Dia seguinte...

Domingo, às 19h:06min...

P.O.V Do Beck

Diferente das outras mulheres, a West não demorava tanto para se arrumar. Eu meio que demorava mais que ela, por ser um cara vaidoso e tudo mais, e ainda tinha o meu cabelo, pelo qual eu tinha que cuidar dele especialmente, não era coisa de maricas e nada do tipo, mas eu não poderia sair por aí com o cabelo ensebado e desarrumado, né? Não mesmo. De jeito nenhum.

Vesti uma camisa preta, um jeans casual, uma jaqueta marrom e calcei meus sapatênis pretos com duas listras brancas nas laterais.

Meu cabelo estava hidratado, apenas passei as mãos nele, e amassei algumas madeixas para ficarem levemente onduladas, as pontas já batiam em meus ombros. Eu gostava do meu comprimento. Era um charme a parte.

Cabelo? Okay. Roupa? Okay. Calçado? Okay. Desodorante? Okay... Perfume? Ah... Sabia que faltava uma coisa. Borrifei um pouco da minha colônia italiana que custava o olho da cara e sorri satisfeito.

Aquilo era um chama para as mulheradas. Caiam em cima de mim feito abelhas nas flores. Minha colônia cara valia cada tostão.

Jade já estava pronta e esperando por mim, enfiei minha carteira no bolso e fui de encontro à morena que estava na sala me aguardando impaciente.

— Até que enfim. - Bufou e eu dei um sorrisinho.

— No dia do casamento de vocês, pode apostar que é você que vai esperar no altar, Jade. Esse aí vai se atrasar pelo menos umas 3 horas. - Meu irmão debochou.

— E você vai esperar umas 5 horas quando for se casar com a Eva. - Retruquei e a Jade riu.

Ben fechou a cara e me fuzilou. 

— Isso não têm graça. Parem de rir! - Ele nos repreendeu.

— Ah, têm sim... - A morena riu ainda mais se divertindo comigo.

Ele revirou os olhos e resmungou algo que não consegui entender.

Jade parou de rir e tentou se recompor. Suas bochechas estavam até coradas. E ela estava linda... Na verdade, ela era linda demais.

Estava irresistível com aquela calça de lavagem escura, que modelava seus quadris e suas pernas. A blusa azul-prussiana realçava a cor dos seus olhos. A jaqueta preta e as botas de salto lhe davam um ar mais sexy e fatal. A West parecia uma Bad Girl e aquilo chamava muito a minha atenção...

Os cabelos escuros e fartos caiam como cascatas negras por seus ombros, com as pontas mais onduladas do que nunca. Ela usava uma maquiagem que realçava o olhar e seu típico batom cor de vinho que deixava seus lábios convidativos e ainda mais apetitosos.

Senti vontade de agarrá-la ali mesmo.

— Vamos? - Ben me tirou dos meus pensamentos nada puros.

A West apanhou a pequena bolsa marrom que estava sobre o sofá e eu a conduzi para fora de casa, com o meu irmão em nosso encalço.

Fomos no carro dele, como combinado, passaríamos na casa de Eva, para ele pegá-la e estavámos alguns minutinhos atrasados por minha causa.

[...]

P.O.V Da Jade

Quase todas as casas de Calgary tinham o mesmo tamanho e estilo. Ben estacionou o carro em frente à uma casa estilo rústica, feita de madeira escura, com cercado pintado e uma bela varanda espaçosa.

Buzinou três vezes seguidas.

Não demorou muito para que Evangeline aparecesse. Em passos apressados, chegou até nós, abrindo o portão de madeira com rapidez e parou ao lado do carro esperando Ben abrir a porta.

Abaixei o vidro da janela para vê-la melhor. Ela não estava vestida como uma dançarina da noite e nem como uma patricinha, e nem como nada do tipo.

Seus cabelos loiros claríssimos estavam cacheados. Ela estava de jeans assim como eu, um modelo de calça que se ajustava em suas curvas, usava uma blusa dourada sem decote, mas o tecido justo realçava seu busto avantajado e para completar o look; Uma jaqueta vermelha-escura, sandálias com saltos com tiras em torno dos tornozelos e uma bolsinha dourada pequena.

— Você está linda. - Ben a elogiou.

E era verdade... Aquele estilo até combinava mais com ela e não era nada indecente. 

A loira sorriu, murmurou um 'Obrigada' e entrou no carro do moreno número 2.

À caminho para o bar, fomos conversando amigavelmente, ouvindo músicas que tocavam na rádio local, algumas eu nem conhecia.

Quando chegamos no Bill's, me surpreendi com o estabelecimento. Era realmente antigo, parecia muito com os bares no Texas, daqueles que aparecem em filmes de Faroeste e logo de cara me encantei com o lugar.

Passamos pelas portinhas-duplas, ouvindo o som de música Country e cheiro de fritura. Era Bar&Grill, afinal, beber sem petiscos ou com a barriga vazia não era uma boa opção.

O som saia do Jukebox que tocava num volume tolerável. 

