Cativante escrita por CowardMontblanc


Capítulo 1
Cativante


Notas iniciais do capítulo

Essa fic foi tão gostosa de escrever! Meu peito ficou todo quentinho e tudo fluiu tão facilmente de mim... É muito gostosa essa sensação de ver que a história já tava praticamente pronta e só precisava ser colocada pra fora, mesmo.

Espero que você se divirta e acabe tão feliz lendo quanto eu fiquei escrevendo! ♥

Boa leitura! ♥



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Cativante

Kai Chisaki completou doze anos há poucos dias e estava lendo um livro que, ao menos dessa vez, não era sobre doenças ou medicina. Foi o velho quem lhe deu de presente: uma história sobre aventuras no espaço, em planetas distantes e estrelas de nomes complicados. O protagonista era um cientista - uma profissão nobre, algo que o garoto admirava - que ajudava o governo a evitar a destruição do universo por conta de uma guerra envolvendo vários planetas diferentes.

A história era divertida o suficiente para distraí-lo, mas Kai não conseguia evitar de achar o romance do protagonista com uma de suas colegas de trabalho incrivelmente desnecessário. Eles eram bons amigos nos primeiros capítulos e Kai estava mais do que feliz lendo sobre os dois se aventurando e se ajudando sem precisar ler sobre como ele achava ela tão bonita ou sobre como ela sentia uma imensa vontade de beijá-lo a cada segundo que seus olhares se cruzavam.

A porta do quarto se abriu no momento que Kai acabou de revirar os olhos após ler mais um parágrafo descrevendo a intensa atração romântica presente entre os personagens. O menino pausou a leitura um pouco e sorriu ao ver que Hari Kurono era quem estava fazendo companhia, sentando-se ao seu lado na cama.

Ele conhecia Hari há anos e os dois sempre foram melhores amigos, do tipo que saiam escondidos algumas vezes para olhar as estrelas ou que ajudavam a roubar os biscoitos dos adultos, pois sabiam que podiam guardar qualquer segredo e se meter em todo tipo de presepada sem medo.

Era apenas justo que eles contassem suas dúvidas um para o outro também, por mais bobas que parecessem.

“Hari, como é se apaixonar?” A pergunta foi feita com uma mistura de inocência infantil com curiosidade científica, além de uma boa dose de confusão. No entanto, aquilo não era muito incomum vindo de Kai, que sempre via o mundo como um grande experimento. Além disso, Hari sempre foi o mais sociável da dupla e apesar de ser apenas um pouco mais velho que o outro, já tinha vivenciado umas poucas paixonites.

Hari não conseguiu evitar de colocar os dedos no queixo, coçando-o em contemplação. Aquela era uma pergunta difícil de responder, tanto por causa do fato de que Kai nunca tinha se apaixonado por alguém como também por Hari não ter ainda muita noção do que fazer em situações onde ele mesmo está interessado por alguém.

Porém, ele não queria deixar o amigo sem uma resposta.

“Bem, é quando você olha pra uma pessoa e sente… Coisas. Seu coração bate mais forte, você sente um aperto no peito, o estômago revirando um pouco na barriga… E quanto mais você olha pra pessoa, quanto mais tempo passa com ela, mais forte fica isso, aí mais você quer ficar do lado dela, beijar ela, fazer carinho e tal… Mais ou menos assim.” Hari percebeu enquanto falava que o amigo não parecia ter muito interesse em vivenciar todas aquelas emoções - o jeito que o garoto torceu o nariz e levantou as sobrancelhas finas, um tanto incrédulo, deixava tudo bem claro.

Para Kai, que só tinha o livro e alguns filmes como base para comparação, a descrição de Hari parecia ter sido bastante acertada e não muito diferente do que ele até mesmo já tinha visto por aí entre adultos e adolescentes um pouco mais velhos que eles. No entanto, ele não conseguia entender como aquilo simplesmente… Acontecia. Isso e o motivo das pessoas valorizarem e perseguirem tanto algo tão abstrato e esquisito.

Além do mais, todo aquele papo de sensações esquisitas no corpo parecia ser muito desconfortável para o rapaz. Ele não gostava de ficar doente, e ao que tudo indicava, se apaixonar envolvia perder um pouco o controle do próprio corpo e sentir… Uma reviravolta interna.

No final das contas aquilo parecia ser tudo, exceto atraente.

“Parece ser muito ruim.” Sua resposta foi simples e sincera, sem um pingo de vergonha. Afinal, ele sabia que Hari não iria julgá-lo; na realidade, o amigo apenas deu uma pequena risada, mais pelo tom empregado por Kai do que pelas palavras que ele escolheu para se expressar.

