Betty Cooper É Uma Droga escrita por Mrs Bane


Capítulo 1
Honestamente, Betty Cooper!


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem crianças!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/769936/chapter/1

 

 Jughead Jones às vezes se perguntava se ainda tinha sentimentos.

 Ele era um garoto de 15 anos que simplesmente ignorava as provocações de Cheryl Blossom, o acusando de ser “um lixo de trailer” e “um merdinha do lado sul” e tinha que pôr gelo nos olhos roxos que ganhava do time de futebol, mas não se sentia magoado quando eles faziam esse tipo de coisa. Nem revoltado ou amargurado ou impotente ou nenhuma das coisas que o folheto sobre bullying disse que ele deveria sentir.

 Já tinha cogitado a hipótese de estar mentindo para si mesmo, mas não era isso. Ele se sentia... entorpecido. E, de certa forma, isso era bom. Quando seu pai é um bêbado e seu melhor (único) amigo está se afastando cada vez mais, é bom não sentir as coisas.

 (Ou seja, FP deveria estar no trailer, dormindo, porque tinha trabalho de manhã bem cedo. E   Jughead não deveria estar no trailer, porque ele e Archie tinham planejado passar a noite juntos, comendo pizza e jogando video games.)

 Duas horas da manhã, e ele estava bem no começo de Pulp Fiction. Depois da primeira cena com Honey Bunny e Pumpkin, mas antes de Jules dizer que quer ir para Amsterdã. Ele tem que admitir, talvez tenha dançando um pouquinho com Bustin’ Surfboards. E com Jungle Boogie.

 (FP provavelmente estava a beira de desmaiar numa das mesas do White Wyrm, e não ligava por que não tinha um emprego ou nada que importasse em casa, de qualquer jeito. Seu filho podia ir se fuder. E Jughead estava sozinho assistindo filmes do Tarantino porque Fred disse que pensou que Archie tinha ido se encontrar com Jughead quando o dito moreno bateu na porta da casa dos Andrews.)

 Quando Jules diz que “Tony Rocky Horror” foi estraçalhado por que massageou os pés de Mia, o telefone de Jughead começou a tocar, o que o deixou um pouco irritado porque, droga Archie! Você podia ter se explicado antes. Ou então não se explicado de jeito nenhum, o que daria quase no mesmo. Ligar uma hora da manhã arrumando desculpas enquanto ainda estava bêbado era um nível completamente diferente de babaquice.

 Mas não foi o nome de Archie que Jughead viu no identificador de chamadas. Por algum motivo Betty Cooper estava ligando para ele no meio da madrugada.

 “Juggie!”

 A voz dela estava entusiasmada demais, arrastada demais, e, Juggie?

 Ele e Betty Cooper tinham sido amigos por conveniência durante boa parte de suas infâncias e toda a pré adolescência. É claro, Betty morava na casa ao lado de Archie, e eles faziam quase tudo juntos. Jughead morava no lado Sul, mas o pai dele era o melhor amigo do pai de Archie e por isso ele também estava quase sempre lá. Os dois eram os melhores amigos de Archie, então, eram obrigados a conviver. Até que Betty desenvolveu uma paixonite por Archie, o que mudou completamente a dinâmica dos três. Archie não percebia os olhares apaixonados, mas Jughead se sentia como uma vela. Foi então que ele passou a evitar sair com o ruivo se soubesse que Betty iria também.

 Mesmo quando ainda conversavam, Betty nunca tinha chamado ele de Juggie. Jug, claro, assim como ele a chamava de Betts. Mas Juggie?

 E ele conhecia bem todos os outros sinais. Ela estava muito bêbada.

 “Betty... Onde você está?”

 Uma pausa e depois uma risadinha. Sim, definitivamente bebada.

 “Beeem, Polly me chamou para ir a uma festa! Eu fiquei um pouco animada mas no final ela só queria que eu cobrisse para ela por que o Jason que ia levar a gente e ela queria dizer para mamãe que estávamos indo dormir na casa do Kevin. Aí eu não quis mais ir, mas Polly disse que Archie estaria aqui.”

 Ela enfatizou o nome dos dois garotos que roubaram os corações das Cooper. O nome de Jason com um certo desprezo, o nome de Archie com uma adoração quase impossível.

 “E adivinha só Juggie! O Archie está aqui!” Claro que estava, quem precisa de melhores amigos e video games? “Mas todo mundo meio que me dispensou meia hora depois

que a gente chegou então eu fiquei sozinha... Até começar a conversar com esse garoto Harvey e ele me apresentou para Sabrina e as amigas dela.”

