Miríade escrita por Melry Oliver


Capítulo 3
3. Impressões




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Acordei confusa e sonolenta, levei a mão aos cabelos numa tentativa de jogar os fios desgrenhados para longe do rosto, a luz do dia entrava pela vidraça do meu quarto, levantei-me para mais um início de manhã, passei no banheiro, e logo depois participei do desjejum com a família, mamãe e eu éramos parecidas em não se importar com o silêncio era uma característica que nós tínhamos em comum, mas ao lado de Ethan a comunicação era quase uma ação imediata.

— Mãe, ontem eu falei com o Gavin via Skype, a namorada dele estava lá, ela me parece muito mais que um rostinho bonito. – Comentou com o indicador no queixo.

Arquei as sobrancelhas.

— E o que você sabe sobre isso? Remexia a colher na tigela de cereais.

Por alguma razão a pergunta pareceu ofendê-lo, pois Ethan fez cara feia pra mim.

— Muitas coisas, eu gostei dela. – Ele me encarou. — Ela não lembra você nem um pouquinho assim. — Juntou o indicador com o dedão.

Ethan sabia se posicionar muito bem quando se tratava de oposição, minha reação foi um dar de ombros, os anos de convivência com ele me ensinaram a relevar suas atitudes encrenqueiras,  no rosto de Sarah se destacava a expressão de alguém que possuía a serenidade no olhar.

— A Scarlet não é chata, e nem tem cara de biscoito. – Acrescentou sarcástico ao morder a torrada.

— Ethan.  – Alertou Sarah em tom de repreensão, ele se encolheu na cadeira.

Ele gostava de me provocar e eu já não ligava para seu humor negro, segurei as laterais do seu rosto, e sorri sem mostrar os dentes.

— Sabe Ethan você é tão engraçadinho que dá vontade de apertá-lo.  – Os olhos dele ficaram maiores do que o normal.

— Nem pense nisso!

Quando criança tia Magnólia (na realidade é tia da minha mãe) tinha a mania de apertar as maçãs do rosto dele, por serem fofas e coradas ela não resistia.

Eu ri da cara assustada que ele fez.

Continuei a comer com um sorriso fraco nos lábios, onde estava o sarcasmo dele agora?

Sem delongas, eu tive que sair de casa a hora não esperava ninguém, abaixo de um céu nublado eu cheguei à escola no caminho até a minha primeira aula uma garota esbarrou em mim, ela me encarou de cara feia, como se a culpa fosse minha.

Seguir caminho até à sala e acomodei-me, o meu primeiro horário seria cálculo, tirei o livro da mochila o depositei sobre a carteira levantei os olhos e vi Aprille sorri ao vir em minha direção.

Enquanto eu seguia para o refeitório as gotas de água encharcavam a área livre da marquise, no corredor que me levaria para a porta de entrada, parei para olhar a chuva que caia.

— Gosta da chuva? Me assustei com a inesperada voz masculina.

Virei à cabeça e vi a dois passos um garoto menor que eu, ele era moreno de cabelo escorrido e usava o casaco com emblema escolar, o nariz redondo e as sardas pigmentavam o rosto, eu não me lembrava de ter o visto antes.

— Sim. Eu gostava da chuva.

Encarei as gotas que caiam abundantemente o gramado fora da proteção da marquise estava encharcado, o garoto se posicionou ao meu lado.

— Eu também gosto, sabe, à beleza na chuva, apesar de poucas pessoas conseguirem vê-la.

O olhei surpresa, era assim que eu pensava também.  – Puxei o casaco sobre o meu corpo.

— Destinee, não é? Ele sabia meu nome, movi as mãos em um cruzamento de braços. — Sim.

— Eu sou o Kayden Sins. – Estendeu a mão que eu segurei.

— Bem, você já sabe quem eu sou – Tentei soar cordial.

