O que eu não te digo escrita por Lillac


Capítulo 6
Deixe-me ajudar.


Notas iniciais do capítulo

Eae men
Vocês conhecem a história. Faculdade, tal e tal. Perdoem o atraso ♥
Tenho umas perguntinhas nas notas finais, se alguém quiser responder para ajudar a autora aqui.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/768902/chapter/6

— Narradores. Uma parte crucial da história ou apenas uma ferramenta de escrita? — Sally a perguntou, batucando a ponta da caneta esferográfica no lábio inferior, fixando Piper com um olhar divertido.

A garota olhou de relance para o seu bloco de notas, repousado na mesinha, mas não conseguia lembrar-se de alguma vez ter pensado sobre o assunto. Ela houvera tido aulas no ensino médio sobre aquilo, logicamente: narradores oniscientes, personagens....

— Depende? — ela chutou. — Se eles estiverem presentes na história, então...

— Você tem certeza que essa diferença existe?

Os ombros de Piper despencaram, vencida, e ela suspirou. Sally pareceu achar aquilo engraçado.

— Pense comigo. A primeira diferença básica que você encontra é entre um narrador exterior e um narrador personagem, entretanto, não precisa resumir-se à isso. Pense na segunda opção. Você possui um narrador personagem. Qual é a primeira coisa que vem à sua mente?

Piper pensou por um momento singelo.

— Primeira pessoa?

— Geralmente. Existe um certo preconceito na comunidade literária quanto à histórias narradas em primeira pessoa. O que me parece é que muitos ainda pensam que a escolha de um narrador personagem-protagonista torna a narrativa mais simples e, de certas formas falhas. Mas é preciso pensar em todos os pormenores. Narrar de uma perspectiva imersiva vem com o peso de filtrar absolutamente todos os acontecimentos através da visão do personagem, que não é você. Se está escrevendo sobre um garoto de 15 anos, sua narrativa precisa corresponder à mentalidade dele, o que nem sempre é fácil — disse, e Piper esforçou-se para acompanhar. — É muito mais simples de subverter expectativas, certamente, uma vez que o narrador e o personagem, sendo um só, muito raramente saberão de todos os eventos da história. Mas e quando sabem?

Aquilo a fez levantar o rosto de suas anotações e piscar, confusa.

— Me acompanha. Quantos exemplos você consegue pensar de um narrador personagem que não era o protagonista, ou que, ao menos, não era o centro da história? Do topo da minha cabeça, eu consigo lembrar de alguns. É um artifício muito complexo de se fazer, mas dá ótimas histórias. Pense em Lemony Snicket, que tal? Você concorda que existe um certo quê de mistério de estar lendo uma história pelos olhos de um personagem que, assim como você, não estava lá? Mas como fazer isso de uma forma crível?

— Existe uma fórmula para isso?

— Certamente que não. Grande parte de escrever é respeitar os seus leitores. Se você está narrando uma história de um ponto de vista, digamos, não confiável, é sempre necessário deixar que os seus leitores tenham uma luz, de forma que, quando você quiser torcer e mudar a história, não dê a impressão de que você está simplesmente escrevendo o que bem lhe entendeu. Narradores personagens são ótimos para isso, porque você está filtrando a realidade da história através dos olhos de outras pessoas.

— Mas também extremamente fáceis de errar?

— Tudo é extremamente fácil de errar — Sally lhe disse, com um sorriso afável. — O ponto culminante de tudo é leal à você mesma e ter respeito pelos seus leitores. O resto é uma questão de prática, técnica e estudo. Ninguém nasce sabendo exatamente como fazer uma narrativa.

— Nem você?

A pergunta pareceu pegá-la de surpresa, e Sally abaixou suas brilhantes órbitas verdes para as próprias mãos. Piper engoliu em seco. Não deveria ter perguntado, notou, com amargura. Mas antes que pudesse pedir desculpas, Sally voltou a sorrir e disse:

— Isso é uma história para outro narrador. Por agora, você precisa ir para a faculdade.

