O que eu não te digo escrita por Lillac


Capítulo 8
Honestamente, Silena daria uma ótima Mia Thermopolis


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo meus bacanas :D
Esse capítulo ia demorar mais pra sair, mas eu pensei que tanto vocês - que estão aguentando minha demora há meses - quanto eu - que queria muito terminar logo - merecia esse presentinho de fim de ano. Então aqui está.
Espero que gostem ♥



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Duas semanas passaram-se sem grandes acontecimentos, exceto, talvez, pelo fim de tarde na cafeteria quando Frank, em uma assustadora, porém muito impressionante, demonstração dos seus talentos em artes marciais, tropeçara no cadarço desamarrado de Leo, perdera o equilíbrio, e, com três movimentos bem calculados, capturara o prato com a gororoba do refeitório, a maçã e a caixinha de suco, tudo sem espalhar uma única gota no chão.

Então, melhor formulando: nada, além da destreza do ninja Frank realmente acontecera naquelas duas preguiçosas semanas.

Piper nunca lidara muito bem com o tédio. Quando era uma garotinha na mansão Deanoumont, McLean, ou seja-lá-qual-o-nome-do-amigo-famoso-que-estava-cuidando-dela, ela costumava desvencilhar-se da vista de babá muito bem paga e pouco dedicada, surrupiar as chaves da sala de brinquedos e passar longas tardes com nada além da sua imaginação e muitos, muitos monólogos. Às vezes, se Mitchell estivesse lá, eles poderiam criar alguma grande aventura de dois personagens, cruzar montanhas figurativas e derrotar um terrível mal ao final da tarde de domingo. Mas, agora que parava para pensar sobre isso, de fato não havia passado tanto tempo assim com Mitchell, não quando criança, e principalmente não agora, adulta.

Silena, mais velha, mais alta, mais bonita e mais, bem, tudo, a colocava sobre um joelho, ou, quem sabe, ao lado dela no sofá-cama importado, e lia as mais incríveis estórias em francês, recitava poemas e citava Gilgamesh mesmo quando Piper não tinha maturidade o suficiente nem para entender Otelo. Mas ela gostava. Gostava da forma como Silena parecia pensar que ela era capaz de mais do que realmente era. Quem sabe, se acreditasse de fato naquilo também, um dia se realizaria, como o seu estúpido desejo de Natal de ter uma ceia com o pai, a mãe e os irmãos (até Drew, se o sacrifício fosse necessário).

Naquela época, Piper ainda não entendia que sua família não era como as outras. Que irmãos de verdade dividiam brinquedos, memórias e iogurtes de chocolate, e não apenas o banco traseiro de um Jipe na única viagem anual que faziam com Afrodite para algum lugar que ninguém realmente queria ir. Não compreendia direito que mães deveriam ensinar coisas às suas filhas, como cozinhar, ler e como trançar seus cabelos sem que ficassem parecidos com um chapéu de palha.

Também não compreendia que, no verão dos seus 12 anos, enquanto estavam agachadas em uma praia particular contando conchas e sentindo o sabor salgado da água que respingava nos seus rostos toda vez que a maré quebrava na areia, quando Drew lhe ajudou a colocar as conchas em uma fronha improvisada da sua camiseta molhada e elas voltaram para a casa de praia luxuosa para comer cereal e ouvir o retumbar dos trovões quando a tempestade caiu lá fora, que aquela seria a última lembrança verdadeiramente feliz que teria de Drew.

As duas semanas passaram devagar, usando uma liberdade de eufemismos.

Quem sabe, até fosse para o bem. Estava ficando habituada àquela rotina frenética, aos energéticos sabor açúcar com açúcar e mais um pouco de açúcar que Percy sempre tinha consigo, ao cabelo bagunçado de Annabeth e a forma como ela tinha uma centena de palavrões prontos quando errava uma equação, ao humor mórbido de Nico e a forma como seus olhos se iluminavam quando ele encontrava alguma versão não-totalmente-legal de uma série antiga na internet, com efeitos especiais que pareciam ter saído direto de uma geladeira dos anos 60, ao ar presunçoso e orgulhoso de Bianca o odor dos seus cigarros de menta.