 Jughead não fazia ideia de quem era Harvey, ou Sabrina. O que era algo muito ruim. Jughead

conhecia quase todo mundo em Riverdale porque ia para escola no Norte mas morava no Sul.

 “Ah... Okay.” Ele disse, ainda meio incerto sobre a segurança da loira.  “Porque você me ligou então, Betty?”

 “Ah é! Eu ia falar isso agora.” Ela deu outra risadinha. “É que eles tiveram que ir embora e a Sabrina até me ofereceu uma carona, mas ela mora em Greendale.E ela ficou tão mal, Juggie! Eu tive que dizer que um amigo vinha me buscar. E ela disse que ia ficar até que ele chegasse. E você é meu amigo, Juggie!”

 Jughead suspirou. Ele já tinha uma ideia bem clara do destino dessa conversa.

“Betty, sua casa é quase no caminho da rodovia que leva à Greendale.”

 Ela deu outra risadinha. Aparentemente, uma Betty bêbada era uma Betty risonha.

 “Não seu bobo! Eu estou em Greendale. Por isso que eu preciso que você venha me buscar.”

 Jughead não tinha carteira de motorista, entre outros motivos, por que ele não tinha idade para dirigir. Mas... Betty estava sozinha em uma festa com pessoas desconhecidas. Ele sabia muito bem que Archie esquecia de tudo e de todos quando encontrava uma garota bonita para perseguir, então não iria querer pegar um Uber com Betty e ela se recusava a entrar em um sozinha... Se é que ela tinha dinheiro para isso. Jughead com certeza não tinha. Polly ultimamente só tinha olhos para Jason, e eles provavelmente já tinham ido embora transar.

 Ele suspirou outra vez.

 “Betty, você consegue me mandar sua localização por mensagem?” A sua resposta foi um longo silêncio. “Betty, você acenou com a cabeça não foi?”

 Ela tinha essa mania, às vezes, de simplesmente acenar ou apontar ou balançar a cabeça,

mesmo que estivessem em uma ligação comum. Ela normalmente sempre ficava extremamente envergonhadas mas...

 “Juggie! Consigo sim”

 ...Betty risonha ainda estava entre eles.

 “Tudo bem. Só... fica aonde você está e não bebe mais, okay Betty?”

 Ele pegou o carro, pela primeira vez feliz que seu pai estivesse usando tanto a moto e

agradecendo pelas aulas de direção – ligeiramente ilícitas – que Fred tinha dado a Archie e ele no verão passado.

 Jughead era apaixonado pela moto, e sabia como andar com ela praticamente desde sempre já que FP era irresponsável e o ensinou assim que viu que suas pernas já alcançavam os pedais. Mas numa situação como essas, saber dirigir um carro era bem útil.

 Ele ainda se lembrava muito bem das aulas de Fred. As aulas de seu pai pareciam ter sido a tanto tempo que mal conseguia conjurar o sorriso de orgulho que FP lançou em sua direção quando ele conseguiu dar uma volta completa no estacionamento dos trailers.

 Mas as aulas de

direção com Archie? Ele se recordava perfeitamente dos avisos de Fred sobre olhar no retrovisor e sobre como aprendeu bem mais rápido que o amigo ruivo, porque já sabia andar de moto.

 Quando Jughead chegou na estadual, ele se lembrou do que o avô de Toni Topaz sempre dizia sobre como ninguém iria querer estar em Greendale depois da meia noite, mas ignorou o pressentimento e entrou na estrada que dava para Greendale. Então ele viu

a placa de boas vindas da cidade e...

 ...Betty estava com um vestido rosa rendado modesto, aprovado por Alice, é claro. Ele usava blusa e calça sociais, o suspensório no lugar certo.

 Os dois estavam no trailer, e Betty estava sentada bem ao lado dele... mas mesmo assim, estava tão distante. Ela não estava nem mesmo olhando para ele.

 “Nós...” Ela disse com um riso abafado. “É bom ouvir isso de novo.”

 Ele decidiu tentar quebrar aquela barreira e olhou para ela.

 “Eu vou me desculpar por isso pelo resto da  minha vida mas... eu me arrependo de verdade. Eu senti que precisava te proteger do que estava acontecendo com os serpentes ou... minha escuridão.” Foi a vez dele soltar um riso abafado e de desviar o olhar.

 Mas ela olhou para ele.

 “Eu aguento.”

 Ele olhou para ela também, e encontrou um olhar tão intenso que parecia que Betty tinha encontrado o segredo do universo. Ele sabia que estava pior.