De fato, os pulsos de Piper estavam doloridos de tanto escrever, e, apesar de amar as aulas, já conseguia sentir sua concentração deslizando. Por todos os deuses, Sally havia criado três filhos e mais uma penca de sobrinhos com TDAH, então conseguia dizer exatamente quando Piper estava vacilando. Ela arrumou as coisas na bolsa que havia ganhado de aniversário de Afrodite, tantos anos atrás, e acompanhou Sally para fora do escritório. Na sala de estar, Percy estava no sofá, com uma meia diferente em cada pé e uma tigela de cereais coloridos no colo. Reyna, ao lado dele, digitava alguma coisa no celular, e tinha as bochechas transbordando do mesmo doce. Quando ela levantou o olhar e viu a mãe parada no vão da porta, engoliu tão rápido que Piper ficou com medo que ela se engasgasse.

— Mãe! — Percy chiou, quase derrubando a tigela no chão. — Sua aula acabou mais cedo.

Sally ignorou o comentário. Ela marchou até onde os filhos estavam e puxou Percy pela orelha, não o suficiente para machucar, mas o menino resmungou, enquanto a mãe, com a outra mão, pegava a tigela e colocava encima da mesa.

— Quantas vezes eu vou ter que dizer... — ela foi puxando-o até a sala de jantar — Que. Não. É. Para. Comer. Doce. Antes. Do. Almoço!

Reyna riu. Uma péssima decisão, realmente.

— E você! — Sally gritou para a caçula. — Pensa que eu não vi?

Piper ficou parada onde estava, com uma mão na alça da bolsa e se esforçando para não rir muito alto. Reyna encolheu os ombros com o ralhão, mas quando fixou-a com o olhar, estava sorrindo de canto. Piper rapidamente desviou o dela. Quando Sally lhe convidou para ficar para almoçar ela certificou-se de sentar do lado da garota. Não sabia exatamente quando haviam ficado tão próximas, mas era uma amizade da qual Piper não se arrependia.

 

— OK, nós já temos as bebidas, o hélio para colocar nos balões e a tanguinha do Super-Homem. Falta alguma coisa?

Eles estavam parados no estacionamento da faculdade de Piper. Como ficava no caminho do shopping, os irmãos haviam achado por bem deixa-la na aula antes de ir comprar os últimos preparativos da festa de Jason, que seria naquele fim de semana. Teoricamente, era para Thalia cuidar daquilo, mas ela estava “ocupada”. Com o quê, exatamente, ele não saberia dizer. Reyna checou a tela do celular.

— Hazel disse que ainda precisa de mais ingredientes para o glacê, mas a Bianca já está no shopping comprando... eu acho que a única coisa que falta são os presentes mesmo.

— Mas eu achei que tanguinha fosse o presente.

Reyna ergueu uma sobrancelha para o irmão. Percy tirou as mãos do volante e riu:

— Estou brincando! O que você quer comprar pra ele?

— Semana passada nós começamos a assistir aquela série que a mamãe adora — Percy assentiu com a cabeça. — Então eu estava pensando em comprar o livro. Eu sei que ele não tem muito tempo para ler, mas imaginei que ele fosse gostar.

Percy murmurou em concordância por um tempo.

— Que opções isso me deixa?

— Isso é problema seu — ela bateu no ombro do irmão — agora vai logo, nós estamos ocupando espaço que não é nosso.

Percy deu partida no carro e eles tomaram as ruas. Enquanto o carro tocava alguma música indie da playlist da irmã no último volume, Percy foi acometido por um súbito pensamento, mas mordeu a parte de dentro da bochecha para não dizer nada. No entanto, nada passava despercebido para Reyna. Ela o observou com aquele olhar de águia por um gélido momento e lhe perguntou no que estava pensando, mas, quando Percy foi firme em se recusar a responder, finalmente desistiu. Sabia que o irmão eventualmente falaria.

