Insonte escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 1
Can't help falling in love


Notas iniciais do capítulo

Espero que apreciem



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Já tinha lido, em algum lugar, que apaixonar-se é como adormecer. Acontece de maneira sutil e gradativa.

Em um momento, você acorda e então percebe que adormeceu.

Lembro que isso não fez muito sentido, pois para mim, dormir nunca foi tão sutil e gradativo quanto eu gostaria. Mas a realidade esmagadora dessa verdade me acertou em cheio, em relação a apaixonar-se.

Quando eu percebi, já era.

Mesmo eu não admitindo, eu sei que era.

Hinata passou a dominar todos os meus pensamentos, inconscientemente. Comandava todas as minhas emoções e passou a ser a razão de toda a minha culpa. Afinal, já era difícil ter uma noite tranquila de sono antes mesmo de, sutilmente, eu passar a desejar a namorada do meu melhor amigo.

Desde que eu a conheci. Desde que a ouvi dizer o meu nome, naquele dia, no trabalho, quando ela foi efetivada. Graças às muitas recomendações de Naruto. 

Meu amigo desde a escola, que sempre foi o oposto de mim. Agitado, alegre, sociável... Enquanto eu sempre me mantive recluso, sozinho, tranquilo.

Só somos amigos porque a teimosia é uma das poucas coisas que temos em comum. E ele insistia em se aproximar até que acabei me acostumando com ele.

Até que ele passou a ser como um irmão pra mim.

 Sempre tão exagerado em tudo e empolgado ao extremo, não foi diferente quando conheceu Hinata.

Lembro-me de todos os elogios, todas as conversas, todo o encanto e admiração que ele tinha pela namorada. Mesmo em poucos dias de relacionamento.

A empolgação, sempre exagerada, exaltava a beleza exótica que a menina possuía. A voz doce, a cor rara dos olhos, em contraste com o cabelo escuro. Em todo e cada detalhe. Tanto quanto o era em sua personalidade, bondade, gentileza, empenho e determinação.

Os elogios eram sem fim.

Só que, ao conhecê-la, percebi que ele não exagerou ao falar dela.

Em absolutamente nada.

E eu percebia a cada contato, a cada conversa jogada fora, a cada saída em que eu era arrastado, a cada gosto dela que batia ao meu, a cada opinião, a cada semelhança nova que compartilhávamos...  A cada perda de um pedaço de mim.

E eu me perdia, involuntariamente, todas às vezes, um pouco mais.

Eu não podia deixar que isso continuasse.

Então, me afastei. Concentrei minha atenção ao trabalho. Saí com outras pessoas, mesmo contra a minha vontade. Conheci outras garotas. Funcionou... Por pouco tempo.

Sempre que meus olhos se encontravam com os dela, tudo voltada. Era só eu observar aquela face corada, ainda que de longe, e uma avalanche de sensações me arrematava.

Tanto que eu adoeci.

Nunca deixei nada atrapalhar o meu trabalho e não seria diferente agora. Porém foi diferente, porque dessa vez, ela estava lá.

Ela viu através de mim. Hinata percebeu, se importou.

 — Você não está bem – Sua voz doce foi o suficiente para meu coração acelerar. Me voltei dos papeis que eu lia, para ela. Já fazia um tempo que não a ouvia falar diretamente a mim, ou a olhava tão de perto. Eu a evitava e sei que ela sabia ser intencional.

— Não é nada – Novamente voltei a me concentrar no meu trabalho, apenas esperando que ela fosse embora, porém ela não foi. Ao invés disso, ela deu a volta na mesa, até mim.

— Sei que você não quer que eu me aproxime, mas você não está bem. Tenho certeza de que está com febre e é teimoso demais para admitir que precisa de ajuda – disse, já ao meu lado. Mal pude acompanhar seus passos e movimentos rápidos. Suas mãos suaves estavam em minha face,  preocupadas – Eu sabia, você está muito quente.

Talvez o delírio tenha ajudado. Talvez me esforçar para mantê-la afastada, por tanto tempo, tenha me afetado. Talvez eu só não conseguisse mais me conter. Talvez todos esses fatores tenham contribuído para eu ter me levantado e a beijado, como toda a vontade que, a muito custo, eu reprimia.

