos e deixei as lembranças me invadirem.

Eu havia passado bons e maus momentos aqui, eu havia crescido e amadurecido, eu havia encontrado o amor e tudo graças à minha mãe ter esquecido de comprar os ingredientes para o nosso biscoito natalino.

Fechei os olhos por alguns minutos e pude me sentir naquela época de novo, voltando do mercado e vendo um garotinho sentado no balanço. Abri os olhos marejados para mirar aquele mesmo lugar e senti todo o ar fugir do meu corpo quando vi aquele garotinho sentado no mesmo balanço de anos atrás me encarando fixamente.

Mas agora não se tratava mais de um garotinho e sim de um homem!

Por um momento pensei em ligar o carro e sair dali o mais rápido possível, mas respirei fundo e encarei a realidade. Eu amava Oliver e isso nunca iria mudar, mas eu precisava resolver as coisas agora ou nunca seria capaz de ser feliz.

Talvez não nos acertássemos, talvez realmente não tivéssemos sido feitos para ficarmos juntos, mas eu precisava tentar e se no final as coisas não dessem certo, pelo menos eu saberia que havia feito tudo o que podia e ficaria só com as partes bonitas desse amor dentro de mim.

Saí do carro rapidamente, antes que a coragem se esvaísse do meu corpo e caminhei até ele com dificuldade, devido a neve acumulada ao redor do parquinho. Diferente daquela primeira vez em que Oliver havia me notado só quando eu já estava ao seu lado, agora ele observava cada passo que eu dava em sua direção!

Quando fiquei frente a frente com ele, abri a boca para despejar todos os meus sentimentos, mas tudo o que saiu foi:

—Está frio aqui fora! –Os olhos azuis dele me paralisaram e por um momento Oliver sorriu, mas não um sorriso qualquer, o meu sorriso, aquele que ele só direcionava a mim e que fazia com que eu sempre se sentisse especial.

—É lógico que está frio, está nevando! –Ri baixinho e revirei os olhos, sentindo o meu coração mais leve.

—Você vai ficar doente, deveria ir pra sua casa!

—E você deveria cuidar da sua vida!

Estendi minha mão pra ele e sorri da melhor maneira que consegui.

—Eu sou a Felicity! –O homem olhou pra minha mão por um longo tempo, mas por fim suspirou e retribuiu o aperto.

—Eu sou o Oliver. –Mesmo com o frio que eu estava sentindo, me sentei ao lado dele e não soltei a sua mão.

—Por que você está aqui sozinho? –Meu coração estava disparado e eu esperava que Oliver não fosse capaz de ouvir o barulho que ele estava fazendo.

—Eu me apaixonei por uma garotinha quando ela me fez essa mesma pergunta. Mas naquela época eu era novo demais pra saber o que era o amor, decidi que ela seria minha melhor amiga e que eu a protegeria de tudo e de todos, mas um belo dia eu percebi o que realmente estava acontecendo, eu estava apaixonado e isso me assustou muito. Meus pais nunca foram um exemplo de casal e eu morria de medo de ser como eles, então eu fazia de tudo para evitar os caminhos que os dois haviam tomado, eu tinha um plano e me parecia muito bom na época. Eu planejava o meu dia inteiro, eu precisava saber o que aconteceria desde a hora que eu me levantasse até a hora que eu fosse dormir, eu precisava ter o controle de tudo, assim eu evitaria danos, assim eu não me machucaria.

Senti uma lágrima escapando pelos meus olhos e naquele momento Oliver se ajoelhou na minha frente antes de apoiar os braços em minhas pernas e limpar meu rosto.

—Eu estava indo bem no meu esquema de ter tudo planejado, mas essa garota sempre conseguia atrapalhar tudo. As coisas com ela nunca eram como eu esperava, ela sempre me surpreendia e era fácil estar com ela, tão fácil como respirar e isso me deixou com tanto medo que acabei sendo um idiota e pedindo outra garota em namoro. Estar com Laurel era seguro, ela era estável porque eu sabia o que esperar dela, eu fui covarde, sei disso, mas as coisas se complicaram e de repente eu perdi o controle. Continuei amando essa garota em segredo e a vi se tornar uma mulher diante dos meus olhos, o amor crescia de maneira tão latente que eu não conseguia mais segurar tudo aquilo dentro de mim, mas então um dia ela me abandonou e eu me senti despedaçar.

—Oliver, eu... –Ele colocou o dedo em minha boca e me impediu de falar, eu poderia ter insistido, mas percebi que ele precisava daquele momento, ele precisava colocar tudo pra fora e de certa forma eu sabia que eu também precisava escutar.

—Eu tentei odiá-la porque ela havia me abandonado, mas eu simplesmente não consegui, passei os últimos anos lendo cada notícia que saía sobre ela, vibrando com as conquistas dela e desejando que ela estivesse feliz, mesmo que eu nunca mais a visse. Eu me acostumei a ideia de nunca tê-la e então de repente, ela reaparece na minha vida e diz que foi embora por me amar também, um amor tão profundo que a fez sacrificar a própria felicidade por mim, para fazer o que ela considerava melhor pra mim.

Nesse momento eu já chorava como uma garotinha e abracei Oliver com todas as minhas forças, meu Deus como eu o amava! Seu cheiro me invadiu e me senti respirar pela primeira vez em anos quando ele passou os seus braços ao meu redor e eu percebi que lá era o meu lugar.

