So Jaded escrita por Vickawaii


Capítulo 1
So Jaded




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/77066/chapter/1

Insensível. Eu estava olhando para uma garota insensível. Chegou aqui do nada, abalou qualquer esperança de vida normal que podíamos ter. Era má, era traiçoeira, não era confiável. Eu poderia matá-la de noite como era o certo, mas me julgariam um monstro se eu matasse uma garota tão bonita. Ele não me perdoaria. Mesmo assim, enquanto ela continuava a falar comigo naquelas divagações sem sentido de sempre, eu pensava. Como seria ter aquele pescocinho branco e frágil entre minhas mãos. Só um simples aperto e tiraria aquele sorriso idiota da sua cara. Tiraria toda aquela sua petulância odiosa, faria até mesmo ela deixar de usar aquele maldito short preto que tanto provocava. Eu a faria deixar de ser Alice. Ah, isso era uma idéia tão boa. Tão insensível.

 

- Hey, idiota! Está prestando atenção no que eu estou falando? Hein? Hein?! – Gritou a garota, chamando-me para o mundo real. Ela achava que podia mandar em mim. Falava de modo atrevido, com uma arrogância tão grande que quem a visse só podia pensar que ela obedecia à rainha ou algo do tipo. Ou era a própria rainha. A rainha do abismo, a rainha de tudo ruim existente. Aposto que ela adoraria o título. – Raven!

 

- Aah, seu Coelho Estúpido! Não percebe que não estou nem aí para você?! – Esbravejei, aumentando a voz. Alice, é claro, simplesmente ignorou.

 

- Estou com fome. Vá preparar algo para mim comer.

 

- Mim?! Você é idiota?! Por favor, Alice, fale direito!

 

- Vai preparar ou não? – Perguntou ela com autoridade.

 

Levantei do meu sofá, derrotado. Como um ser podia ser tão irritante? Insensível, essa era a palavra certa. Ela estava nem aí para o que eu estivesse pensando, se eu estava feliz ou se eu estava triste. Nem aí se eu a odiava por ela ter se atrelado ao Mestre Oz fazendo o contrato e acabando com a vida do mestre. Para ela, não importava realmente como eu me sentia, desde que eu cozinhasse sua comida e fizesse o que ela pedisse. Simples assim. Tão insensível.

 

Contudo, eu gostava até do jeito que ela implicava comigo. Da mesma forma que gostava de chamá-la de Coelho Estúpido e de estar perto dela. Naquele momento, apreciava o fato dela não ter me deixado totalmente sozinho na cozinha e ter pego uns ingredientes quando eu solicitei. Era uma maneira engraçada de apreciar a companhia de uma pessoa, só pelo fato dela conviver na mesma casa que você e eventualmente salvar sua vida. No caso, salvou a vida do Oz, que era mais do que eu esperava. Mesmo tendo estragado completamente tudo que eu lutei para ter.

 

Alice era um abismo entre mim e Oz, entre mim e qualquer coisa que eu pudesse gostar ou ter um dia. De repente eu não podia mais olhar nos olhos de meu Mestre sem ver o seu nome escrito neles, e as preocupações dela começaram a serem minhas também. Isso era um absurdo, alguém tão egoísta me causar tantas aflições. Nem sei se a palavra “alguém” se aplica a uma Corrente. Mas ela causava. Causava tantas aflições quanto alegrias, mesmo que estas viessem em doses bem pequenas de algum momento utópico que Alice desejasse ser bondosa. Realmente, era muito estranho gostar de uma pessoa mesmo odiando-a. Talvez eu a odiasse por isso.

 

- Certo sua imbecil, eu preciso que você pegue dois pratos para nós. Isso vai ficar pronto em dois minutos.

 

- Ele acordoooooou! Ooooz!

 

O que quer que estivesse segurando em suas mãos, Alice jogou para o alto, correndo e distanciando-se de mim. Seu riso parecia tão radiante, sua voz tão viva, aquela alegria me contagiava por inteiro. Mas não foi a mim que ela foi abraçar, e pela primeira vez, desejei não ter visto Oz em minha vida.

 

O jovem mestre sorriu para ela, olhando-a de um jeito que eu nunca havia visto antes. Eles estavam tão felizes naquele abraço, tão completos, mas de um jeito que eu não precisava ver. Que aquilo fosse a qualquer hora, não ali, na minha frente, tirando Alice de mim. Eu não podia culpá-lo, pois sabia que em seu lugar faria a mesma coisa. Mesmo com nossa relação de servidão, o que eu mais queria era poder abraçar Alice, mesmo que isso significasse entristecê-lo. Porque com Alice eu sabia que teria a força para encarar qualquer situação.

 

Mas não a tinha.

 

- Hm, o Oz vai comer com a gente?

 

- Ah, acho que ele não está com fome agora, Gil, mas obrigada! Vamos, Oz, vamos falar com Break!

 

Insensível. Aquelas simples palavras foram como flechas em meu coração. Flechas em qualquer bom sentimento que eu pudesse nutrir. Será que ela simplesmente não se importava, não conseguia perceber que eu faria tudo por ela como sempre o faço? Será que ela não entendia que eu a amava? Ela era uma idiota. Uma garota estúpida, mimada, que ousava me chamar de Gil justo quando era para ignorar todo meu esforço e acabar com minhas intenções. Ela não precisava que eu a fizesse feliz porque já tinha Oz para isso. Eu demorei a assimilar isso. E mesmo depois, continuei a insistir.

 

Insensível. Ela seria sempre aquela que eu mais amaria e que eu mais odiaria. Talvez porque eu tivesse atração pelo Abismo. Talvez porque ela fosse a única que conseguisse mexer daquele jeito comigo, e eu nunca seria capaz de fazê-la se sentir assim por mim. Talvez porque no fundo, ela fosse apenas mais uma alma solitária que, um dia perdeu a capacidade de sentir. Assim como eu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Leu? Comente! XD