“Na verdade é gostoso, principalmente se a outra pessoa gosta de você de volta.” Mesmo com aquela pequena informação a mais, não era como se Kai tivesse curiosidade em experimentar. Na realidade, o fato de que tudo isso precisava ser recíproco para ser bom apenas provava que, no fundo, romance não fazia sentido.

“Não parece ser gostoso. Eu não entendo como as pessoas conseguem gostar disso… Esse aperto no peito, essa coisa no estômago. Parece problemático.” Além de incômodo, inconveniente, desconfortável, e mais tantos outros sinônimos que Kai poderia citar com a ajuda de um dicionário.

Hari ajeitou-se no lugar, sorrindo para o amigo. Conversar com Kai era divertido justamente por ele ter uma visão do mundo tão diferente, e era curioso observar como a perspectiva do outro garoto conseguia contrastar com a de tantas outras pessoas, fossem elas mais velhas ou da mesma faixa etária que eles.

Aquele era um dos grandes motivos pelos quais Hari mantinha amizade com ele, pois seria mentira dizer que ele não adorava ouvir as conclusões muitas vezes inusitadas, surpreendentes, e de certa forma geniais que o menino tinha com as coisas.

E se ele parasse para pensar de forma lógica sobre o assunto em questão, o que Kai falou com certeza tinha um certo sentido.

“Falando assim, é bem problemático mesmo! Acho que é mais fácil de entender quando você sente, Kai-chan. Só não se force a essas coisas, você sabe. Todo mundo tem seu tempo.” Kai tinha certeza que o melhor amigo estava apenas esperando para fazer aquele maldito comentário, considerando o sorriso maroto em seu rosto. O garoto deixou que uma das setas de seu cabelo se mexesse, e Kai apenas observou enquanto Hari fazia com que uma delas encostasse de leve na ponta de seu nariz arrebitado.

“Além disso, você é bem mais avançado nos estudos e outras coisas que o resto da nossa turma lá na escola!” O elogio fez o peito de Kai se aquecer. O menino adorava ser elogiado por conta de sua inteligência, e ele sabia que todo elogio vindo de Hari era mais do que verdadeiro.

No momento, aquilo foi o suficiente para que ele deixasse suas dúvidas de lado e se concentrasse em apertar o nariz do outro garoto apenas para provocá-lo, coisa que levou os dois a rolarem pela cama e depois pelo chão entre risadas e ataques de cócegas.

O passar dos anos e a puberdade apenas fez com que Kai tivesse ainda mais questionamentos sobre relacionamentos humanos e sobre si mesmo. Ele não podia negar que estava crescendo e se tornando um moço bastante bonito, assim como Hari, mas era irritante ter que lidar com a atenção crescente dos outros adolescentes que pareciam mais interessados no seu corpo do que em qualquer outra coisa.

Em parte, era um incentivo a mais para andar sempre de máscara na escola e na rua, pois ajudava a esconder parte do seu rosto. Mesmo assim, não era como se ele não tivesse notado outros jovens murmurando coisas sobre o quanto ele ficou mais alto, como sua voz engrossou ou ainda sobre como o uniforme do ensino médio lhe servia bem.

Ignorar esses comentários e olhares era algo um tanto desgastante, mas geralmente as pessoas deixavam ele em paz, ainda mais depois de um certo incidente onde o rapaz caiu no soco com um estudante mais velho quando este tentou se aproximar dele cheio de más intenções. Como resultado, Kai mandou um garoto dois anos mais velho para o hospital, recebeu um belo puxão de orelha dos adultos e quase foi expulso, se não tivesse sido pela lábia de Hari para cima da diretoria e de um certo incentivo fiscal de seu responsável legal.

Mesmo assim, Kai não queria ficar arriscando a sorte e muito menos a paciência do pai adotivo. Ele e Hari entraram naquele colégio particular bastante almejado com boas notas, mas também com o auxílio por trás - auxílio esse que eles poderiam perder se acabassem atraindo atenção por motivos errados.

Por conta disso, Kai picotava todas as cartas de amor que recebia, negava todos os pedidos de namoro e guardava os chocolates que recebia sem a menor cerimônia, ganhando a fama de garoto que se fazia de difícil pelos corredores.

Difícil ainda era pouco. Kai se fazia era de impossível mesmo.

Como já esperado, o jovem recebeu uma quantidade significativa de chocolates no dia dos namorados. Logo, foi apenas natural para Kai acabar chamando não alguém que lhe presenteou os doces, mas sim o melhor amigo, para dividir toda aquela comida.

Por insistência de Hari, os dois estavam matando aula naquele momento, sentados meio escondidos em uma mesa no parque que ficava perto da escola. Poucas pessoas passavam por lá naquela hora do dia, e as árvores que cercavam o lugar fornecia cobertura o bastante para que os dois aproveitassem o vento e a sombra durante a tarde, enquanto comiam e conversavam.