E ela me retribuiu. Eu sei que também quis.

O melhor ato impensado da minha vida.

Porém, ela me repeliu. Com toda a gentileza que somente ela produzia.

— S-sasuke... Eu namoro o Naruto – Sua voz saiu fraca, enquanto evitava me olhar.

— Eu sei... – A deixei, soltando-me dela, mas não me afastando totalmente.

— E... Eu amo o Naruto.

— Eu também... – afirmei verdadeiramente. A Hyuuga voltou a me olhar nos olhos. De todas as pessoas do mundo, sabíamos com plena convicção de que Naruto não merecia essa traição – É melhor você ir embora.

— É melhor eu ir... – mas apesar do que disse, ela permaneceu me fitando por mais tempo, até finalmente fechar os olhos e sair – Melhor se cuidar.

Completou sem olhar para trás.

O que estamos fazendo? O que eu estou fazendo?

Me permiti cair na cadeira derrotado. Vencido e desacreditado de mim mesmo.

Não tinha mais o que fazer, então tomei a melhor decisão cabível naquele momento.

Ninguém entendeu o motivo de me demitir. Ninguém via uma razão clara para eu deixar um trabalho que eu amava fazer e dominava tão bem, mas não havia saída. Eu não podia admitir o que sentia, tanto quanto eu não podia mais fingir que não sentia.

Cortei meu contato com Hinata e diminui drasticamente, meu contato com Naruto. Não queria perder sua amizade, então afastá-lo pareceu ser a melhor alternativa. Não tinha como nosso relacionamento sobreviver a isso, de qualquer forma.

Foi o que eu pensei até ele me procurar. Até ele invadir o meu apartamento para me confrontar.

Aparentemente, eu não fingia tão bem quanto acreditei.

 — Eu te conheço há tempo demais. Intimidade é uma droga, sabia? – Ele disse amargo.

 — Do que você está falando?

— Você sabe. E sabe tão bem quanto eu que ignorar ou fingir, não diminui em nada a realidade do que está acontecendo.

 — Não tem nada acontecendo. Você não está tirando conclusões precipitadas, como sempre?  – argumentei, sem saída.

— Não sou cego, Sasuke. Você acha que eu nunca percebi o jeito como você evitava olhar Hinata. Como evitava falar dela, com ela.  Como começou a trabalhar demais, se afastou... Se demitiu. Atos claros de desespero.

 — Você está se ouvindo? Nar...

 — CHEGA! – Naruto me segurou pela camisa, enfurecido. Eu apenas me deixei ser empurrado até a parede atrás de mim, onde ele me acertou com agressividade  – Chega disso. Eu sei que estou certo. Sasuke, EU SEI.

Resignado, me calo. Não há como argumentar em um caso onde eu sou culpado.

 — Eu vi o beijo de vocês – ele confessa com tristeza, me deixando surpreso.

Um medo anormal me subiu a espinha.

 — Foi um erro... Nos arrependemos. Eu estava com febre, Naruto...

 — Já mandei parar com isso – disse entre dentes, me puxando e me acertando novamente contra a parede – Eu vi e ouvi tudo. Hinata estava tão atordoada que passou por mim e não me viu – Então ele me soltou, com a expressão abatida, sem me olhar.

— O que você quer? Tudo o que eu fiz até aqui, foi para, justamente, evitar esse conflito.  Ela é sua namorada Naruto e eu jamais quis mudar isso. Vocês estão bem. Eu estou bem... Naruto... Só, preciso de tempo – Meu amigo me olhou com olhos pesados. Sua expressão sempre alegre não estava mais ali e a culpa era minha. Permaneci apenas esperando a conclusão de tudo.

— Estou saindo do país, em dois dias – Ele finalmente continuou, depois uma pausa muito longa – Vou passar seis meses em uma nova filial. Precisamos desse tempo para colocar as coisas em seu devido lugar. Você devia voltar ao trabalho, eles precisam de você.

— Não estou te entendo.

— Nós terminamos... Vocês tinham mais coisas em comum do que imagina – Havia tanto sofrimento em sua voz, que isso me causou sofrimento também.

