Entre segredos e cadáveres escrita por Alexis Quagmire


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. Beijos e queijos.



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Fiquei alguns instantes analisando a fachada do prédio à minha frente, respirei fundo, eu sentia um enorme impulso de sair correndo mas sabia que não poderia fugir de Sidhé e de tudo que o engloba para sempre, mas devo admitir que não me incomodaria em ficar mais alguns anos longe de toda aquele mundo de aparências.

Apesar de minha insatisfação, não era mais sobre eu e meus fantasmas, era sobre Arcturus, era sobre meu irmão, eu não poderia simplesmente conviver com a incerteza de seu bem estar. Encarei minha motocicleta por longos minutos, alisei seu tanque e disse:

—Adeus, velha amiga, Evanescet—e em instantes ela desapareceu.

Suspirei.

Durante esses dois anos que estive neste mundo, minha motocicleta foi a única coisa realmente fixa em minha vida e agora tive que a desintegrar, de todo modo ela faz parte agora da minha extensa lista de despedidas. Caminhei em direção à entrada, passei meu olhar sobre todo o local e notei o quão vazio se encontrava o shopping, e não era pra menos afinal com o crescente número de desaparecimentos as pessoas tentavam ficar o máximo possível em suas casas e se prender ao falso sentimento de segurança que lhes era proporcionado com tal atitude.

—Tsc tsc, como se isso fosse adiantar-pensei.

Meu irmão foi um dos maiores bruxos de sua geração, e nem mesmo isso impediu que ele fosse capturado, os humanos não tem a menor chance, senti com pesar essa constatação, estes anos fizeram com que eu me afeiçoasse aos normies, apesar de sua ganância havia um lado bom neles.

Entrei no elevador, e a memória de quando cheguei aqui tomou conta de minha mente.

Flashback

 Eu estava caindo neste buraco cheio de cores contrastantes entre si, não havia nenhum sequência ou formas exatas, era apenas algo caótico e colorido demais pro meu gosto. Nem parecia que haviam se passado segundos ao invés de horas. De repente tudo ficou negro.

PAFFF

Lentamente abri meus olhos, apesar da luz estar os incomodando, enfim me acostumei com a claridade e me vi em um local minúsculo com um enorme espelho em minha frente e uma portinha atrás de mim.

Ao me encarar notei que meu cabelo estava desgrenhado, meu rosto mais pálido que o de costume e antes que eu pudesse analisar-me de forma mais minuciosa, ouço batidas fortes e impacientes do outro lado da porta:

—Abra- ordena uma voz fina e estranhamente familiar do outro lado da porta.

Obedeço e lentamente destranco a maçaneta, quando a porta é completamente aberta deparo-me com uma figura familiar, mas não podia ser...

A mulher a minha frente tinha uma altura mediana, pele pálida e com diversas sardas que pintavam toda a extensão de seu rosto, este por sua vez era fino e delicado, possuía grandes orbes verdes e estas por sua vez estavam sendo reviradas para minha pessoa. Porém, sem dúvida o mais marcante da figura à minha frente era seu cabelo ruivo de um tom tão vivo que parecia estar em chamas, esta última característica era marca registrada de nossa família.

—Madeline? Oque está fazendo aqui?-questionei.

—Falaremos sobre isto depois, agora temos que resolver assuntos burocráticos, me siga- disse.

Ela caminhava rapidamente em direção ao final da fila de minúsculos cômodos com porta e espelho.

—Para onde estamos indo? Pra onde vamos terá comida? Qual o nome da estrutura em que estamos?- perguntei.

—Iremos para minha sala, vou arranjar algo para você comer, estamos no Shopping Center, e antes que você me pergunte o que é um shopping é um edifício com vários estabelecimentos-disse áspera.

Nossa como ela estava parecida com sua mãe, que assustador.

Madeline parou defronte à uma porta de madeira escura que possuía desenhos circulares e tinha uma placa de vidro com “Administração” escrito com letras douradas. Ao adentrar pude observar o local, notei que a sala era enorme, grande demais para não ter magia envolvida em sua criação.

Suas paredes eram tingidas de um amarelo pálido, eram lotadas de estantes com os mais diversos livros, desde livros populares no mundo mágico como “Mil e uma poções letais” de Alastor Wright à livros que eu deduzi terem sido escritos por humanos como “O hobbit” de um tal R. R. Tolkien. O piso era de uma madeira clara, havia um sofá vermelho e estranho no centro, havia algumas poltronas, sendo estas também vermelhas.