Sempre fora assim, entre eles. Apesar de uma infância conturbada e nem sempre unida, os dois sabiam que não existiam grandes segredos entre eles.

Eles chegaram no shopping e encontraram Bianca tomando milk-shake na praça de alimentação, com uma enorme sacola de alguma loja gourmet cara à tiracolo. Ziguezaguearam pelo lugar, jogando conversa fora enquanto Percy mandava foto de qualquer atrocidade — uma calça de moletom rosa choque com pentagramas, uma jaqueta com os inscritos “Hot Stuff, Press Here” e uma seta indicando o traseiro, e mais uma infinidade de outras roupas e artefatos horríveis — para Jason, perguntando “o que você acha disso aqui?”.

Em todas as vezes, o garoto respondera com uma careta chorando.

Quando o dia chegou ao fim e eles deixaram Bianca no apartamento que dividiam com os irmãos, Percy parou para trocar a música no sinal vermelho e Reyna resolveu que eram bem tempo de perguntar:

— Ok, o que é que você está escondendo?

Percy, para a sua surpresa, não desviou da pergunta. Ao invés disso, ele desbloqueou o celular conectado ao aparelho de som e rolou a conversa com Jason até algumas mensagens acima. Reyna se inclinou para ler.

O empurrão que Percy levou no ombro o pegou tão de surpresa que ele quase ultrapassou o sinal.

 

— Através dos meus olhos? Eu sinto dizer mas, infelizmente, eu não sou um robô — Leo respondeu, soando e parecendo confuso.

Piper o cutucou com a ponta do tênis, de onde estava sentada alguns degraus acima na escada da faculdade. O garoto estava, como prometido, consertando o videogame de Frank, e, portanto, era a único momento que ela encontrara para ter aquela conversa pacífica com ele. (Bem, se você considerar como pacífica mesmo com os seus intermináveis grunhidos e tremeliques. Pacifico, na Escala Leo de hiperatividade).

— Não foi isso que eu perguntei, cabeção.

— Eu entendi o que você perguntou. Mas não acho que faça sentido.

— Você acha que a Sally me deu um mal conselho?

— Calma aí gatinha, não me ataca. Só estou dizendo que não faz sentido comigo. Nós nos conhecemos há o quê, dez, quinze anos? Você já...

— Nove.

— ... Conhece a minha perspectiva. Eu vejo as coisas como, bem... coisas. Tudo nesse mundo é adaptável e consertável, com dedicação e técnica o suficiente. Exceto humanos, o motivo pelo qual você é a única que eu suporto. A minha atenção nunca fica em uma mesma coisa por muito tempo, então uma narrativa do meu ponto de vista provavelmente seria meio elétrica e confusa. Talvez um pouco depressiva?

... Era verdade. Poderia soar meio estranho, mas Piper sabia tudo o que era possível saber sobre Leo Valdez, mesmo os detalhes mais inconvenientes. Como a vez em que ele tivera ameba da quarta série ou como o seu primeiro beijo houvera sido forçado e ele não gostava muito daquela história. Se tirasse um momento para escrever algo através dos olhos dele, o mais provável era que o escrito saísse perturbadora fiel. Mas Piper não gostava de realismo, afinal.

— O que você sugere, então?

— Que você tente isso com pessoas que não conhece tão bem — ele deu de ombros. — Sabe uma coisa sobre máquinas?

— Várias.

— Elas seguem padrões comportamentais. Se você projeta um robô para fazer algo, é o que ele fará. Mas humanos são imprevisíveis, e eu suponho que isso seja parte do encanto. Mas a nossa necessidade projetar a natureza humana em máquinas fez com que houvesse a evolução das AI, e, agora com esses enormes bancos de dados para gerar respostas automáticas, até os robôs estão ficando surpreendentes, de um ponto de vista humano — ele limpou a garganta, parecendo ter se perdido por um curto momento. — O que eu quero dizer é que as máquinas possuem comportamentos mensuráveis, mas elas não são as únicas. Nós também temos isso, até certo ponto. Se você observar bem uma pessoa, mesmo sem falar com ela, vai começar a notar coisas que outras pessoas não notam. E a forma como alguém reage ao mundo te diz muito mais sobre a personalidade dela do que as suas palavras.