Havia se habituado à Reyna, seus olhos escuros e o jeito como ela colocava uma mão no antebraço de Piper, a olhava por baixo da franja e dizia “como você está hoje?”.

Havia se acostumado à uma família que não era sua, e nunca seria.

E, quando o alarme soou às seis da matina de uma quinta-feira, Piper disse a si mesma que não precisava sair da cama. Sally Jackson e seus filhos haviam ido visitar a mais velha, Hylla, no Texas, duas semanas atrás. Hazel havia ido juntos, um pequeno presente de Hades pelo desempenho exemplar que ela estava dando no seu último ano da escola, e uma oportunidade da garota eliminar estresse antes dos exames de avaliação para a faculdade. Nico havia viajado para Los Angeles em um Congresso de Direitos Humanos, e Bianca... bem, para falar a verdade, Piper não sabia onde Bianca estava. De acordo com Nico, a maioria das pessoas nunca sabia. Nem mesmo ele.

Annabeth ainda era uma visão corriqueira, ou o quão corriqueira pode-se ser quando se vive à cinco quilômetros de distância, estuda-se em faculdades diferentes e se trabalha meio período em duas firmas de arquitetura. Mas ela mandava mensagem a cada três dias, e, uma vez, por acidente, lhe enviara uma selfie sonolenta com o cabelo amarrado no formato de um burrito no topo da cabeça e Piper imaginou que ela havia adormecido encima dos livros antes de conseguir apagar a mensagem.

Não havia Reyna naquela manhã, lhe ligando para dizer que “estou aqui na frente com os cachorros, vem logo”. Nem Percy, assobiando para que ela saísse da cama, e muito menos Sally lhe esperando no final do dia com alguma guloseima saída do forno. Havia apenas Piper, a cama de cima do se beliche, a fresta de luz atravessando a cortina e uma sensação de preguiça no corpo.

E, ainda assim, ela saltou para o chão, calçou os tênis que Annabeth havia lhe dado se segunda mão, tomou um generoso gole de suco e tomou as ruas que circundavam a mansão, se perguntando, a todo momento, o porquê de estar fazendo aquilo.

De uns tempos para cá, essa era uma pergunta irritantemente corriqueira. Até que ponto ela havia genuinamente mudado, e até que ponto tudo aquilo era apenas um longo efeito colateral à exposição a uma rotina muito diferente da sua? Quanto tempo demoraria para que Piper voltasse a enfiar-se debaixo dos lençóis até uma da tarde, deixar suas atividades da faculdade para a última e não conseguir lembrar-se ao certo se havia entrado no chuveiro naquele dia?

Precisa lembrar a si mesma de que tudo aquilo era temporário, por mais que, aparentemente, todas as partes do seu corpo se recusassem a compreender.

O calor do sol ficou insuportável após 20 minutos, mas, por sorte, ela havia alcançado um posto de gasolina próximo. Entrou na lojinha de conveniência, agradecendo pela eletricidade moderna e seus condicionadores de ar hiper potentes. O garoto do outro lado do balcão tinha os olhos mais abaixo do que eles deveriam estar do rosto dela, mas, honestamente, Piper já nem sabia se se importava. Comprou um chá gelado e alguma coisa para comer, subindo na cadeira alta demais mais próxima.

Silena.

Advinha quem está na cidade?

Piper.

Papai Noel?

Silena.

É setembro, Piper.

Piper.

O que eu posso dizer? Sou uma garota natalina.

Mas e aí, quem é?

Silena.

Mamãe!