 Eles desviaram o olhar e suspiraram.

 “Eu provavelmente tenho que ir para casa agora”

 “Ou você pode ficar” ele disse se virando na direção da loira mais uma vez. “Fique.” Ele pediu, colocando sua mão mais perto dela, em cima da saia do vestido.

 Betty automaticamente pulou em seu colo para que pudessem se beijar e a mão dele logo achou o zíper, que puxou para baixo como se o fato de Betty ainda estar usando aquele vestido fosse extremamente ofensivo.

 Era.

 Ele piscou várias vezes e não viu a placa de Greendale na frente, mas quando olhou para

trás, lá estava.  Ele obviamente precisava dormir mais e consumir menos cafeína, se já estava tendo visões enquanto dirigia. E ele teria que... bem, “relaxar” um pouco assim que

estivesse sozinho em casa. Já fazia bastante tempo, se ter visões com a futura namorada de seu melhor amigo era um indicador.

 Quando ele chegou no endereço que Betty mandou, ela estava esperando por ele sentada na grama do jardim de entrada. Uma garota com cabelos loiros como os dela, mas mais curtos sentada junto com ela. Quando Betty olhou para cima, ele só conseguiu pensar na última vez em que tinha visto aqueles olhos verdes olhando para ele como se...

 Ele tinha que parar de pensar naquela alucinação estranha induzida por cafeína e Uma Thurman.

 Aquela era Betty Cooper, ele tinha certeza de que Archie iria chamá-lo para ser

padrinho do casamento. Por que, é claro, um dia Archie iria perceber a garota

incrível que estava esperando por ele. E Jughead... Jughead seria o tio estranho

que é convidado para todos os eventos da família por que não tem mais ninguém.

 Na melhor versão de seu futuro, ele era um autor publicado que vivia em Nova York e trazia presentes legais.

 “Betty, vamos. Eu vou te deixar na casa do Kevin”

 Ela correu para ele  e se jogou em um abraço, o que Jughead definitivamente não estava esperando, mesmo que ela tivesse bebido todo o álcool da festa.

 “Juggie! Você veio!”

 “É claro que eu vim Betty. Se sua mãe desconfiasse que algo como isso aconteceu ela iria te matar. E eu preciso copiar os deveres de alguém.”

 Ele achou que se começasse a andar para o carro, Betty iria se soltar, mas a loira não só o acompanhou, como se aninhou mais ainda.

 “Você está tão quentinho!” Ela se explicou, ou, ele achou que fosse uma explicação.

 “Betty, nós precisamos entrar no carro para ir para casa, lembra?”

 Ela soltou um gemido lento quando ele a afastou para abrir a porta. Jughead soube naquele momento que não iria para o inferno, por que já estava pagando por todos os seus pecados.

 Ele finalmente conseguiu com que Betty entrasse no carro, mas ela estava se recusando a colocar o cinto. Ele teve que cuidar disso enquanto fazia um esforço sobre humano para não olhar para as pernas dela. Por que ela tinha que estar usando um short tão curto?

 Para impressionar Archie. Seu melhor amigo, lembra?

 Ele finalmente conseguiu prender o cinto e foi para o banco do motorista. Logo deu partida no carro para deixar Greendale para trás o mais rápido possível.

 “Juggie, eu não quero ir pra casaaa...”

 Ela ainda estava arrastando as palavras, mas soava mais sonolenta do que bebada.

 “Tudo bem Betts. Vamos te levar para casa do Kevin. Eu só preciso que você ligue para ele e...”

 Jughead olhou para o lado e viu que Betty já estava dormindo profundamente, encostada na janela com uma das mãos apoiando a cabeça.

 Jughead simplesmente suspirou e continuou dirigindo. Ele só tinha que evitar todos

aqueles buracos que faziam a caminhonete chacoalhar ainda mais. Toda vez que passavam por um, a cabeça de Betty ia de encontro com a janela e a mão amortecia o impacto, mas ela ainda franzia o rosto e soltava gemidinhos de insatisfação. E Jughead não queria mais ouvir sons como aqueles saindo da boca da loira. Já era tortura o suficiente ter que passar o tempo em um ambiente fechado com o perfume dela.

 “Merda!”

 Ele não pode evitar xingar quando passaram por um trecho particularmente mal mantido. Não era para isso que as pessoas pagavam impostos?

 Um cervo decidiu que era a hora perfeita para atravessar a estrada e ele teve que parar o carro. O animal não parecia estar com muita pressa, o que deixou o garoto mais exasperado.           