Sempre me perguntei se casa poderia ser uma pessoa e agora eu sabia a resposta, Oliver era minha casa, era aos braços dele que eu pertencia, mas eu ainda tinha medo, tinha medo de que a distância tivesse quebrado algo dentro de nós, tinha medo de que em minha ânsia de protegê-lo eu acabasse por ter estragado tudo.

—Eu sinto tanto por ter ido embora, aquilo partiu meu coração em tantos pedaços. Eu te amo tanto, me perdoa por não ter falado antes, eu deveria ter lutado por você, deveria ter falado mais alto, mas eu não tive coragem, então eu fui embora. Nós somos pessoas diferentes agora, Oliver! E se isso fizer o que há entre nós acabar? E se o tempo em que passamos separados for o suficiente pra destruir esse amor antes mesmo de começar a vivê-lo? Não existe uma forma de apagar os erros do passado!

Oliver se afastou de mim lentamente e grudou sua testa na minha, eu senti o seu sorriso antes mesmo de poder ve-lo e em seguida ele começou a acariciar os meus cabelos.

—Você tem razão, os erros do passado não podem ser apagados, mas nós vamos ficar bem mesmo assim, eu tenho certeza!

—Como você sabe disso? –Nesse momento percebi que os olhos dele também estavam marejados e meu coração disparou ainda mais dentro do peito, se é que isso era possível.

—As pessoas mudam Felicity, significa que estamos crescendo, significa que estamos evoluindo, exceto por uma coisa, uma coisa que nunca vai mudar. É como eu me sinto por você, amor é uma palavra pequena demais. –Nesse momento sua boca se aproximou da minha e ficamos a milímetros de distância. –E não importa quem você seja, ou o que você se tornar e não importa quem eu seja, ou o que eu me tornar, você sempre vai ser, você sempre vai ser o amor da minha vida. As pessoas mudam, mas isso nunca vai mudar!

Fechei a distância entre nossas bocas e o beijei com todo o amor presente em cada célula do meu corpo, senti Oliver estremecer antes de retribuir e quando ele suavemente pediu passagem com a língua e eu cedi, tudo se encaixou, todo o universo se encaixou. Oliver estava certo, nós ficaríamos bem, não importavam os erros do passado ou todas as coisas que ainda precisássemos enfrentar, nós ficaríamos bem porque nos amávamos e esse amor não era algo que poderia desaparecer com o tempo.

Caitlin e vovó estavam certas, amor era mesmo o último recurso!

Separamos nossas bocas somente quando escutamos o bip do seu relógio e Oliver se levantou e me puxou rapidamente para o seu peito antes de voltar a me abraçar.

—Feliz natal, eu amo você!

—Feliz natal, eu amo você também! –Senti o sorriso se espalhando pelo meu rosto, pois agora eu sabia que as três palavrinhas dele tinham o mesmo significado das minhas.

—Sabe, eu nunca quebrei a nossa promessa, exceto por aquela vez com a Laurel, embora eu deva admitir que até naquele dia, no momento em que eu a estava pedindo em namoro e o relógio tocou, tudo o que eu pensei foi você! E nesses anos que estivemos separados, eu dei o meu jeito de passar os natais com você, sempre que o relógio soava a meia noite, eu estava com uma foto nossa, sabe aquela que nós tiramos...

—... no meu aniversário de dezesseis e você brigou com todos os garotos que quiseram dançar comigo naquela noite, dizendo que os únicos que tinham permissão para dançar comigo eram você e o Tommy. Eu também tenho essa foto e eu também passei os últimos natais olhando pra ela sempre que dava meia noite, foi o jeito que eu encontrei de não quebrar a nossa promessa, mesmo estando longe de você!

—Nunca vamos quebrar a nossa promessa, você é minha namorada e não vai mais ficar longe de mim! –Sorri e fechei os olhos rapidamente, aproveitando o som daquela palavra saindo de sua boca antes de olhar pra ele de forma divertida.

—Eu sou sua namorada, então? –Ele assentiu antes de apertar os braços ao meu redor.

—Eu nunca mais vou deixa-la ir, minha alma não suporta mais ficar longe da sua. Hoje você é minha namorada, amanhã será minha esposa, depois de amanhã a mãe dos meus filhos e quando estivermos velhinhos e eu já praticamente não me lembrar de nada, eu vou me lembrar disso, do amor que eu sinto por você, porque isso é algo que está amarrado na minha alma.

Nesse momento, a neve começou a cair com um pouco mais de força e eu sorri, Oliver aproximou o seu rosto do meu e assim como havia feito a poucos minutos atrás, deixou sua boca a milímetros da minha.

—Por que você está sorrindo desse jeito? –Passei os braços em volta do seu pescoço e encostei a boca na sua, eu só precisava falar uma coisa em voz alta antes de iniciar o beijo que selaria o começo das nossas vidas.

—Eu estou sorrindo porque você, Oliver Queen, é o meu milagre de natal!


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Notas finais do capítulo

Me perdoem pelas quinze mil palavras, mas eu não consegui me controlar kkkkkkkk...
Enfim, espero de coração que vocês tenham gostado e estou ansiosa para saber a opinião de cada uma de vocês...Amanhã vamos ter mais uma one incrível sendo postada aqui, então fiquem de olho!
Um feliz natal e um próspero ano novo a todas vocês,
beijooos!!!!!