Encarei a mesa de madeira escura onde havia uma espécie de tecnologia humana sob ela, havia duas cadeiras na mesa, uma de frente pra outra.

A princípio pensei que sentaríamos naquelas cadeiras e resolveríamos a burocrática e aprenderia mais sobre aquele mudo.

Mas isso não aconteceu.

Ao invés disso, minha prima seguiu na direção contrária, rumo a uma porta que descobri depois levar a um jardim.

Seguimos mais adiante e sentamos ao redor de uma delicada mesa redonda de metal. Madeline estalou os dedos e fez surgir um bolo de chocolate e uma garrafa de vinho de fary, havia duas coisas herdadas em nossa família: o cabelo ruivo e o apreço pela bebida.

Ri mentalmente, e como gostávamos de beber.

Não demorou para que eu começasse a comer. Enquanto eu saboreava o vinho pude notar que estava sendo encarada por um olhar nada gentil.

Lá vem coisa.

Terminei minha refeição, ela fez tudo desaparecer e disse:

—Assine isto e terá uma permissão de permanecer neste mundo por um século-disse seriamente enquanto me entregava o papel e uma pena.

E quando terminei de ler e posteriormente assinar, o documento desapareceu. Segundos depois minha prima pronuncia-se em tom seco:

—Agora que acaba de cometer o maior erro de sua vida, pode me dizer o por quê de tudo isso? Por que ao nosso ver, você está completamente fora de si, ouso dizer insana. Deixar nosso lar, manchar o nome da nossa família e tudo isso em prol de uma misera rebeldia adolescente!-diz.

—A claro, até por que vivemos em um mundo perfeito com uma família perfeita-digo sarcasticamente.

—Criança insolente, você e seu irmão são uma vergonha para o clã-diz enquanto aponta o dedo pra mim.

—Não meta Arc nisso! Não finja que aquele lugar não é completamente tóxico, pois sabemos que é, sinceramente, meu único arrependimento foi não ter ido embora antes-falei. 

Ela me lança um olhar incrédulo e balança a cabeça.

—Insana e insolente, sua expulsão da família foi mais do que correta-fala a maldosa a minha frente.

—Não vou me sujeitar a isso. Me entregue meu dinheiro para que eu possa ir embora de uma vez-falei de nariz empinado.

Cretina.

Minha prima me lançou um olhar que possuía um misto de incredulidade e desprezo. Deixar Sidhé foi algo que ninguém nunca ousou fazer e por conta disso sou vista como insana além de uma vergonha para a nação.

Sempre quis ser lembrada, só nunca pensei que seria assim, o destino é realmente algo engraçado.

Não foi uma decisão fácil de se tomar mas é o que meu coração deseja, durante minha vida inteira tive curiosidade em saber o que tinha além do portal mágico, de como seria viver uma vida simples e não ter sobre minhas costas o fardo que meu sobrenome carrega.

Mais principalmente, não ser mais um fantoche do meu pai.

Madeline entregou-me uma maleta cheia de dólares, daria para eu me manter confortável até minha volta a capital. Arc estava certo quando 'adiantou' nossa herança antes de sermos deserdados.

Quando atravessei a saída senti-me esperançosa em relação ao meu futuro, pela primeira vez na vida me permiti ter perspectivas.

Flashback OFF

 Quando a lembrança dissipou-se notei que há dois anos eu havia pensado corretamente, eu fui muito feliz no tempo em que estive aqui. Conheci lugares incríveis, apesar do Ninho do Tigre ser meu favorito, aquele lugar me fez ter uma nova visão sobre a vida, e mais precisamente sobre a minha.

Encarei o letreiro néon com 'Snow' escrito nele.

Fui recebida por uma ruiva com um sorriso presunçoso estampado no rosto e ela não tarda a dizer:

—O bom filho a casa torna, não é mesmo?-fala sarcasticamente.

Naja.

—Sentiu saudades, priminha?-digo com cinismo.

—Você nem imagina o quanto-diz falsamente.

Minha prima que antes encontrava-se encostada no balcão começa a andar rumo à um corredor cheio de provadores e para defronte ao de número seis. Ela tira uma chave prateada com pequenas flores desenhadas nela. Madeline encara a porta agora encontrava-se destrancada e disse:

—Assim que atravessar a porta estará do outro lado do portal de Sidhé-falou formalmente.

Respirei fundo.

É chegada a hora de encarar meu passado e principalmente encontrar meu irmão, vou resgatar Arcturus nem que seja a última coisa que eu faça, atravesso o portal.


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