Falo com você em pensamento 

Conto as coisas do meu dia 

Da minha vida 

Conheci Naruto quando eu deveria ter por volta de sete anos e ele chegou com a sua família extrovertida para morar na mesma rua que eu. Meu primo e minha irmã se enturmaram fácil com ele, porque ele é a leveza em pessoa, porém eu demorei para conseguir chegar até ele quando o loiro sempre parecia está a minha frente.  

Nós fomos para a mesma escola e sempre estudamos na mesma sala, foi assim que eventualmente acabamos parando no mesmo círculo de amigos onde aparentemente todos sabiam da minha admiração pelo Naruto, menos o próprio.  

Atualmente, com vinte e um anos chegando perto de completar a faculdade de pedagogia enquanto o loiro estava também para acabar a faculdade de publicidade eu me encontro na biblioteca onde a única coisa que eu posso fazer é observá-lo em silêncio enquanto ele dorme a algumas mesas de distância de mim. Nós não nos falamos como antes, na verdade, creio que eu tenha ficado ultrapassada para o seu grupo de amigos descolados que integravam o mesmo curso que ele.  

Olho a hora no meu relógio de pulso e sei que Naruto tem uma apresentação importante daqui a cinco minutos e sei disso porque durante quase um mês eu o vi agitado pela faculdade, até mesmo chegando em casa tarde reclamando para o tempo sobre como não daria tempo para fazer tudo. Aparentemente deu, porque agora o vejo dormindo como se finalmente tivesse completado sua tarefa árdua que será jogada no lixo se ele continuar dormindo.  

Me levanto e caminho até onde ele está me sentindo mais nervosa a cada passo que dou, torcendo mentalmente para que o loiro acorde antes que eu consiga chegar até ele.  

No meu coração 

Eu canto as horas e as melodias 

À espera do momento 

De ir além da ilusão 

Apoio meu material na mesa e sinto que minhas mãos estão tremendo apenas pelo fato de eu estar tão próxima a ele. Me sento na cadeira ao seu lado e estico a mão para poder sacudi-lo pelo ombro, porém minha trajetória muda e acabo com a mão nos seus cabelos rebeldes, dourados e surpreendentemente macios.  

Me surpreendo quando os acaricio e quando estou preste a chamá-lo sua mão segura a minha, porém ele não levanta a cabeça. Aquele toque inesperado me choca e tenho o reflexo de puxar a mão, entretanto ele mantém minha mão presa a dele. Meu coração está batendo forte e tenho medo que ele possa ouvi-lo, mas este feito não parece acontecer quando o vejo levantando a cabeça e cravando seus olhos azuis nos meus.  

“Ah, Hinata, é você!”, ele não parece decepcionado ao descobrir que sou eu e aquilo me acalma. “Senti alguém mexendo no meu cabelo e acordei de repente, não esperava que fosse você.”  

Ele me presenteia com um sorriso animado que parece que ele está abraçando o meu coração e o enchendo de conforto. Me apresso a montar uma resposta, apesar de começar a ficar nervosa de novo quando olho minha mão pequena sendo segurada pela mão grande dele criando um contraste.  

Na minha vida, não me encaixo sem você 

O vazio da tua falta transbordou 

Vem calar meu grito mudo 

Meu grito mudo de amor 

“Na-Naru-Naruto!”, gaguejo ficando vermelha conforme o nome dele parece ter dificuldade de ser pronunciado por mim. “Você vai se atrasar.”  

“Me atrasar?”, Naruto me encara como se não soubesse sobre o que eu estava me referindo e de repente seus olhos se arregalam se dando conta do que precisava ser feito. “Ah, Kami-sama, realmente.”  

O loiro solta a minha mão imediatamente e começa a arrumar as suas coisas antes de se levantar. Ele joga a mochila no ombro, ajeita o casaco e se levanta, saindo correndo me dizendo um até logo.  

Fico observando minha mão que até uns instantes antes estava quente com o contato da pele de Naruto e quando estou me preparando para recolher meus pertences sinto lábios beijando minha bochecha antes de se retirarem de novo. 