— Leo! — os olhos de Piper se iluminaram — Você é um gênio.

— Eu sei. Mas por que?

Ela pescou o celular no bolso, e mostrou a mensagem para o amigo. As sobrancelhas de Leo subiram tão alto que quase desapareceram por baixo dos cachos.

— Piper McLean, você é uma filha da mãe sortuda.

 

— Eu vou te matar.

— Você pode tentar.

Reyna deu um puxão tão forte na jaqueta de Percy que o tecido quase rasgou. Annabeth, alarmada, foi obrigada à tapear a mão da garota, como alguém tapearia um gato mal criado. A expressão da garota, aliás, foi quase felina.

— Por que vocês estão brigando dessa vez?

— Reyna está com raiva porque eu chamei a Piper para a festa — Percy estacionou o carro na frente do condomínio.

Annabeth sentiu o cenho franzindo-se. Seu olhar saltitou do namorado, para Reyna, e de volta para Percy. Haviam tantas questões ali. Ela era muito boa em ler as pessoas, sempre fora, mas aprendera desde o começo do namoro que as irmãs de Percy eram um eterno enigma. O máximo que ela conseguia tirar da expressão de Reyna era que a garota estava insegura. E não era surpresa que ele gostava de deixa-la embaraçada, mas...

— Desculpa pela demora — Piper disse, entrando no carro em um adorável conjunto de jeans e regata preta colada e uma camisa de botões quadriculada aberta. Reyna fez espaço para ela no banco de trás.

— Nada — Percy assoviou — você não comeu antes, né? Hazel fez uma parte vegetariana só pra você. A mamãe ajudou.

— Não, eu— a frase de Piper parou pela metade, e ela pestanejou — espera, a Sra. Jackson? Por que ela estaria lá?

Foi a vez de Annabeth ficar confusa, o que não lhe agradava muito.

— É aniversário do sobrinho dela.

Piper não precisou dizer nada para que a mais velha compreendesse que daquilo ela não sabia. Uma parte de si suspirou aliviada. Pelo menos ela Annabeth ainda conseguia ler.

— Aniversário? — ela repetiu, suas mãos começaram a tremer. — Eu não posso ir em uma festa de família! Percy, você não me—

— Relaxa, o Jason quer conhecer quem é a menina que anda aparecendo tanto nos stories da família dele. Além do mais, a Reyna queria que você viesse.

Ah. Ali estava a mentira. Annabeth resistiu ao impulso de dar um beliscão no garoto. Mas resolveu que só deixaria Reyna ainda mais acanhada. Ela virou-se completamente para frente no banco do carona, querendo dar um pouco de privacidade à cunhada, mas não resistiu assistir o desenrolar da cena pelo espelho retrovisor. Reyna rapidamente buscou pelo embrulho que tinha colocado ao lado dela no banco, e deitou-o no colo de Piper.

— Você vai precisar disso.

— Ótimo — Piper grunhiu — porque Percy não me disse nada sobre um presente.

O apartamento de Thalia ficava em Soho, e era uma residência murada de granito com pedras de cascalho ladeando a estradinha que dava acesso ao estacionamento espaçoso. O lugar em si tinha três andares, e a festa estava acontecendo no último, tomando proporções na sacada, onde ela já podia ver Grover e Rachel conversando. Annabeth desviou uma olhadela para Piper no fundo no carro, e percebeu que a garota não parecia muito surpresa. Nada como ela mesma ficara, quando os conhecera pela primeira vez. Uma coisa era ser uma caloura morando em um apartamento alugado com mais cinco garotas que ela mal via, e outra era descobrir que a família do seu namorado tinha dinheiro o suficiente para comprar sua faculdade.

Ao menos Piper parecia mais preparada para aquilo do que ela estivera.