Eva me puxou pela mão, fazendo questão de me mostrar tudo ali. Deixamos os irmãos Oliver para trás com caras de tacho.

— Você joga sinuca? - Perguntou quando paramos perto de uma das mesas.

— Bom, mais ou menos... - Respondi.

— O Beck vai te ensinar com prazer. - Riu maliciosa.

Ri sem graça, assentindo.

— Gosta de beber? - Me conduziu para mais perto, aonde alguns homens altos e barbudos se divertiam jogando.

— Não muito, isso depende da ocasião, sabe? - Falei e ela assentiu.

— Ah, mas você vai amar a cerveja amanteigada daqui. - Garantiu.

— Eva, posso te perguntar uma coisa? - Nos afastamos da mesa de sinuca.

— Pode. Claro. - Sorriu.

— Qual é a sua, hein? - A encarei.

— Como? - Pareceu confusa.

— Você chamou o Ben para sair. E nos convidou também. Eu só não entendo porquê, eu sei que você gosta do Beck e não do Ben. - Fui direta ao ponto.

— O que eu tinha pelo Beck nunca passou de uma atração. E agora ele está noivo de você, e eu não sou uma vadia cruel que estraga relacionamentos, entende? Já superei. Foi uma surpresa e tanto saber que ele já estava seriamente comprometido. O que eu poderia fazer? Bola para frente. Decidi me aproximar de você para nos conhecermos melhor e o Ben está solteiro. Ah, qual é? Ele é um gato, pode admitir! - Me cutucou.

— É, isso eu concordo. - Sorri.

— E cá entre nós, eu sempre tive uma quedinha por ele... - Sussurrou confessando.

— Uau! - Por aquela eu não esperava.

Daí lembrei que o Ben a detestava e fiquei com pena da loira...

[...]

P.O.V Do Beck

Já estávamos na segunda rodada de cerveja amanteigada. Os quatros bebendo de frente para o balcão, degustando dos petiscos de queijo com presunto e azeitonas pretas com azeite. Jade estava sentada ao meu lado, o Ben estava no meio e ao lado dele, estava a nossa querida prima.

Eva soltava indiretas e dava em cima na cara de pau. Ben apenas ignorava bebericando a cerveja bem geladinha e se empanturrava de petisco.

Me curvei contra a morena, sentindo o cheiro de baunilha e menta que emanava dela, e sussurrei no seu ouvido.

— Acho melhor deixarmos eles à sós. - O que custava bancar o cupido?

— Também acho. - Sussurrou.

Descemos dos bancos altos discretamente e saimos dali de mansinho, levando um dos pratinhos de petiscos e nossos copos pela metade, indo nos acomodar em umas das mesas redondas de dois lugares, encostadas à parede.

Dali, podiámos observá-los direito. Era engraçado ver a Eva se aproximando enquanto Ben recuava quase caindo do banco. A morena ria baixinho e eu torcia para o meu irmão parar de fugir feito um marica e partir logo pra cima.

A loira chegou mais perto dele e disse algo em seu ouvido. O idiota sobressaltou e nem olhou para ela, evitando qualquer contato físico e visual. Nesse momento senti pena da nossa prima.

— Coitada, ele nem ao menos está dando chance para um flerte... - A West comentou.

— Estou começando a achar que essa Coca é Fanta! - Brinquei e rimos.

— Ele é difícil. - Murmurou.

— Quê? - Ri com gosto. - O Ben, difícil? Aquele ali é mais fácil do que garotas oferecidas no colegial. - Debochei.

— Olhe, quêm é aquela? - Apontou discretamente e eu olhei.

Uma morena alta, esbelta e usando um vestido pra lá de chamativo além dos saltos enormes havia parado ao lado do meu irmão. 

Eu a reconheci. Era uma antiga colega nossa do colegial. 

— Sabrine Foster. - Respondi à Jade.

— Ih, parece que o Ben vai dançar com ela... - Vimos ele levantar e seguir a Sabrine para o espaço onde alguns casais dançavam agarradinhos e animados.

Olhamos para a Eva que ficou sozinha ao balcão. A loira não desviava os olhos do casal que começou a dançar a música Country envolvente que tocava.

Ela virou o copo de uma vez, o esvaziando, largou a bolsa em cima do banco ao descer dali e com passos firmes, caminhou até onde meu irmão dançava com a antiga colega...

— Ela é barraqueira? - Jade arregalou os olhos.

— Nuss, você nem imagina... - Deixei meu copo vazio de lado.

— Nossa! - Virou a cadeira para ver melhor o que estava prestes à rolar.

[...]

P.O.V Da Jade

Eva foi peitar a morena por causa do Ben e aquilo estava sendo impagável. Uma discussão entre elas se iniciou, a loira estava furiosa e a tal de Sabrine apenas ria e debochava, alegando que o Ben ia sair dali com ela ao final da noite.

Nada satisfeita com o desaforo, a prima dos Oliver voou na moça que era muito mais alta que ela, as duas passaram dos xingamentos indo para a agressão num piscar de olhos.