 

Piper abocanhou uma grande porção do waffle que estava comendo, murmurando baixinho. Não era como se o entusiasmo de Silena fosse “errado”. Era só que... bem, as coisas eram diferentes para ela. Silena sempre seria a filha mais velha, bem-sucedida, e, à bem da verdade, a favorita, mesmo que Afrodite se esforçasse ao máximo para jamais demostrar isso. Piper não podia reclamar da mãe, não mesmo. Mas se havia uma única coisa que puxara dela, havia sido aquele senso assustadoramente crítico de empatia. E nunca fora difícil para uma criança como Piper perceber a diferença na forma como Afrodite olhava para Silena, e como ela olhava para os outros filhos.

Não era para menos. 23 anos, modelo de maquiagem desde os 15, promovida para modelo de passarelas aos 19, ingressara da Sorbonne aos 20 e já estava praticamente formada em Relações Internacionais, com mais créditos extras e oportunidades de emprego do que a maioria dos mestrandos tinha na meia idade. Silena era a criança de ouro, sempre havia sido. E talvez uma parte de Piper a invejasse por isso, mas a maior, e mais vocal, simplesmente reconhecia que ela nunca seria Silena. Para o melhor ou para o pior.

Piper.

.... Tudo bem? Vou passar na casa dela no sábado, então.

Silena.

Ah, ela não vai ficar até sábado. Tem uma reunião em Los Angeles amanhã.

Mas sabe quem vai?

 

Piper não teve tempo de perguntar dessa vez, porque logo depois, Silena havia enviado uma mensagem. Clicou sem muita curiosidade. Silena tinha o péssimo hábito de mandar coisas completamente aleatória no meio de conversas parcialmente importantes, e meio que já esperava por algo do tipo. A imagem, no entanto, não tinha nada de aleatório. Na parte de trás da foto, Piper conseguia ver a mãe, mexendo no celular, com o cenho franzido. Quando estava assim, despreocupada e desatenta, Afrodite quase parecia ter a idade que tinha (não que ela fosse tão velha assim. Silena fora uma surpresinha bem desconcertante para a Afrodite de 16 anos dos anos 80 com o seu cabelo cacheado e botinhas de salto). Ela havia pintado o cabelo, que agora estava preso no topo da cabeça, emoldurando seu rosto com os cachos soltos, loiros como ouro. As sobrancelhas haviam sido tingidas também, claro que haviam, embora Piper pudesse ver um resquício da tinta rosa nelas.

Mas o que mais lhe importava é que Silena estava na foto também. Fazendo um sinal de positivo cobrindo quase todo o seu rosto, unhas de esmalte azul descascando, braceletes ambientalmente-amigáveis, pulseira de prata que havia ganhado no aniversário de 15 anos e a pequena faixinha azul, roxa e rosa que Charles havia lhe dado um ano atrás, em uma demonstração surpreendente de delicadeza e charme. Silena havia pintado o cabelo também, de um prateado escuro e ameaçador, que não combinava em nada com o seu sorriso bobo, com as bochechas infladas.

Silena

Me fala que você POR FAVOR não tem deixado o gato dormir na minha cama.

É sério. Eu vou te matar.

 

Uma hora e alguns vinte minutos depois, Afrodite e Silena finalmente chegaram do aeroporto. Se parecia estranho para outras pessoas que a mulher simplesmente arrastasse suas malas para a casa do ex-marido como se ainda morasse nela, Piper supunha que não podia dizer muito. Sua família era disfuncional assim mesmo. Ela estava esperando pelas duas na entrada de veículos, contrariamente ansiosa.

Quando Afrodite desceu da Mercedes, óculos de sol Chanel deslizados até a metade do nariz perfeito, terno branco imaculado e blusa vermelha-sangue enfiada por dentro da calça coroado com um fino cinto preto cintilante e o cabelo esvoaçante, Piper quis lhe dar um soco na cara.

Que tipo de mãe sumia por 4 meses sem uma única mensagem? Ela pouco se importava se ela tinha algum príncipe árabe para fazer negócios ou uma importantíssima herdeira japonesa para encantar. Não queria saber quanto a mãe estava trabalhando para manter a empresa funcionando. Não se importava menos com quantas noites em claro era passava. Piper queria, por uma vez na vida, ter uma mãe.