 Ele arriscou um olhar para o lado, onde Betty ainda estava dormindo e imediatamente a careta se transformou em um sorriso. Quando ele voltou a olhar para estrada, o cervo ainda estava lá, bem no meio do caminho, e então olhou para Jughead, os olhos iluminados pelo farol eram quase... hipnotizantes.

 Eram os últimos momentos antes da corrida, e ele tinha um plano. Era um plano bem sólido. Bem, não era, para falar a verdade. Mas as coisas já tinham dado certo com bem menos a seu favor, então valia a pena tentar.

 Ele estava checando o carro uma última vez, esperando por Archie. Mas Verônica o estava mantendo ocupado, como sempre. Jughead sabia que só estava se sentindo amargo por que que ele não iria ganhar nenhum beijo de boa sorte.

 Fechou o capô com força, e foi quando ela apareceu. Usava o cabelo alto no típico rabo de cavalo, e uma bandana vermelha amarrada que fazia com que ela parecesse uma daquelas pin ups.

 “Antes que entre no carro, eu quero que você saiba... que eu nunca deixei de te amar, Jughead. Eu não sei...  se eu consigo.” E ele sabia que aquelas palavras eram verdade por que ele também se sentia do mesmo jeito. “E vê se lembra de não tirar o pé da embreagem quando for trocar de marcha, tá bom?”

 E ele se sentiu como se um furacão de emoções estivesse passando por dentro dele Queria gritar com ela, mas também queria simplesmente ignorar tudo o que ela tinha dito. Queria puxá-la para um abraço apertado e nunca mais soltar. Mas, ao mesmo tempo, queria se afastar o máximo possível. E, principalmente, queria beijar Betty Cooper, aquela garota maravilhosa em todos os sentidos da palavra.

 Mas tudo que fez foi sorrir com o canto da boca e dizer:

 “Você é um enigma, Cooper.”

 Jughead piscou várias vezes, tentando se adequar à escuridão da estrada. O cervo já não estava mais lá.

 Assim que chegasse em casa, ele decidiu, iria dormir. Não ia nem parar para fazer outras coisas. Não, ia direto para cama, se já estava tendo visões em que Betty Cooper dizia que era impossível deixar de amá-lo. Obviamente, ele já tinha passado do ponto.

 E foi então que ele percebeu. Por que ele estava dirigindo pela estadual quando nem tinha idade para dirigir, e tendo alucinações de sono? A resposta era bem simples, por que Betty tinha pedido. Provavelmente teria feito algo assim por seu pai. Até por Archie. Mas não sem tentar dizer não primeiro, não sem uma briga. Ele nem se quer pensou antes de dizer sim para Betty. O que isso dizia sobre Jughead?

 Jughead usava sua apatia como uma armadura. Mas toda armadura tinha uma brecha. E a dele se chamava Betty Cooper.

 Ele poderia ter vivido toda sua vida sem saber que gostava da loira. Preferia que tivesse sido assim. Nomear o que sentia quando ela lançava sorrisos na direção de Archie e fazia de tudo para impressionar a Archie só tornava tudo pior.

 Mas ele não podia evitar se sentir daquele jeito. Betty Cooper era como um corte atravessando seu coração. Descobrir que gostava dela o fez lembrar que ainda estava vivo. Mas a dor não compensava. Não compensava mesmo.

 Ele conseguiu chegar na casa de Keller sem bater com o carro, para sua própria surpresa. Ele só queria chamá-la, mas não resistiu e colocou um das mechas de cabelo que tinham escapado da trança que ela tinha feito atrás da orelha dela.

 “Betty?” Ele disse, finalmente se afastando.

 “Uh?”

 Ela piscou algumas vezes, parecia estar confusa, mas cansada demais para fazer perguntas.         

 Ele pegou seu celular e ligou para Keller, agradecendo por ainda ter o contato do garoto.   

 Felizmente ele não tinha ido na festa em Greendale. Em festa alguma na verdade. Ele estava em casa e desceu para pegar Betty. Não sem que antes a loira se jogasse em Jughead para outro abraço. Mas dessa vez sob o olhar questionador de Keller. Jughead lançou um olhar igualmente confuso para filho do xerife.

 Ele esperou até ver que os dois estavam dentro de casa para dar partida no carro. Ele só queria chegar em casa o mais rápido possível, para esquecer que aquela noite tinha acontecido.

 Como se uma garota como Betty Cooper fosse sequer cogitar pensar em um garoto como Jughead Jones daquele jeito...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem adivinhar a música que inspirou essa história ganha... Bem, a satisfação de ter adivinhado.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Betty Cooper É Uma Droga" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.