“Obrigado Hinata!”, fico estática. Meu coração está batendo acelerado enquanto meu corpo parece estar arrepiado até o último fio de cabelo. Naruto mexia com o meu coração e não fazia ideia sobre isso.  

A verdade óbvia da tua falta 

É difícil de se revelar 

Mas dói sentir 

Já em casa à noite escuto quando um carro estaciona e ouço Naruto falando animado com alguém que está no mesmo carro, por algum motivo sei que é meu primo. Estou no meu quarto observando a entrada da casa dele pela fresta entre as cortinas, com medo que alguém me note.  

Sei que não devia estar bisbilhotando e quando ouço meu nome no meio da conversa e travo esperando saber o porquê.  

“Hinata me ajudou hoje.”, ouço a voz de Naruto e uma porta batendo.  

“É mesmo? Achei que vocês não se falavam mais.”, mais uma porta batendo e a voz calma de Neji chegando até mim.  

“Não é que a gente não se fale, é só que...Creio que não tenhamos mais coisas para conversar.”, mordo o lábio inferior com aquelas palavras e sei que realmente possui um fundo de verdade e aquilo me dá uma fisgada no coração.  

“Não é como se vocês alguma vez tivessem realmente conversado.”, Neji como sempre está sendo sincero e vejo pela janela Naruto dando de ombros como se não se importasse. Outra fisgada.  

Naruto faz questão de olhar pra cima, na direção do meu quarto e eu me afasto correndo da janela com medo que ele perceba que eu estava observando esse tempo todo.  

“É, acho que você tem razão. Até amanhã.”, ouço Naruto se despedindo.  

Fico olhando para a parede do meu quarto me recordando sobre como era antes quando Naruto e eu estávamos mais próximos, quando o fato de nós nos cumprimentarmos não era algo que seria estranhado pelas pessoas próximas a nós. Olho para a mão que ele segurou mais cedo e sinto a terceira fisgada. Meu coração dói com a distância.  

Se eu me calar 

Eu ando em círculos, eu cedo aos vícios 

À espera do momento 

Desse nó desamarrar 

No dia seguinte decido que eu poderia mudar a minha relação com Naruto, torcendo em silêncio para que possa me mostrar pra ele. Ideia que no decorrer da semana não foi posta em prática por simplesmente eu ser covarde demais para poder lidar com isso de forma apropriada.  

Naruto está sempre cercado pelo seu grupo ou quando sai da faculdade está sempre com Neji, assim todas as vezes eu não consigo chegar até ele. Frustrada sobre como a semana seguiu, sem perceber eu estou num café apenas sentada tomando um cappuccino enquanto como um muffin.  

Escuto um grupo animado entrando na cafeteria e levanto os olhos apenas para notar que Naruto está lá acompanhado, como sempre. Volto para a minha xícara e dou uma mordida no muffin antes de notar que a cadeira na minha frente foi ocupada.  

“Perdão, mas está ocup-”, minha frase fica suspensa no ar quando reparo que é o loiro quem está sentado.  

“É difícil encontrar você.”, ele inicia a conversa sorrindo com facilidade para mim.  

“Estava me procurando?”, pergunto envolvendo a xícara com as duas mãos esperando que ele não notasse o quão nervosa eu estava na sua presença.  

“Sim, eu queria conversar com você.”, reparando que eu o encarava, Naruto completou: “Apenas conversar.” 

O observo com cautela antes de lhe dá um sorriso tímido e concordar. Eu não sabia que horas eram exatamente na hora que ele se sentou na minha frente, mas passou a ser minha hora favorita.  

Na minha vida, não me encaixo sem você 

O vazio da tua falta transbordou 

Vem calar meu grito mudo 

Meu grito mudo de amor 

Conversar com Naruto fazia meu dia. Conforme as semanas foram se passando, nós sempre arranjávamos um tempo para trocar alguma ideia ou até mesmo para ficar em silêncio. Um silêncio que era bom, aconchegante.  