“Nem sei mais como que esse povo ainda se dá o trabalho de gastar tempo e dinheiro com isso.” Kai acabou comentando após terminar de engolir um pedaço de um dos chocolates que recebeu. Ele já estava no segundo ano do ensino médio e mesmo assim algumas pessoas que o presentearam no ano anterior tentaram a sorte com ele mais uma vez.

Doce ilusão.

“Veja pelo lado bom, a gente acaba dividindo bastante chocolate.” Hari afirmou com um risinho, de forma que Kai acabou por rir junto do amigo. Ao menos não era ele quem estava gastando dinheiro em busca de uma atenção que não iria conseguir.

“Não é que eu não goste de chocolate, Hari. É só que eu não entendo o motivo das pessoas ficarem nisso comigo todo ano. Não é como se eu fosse querer namorar alguém só porque me deram comida. Eu tenho comida em casa.” A última frase quase fez com que Hari cuspisse o chocolate em sua boca, tendo que segurar um pouco a gargalhada para não chamar a atenção de quem estivesse passando ali perto.

“Tem gente que não se toca mesmo. De qualquer forma, você não tá perdendo nada.” Por mais que Hari tivesse falado aquilo de coração, Kai não conseguia evitar de pensar que estava sim perdendo alguma coisa. Bastante coisa, na verdade.

Kai não conseguia entender o motivo de tanta gente ser fixada em sua aparência, nos motivos de tantas fofocas sobre relacionamentos ou quem beijou quem serem considerados tão importantes. Ele não gostava de ter que ouvir comentários sobre quem usava o maior tamanho de sutiã, e achava ridículo ver os outros garotos da sua faixa etária comparando os próprios genitais no vestiário depois das aulas de educação física, fazendo piadas no mínimo nojentas que deixavam o rapaz incomodado.

Ele era um adolescente tão cheio de hormônios quanto os outros, mas não via necessidade em procurar fotos e vídeos de pessoas nuas, em querer tocar e dormir com outras pessoas, assim como também nunca sentiu o coração apertar ou os olhos brilharem ao ver uma pessoa bonita, tal qual acontece em filmes e mangás de romance que um grupo de meninas que se senta perto dele na sala de aula vivem comentando.

Toda vez que o convidavam para festas falando que ele estaria rodado de gente bonita, Kai dava de ombros. Aquilo não era o bastante para deixá-lo interessado. Da mesma forma, ele sempre se irritava quando estava estudando na biblioteca e precisava pedir para um casal deixar de se beijar escondido perto da sua cabine, ou quando um colega de sala lhe mostrava imagens de algum ensaio sensual que tinha encontrado por aí.

Nada daquilo o interessava. Ele entendia o interesse e certa parte dos conceitos básicos sobre sexo e relacionamentos na teoria, mas não na prática.

E considerando como praticamente todo o universo ao seu redor se importava com tudo aquilo e mais, Kai não podia deixar de imaginar que estava, sim, perdendo muita coisa.

O silêncio se instalou entre a dupla por alguns instantes, enquanto Hari comia e Kai ponderava mais e mais sobre como ele parecia ser tão diferente em comparação ao resto do universo. Ele olhou para o melhor amigo, e então desviou o olhar por um breve instante, se fixando nas árvores lá em cima, tentando processar a dúvida que de repente surgiu em sua mente.

“Hari… Eu posso fazer uma pergunta meio estranha?” O tom usado por Kai foi um pouco mais tímido dessa vez, chamando a atenção do outro moço. Hari apenas soltou um “claro”, junto com um leve sorriso, se aproximando mais do amigo para incentivá-lo a botar pra fora o que estava na cabeça.

Kai pigarreou por um momento antes de continuar.

“Você perdeu a virgindade faz um tempo, né? Como foi que você se sentiu na hora? Não de dor física ou algo assim, mas o que você tava pensando enquanto tudo acontecia?” Tal indagação fez as bochechas de Hari se aquecerem um pouco. De fato, ele já tinha ficado com outro garoto, e no dia seguinte acabou contando para Kai - sem entrar em grandes detalhes, apenas explicando como tinha se aproximado do moço e como tudo acabou por acontecer.

Na época, umas duas semanas atrás, Kai apenas perguntou se ele tinha se protegido por questões de saúde, e disse que se aquilo o fez feliz, então estava tudo bem.

Agora que ele queria saber os detalhes emocionais, no entanto, Hari não pode deixar de perceber o quanto o amigo parecia perdido. Por isso, ele não aceitaria simplesmente trocar de assunto ou dar uma resposta curta quando ele sabia que Kai estava precisando de uma explicação.