Kayden se mostrou amigável ao me acompanhar até o refeitório para depois começar a conversar com uma loira de cabelo descolorido que atravessava o refeitório a nossa frente.

— Ei Marlucie onde está aquela sua amiga bonitinha de sexta?

Vi os olhos da garota ponderarem entre o cinismo e o humor numa escolha de expressão, a garota olhou para baixo com as bochechas apertadas, tateou a saia antes de dizer.

— No meu bolso é que não está. – Ela gargalhou.

Reprimi um sorriso.

— Ah! Como se eu já não tivesse ouvido essa. – Murmurou ultrajado.

Com um largo sorriso a garota começou a caminhar para longe dele, a saia maior do que a das outras meninas balançava com seus passos rítmicos.

Fitei a sua expressão distraída de olhos fixos nas costas da garota que se distanciava.

— Tenho que resolver uma coisa, até mais Destinee. – Se despediu rapidamente e andou apressadamente em direção à menina que se dirigia para perto do bandejão dos alimentos.

Desviei o olhar  para o local que Aprille estava e a vi mover a mão e me chamar, fiz um gesto lhe dizendo que pegaria meu lanche antes, escolhi um pedaço de lasanha e um refrigerante de limão, com a bandeja em mãos eu fui até a mesa de Aprille, Ian estava lá também.

— Você conhece o Kayden? Inquiriu-me uma interessada Aprill.

Ela estava falando do garoto que gostava da chuva e possuía senso de humor?

— Ele falou comigo na entrada do refeitório. – Dei de ombros e mordi um pedaço da pizza.

— Kayden é uma figura. – Ela riu.

Depois da educação física arrumei as minhas coisas, pronta para ir embora. Aprille e Ian iriam me dá uma carona,  Ela assumiu a direção, me sentei no banco de trás com a mochila no colo, com Ian ao seu lado Aprille inseriu a chave na ignição, o motor rugiu e o carro ganhou movimento nos levando para fora da propriedade escolar,  um tempo depois o celular de Ian começou a tocar era um dos seus colegas adeptos ao esporte comentarista, ele passou a viagem toda falando sobre a Australian Football League.

Aprille se mantinha concentrada em sua direção, eu me distraía em olhar a garoa que caia lá fora, quando ela parou em frente à minha casa eu me despedir e sair do carro, sem guarda-chuva tive que correr sobre os ladrilhos que me levariam para o refúgio da minha casa usando a mochila como escudo, usei minha chave para abri a porta, no hall passei as mãos nos fios de cabelo molhado e espanei as gotas de chuva que havia em meus braços, na passagem até a escada, vi Ethan assistindo TV, a voz  feminina falava de alguma celebridade que havia aprontado,  depositei a mochila no sofá desocupado, levei as mãos aos cabelos os alinhando.

— Quem é o da vez? Perguntei interessada ao me juntar a Ethan que apontou para o televisor.

 — Michael Campion. – Falou como se esse nome significasse reconhecimento.

Fazia algum tempo que eu não assistia tevê, então comecei a prestar atenção na reportagem.

"Depois de disputar corridas ilegais pelas ruas de Los Angeles, discuti em público com sua até então namorada a atriz Dawn Laster, e de se irritar em uma entrevista a um programa de TV...". – Enumerava apresentadora a lista problemática do cantor.

Infelizmente isso não me surpreendia.

"Michael Campion teve outro show cancelado o evento seria realizado na Inglaterra, segundo a assessoria do astro, Michael está passando por problemas de saúde, e se encontra na sua mansão, descansando, é claro que as "Campians" ficaram preocupadas com o jovem cantor, e torcem para que ele se recupere o mais rápido possível.".

Um filme passou pela a minha cabeça...

Na curva do corredor largo, tive um breve deslumbre de um garoto branco em pé em cima de um veículo que se locomovia rapidamente, ao invés dele desviar do meu caminho ele veio em minha direção, e antes de ser atropelada por um Hoverboad desgovernado ouvir alguém dizer.