Quando Afrodite desceu da Mercedes, semblante cansado, feroz, daquela forma que ela tão precisamente havia aprendido a copiar quando ainda era uma garotinha, óculos de sol escondendo as marcas de cansaço em torno dos olhos, costas curvadas pelas longas horas de voo e de trajeto, e a primeira coisa que ela fez foi suspirar ao esticar as pernas, Piper quis lhe abraçar.

Que tipo de filha dizia para a mãe que não queria nada a ver com ela, quando tudo o que ela havia feito até então fora para dar um futuro melhor para os filhos do que ela havia tido? Que tipo de filha se esconde no quarto às quatro da manhã, embora pudesse perfeitamente ouvir a mãe chorando no escritório do outro lado do corredor? Que tipo de filha resolvia perder-se do outro lado da cidade “acidentalmente” ao invés de ir com a mãe até o aeroporto?

Silena ainda deveria estar juntando as coisas no carro, porque ela e Afrodite tiveram alguns bons segundos de silêncio desconfortável.

— Piper — ela finalmente falou, soando cansada, surpresa, e até um pouco feliz. — Eu não esperava te encontrar aqui.

— Bem — Piper moveu os pés calçados de tênis, sem ter o que mais fazer com a energia extra no corpo. — Eu moro aqui.

Era difícil dizer, mas Piper achava que a mãe havia abaixo os olhos.

— É, eu sei. Como está a casa?

— Do mesmo jeito que estava quando você foi embora — disse. — Mas reformamos o banheiro.

— Seu pai finalmente cedeu para a banheira?

Meu pai não esteve em casa pelos últimos 6 meses. Mas você não sabe disso.

— Digamos que sim. Eu... —

— Piper! — Silena saltou do carro, jogou a mala no chão, e, antes que a garota soubesse ao certo o que estava acontecendo, a levantou em um abraço. — Você está tão alta!

— Eu literalmente não cresci nada desde a última vez.

— Bem, você é minha irmãzinha. Toda vez que eu te reencontro parece que você mudou completamente de pessoa — havia um sorriso no seu rosto, mas Piper notou que ele não alcançava os olhos da irmã. A Silena sempre tivera seu coração exposto na manga, ou, melhor dizendo, nos olhos. — Vamos entrar. Aposto que você está morrendo de vontade de me contar as novidades. — Ela virou para trás por um momento: — Mãe? A senhora vem?

— Em um momento — ela não estava olhando para Piper. — Quero falar com alguns dos funcionários antes.

Silena e Piper entraram e a mais velha as direcionou direto para a cozinha, onde abriu a geladeira e soltou um gritinho.

— PIPER! CADÊ MEUS ENERGÉTICOS?

— Joguei fora — respondeu, tampando uma das orelhas. — Não queria passar o perigo de ter o Leo correndo pelas escadas dessa casa depois de tomar um redbull.

— Mas! — A garota respirou fundo, recompondo-se, como se Piper lhe houvesse gravemente ofendido. — Leo? Vocês continuam amigos, então?

— Está mais para família, a esse ponto.

 — Uau. Um soco doeria menos, Piper.

— Não quis dizer dessa forma, e você sabe disso — ela apoiou-se no balcão, sentindo os ombros pesando. — É só que.... Bem, é difícil. Sem você. Vocês.

Ela não precisava dizer mais nada. O olhar de Silena imediatamente suavizou, e ela caminhou até a irmã, passando uma mão pelo cabelo ainda suado dela. Subitamente, Piper voltou a ser a garotinha de dez anos que ficava esperando pela irmã retornar da escola, contando os tique-taques do relógio.

— Eu sei. E eu sinto muito. Fico feliz que o Leo esteja com você. Ele é um bom garoto, não importa o que a nossa mãe diga.

— Eu nunca entendi a implicância dela com ele... e ela também nunca fez questão de explicar.