“Bem… Eu fiquei meio nervoso, mas eu também tava muito animado e feliz por ter alguém pra tocar, beijar e tudo o mais. No começo eu tava meio enrolado com o que falar ou o que fazer, mas depois de um tempo fui ficando mais confortável de deixar que o outro cara tirasse minha roupa e aí… Eu só relaxei e fui aproveitando, até porque ele era muito bonito e eu queria fazer com que ele se sentisse bem também. Num resumo, foi isso.” Era um tanto complicado falar sobre sentimentos em um momento tão pessoal, e Kai entendia isso. A resposta de Hari podia não ter sido tão cheia de detalhes quanto ele queria, mas era inegável a sinceridade e a boa vontade presentes no outro garoto - ele só queria ajudá-lo.

Kai mordiscou mais um pouco de chocolate, tentando raciocinar sobre o assunto. O nervosismo era compreensível, pelo menos, assim como a vontade de fazer do prazer algo mútuo. Mesmo assim, ele ainda não conseguia entender totalmente o que poderia levar Hari ou qualquer outra pessoa a buscar esse tipo de contato por livre e espontânea vontade.

“Entendi… Mas também não entendi. Você transou com ele e acabou gozando, certo? Mas você não podia ter gozado também se tivesse se masturbado?” Para Kai, aquela lógica era muito simples - tanto que se ele conseguia se satisfazer sozinho de vez em quando, nos ocasionais momentos onde seu corpo exigia esse tipo de atenção, então era desnecessário buscar por outras pessoas para satisfazê-lo.

Hari observou-o atentamente, coçando a cabeça com uma das setas de seu próprio cabelo até pensar em uma resposta que soasse no mínimo coerente.

“Sim, mas uma coisa é você se tocar e outra coisa é deixar outra pessoa te tocar. Tipo, se eu te abraçar vai ser bem diferente se você tentar se abraçar, certo? Então, é tipo isso.” Aquela era uma comparação que fazia sentido, e que estava bem mais próxima das experiências que Kai já teve em seus anos de vida.

Ele assentiu, e Hari pode notar parte das dúvidas se esvaindo do olhar do outro, mesmo que não totalmente. No entanto, era um avanço.

“Ainda me parece muito trabalhoso. Sinceramente, não vejo motivo de tanta gente ser obcecada por essas coisas. Sexo, namoro… Tem gente que até acha que nós somos namorados, Hari.” O último comentário fez com que Hari desse um risinho. Foram várias as vezes que os dois garotos já tiveram que desmentir os rumores de que estavam envolvidos de maneira romântica ou sexual - eles apenas eram muito próximos, e Hari não podia deixar de se orgulhar de ser amigo de alguém como Kai.

Ele podia não dizer, mas o garoto apostava que muita gente espalhava essas ideias por aí simplesmente por inveja.

“Eu sei, mas nem temos como culpar o pessoal, né? Você não é de ser muito próximo de outras pessoas e praticamente só eu posso encostar em você na escola. E sendo sincero comigo mesmo… Eu sou bem carinhoso quando se trata de você.” Com isso, Hari se aproximou o bastante, deixando a cabeça descansar sob o ombro de Kai.

O moreno não pode evitar de passar o braço por cima de seu ombro, buscando brincar com uma das setas com a mão. O toque era conhecido, suave e natural, tanto que Hari podia cochilar ali mesmo caso ele relaxasse o suficiente.

“Eu sei. E eu gosto disso. Só não gosto do jeito que as pessoas acham que eu gosto.” Kai respondeu, passando o indicador pelas pontas do cabelo alheio. Hari remexeu-se um pouco no lugar, sentindo leves cócegas - suas setas eram definitivamente mais sensíveis que cabelo comum -, até Kai passar a afagá-lo com um leve vai e vem usando os dedos.

“Mas você gosta, e é o que interessa.” Hari afirmou, fechando os olhos e praticamente derretendo. Um de seus braços tateou pela barriga de Kai, e o garoto ofereceu-lhe a mão para que Hari a segurasse.

“Com certeza.” Kai respondeu, relaxando junto com o outro garoto. Naquele momento, com eles dois escondidos debaixo das árvores e embalados pelo canto dos pássaros, compartilhar uma boa dose de afeto com Hari com certeza era muito melhor do que reclamar de rumores bobos escolares.

Ele e Hari eram amigos que gostavam da companhia e carinho um do outro. Se outras pessoas gostavam de conspirar acreditando que havia algo de diferente entre eles, então não era problema deles.

Talvez fosse só inveja mesmo.

“Sabe, Kai, se esse assunto te deixa tão curioso, que tal dar uma pesquisada? Vai ver você acha uma explicação pras pessoas serem tão interessadas na vida alheia, ou até encontra mais gente que não parece ter interesse nessas coisas de namoro e sexo que nem você.” A sugestão de Hari pegou Kai de surpresa, mas fazia sentido.