 — Cuidado! Era um grito aflito.

Cada um caiu para um lado, com as mãos eu tentei aliviar o impacto da queda.

O que de fato me ajudou muito, uma parte da minha mente estava aliviada por eu não está usando vestido muito menos saia, senão neste momento eu estaria morrendo de vergonha, já a outra metade ameaçava me levantar e ir tirar satisfação com o causador.

A figura em pé do garoto não ganhou destaque em minha mente, irritada como eu estava seria melhor não o encarar.

Mas que coisa parece que ele não tinha dois olhos para enxergar bem no centro da cara!

— Me desculpe. – Pediu humilde. — Eu não a vi, tentei desviar, mas estávamos muito perto. – Ele estendeu a mão pra mim.

Mesmo sem vontade eu a segurei, e pela primeira vez eu levantei o olhar para vê-lo, eu ainda não tinha prestado atenção nele, não como agora que eu encarava os olhos azuis maiores do que o normal fixos em meu rosto, de aparência juvenil com certeza não passava dos 19 anos, seus cabelos semelhavam a uma cor próxima ao ouro encontravam-se ocultos pela touca que usava lhe escapavam alguns fios dourados pelas laterais e emolduravam-se no rosto de feições harmoniosas, suas sobrancelhas parcialmente ocultas pelos fios lisos sobre a testa, os olhos ornamentados por uma franja espessa de cílios, o nariz arrebitado as maçãs do rosto firmes e levemente coradas demonstrava uma maciez evidente, e por fim os lábios avermelhados de aspecto convidativo.

Prestei atenção nos detalhes bem mais do que a situação exigia, reprimi os lábios frustrada e um pouco envergonhada, por que o causador tinha que ser tão bonito?

Olhei em volta rapidamente avaliando a situação, por se tratar de um incidente muitos olhares curiosos caíram sobre nós, não dei a mínima para a plateia a nossa volta, tinha que me manter impassível.

Soltei a mão que me ajudou como se tivesse levado um choque, desviei o olhar e flexionei as pernas, ajeitei as roupas, em minha vistoria percebi o tênis desamarrado e no outro lado a falta do calçado.

Como eu fui perder um tênis!

Procurei com os olhos encontrando primeiramente o meu celular caído ali perto, inclinei a cabeça à procura do tênis perdido jogado próximo do aparelho, enquanto ajuntava o Iphone ouvi o garoto dizer.

— Você está bem?

Suspirei, enquanto calçava o tênis, preocupada com o meu Iphone, apoiei os pés no chão.

— Estou. – O garanti checando o celular com a tela rachada.

Não, não, não!

— Graças a Deus. – Ressaltou aliviado.

Abaixei a cabeça encarando o objeto em minhas mãos.

— Você. Quebrou. O. Meu. Iphone. – Expus calmamente apesar de ser a última coisa que eu estava sentindo, na realidade eu queria gritar com ele.

Eu havia acabado de ganhar de presente de aniversário da minha mãe, presente esse que eu esperei muito.

Ele, o destruidor piscou confuso, os lábios entreabriram num arquejo inaudível, ao invés de perder o meu tempo olhando a cara de paisagem dele, depositei o que sobrou do meu Iphone na minha bolsa atravessada ao corpo.

 Ele quebrou o meu Iphone...

— Olha... Eu realmente sinto muito, se tiver uma maneira de recompensá-la, eu ficarei...

O mirei estressada, levantei a mão o interrompendo, dei um sorriso duro.

Eu não me considerava agressiva até aquele momento, e não me controlei ao desferir palavras pesadas para o estranho.

— O melhor que eu faço é ficar bem  longe de você. – Murmurei irritada.

Ainda tive o vislumbrei de um olhar triste, enquanto eu caminhava para longe dele, bem a tempo de ver um homem de 30 e pouco se aproximar a passos largos do garoto, ele estava agitado.

Era ele!