Depois que ele foi embora, eu relutei, confuso. Porém, ele não mentiu sobre precisarem de mim no trabalho. Recebi tantas ligações e pedidos que acabei voltando.

Mantive-me, em todo caso, afastado de Hinata o quanto pude.

Todavia, sutilmente, ela novamente voltava para minha vida.

Tínhamos agora uma relação mais próxima do que a de colegas de trabalho. Mas, não podíamos chamar de amizade. Sempre nos atraíamos e nos repelíamos na mesma proporção.

Quando Naruto voltou da viagem, as coisas continuaram estranhas por um tempo, mas nossa amizade sobreviveu.

Naruto é uma pessoa, inacreditavelmente, melhor do que eu jamais conseguiria ser.

Com o tempo também, minha amizade com Hinata se estreitou, contudo sabíamos que havia mais do que isso. Porque ainda nos recusávamos a sair sozinhos.  Evitávamos nos olhar por muito tempo... Não nos permitíamos ficar próximos demais.

Pois sabíamos que não conseguiríamos manter esse sentimento guardado por muito mais tempo.

— Uma moeda pelos seus pensamentos – A voz melodiosa me alcançou, trazendo-me de meus devaneios.

A fitei brevemente, enquanto ela se sentava, com toda sua delicadeza. Estávamos no refeitório da empresa, onde eu tomava apenas um café, no meu momento de pausa. Hinata sentou-se na cadeira ao meu lado, e não na cadeira da frente, onde a distancia era mais segura.

Já não tínhamos mais tanto medo de nós mesmos.

 — Estava pensando em você – apenas soltei, como meia verdade. Deixando-a corada e surpresa. Ela estava com seus habituais fones do ouvido – Você disse que anda escutando Elvis, me lembrei disso.  

— A-ah, sim. Estou escutando agora. Repetidamente, a mesma música.

—  Qual música?

Hinata me fitou por alguns segundos, parecia estar conflitando internamente. Então, aproximou-se ainda mais de mim. Senti o seu calor irradiar até meus braços. Hinata me olhou timidamente e colocou um dos seus fones em meu ouvido. A melodia conhecida fluiu por meus ouvidos e a letra aos poucos começou a fazer sentido para mim.

 

Homens sábios dizem

Que só os tolos se apaixonam

Mas eu não consigo evitar

Me apaixonar por você

 

Hinata é mais do que eu poderia pedir.  Mais do que eu provavelmente merecia. E tudo o que eu mais desejava.

 

Eu deveria ficar?

Seria um pecado

Se eu não consigo evitar

Me apaixonar por você?

 

Então eu apenas parei de resistir.

Fixei meus olhos aos dela, durante todo o tempo em que ela esteve perto de mim. A morena me retribuía brevemente e então desviava, corada.

 

Como um rio que corre

Certamente para o mar

Querida, é assim

Algumas coisas estão destinadas a acontecer

 

Em um dos momentos em que nossos olhos se encontraram, ela não se desviou.

 — Você gosta? – Ela sussurrou, nervosa.

Meu coração martelava em meu peito e minha mente aceitava que nada mais podia ser feito. Era amor... E se havia alguma possibilidade de estar com ela, eu arriscaria.

 

Pegue minha mão

Tome minha vida inteira também

Porque eu não consigo evitar

Me apaixonar por você

 

Então, não respondi. Apenas me inclinei, encerrando lentamente todo o espaço que nos separava e a beijei. De maneira delicada, investigativa. Meu peito todo se aqueceu quando ela retribuiu.

O fone em meu ouvido caiu, mas eu não estava mais interessado na melodia, então apenas deixei, enquanto aprofundava o beijo.

Uma de minhas mãos deslizou por sobre seu braço, em um carinho suave. E não importava o quanto me doasse, não parecia o suficiente.

Afastei-me brevemente, encostando minha testa a dela, que permanecia de olhos fechados, aproveitando aquele momento pelo qual tanto esperamos.

— Eu amo.

 

Porque eu não consigo evitar

Me apaixonar por você


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Notas finais do capítulo

O que acham?

Situação difícil, não é?

A inspiração veio de uma tirinha que eu vi no face.

A música citada é do Elvis Presley e dá nome a esse capítulo.



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