Kai sempre gostou de estudar, pesquisar e conhecer o mundo. Ele tinha uma coleção de revistas sobre ciência, gostava de catalogar constelações que via no céu e assistia documentários sobre as mais variadas espécies de animais. Além disso, ele tinha a internet e a tecnologia ao seu favor - e se ele conseguia encontrar respostas para algumas de suas dúvidas sobre astronomia mais peculiares, então não custava nada tentar aprender um pouco mais sobre sexualidade humana.

Em parte, parecia meio assustador, mas por outra, a promessa de um maior esclarecimento era mais tentadora do que tudo; e se foi Hari quem fez essa sugestão, então ele tinha certeza que o amigo confiava que ele seria capaz de achar uma resposta.

Hari percebeu que Kai ficou um pouco mais quieto nos próximos dias, imerso em suas próprias leituras durante o tempo livre. Em alguns momentos ele imaginava que o outro devia estar bastante confuso, mas em outros ele via esclarecimento nos olhos dourados.

De qualquer forma, Hari decidiu que seria melhor não distraí-lo muito e não pressioná-lo a falar nada - no momento em que Kai estivesse confortável, ele iria atrás de contar o que descobriu. O que importava era que Hari estaria ali para escutá-lo.

Quanto mais Kai lia sobre o assunto, mais fazia sentido. Ele começou com as pesquisas no mesmo dia em que Hari sugeriu, e algum tempo depois o garoto descobriu que, de fato, não era o único que se sentia deslocado da sociedade por seu comportamento e visão sobre romance e relacionamentos.

Não apenas isso, mas existiam palavras que traduziam seus pensamentos. Por muito tempo, Kai pensou que fosse doente ou defeituoso de alguma forma - afinal, ele não se sentia confortável se identificando com nenhuma sexualidade que conhecia.

Justamente porque nenhuma delas era a sexualidade dele.

Pouco depois, ele veio a descobrir que não era apenas uma questão de sexualidade, e que havia ainda outro nome para o que ele sentia relacionado exclusivamente para romance - coisa que o deixou um tanto espantado, mas que ao mesmo tempo o fez entender muita coisa sobre si mesmo.

No momento que ele terminou de ler alguns textos e relatos de pessoas que agiam e pensavam como ele - que se sentiam desconfortáveis com romance, que não precisavam de sexo para serem felizes, que não sentiam atração sexual ou romântica e que mesmo assim não deixavam de serem humanas, com família, amigos e carreiras dos mais variados tipos em todos os lugares do mundo, Kai teve de se conter para não chorar.

“Eu sou assexual e arromântico.” Ele experimentou dizer para si mesmo e, pela primeira vez, se sentiu seguro e confortável com a própria identidade.

Kai Chisaki era assexual e arromântico e estava tudo bem. Ele não era esquisito, não estava doente, e não era uma aberração. Existiam outras pessoas como ele que o entendiam, que sentiam as mesmas coisas que ele - suas dores, seus medos, suas alegrias.

Ele não estava sozinho naquele mundo.

Ele deveria contar para Hari, com certeza. No entanto, Kai sentia que precisava de mais alguns dias - ele ainda tinha tantas dúvidas e curiosidade, ainda mais porque estava entrando em um mundo praticamente novo, um de pessoas que o entendiam. Se quisesse explicar para Hari, precisava se familiarizar melhor com tudo aquilo, com os vários termos usados pela comunidade, os símbolos e bandeiras e tantos outros conceitos que finalmente estavam ao seu alcance depois de tanto tempo escondidos, como um tesouro que acabou de ser desenterrado.

Quanto mais ele se informava, mais certeza ele tinha de que aquela era a resposta que tanto procurava. Ao mesmo tempo, mais informações ele precisaria passar para Hari. Para isso, seria melhor escolher um momento em que os dois tivessem um bom tempo disponível para conversar.

Os próximos dias passaram devagar e rápido, como se o relógio estivesse tirando sarro da sua cara, acelerando e desacelerando. Kai estava ansioso para contar todas as suas descobertas para o melhor amigo - que com certeza o aceitaria, daquilo ele não tinha dúvidas -, assim como também sentia vontade de sair gritando aos quatro ventos que não era nada do que as pessoas imaginavam ser. Porém, ele ainda precisava se conter.

Um passo de cada vez. Era apenas certo contar para Hari primeiro. O resto do mundo que podia saber depois.

Foi com uma mistura de alívio e um pequeno nervosismo que Kai convidou Hari para encontrá-lo no seu quarto sábado depois das aulas de manhã. De certa forma, ele acreditava que o melhor amigo já tinha uma boa suspeita sobre o que motivou o convite, mas de qualquer forma Hari ainda sorriu e aceitou com a mesma casualidade de sempre.