— Tem menos gente do que eu pensei que teria — ela comentou, enquanto eles subiam escada acima — pelo jeito como vocês falam dele, eu pensei que fosse alguma celebridade.

Naquele mesmo momento, eles alcançaram o terceiro andar, e deram de cara com o pôster de quase 2m que Thalia havia pendurado no corredor, com o enorme e cursivo autografo de Jason na ponta. A foto era bonita: a arquibancada ao fundo houvera sido tirada de foco, de forma que Jason brilhava em seu esplendor (ou talvez fosse o suor) com o cabelo loiro espetado e a bola de basquete entre os dedos lânguidos.

— Ah, ele é.

Annabeth colocou uma mão na lombar de Piper para que ela não congelasse ali.

Lá dentro, haviam apenas conhecidos. Apesar de fazer parte da Ligar Júnior de basquete, Jason não gostava de farras e da popularidade. Annabeth reconheceu os familiares: Nico estava jogando tênis com Hazel no Wii, enquanto Bianca, deitada no sofá, mexia na playlist e tomava direto de uma garrafa longneck. Sally Jackson conversava animadamente com a madrasta dos di Ângelo-Levesque, enquanto Paul parecia engajar em um debate com o próprio Hades. Na sacada, como ela havia visto, estavam Rachel e Grover, e um par dos amigos mais próximos de Jason também estavam lá, Gwen e Dakota.

Mas Thalia foi a primeira a vê-los. Ela surgiu da porta que dava acesso à cozinha adjacente e enrolou o pescoço de Percy em um mata leão.

Annabeth quase riu quando Piper deu um passo para trás.

Em seguida, a garota abraçou a prima, e, enfim, Annabeth. Se anos atrás alguém a dissesse que ela se tornaria a melhor amiga da batedora do dos Yankees Annabeth teria rido. O universo tinha uma forma cômica de se intrometer na vida das pessoas.

Reyna fez as honras:

— Essa é a Piper. Faz o favor de não assustar a garota, o Percy arrastou ela pra cá.

Thalia a olhou de cima a baixo com um olhar inquisitivo. Annabeth bem sabia o quão assustador e intimidante ela podia ser a primeira vista. Mesmo ali, na festa, usava um cinto com tachinhas e coturnos. O risco que tinha na sobrancelha direta continuava no cabelo, e ela ainda tinha a cicatriz próxima a orelha onde levara uma garrafada, dois anos atrás. Mas Piper não vacilou.

— JASON! — ela gritou por cima do ombro. — OS JACKSON CHEGARAM.

— Não todos, eu espero? — uma voz masculina veio da cozinha. Jason surgiu, em um moletom azul-claro, jeans, e um avental de cozinha. — Ainda estou tirando a lasanha do fogo. É a favorita da Hylla.

Percy pulou no primo e o pegou nos braços, girando o garoto no ar duas vezes antes de devolvê-lo ao chão. Jason abraçou Reyna e Annabeth mais delicadamente. E então ofereceu uma mão para Piper apertar. Era um garoto bonito, embora nem de longe o tipo de Annabeth. Parecido demais com Luke. Piper apertou sua mão e entregou o presente. Jason agradeceu com um sorriso e abriu-o ali mesmo.

— Sem ofensas, Piper, mas isso aqui foi a Reyna, não foi? — ele riu baixinho.

Quando os dois começaram a conversar sobre o programa de TV, Percy se apressou em puxar as outras duas garotas pelos braços e ir falar com os amigos na sacada. Annabeth direcionou um olhar para Piper, que ainda olhava por cima do ombro para onde Reyna e o garoto conversavam.

Interessante, pensou, distraidamente. Bem interessante.

 

Reyna encontrou-a no sofá, ao lado de uma Bianca meio bêbada e uma Hazel sonolenta. Empurrou a prima mais nova com delicadeza para o lado e sentou-se com Piper.

— Como você está?