— Meu Deus! - Beck levantou.

A música parou de tocar, e até os caras que jogavam sinuca deram uma pausa para assistirem as duas mulheres se atracando.

Levantei também em alerta. 

E o Ben? Como ficava naquela situação?

Pois bem, o idiota ficou ali plantado, olhando tudo, chocado e sem saber o que fazer. Ele não ia apartar? Afinal, era por causa dele que elas estavam quase se matando...

Gritos. Ofensas. Tapas. Arranhões. Puxões de cabelo... E as pessoas se reuniam em volta curiosas, se divertindo com a briga das malucas.

— Ele não vai fazer nada? E nem você? Faça alguma coisa, Oliver! - Agarrei o moreno pela camisa.

— Tá doida, mulher? Eu lá sou homem que aparta briga de mulheres? Claro que não! Assim como todos os homens, eu acho é excitante! - Sorriu abobalhado.

Revirei os olhos e bati na testa.

— Segura aqui! - Lhe joguei a bolsa.

— O que pensa que vai fazer? - Franziu o cenho segurando minha bolsa desajeitado.

— Duas contra uma é covardia demais. - Apontei para uma outra moça que tinha se metido na briga, deve ser amiga da tal Sabrine.

Tirei os brincos e entreguei para ele.

— Estou indo lá para dar uma forcinha para a nossa prima! - Respondi e sem pensar duas vezes, corri indo ajudar a Eva que brigava sozinha com duas piranhas.

Oliver gritou por mim e eu ignorei. Fui abrindo o caminho com empurrões e praticamente joguei o Ben para o lado que acabou caindo em cima de um cara barbudo e tatuado com o dobro do seu tamanho.

E foi então que o caos reinou. 

O motoqueiro não gostou nadinha e empurrou o Ben que despencou no chão. E o Beck se intrometeu naquela confusão que rendeu socos, pontapés, ofensas e a nossa expulsão do bar.

— A culpa toda é SUA! - Ben apontou para Eva que estava descabelada, vermelha e bufando feito um touro raivoso.

— Minha? A culpa é daquela biscate com cara de babuíno! - Ela estava tremendo de raiva.

Ele riu azedo, estava com hematomas no rosto, seu olho direito estava se fechando, e seu nariz sangrava. Beck e ele apanharam do brutamontes sem dó...

O Beck tinha um corte no supercílio esquerdo, seus cabelos estavam bagunçados, e ele tocava no ferimento no catinho direito da boca, era um pequeno corte.

E eu, bem, só sofri alguns puxões de cabelo da amiga da Sabrine e rolei no chão com ela enquanto a socava com gosto. Fora isso, eu estava praticamente ilesa.

Me juntei à Eva que estava à ponto de chorar.

— VOCÊ É UM IDIOTA, SABIA? - Avançou no moreno número 2.

— E VOCÊ É UMA SEM NOÇÃO QUE AMA ARRUMAR CONFUSÃO! - Gritou com ela no mesmo tom.

— EU TE DETESTO! - O empurrou.

— IGUALMENTE! - Chegou perto dela.

Se calaram. Houve aquela troca de olhares. E no segundo seguinte, se agarraram ali em frente ao bar, se beijando com voracidade e desespero.

Sorri com a cena. Beck me cutucou.

— Vamos cair fora daqui? - Balançou as chaves do irmão.

 – Mas, eles...

— Tem um motel logo ali, depois eles dão um jeito para voltarem... - Mostrou o motel que ficava pertinho.

Concordei e aproveitando que eles ainda se agarravam, nós roubamos o carro do Ben e Beck me levou para um lugar que não era a sua casa...

— Onde estamos? - Perguntei quando ele abriu a porta para mim.

— Não se preocupe, não é um motel e nem nada do tipo... Venha comigo, vou te mostrar o lugar que eu aluguei durante 4 meses, foi antes de eu me mudar para L.A. Já entrei em contato com o responsável pelos imóveis e ele disse que está desocupado... - Disse me deixando curiosa.

Estávamos num bairro repleto de lojinhas, onde tinha um restaurante indiano, um açougue, frutaria e até uma floricultura.

Entramos num prédio de três andares.

Era simples, sem elevador, ele pegou a chave na portaria e subimos apenas um lance de escada. Me conduziu até um estreito corredor Com portas vermelhas de cada lado, parou na porta com a placa 16.

Abriu a mesma e me deparei com um Loft. Estávamos num residencial de Lofts.

— Gosta de comida indiana? - Me puxou pela mão.

— Nunca comi. - Fui sincera.

— Sempre tem uma primeira vez. - Sorriu.

— O que significa isso? - Indaguei confusa.

— Aluguei para essa noite. Isso significa a segunda parte do nosso segundo encontro, e vou pedir comida indiana para nós jantarmos, pode ser? - Ui, ele foi logo direto.

— Claro. - Concordei aceitando jantar e passar a noite com ele ali.

Éramos adultos, solteiros e não havia mal nenhum naquilo. E uma noite não mudaria em nada entre o nosso acordo...