Os olhos Silena ficaram escuros, mas não de raiva. Pareciam tristes, distantes, e a mão que ela tinha no cabelo de Piper desceu para unir-se à outra no topo do balcão, até um pouco trêmulas. A mais nova ficou alerta, mas tudo o que Silena falou foi:

— Isso tem a ver comigo, eu temo. Mas isso é uma história para outra hora. Hoje, eu só quero me encher de porcaria e assistir algum filme ruim com a minha irmãzinha.

— E você pode? — Piper puxou a orelha de Silena de forma bem-humorada, embora seus pensamentos ainda estivessem flutuando para o segredo dela e o que isso tinha a ver com Leo. — Não tem nenhum contrato multibilionário que te impede de comer gordura?

— Mamãe nunca deixaria eu assinar uma coisa assim — ela lhe mostrou a língua. — E, mesmo se deixasse, não seria por muito tempo. Não sou mais modelo.

As engrenagens na cabeça de Piper entraram em curto-circuito.

— .... Não? Mas você—

— “Adora as passarelas”. Eu sei. — Silena apoiou o rosto de musa de revista de moda em uma mão e suspirou. — Não sei, Piper. Eu poderia ficar a tarde toda aqui tentando te dar uma resposta conclusiva sobre carreiras e sonhos e amadurecimentos, mas.... A verdade é que as coisas acontecem. A vida acontece. Ela muda, e você muda junto. A vida de modelo não é mais para mim, mas eu tenho certeza que vou encontrar outra coisa.

Piper não queria, mas antes que pudesse controlar seus impulsos idiotas, perguntou:

— E essa grande revelação bombástica se aplicou à Drew também?

— Não. Drew continua tão apaixonada pelas câmeras quanto sempre foi. E você devia parar de implicar com ela — o sorriso de Silena tornou-se traiçoeiro, mas de uma forma inocente, e Piper já sabia o que viria em seguida: — afinal, vocês duas são muito mais parecidas do que pensam.

A garota fez uma mimica de vômito, Silena rolou os olhos e elas conversaram pelo resto do dia sobre tudo e sobre absolutamente nada. Era bom ter Silena de volta, Piper concluiu, quando suas bochechas já doíam de tanto rir e Silena estava andando pelo quarto com a touca cinza de Piper e fazendo uma imitação impressiva da sua cena favorita de Diário da Princesa.

Ela imediatamente parou de rir quando ouviu alguém batendo na porta. Droga. Mil vezes droga. A última coisa que Piper queria naquele momento era ter que lidar com a mãe. Não agora. Não quando as coisas estavam indo tão bem.

Afrodite, no entanto, não tinha muito para dizer.

A mãe estava usando um robe rosa-claro e seus óculos de leitura, que pareciam enormes no rosto fino. O cabelo meio bagunçado dizia para Piper que ela estava, de fato, lendo, porque Afrodite era a única responsável pelo enervante hábito da filha de passar as mãos pelos cabelos toda vez que não entendia alguma coisa. Na sua mão, uma caneca simples, preta, emanava uma fumacinha com aroma de menta.

— Meninas?

— Oi, mãe — Silena respondeu, retirando o acessório do cabelo.

— Sr. Gary diz que temos visitas — falou. — Mas eu não convidei ninguém, então imagino que seja para uma de vocês.

As irmãs se entreolharam, e Silena deu de ombros. Piper desceu da cama, enfiando os pés nas pantufas de Hantaro, e pegou um lápis da escrivaninha para prender o cabelo. Não queria pensar muito sobre isso, mas sabia que estava assustadoramente parecida com a mãe. Silena a seguiu.

— É para você?

— Deus me livre — a mais velha riu. — Ninguém merece visita depois de um voo de 12 horas. Nenhum amigo meu seria doido assim. Deve ser para você.

Piper, por sua parte, duvidava bastante disso. A noite já havia caído, o que significava que Leo estava ocupado com as suas streams de.... Seja lá o que ele estava jogando agora. Frank assistindo anime – um que ele com certeza encheria a paciência de Piper até que ela começasse a assistir também – e Annabeth....

