Michael de Vulcano escrita por Valdir Júnior


Capítulo 1
Segure a Minha Mão




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O Cruzador de Batalha Sh’Ran Classe Surak, do Grupo Expedicionário Vulcano, estava voltando para casa depois de haver passado quase três anos no espaço em missões de patrulha. O capitão S’Task e sua tripulação esperavam chegar sem incidentes, mas permaneciam todos atentos aos sensores da nave, porque sabiam que os klingons estavam fazendo incursões aleatórias pelos setores próximos sem respeitar as fronteiras estabelecidas.

Eles haviam feito uma rápida escala na Terra para realizar uma checagem de rotina nos sistemas da nave na Estação Orbital da Federação Armstrong e embarcado o embaixador Sarek, que seguiria com eles até Vulcano.

Encontravam-se a pouco mais de quatro horas de entrar em espaço vulcano quando a oficial de comunicações T’Vik chamou a atenção do seu capitão.

— Senhor – disse a jovem vulcana – acabamos de receber uma mensagem automática de auxilio. Seu ponto de origem é o posto de ciências humano-vulcano em Doctari Alfa. Eles sofreram um ataque maciço dos Klingons e estão com muitos mortos e feridos.

— Em quanto tempo podemos chegar lá, Sorel? – perguntou o capitão a seu piloto, que era também seu primeiro-oficial.

— Se usarmos a dobra máxima chegaremos a uma vírgula três horas – foi a resposta.

— Implemente -  ordenou o capitão.

Em seguida S’Task tocou um comando no braço da sua cadeira, abrindo um canal para a Doutora T’Mei, curadora-chefe da nave.

— Doutora – disse o capitão – vamos empreender uma missão de resgate e provavelmente receberemos muitos feridos. Gostaria que você acompanhasse o grupo de descida quando chegarmos. Deixe também sua equipe de sobreaviso.

— Entendido— disse T’Mei – estou a caminho.

Depois de pensar um pouco, o capitão ponderou que eles provavelmente encontrariam muitos humanos feridos no posto e ter alguém no grupo de desembarque que tivesse experiência em interagir com eles seria uma vantagem para tranquilizá-los e agilizar o resgate. Por isso abriu novamente o canal de comunicação.

— Embaixador Sarek, desculpe incomodá-lo – disse o capitão S’Task – mas eu gostaria de pedir sua assistência em uma questão.

*  *  *

A equipe de resgate era composta pelo primeiro-oficial Sorel, quatro seguranças, a Doutora T’Mei e Sarek, que atendera de bom grado ao pedido do capitão.

O cenário era aterrador. Quase todas as construções do posto de ciências haviam sido destruídas ou estavam em chamas. Os corpos encontravam-se espalhados pelas ruas e casas. A maioria fora morta pelas armas brancas usadas pelos klingons, espadas bat’Leh (1) e adagas daqtagh (2).  Eles também saquearam os laboratórios científicos, levando todos os equipamentos que conseguiram carregar.

Os raros sobreviventes começaram a ser encontrados aos poucos, escondidos em containers, embaixo dos alojamentos ou nos bosques vizinhos ao posto. Os vulcanos, como esperado, aparentavam certa serenidade. Os humanos, porém, se mostravam bastante assustados, alguns em estado quase catatônico.

O embaixador Sarek, apesar de sua austeridade vulcana, usou bem o conhecimento adquirido em  seus anos de convivência com os humanos e principalmente com sua esposa Amanda, conseguindo transmitir a segurança e a empatia de que aquelas pessoas necessitavam naquele momento, o que foi determinante para acalmá-las e facilitar o trabalho da equipe de resgate.

Depois de quase duas horas, todos os feridos haviam sido atendidos e transportados para a Sh’Ran e o oficial Sorel estava em contato com o capitão S’Task fazendo o relatório preliminar da missão.

A Doutora T’Mei avistou Sarek em pé ao lado de um container baixo, com as roupas sujas e o rosto coberto de fuligem. Ele começava a mostrar sinais de cansaço, mas mantinha um olhar firme e atento.