Poucas horas depois, Kai se viu explicando tudo, sentado na cama de solteiro com o outro garoto ali ao seu lado, escutando atentamente. Ele contou sobre as pesquisas, como se sentia na escola em comparação aos outros colegas da mesma idade, até mesmo sobre todas as vezes que acreditou que havia algo de errado com ele quando na verdade nunca esteve - ele apenas não sabia como chamar.

Por fim, quando ele terminou de falar sobre todo o processo de descoberta e sobre várias coisas que lhe fizeram ter certeza sobre sua identidade, Kai não pode deixar de sentir como se tivesse retirado um grande peso da costas.

“Assexual e arromântico.” As palavras saíram com suavidade da boca de Hari, que as disse com facilidade, gostando de como elas soavam.

“Isso.” Kai acenou positivamente com a cabeça, agora mais relaxado e tomando ele mesmo a iniciativa de se apoiar um pouco mais no amigo, que o abraçou e deixou que ele ficasse deitado em cima de seu peito.

“Interessante! Não sabia desse negócio de atração romântica separada da sexual, mas faz sentido. E sabe, eu tô muito feliz que você achou nomes pro que você sente, Kai.” Hari afirmou, passando os dedos pelos cabelos castanhos do outro garoto, coçando gentilmente atrás das orelhas, quase como se ele fosse um animalzinho - e naquele momento, Kai nem tinha como reclamar.

“É, eu também. Ainda tenho muita informação pra ler e processar, mas é… Confortante saber que tem mais pessoas como eu por aí.” Confortante era pouco, para ser sincero; na verdade era incrível e maravilhoso saber que ele não estava sozinho, assim como era ainda melhor ter alguém tão próximo com quem podia contar sobre tudo isso e não ser tratado como uma anomalia.

“Eu posso imaginar.” Hari comentou, se abaixando o bastante para dar um selinho no topo da cabeça de Kai, que apenas se aninhou ainda mais nos braços do outro garoto.

Kai continuou dando foras até o final do ano letivo, sem sentir a menor necessidade de um romance ou de enfiar as mãos nas calças de outras pessoas. Porém, ele não pode evitar de perceber que não queria viver sozinho de fato, e que havia um certo alguém que ele gostaria de manter para sempre em sua vida - alguém que sempre esteve muito perto, mas que Kai não gostaria de perder.

Hari Kurono era um garoto maravilhoso: simpático e cheio de sorrisos, alguém que gostava de aprontar travessuras e subir em coisas apenas para apreciar o mundo lá do alto. Hari tinha uma gargalhada característica e falava com o sotaque típico de Kansai, uma espécie de japonês tão expressivo que parecia quase cantado, algo que Kai podia escutar por horas sem nunca se cansar.

Quando ele estava triste, era Hari quem o animava, assim como era também Hari quem o ajudava a lidar com várias outras situações - e até mesmo o acalmava quando percebia os sutis sinais que ele dava ao começar a ficar com raiva.

Kai amava Hari, mas não queria despí-lo ou correr as mãos por todos os locais de seu corpo, assim como também não sentia vontade de beijá-lo na boca toda vez que estavam sozinhos em algum lugar. Ele queria mantê-lo perto, ter sua companhia, sua risada, seus abraços apertados. Queria poder olhar para as estrelas com ele por toda a eternidade, trançar as setas de seu cabelo, andar de mãos dadas na praia enquanto catavam conchas.

Queria envelhecer com ele, ver as primeiras rugas de expressão tomando conta de seu rosto, fazer as compras do mês com ele, planejar a decoração de casa e pintar as paredes da cozinha enquanto escutavam música, cantarolando as letras.

Era aquele tipo de coisa que Kai queria pelo resto da vida. Sem romance, sem sexo, mas ainda assim cheio de amor.

Foi apenas no meio das férias entre o segundo e o terceiro ano do ensino médio que Kai teve coragem para iniciar essa conversa com Hari, no entanto. Os dois garotos tinham passado o dia juntos explorando a cidade, e estavam sentados no telhado de um prédio abandonado que Hari havia encontrado para observar o pôr do sol.

Enquanto estavam ali, o resto da cidade parecia pequeno e insignificante, e apenas o vento e os corvos que estavam aninhados por perto seriam testemunhas para a conversa.

“Eu queria falar uma coisa com você, Hari… Lembra quando eu te falei que sou assexual e arromântico? Então, é meio relacionado a isso.” Hari acabou se virando para encará-lo quando escutou o que o outro falou.

Mesmo que estivesse usando uma máscara preta para cobrir metade do rosto - afinal, ele não queria ficar doente com a poeira -, Hari ainda conseguia perceber a pontada de nervosismo que se escondia nos olhos dourados do amigo, que ele certamente tentava esconder.

Ele assentiu, dando-o permissão para continuar. Por trás da máscara, Kai mordiscou o lábio antes de voltar a falar.