Bem, é. Podia ser Annabeth. Mas a garota sempre lhe parecera o tipo de pessoa que receberia visitas sem aviso prévio com um balde de agua fria despejado da janela, e Piper imaginava que ela não faria com os outros o que não queria que fosse feito consigo.

Dessa forma, Piper achava que só conhecia uma pessoa inconsequente o bastante para bater à porta de alguém às dez da noite sem avisar antes.

Gary, o porteiro, já tinha a porta aberta para elas quando se aproximaram da entrada.

E a sina da existência de Piper estava de pé do lado de fora, em uma regata verde-neon, bermudas e uma embalagem de papelão na mão esquerda.

— Senhorita Piper, seus amigos estão aqui.

É, amigos. Piper mordeu a parte de dentro da boca. Maldito Percy Jackson com seu sorriso de pasta de dente.

— O que diabos você tá fazendo aqui?

— Viemos dirigindo na estrada — a voz vinda de algum lugar à esquerda mandou calafrios pela sua coluna abaixo. — Sua casa fica no caminho, então resolvemos fazer uma visita, se não for incômodo. Estava estacionando.

Reyna estava ali. Bacana. Piper estava OK com aquilo. Mais do que OK! Ela estava perfeitamente bem! Perfeitamente bem em ter Reyna do outro lado da porta parecendo saída diretamente de um filme esportivo, olhando para ela com um semblante confuso, enquanto Piper estava em seus pijamas, pantufas de desenho animado e cabelo preto com uma camiseta no topo da cabeça. Perfeitamente bem!

— Hã, Pipes — Silena ergueu uma sobrancelha. — Já está doendo.

Piper calmamente retirou a mão de onde estava apertando o braço de Silena, ignorando as marcas de unha e o grunhindo que a irmã deu quando ficou livre. Ao invés disso, tentou sorrir, mas não deve ter saído muito bem, porque a expressão de Reyna só ficou mais confusa.

— Trouxemos Tacos — Percy finalmente falou, ainda sorrindo. Piper queria acertá-lo no meio da cara com o sofá da sala-de-estar. Talvez com alguns dentes quebrados Percy Jackson parasse de atormentar a sua vida. — Espero que a sua amiga também seja vegetariana, porque nós compramos tipo, uns dez.

— Ela não é minha amiga — Piper finalmente começou a andar para abrir mais a porta, gesticulando para que os irmãos entrassem. — É minha irmã mais velha. Chegou de viagem hoje. Silena, esses são Reyna e Percy. Meus stalkers.

Reyna riu.

— Falando assim, parece até que você não gosta de mim.

Oh. OH. Oh, deuses. Piper engoliu tão em seco que começou a tossir.

— Você mora por aqui? Porque a Piper nunca mencionou você antes.

Aquilo lhe rendeu um dolorido cotovelo no ombro por parte da irmã.

— É mesmo? Bom saber — ela disse, fingindo estar magoada. Piper sabia muito bem que Silena também não falava dela para suas amigas supermodelos. — Não. Eu moro.... Bem, eu, tecnicamente, não “moro” em lugar nenhum. Tenho um apartamento com o meu namorado em Paris, mas não passo mais tempo lá do que nos aviões. Vim com a minha mãe hoje, visitar nossa bebêzinha.

Silena — Piper grunhiu.

— Sua mãe está em casa? — Reyna pareceu meio assustada. Percy, por outro lado:

— Que bom! A nossa está pegando as bebidas no porta-malas do carro — o sorriso do garoto podia aumentar mais? Quanto tempo até rasgar a cara dele no meio? — Vai ser tipo um jantar em família!


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Notas finais do capítulo

Quem já leu Tumba do Tirano favor não comentar spoilers a autora aqui esqueceu de comprar o livro na promoção.
Menos Pipeyna, mais família, mas eu espero que ninguém fique muito chateado com isso.
Como sempre, espero que tenham gostado, comentários são sempre apreciados ♥ esperem bastante Percy e Reyna sendo irmãos caóticos no próximo capítulo.



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