— Deslocada — admitiu — mas a sua família é bem legal. O que não deveria ser surpresa — ela riu de repente. — Ainda não acredito que você deu um livro feminista pro Jason.

— Por que não? Garotos não precisam ser babacas.

— Claro que não. Mas com exceção do Leo e do Frank, os garotos que eu conheço não tem essa... perspectiva.

— Então talvez você precise conhecer outras pessoas? — seu tom não era condicente ou provocativo, apenas genuinamente curioso.

— Posso te dizer uma coisa? — os olhos de Piper procuraram os seus.

Reyna sentiu um arrepio na coluna vertebral. Engolindo em seco, disse:

— Claro.

— É sobre algo que a sua mãe me disse.

— Você nunca para de falar da minha mãe — ela riu, deslizando um pouco mais para perto. Seus braços estavam colados agora.

— Shh! A Sra. Jackson está me ensinando sobre narradores e pontos de vista. Eu tive a ideia de tentar escrever a partir da visão de algum amigo meu, mas o Leo contradisse, argumentando que os conheço bem demais. Eu quero tentar escrever algo... do ponto de vista de alguém que eu não conheço.

— Um desafio? — os olhos escuros de Reyna brilharam.

— Como quiser — Piper rolou os olhos. Eles estavam estranhamente lilases naquela noite. — Eu pensei que essa seria a oportunidade perfeita...

— ... Mas?

— Tem muita gente que eu não conheço aqui. Não sei por onde começar. E não tenho coragem de andar pela festa sozinha também — ela despejou tudo de uma vez. — Mal conheço metade dessas pessoas, e a outra metade é muito difícil.

— Muito difícil?

— Percy. Ele conhece todo mundo. Você também.

— Certo. — Reyna murmurou enquanto pensava. Seus olhos varreram o lugar, cada um dos seus conhecidos. Jason e Thalia estavam fora de questão. Piper mal sabia seus nomes. Os adultos também. Mas alguém como Nico seria fácil demais. — Se você quer um desafio, um desafio verdadeiro — seus lábios se alargaram em um sorriso perverso, e ela sentiu Piper tremendo — só tem uma pessoa nesse lugar que estar à par da sua escrita.

Piper ajeitou a coluna.

— Quem?

— Annabeth Chase.

Os olhos de ambas voaram para a garota, do outro lado do salão. Annabeth rapidamente notou a atenção. Mas, sem saber o que fazer, acenou timidamente com o copo de refrigerante.

Annabeth? — Piper sussurrou como se fosse um grande segredo.

— Annabeth. Ela é o maior enigma que eu já conheci. E, além do mais... — ela piscou para a loira. — Sempre está um passo na frente de todo mundo. Se você conseguir adivinhar algumas coisas sobre ela, pode pelo conseguir deixa-la encabulada. É um feito e tanto.

Annabeth Chase, Piper pensou.

Se havia um desafio, era aquele.

— Tudo bem. Suponhamos que eu narre essa festa através dos olhos dela. Como posso escrever algo se eu não tenho coragem nem de levantar desse sofá?

Reyna ergueu-se em um átimo. Quando ela sorriu, parecia ter um milhão de pensamentos refletidos nos seus olhos. O barulho da música foi engolido pelo som do coração de Piper martelando em seus ouvidos, e, antes que soubesse o que estava fazendo, sua mão já estava segurando a que Reyna oferecia.

Quando ficaram ambas de pé, frente a frente, Reyna sussurrou:

— Deixe-me ajudar.

E, honestamente, Piper não estava muito afim de contrariar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O próximo capítulo vai ser um desafio. É a narração da festa, por parte da Piper, e através dos olhos da Annabeth.

Como eu acho que já disse várias vezes, o intuito dessa história é ser tão doce que deixe vocês com cáries... mas, eu tenho umas ideias para drama (envolvendo a família da Piper) minha pergunta é: vocês gostam de drama, tristeza? Muito, pouco? Eu gostaria de saber.

Como sempre, muito obrigada por lerem, comentários são sempre apreciados. E até a próxima!