A curadora se aproximou, oferecendo-lhe um cantil de água.

— Você deve se hidratar, embaixador – disse T´Mei – este dia está sendo difícil para todos nós.

Ele assentiu e pegou o frasco que ela lhe oferecia, tomando lentamente um grande gole.

— Obrigado Doutora. – disse Sarek devolvendo o cantil e olhando em volta – Parece que nossa tarefa aqui foi cumprida.

— Estamos nos preparando para voltar à nave – informou a vulcana – fui informada que a senhora Amanda já enviou uma mensagem perguntando pelo senhor.

— Minha esposa se preocupa comigo muito mais do que deve – comentou Sarek, sério – e me toma por mais frágil do que realmente sou. Mas você tem razão. É hora de voltar.

Porém, naquele momento, ele ouviu um choro baixo vindo da construção às suas costas. T’Mei, que tinha uma audição tão sensível quanto a dele, obviamente também ouviu.

— Parece que ainda não resgatamos todos os sobreviventes – disse o embaixador para a jovem vulcana, já se encaminhando para a porta.

— As evidências indicam isso – respondeu a curadora, sacando seu “tricorder” (3) médico e seguindo-o.

A casa estava uma bagunça, com vários móveis quebrados e gavetas reviradas. Perto da porta da cozinha eles acharam o corpo de um homem humano de raça negra. Apesar de ser alto e forte, não havia tido nenhuma chance contra os Klingons, sendo morto quase de imediato. Os olhos de Sarek não puderam deixar de demonstrar a indignação e o pesar que sentia.

 Neste momento, eles ouviram novamente o choro, vindo de um armário localizado no corredor. Cautelosamente os vulcanos se dirigiram para lá e abriram as portas com cuidado. Viram uma pequena silhueta tentando se esconder nas sombras, soluçando baixinho. Era uma criança, uma menina, de pouco mais de cinco anos.

— Olá pequenina – disse Sarek suavemente, procurando imprimir mansidão na voz e estendendo os braços – não precisa mais ter medo, nós viemos ajudar você. Pode sair daí.

A menina o encarou demonstrando ainda um medo imenso no olhar, tremendo muito e com a respiração entrecortada. Mas ao ver aqueles olhos serenos lhe transmitindo calma e segurança, saltou para os braços dele, agora chorando compulsivamente.

Sarek saiu da casa com a menina nos braços. A pequena se agarrava fortemente ao seu pescoço, como se ele fosse uma tábua de salvação, enquanto a médica a sondava com o “tricorder”.

O primeiro-oficial Sorel, que havia sido informado por T’Mei pelo comunicador sobre o acontecido, aproximou-se rapidamente.

— O pai dela está lá dentro. Não localizei a mãe. – disse o embaixador, falando com ele em voz baixa, para evitar que a menina ouvisse – Acho que devemos providenciar para que eles sejam identificados.

— E o que faremos quanto à criança?  – perguntou Sorel.

— Por enquanto – respondeu Sarek – ela vai comigo para Vulcano.

 

 

Referências do Capítulo:

(1) A bat'leth (klingon: betleH) é uma espada ou cimitarra klingon, composta por uma lâmina curva, quatro pontos e três punhos na parte de trás. Foi projetada para combates corpo a corpo e pode facilmente extirpar ou decapitar um adversário.

(2) A Daqtagh (ou d'ktahg) é a faca tradicional do guerreiro klingon. Consiste de uma única lâmina primária de borda reta e duas lâminas secundárias curvadas, que podem ser fixas ou articuladas. É comumente usado no combate corpo-a-corpo e tem grande valor cerimonial na cultura klingon. 

(3) O Tricorder é um aparelho portátil de várias funções, combinando computador, sensor e gravador, que inclui uma pequena tela. Encontrado em várias versões, de acordo com as diversas especialidades: o tricorder médico analisa órgãos internos de seres vivos, o de engenharia analisa materiais, etc.

 


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