Parada, posando dor enquanto assistia me pintarem, achei estranha a forma como usavam cores. Eu era preto e branco, um quadro puído, abrigando no peito um autêntico O Grito. Fiquei em silêncio, um bom artista veria a angústia, e talvez fosse capaz de retratá-la em colorido.

Então me vi no primeiro quadro e soube que não era eu. A Lagoa de Lírios D'água, de Monet, era viva, colorida e alegre demais, como uma fachada cuidadosamente forrada a porta, que eu já não sustentava. Eu sorri, tentando entender aonde ele me via naquilo.

E lá estava o segundo, Noite Estrelada. Era lindo de uma forma que me fazia desejar sinceramente ser aquele quadro, mas embora seu artista me visse ali, eu não o era. Aquela profundidade, aquele brilho e aquela beleza não existiam, não aqui.

E o último não poderia me deixar nada menos que chocada, O Nascimento de Vênus, Botticelli xingaria quem quer que me visse ali. Era agradável, embora irreal, a forma poética como alguém me pintava. A deusa do amor, dona de toda a graça, jamais seria eu.

Sorri para eles e fui embora assustada, como todos poderiam me pintar perfeita, fazer de mim Monalisa, quando eu era, em todas as profundezas de meu ser, A Noiva do Vento?