Como eu poderia esquecer o rosto do responsável que havia quebrado o meu Iphone? De ter me irritado ao ponto de eu esquecer de cobrar o prejuízo?

Era ele andando pelas ruas de Los Angeles, rodeado pela sua comitiva, já não lembrava mais aquele garoto franzino de olhar genuíno, que eu esbarrei há algum tempo.

O atual usava os cabelos loiros desgrenhados caindo nos olhos expressivos, os traços marcantes do rosto, de olhar feroz e distante numa expressão bravia, apesar de toda a brutalidade anunciada ele era daquelas pessoas que chamavam atenção por onde passam, o corpo másculo, a arte corporal marcava presença na pele alva, o mesmo e ainda assim diferente Michael Campion.

Eu continuava incrédula, mesmo depois de ver a confirmação nas imagens que o retratavam como um garoto com cara de bom moço e atitudes bonitas este sim lembrava com maior clareza o garoto do aeroporto, mas o que ficou constatado sem nenhuma dúvida foi que o aparente queridinho das meninas havia mudado e se transformado em um bad boy.

A grande influência que ele exercia com o público teen era notado na aglomeração de fãs perceptivelmente composta por milhares de garotas reunidas na Madison Square que gritavam o nome dele como se suas vidas dependessem disso.

— Inacreditável.

As imagens na TV mudaram outra vez, e mostravam um Michael sem camisa e tatuado, cantando em cima do palco, envolvido pela sua música, ele era um exibicionista, deveria saber que era talentoso e provavelmente também tinha consciência  do  corpo atraente que possuía, alguns de seus maiores sucessos apareceram em clipes musicais, o destaque aparecia em sua bela atuação.

 Aparições em programas de TV em que ele foi entrevistado também ganharam destaque, enquanto a repórter especialista em saber da vida alheia compartilhava as fofocas mais recentes sobre o jovem pop star.

— Esse aí tem tudo para ter destaque aonde chega. – Enumerou nos dedos. — Tem fama, dinheiro e de bônus tem boa aparência. — Com certeza ele entrou na fila da sorte inúmeras vezes.

Revirei os olhos e o encarei.

— Não se esqueça de que nem tudo que reluz é ouro.

A grama do vizinho nem sempre é a mais verde, às vezes é apenas uma armadilha para os olhos.

— Não, mas a vista é agradável. – Acrescentou.

Não insisti, era óbvio que ele não entendia o meu ponto de vista ou simplesmente não queria compreender, voltei a fitar a TV em uma tentativa de fazer a conexão.

— Falando assim até parece que você não gosta. – Murmurou Ethan me olhando.

— Até minutos antes eu nem lembrava dele. – Esclareci.

Ele me olhou como se eu não fosse desse planeta.

O foco da reportagem era relatar detalhadamente sobre a fase atual do cantor que se mantinha recluso e longe dos holofotes da mídia seja por problemas de saúde ou por outros motivos particulares, a evidente preocupação das fãs na busca por notícias dele causava certo impacto.

Dúvidas incomodavam, e eu não fazia parte dá exceção, a verdade é que eu não acreditava em coincidências tão irreais, se eu não tivesse ficado tão preocupada com o estado físico do meu Iphone, eu teria sido mais atenta.

Em um impulso eu fui para o quarto peguei o laptop o liguei e comecei a fazer minhas buscas no Google, às notícias sobre ele eram tantas que ficava difícil saber o que era verdade ou não, para ser prática fiz uma pesquisa através de imagens.

As fotografias de Michael Campion o mostravam como um artista de visual camaleão, dos cortes mais radicais aos comportados, o rosto demarcava a aparência de uma personalidade predominante sem os traços genuínos que eu pensei ter visto um dia.

As últimas aparições em público revelavam um rosto cansado de pele quase translúcida, os cabelos abaixo do queixo em um motim sem fim de fios lisos.

Como uma pessoa mudaria tão radicalmente em tão pouco tempo?


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