The Other Half-Breed escrita por Deh


Capítulo 3
Born To Be Wild




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I like smoke and lightnin'
Heavy metal thunder
Racing in the wind
And the feeling that I'm under

Born To Be Wild - Steppenwolf

 

Meu primeiro jantar em família e eu fiquei em silêncio, nem mesmo nenhum comentário sarcástico, isso era estranho até para meus padrões. Observei a sintonia deles e eles interagem como uma família, família a qual não pertenço, não mais.

Os dias na escola tornaram-se suportáveis, nunca admitirei em voz alta, mas o tal M.A.G.I.A até que é um clubinho legal, não mata nem amaldiçoa ninguém, mas tem um certo charme, afinal que garota não gosta de desafiar o patriarcado? No entanto o que mais me chamou a atenção foi a professora responsável, não sei o porquê, Sabrina diz que ela é uma bruxa, mas não é só isso, eu já conheci muitas bruxas e ela é diferente.

As amigas de Sabrina estão cautelosas comigo, não posso culpa-las, e acabei descobrindo que Sabrina tem um ex-namorado mortal, bom talvez assim ela assine logo maldito livro.

Estamos tomando milk-shake na praça quando Roz me pergunta de meus pais, eu apenas digo que é complicado e mexo com o canudinho do meu milk-shake. Para tentar mudar de assunto Sabrina me pergunta a data de meu aniversário e eu digo sem ao menos perceber:

—Seis de Junho de Sessenta e seis.

As três me olham como se eu fosse um alienígena e eu então aponto o óbvio:

—Vocês sabem que bruxas são imortais, certo?

—6 do 6 de 66? Isso é muito... –Susie deixou vago no ar, mas eu completei:

—Demoníaco? Um pouco. –Dei de ombros

—Mas por quê você tem essa aparência? –Roz perguntou

—Meus poderes foram retirados quando eu estava assim...

—Por quê? –Sabrina arregalou os olhos em curiosidade.

—Você não é a única bruxa da família que se recusa a fazer o que os outros querem Sabrina.

—Você ainda não assinou o livro!?

Eu olhei para ela estranhamente e disse:

—Quem é louco em não assinar o livro Sabrina?! Meu caso é um pouco mais complicado do que dar um autografo ao velho Lúcifer.

Passado algum tempo vou me adaptando a rotina daquela casa, Sabrina e eu vamos a escola juntas, ela não pergunta muito e eu não faço questão de conversa fiada, exceto claro meus comentários patenteados. Tia Hilda é a alma que mantém aquela casa como um lar, Ambroise está sendo liberado de sua prisão domiciliar para frequentar a academia e por fim, Zelda está sempre presente, silenciosa, mas sagaz em suas observações.

Estou em um sonho sem pesadelos, até que começo a ouvir uma língua antiga, não fico quieta me coloco em movimento e logo estou correndo, eu corro, corro como se minha vida dependesse disso, sinto o cheiro de enxofre, sinto minha pele ser rasgada por pingos de chuva, a sombra escura está me alcançando e sem alternativa eu grito em plenos pulmões.

Não sei ao certo quanto tempo estou tendo esse pesadelo, mas de repente meus olhos se abrem obedecendo a um feitiço e eu respiro pesadamente, Tia Hilda, Zelda e Sabrina me encaram. Zelda está mais próxima a mim, então deduzo ser ela a ter lançado o feitiço que me acordou. No entanto é tia Hilda a primeira a dizer:

—Querida, você está bem?

Eu ainda estou assustada, ainda sinto meu corpo doer, de repente sinto náuseas e vou correndo para o banheiro, eu vomito tudo o que comi no jantar, meu corpo dói, parece que estive correndo por dias. Lavo minha boca e encaro o espelho por alguns minutos, perdida em meu reflexo, me assusto quando Zelda pergunta:

—O que foi Zaira?

Eu a olho perdida e dou de ombros, volto para o quarto e Sabrina e tia Hilda estão olhando pela janela, eu me sento na cama e passo a mão no cabelo nervosa. Elas falam coisas que eu não presto atenção, então chegando a conclusão eu murmuro:

—Algo ruim vai acontecer.

Sabrina me olha estranhamente, Zelda e tia Hilda se encaram, estou tremendo de frio quando digo:

—É um mal pressagio, algo realmente ruim vai acontecer.