“Certo. Então, eu posso não sentir atração sexual e nem romântica, mas isso não quer dizer que eu seja incapaz de amar ou que eu queira ficar sozinho, sabe? Existe uma espécie de relacionamento que é meio diferente do padrão, mas que serve pra pessoas como eu, e que eu gostaria de ter.” Aquilo era novidade para Hari - ele sabia que o amigo não sentia atração por ninguém, ao menos não de maneira convencional, mas não esperava que houvesse uma alternativa que fosse adequada para ele. Todavia, aquilo o deixava certamente intrigado, e até mesmo esperançoso - se era algo que Kai se sentia confortável tendo, então devia ser bom.

“E como é?” Ele questionou, sem esconder a curiosidade. Hari queria saber mais, queria entender o amigo e estava disposto a aprender sobre tudo que dizia questão sobre sua pessoa. Por ele, Kai podia falar sem parar por um segundo, fosse para explicar sobre como buracos negros se formam nos confins do espaço ou sobre sua sexualidade.

“É como romance, exceto que sem romance. E também sem sexo, ao menos no meu caso… Eu gostaria de ter uma pessoa pra passar a vida junto comigo, do tipo dividir moradia, planejar viagens grandes, ficar agarrado em dia de chuva enquanto vê filme… Coisas típicas de casal, até.” Kai sentia-se um tanto bobo enquanto falava, sem saber se estava deixando claro o que queria. Aquele era um conceito novo e ele não tinha certeza se sua explicação estava sendo boa o bastante, até Hari fazer outra pergunta.

“Mas isso tudo sem ser uma amizade qualquer, certo?” Ouvir aquelas palavras deixou Kai um pouco mais seguro. Ele estava no caminho certo. Kai acenou positivamente com a cabeça, sentindo-se agora um pouco mais confiante.

“Exato. É algo muito íntimo e que precisa de tanto investimento emocional quanto um romance dentro dos padrões. Chamam isso de relacionamento queerplatônico.” Aquela era a primeira vez que Kai falava aquela última palavra em voz alta, e ela soava meio engraçada por conta do seu próprio sotaque. Mesmo assim, era confortante ter um nome para o que queria.

Hari estava fascinado com aquela possibilidade, e mais ainda com a ideia de que Kai estava interessado nela. De fato, quando ele parava para pensar, era justamente o tipo de coisa que ele conseguia imaginar Kai se envolvendo e sendo muito feliz.

Aquilo o deixava alegre também.

“E com quem você gostaria de ter esse tipo de relacionamento? Você já escolheu alguém ou algo assim?” Ele não pode deixar de perguntar. Se Kai estava falando sobre isso com ele, então provavelmente era porque havia encontrado uma pessoa que o interessava.

Ele estava certo: Kai já tinha encontrado alguém, há um bom tempo.

“Você.” A resposta, direta e simples, atingiu Hari como um furacão. Sua boca se abriu, mas o rapaz passou alguns bons segundos completamente sem palavras; aquilo certamente teve mais impacto do que qualquer pedido de namoro que já tinha recebido de colegas da escola.

Por um lado, ele já deveria ter percebido, já que era a pessoa mais próxima de Kai desde que os dois basicamente se entendiam por gente. Por outro, era uma verdadeira honra ser o alvo de toda aquela confiança.

Kai era incrível, inteligente e astuto. Hari se lembrava de quando o garoto mostrou seu poder para ele pela primeira vez, desfazendo e refazendo objetos com uma facilidade absurda, assim de como era o som de sua gargalhada quando descobriu que a nuca era seu ponto fraco para cócegas.

Hari gostava de como Kai parecia sempre sério, apenas deixando o seu senso de humor se mostrar aos pouquinhos, de como ele ficava todo bobo e feliz vendo vídeos de pássaros. Adorava o fato dele ter um casaco favorito, verde escuro com pelúcia roxa, que Hari achava macio e agradável ao toque. Era grato por todas as vezes que podia pegar suas anotações emprestadas, e admitia que passava um bom tempo invejando sua caligrafia impecável.

Ele gostava até mesmo de como Kai se metia em confusão de vez em quando para proteger as pessoas que gostava, sem se importar com as consequências, e de como ele sempre estava disposto a abraçá-lo quando Hari tinha vontade de chorar, sem nunca julgá-lo por suas lágrimas derramadas.

Hari se perguntava se Kai sabia o quanto ele o admirava e amava.

Baseado no brilho de seus olhos e na certeza em sua voz, era bem capaz que Kai já havia percebido aquilo há muito tempo, como o observador nato que era.

“Isso seria incrível, Kai-chan.” O uso do honorífico fez com que o coração de Kai praticamente explodisse em pura ternura, fazendo com que ele se lembrasse de vários outros momentos que já tinha compartilhado com Hari durante todos aqueles anos.