Zelda coloca sua mão sobre minha testa e diz a Hilda:

—Faça um chá Hilda, ela está queimando de febre. Sabrina vá dormir que amanhã você tem aula.

Ambas estavam relutantes em nos deixar sozinhas, mas Zelda lhes lançou O olhar e ambas acataram suas ordens. Após ter certeza que elas já estavam longe, ela me perguntou:

—Você viu algo?

Fiz que não com a cabeça

—Eu não vi nada especifico, mas eu senti.

—O que?

Encarando minhas mãos, analisando se não havia nenhum arranhão eu disse finalmente encarando seus olhos:

—Dor, desespero, angustia. Eu não deveria estar sentindo isso, eu estou sem poderes.

Ela me analisou silenciosamente, enquanto eu me perdia em meus pensamentos. Acho que nós duas estávamos chegando a mesma conclusão, pois dissemos juntas:

—Demônio.

Ela suspirou e passou a mão pelos cabelos, antes que ela pudesse dizer algo tia Hilda chegou com meu chá.

—É calmamente e revigorante, amanhã você estará novinha em folha.

Eu olhei um tanto cética para ela e tomei.

—Hilda vá dormir também que amanhã você deve ir trabalhar.

Tia Hilda fez o que lhe foi solicitado e assim restou apenas Zelda e eu novamente no quarto.

—Você sabe qual demônio?

—Eu nunca sei exatamente qual, minha outra metade não está completa.

—Por que você se recusa?

Eu olhei para ela e suspirei:

—Você não entenderia...

—Você pode tentar me fazer entender.

Suspirei e me levantei com a xícara de chá ainda em mãos, encarando a escuridão lá fora eu disse sem olhar em seus olhos:

—Nunca tive dúvidas sobre ser uma bruxa, eu não saberia ser outra coisa senão uma. No entanto a outra parte...

—Não é muito diferente de ser bruxa, você já está envolvida na escuridão. –Ela tentou me apontar o óbvio.

—Você está soando como meu pai. –Eu disse e voltei meu olhar a ela, nunca entendi muito bem o relacionamento deles.

—É o meu destino, ele sempre diz e eu sempre me recusei.

—Por isso ele lhe tirou os poderes?

—Em parte sim, mas eu me envolvi em bagunça demais desde que fugi. Talvez ele tenha chegado ao limite.

Ela ergueu a sobrancelha:

—O que você aprontou? Se casou com um mortal, teve um bebê mortal?

Fiz uma careta imediatamente:

—Por Lúcifer, você enlouqueceu? Claro que não.

—Me recusei a receber a marca, montei um Coven de excomungados, apenas me recusei a dobrar os joelhos.

Ela rolou os olhos e negou com a cabeça:

—Como você montou um Coven?

Dei de ombros:

—Não era um Coven tradicional, mas servia ao proposito. Até que uns sacerdotes ficaram irritadinhos e decidiram contar para o príncipe das trevas. –Suspirei e voltei a encarar a noite lá fora, não era necessário continuar a dividir minha história com ela, mas eu prossegui –Ele se empenhou muito em me encontrar e quando me encontrou ele me deu um ultimato, mas eu não acataria, não sem lutar e bem entre muitas coisas ditas ele disse que eu fui feita para isso, mas se eu me recusava a cumprir meu proposito eu também não seria bruxa, ele retirou meus poderes, eu desmaiei e acordei sentada no banco de uma rodoviária com uma passagem de ônibus para Greendale e alguns trocados no bolso. As bagagens só apareceram quando eu pisei no solo Spellman, acho que ele queria ter certeza que eu chegasse aqui.

Eu terminei, respirei fundo e voltei para minha cama, ela ainda sentada na beirada me olhava, mas pela primeira vez desde que cheguei não era aquele olhar de quem estava me julgado, então fiz minha confissão final:

—Só não entendo o porquê me mandar para casa. –Eu disse finalmente reconhecendo que este é o meu lar.

Ela meditou em silencio até que disse:

—Ele quer que você não se meta em encrenca.

Eu dei uma risada seca:

—O que ele quer mesmo é me mostrar o quão errada estou, enquanto vejo dia após dia Sabrina lutar contra seu destino; e logico me fazer sofrer, vendo vocês praticarem magia e eu não.

Finalmente o sono estava vindo mais uma vez e me entreguei ao mundo dos sonhos.  


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