Agora que estavam tornando o laço entre eles ainda mais profundo, Kai não podia conter a vontade de sorrir, e também de chorar - mas só um pouco, com algumas lágrimas enchendo os seus olhos ao ponto de fazê-los brilharem ainda mais em contraste com a luz do sol que aos poucos se escondia no horizonte.

Kai envolveu Hari em seus braços, apertando-o sem a menor vontade de soltar. Imediatamente, o outro garoto retribuiu o gesto, passando as mãos com carinho em suas costas, desenhando círculos, estrelas, corações e tantas outras formas com os dedos esguios.

“Obrigado, Hari.” Por mais que ele tivesse buscado se controlar, Hari não pode deixar de notar a emoção presente na voz do melhor amigo - e agora parceiro para toda uma vida.

Ele sorriu, afagando as mechas escuras e abaixando-se para dar um beijo inocente e estalado em sua testa.

“Eu que agradeço.” As palavras foram o suficiente para fazer as primeiras lágrimas de felicidade descerem pelo rosto de Kai, sendo amparadas pelas roupas e pela atenção gentil de Hari.

Depois de assumirem o relacionamento, tudo passou a ter um novo significado. Kai começou a lidar melhor com certos aspectos da sociedade que não entendia, tendo Hari como seu guia e companheiro. Agora que estavam juntos, todo passeio era um encontro e toda saída escondida dos velhos da yakuza era uma aventura ainda mais prazerosa.

Kai adorava saber que as brincadeiras e toques suaves de Hari não eram acompanhados de segundas intenções, assim como se sentia confortável dormindo na mesma cama e até mesmo dividindo o mesmo chuveiro com ele, em banhos longos e demorados onde o moreno fazia questão de lavar o cabelo do outro.

O passar dos anos apenas fez com que eles se certificassem de que aquela foi uma das melhores decisões que já tomaram em suas vidas, fosse com o aperto gostoso que sentiam no peito ao se verem todo dia de manhã logo após acordar ou com a lembrança constante de que, independente do que acontecesse, eles teriam o apoio incondicional um do outro.

Assim, Kai não podia deixar de sorrir ao ver Hari ficando ao seu lado na varanda durante a noite, oferecendo uma xícara de chá quente e um beijo em sua bochecha.

Em momentos assim, Kai primeiro aproveitava para bebericar o líquido, saboreando-o por alguns instantes antes de olhar para o céu e então para Hari, admirando as estrelas refletidas em seus olhos escuros, mais belas ali do que no espaço.

“Eu te amo.” As palavras saiam com facilidade por parte de Kai, soando mais belas do que qualquer música que Hari conhecia. O homem adorava ouví-las, e a cada vez que ele as repetia, Hari se convencia de que o cupido não trabalhava apenas com flechas de um único tipo.

“Te amo também.” A resposta para essa declaração era fácil e completava a frase de Kai perfeitamente. Afinal, depois de tanto tempo juntos, não era como se precisassem de algum discurso para deixar claro o que sempre esteve óbvio e presente.

Algumas pessoas chamavam de mera amizade. Outras não entendiam como conseguiam manter algo assim. De qualquer forma, agradar o mundo inteiro não importava mais e há tempos a confusão alheia já não abalava mais nenhum dos dois.

Afinal, mesmo que a maneira que ambos se relacionavam fosse diferente do padrão, o que eles sentiam um pelo outro não deixava de ser amor.

E tanto Kai quanto Hari estavam mais do que satisfeitos assim.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que muita gente shippa HariKai de maneira romântica, mas eu acho que eles combinam tão bem como parceiros queerplatônicos! Além disso eu não me lembro de já ter lido algo assim em português, e imaginei que seria muito bacana mostrar essa possibilidade pra mais pessoas. Além disso, amor platônico é uma coisa linda que precisa ser mais incentivada e celebrada! ♥

Nem todas as pessoas assexuais e/ou arromânticas agem ou pensam como o Kai, mas sentimentos como a dificuldade de compreender a necessidade de sexo e romance, pensar que tem algo errado por não sentir atração, etc, são muito comuns quando se trata dessas identidades e eu não tinha como deixar de fora.

Escrevi bastante, mas na real eu não botei tudo que há sobre o tema aí, em parte por ser bem de fato um assunto bem extenso e em outra parte por essa ser uma história mais focada em coisas positivas, então eu não queria botar lá tanto drama - por mais que exista sim preconceito contra essas minorias.

Além disso, precisamos normalizar a ideia de que assexuais e arromânticos não são infelizes pela falta de atração, e nesses tempos em que estamos vivendo eu acredito que precisamos de histórias recheadas de amor, positividade e esperança.

Espero que essa humilde historinha tenha feito você sorrir, nem que seja só um pouquinho ♥ E independente da sua identidade, saiba que você não está só!

Espero que tenha gostado! ♥



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