Nós nos sentávamos na varanda da sua casa para fazer os trabalhos da faculdade, falando eventualmente. Quando nos cansávamos, resolvíamos que era hora de conversar e assim fazíamos.  

 Quando cada um ia para sua casa ou quando estávamos na faculdade e apenas acenávamos de longe um para o outro, eu notava o quanto a sua presença fazia falta no meu dia. Está com Naruto era como aproveitar o sol da tarde, e quando ele ia embora o sol era tampado pelo tempo nublado.  

“Hinata, está me ouvindo?”, Naruto acenava a mão em frente ao meu rosto me pegando desprevenida. Reparo que estava o encarando esse tempo todo. 

“Perdão, pode repetir?”, indago tentando esconder meu embaraço de ter sido pega o admirando bem na sua frente.  

“Por que nós paramos de nos falar?”, o loiro me observa com cautela e expectativa, esperando saber o que irei lhe dizer.  

“Creio que não tenhamos mais coisas incomum, Naruto-kun.”, o respondo da forma mais leve que consigo sem tentar lhe dizer que na verdade nós nos afastamos porque estamos mais distante do que ele pode perceber.  

“Senti sua falta.” 

Vem errar comigo 

Diz que esse grito também é seu 

Faz do erro o nosso antídoto 

Para tudo pra ser meu 

O observo boquiaberta. As palavras de Naruto ficam retornando o tempo inteiro para a minha cabeça, verificando se não ouvi errado, tentando não buscar significados que não estão lá.  

“Eu também senti.”, o respondo quando noto que sua expressão foi perdendo a suavidade.  

“Estou falando sério, Hinata. Creio que eu nunca tenha notado, mas depois que você me acordou naquele dia na biblioteca eu notei que havia sim um espaço que estava vazio.”, prendo a respiração sem perceber e fecho o livro que estava aberto na mesa, tentando conter um nervosismo que passou a me dominar. “Eu menti quando disse que não sabia que era você que mexeu no meu cabelo. Eu sabia pelo toque. Seu toque é gentil.”  

Naruto segura a minha mão que está sobre o livro e eu não tenho mais reação além disso, fico apenas encarando nossas mãos. A dele bronzeada e quente, a minha fria e pálida.  

“Naruto, eu-” 

“É ótimo tê-la como amiga novamente, Hinata.”, minha frase fica suspensa pelo ar, sendo abafada pela dele. O loiro sorri para mim e eu tento sorrir de volta. Mesmo sabendo que não deveria ter deixado a expectativa me dominar, sinto que estou decepcionada e tento me controlar para não deixar transparecer.  

“Neji tinha me dito que nós nunca conversamos direito antes, mas é mentira. Eu lembro quando não tinha ninguém por perto você sempre estava lá para me ajudar. Me confortar de alguma forma.”, Naruto afasta sua mão da minha e continua seu monólogo. “Quando a Sakura terminou comigo, você ficou sentada comigo aqui mesmo na varanda de casa enquanto eu fingia que não estava chorando.” 

O observo com cautela e finalmente me recordo desses momentos que Naruto está citando. Realmente, eles aconteceram e eu estava lá, por ele. Podíamos ter um grupo de amigos que quase não nos deixávamos a sós, mas eu consegui esses momentos roubados e creio que foram eles que me fizeram ser apaixonada até hoje por ele. No dia em que ele estava chorando pela Sakura eu senti inveja dela, inveja por ter alguém tão incrível chorando por tê-la perdido.  

“Eu te amo.”, sei que Naruto ainda está citando nossos momentos quando eu o interrompo. O loiro fica me encarando sem reação enquanto eu me levanto e pego meu material. Naruto fica lá, estático e sem dizer uma palavra durante todo o tempo em que eu levo para chegar até a porta de casa e entrar. Somente quando estou fechando a porta o escuto chamando meu nome, porém não verifico.  

Na minha vida, não me encaixo sem você 

O vazio da tua falta transbordou 

Vem calar meu grito mudo 

Meu grito mudo de amor 

Passo o final de semana me recusando a sair de casa, fingindo que não estou em casa para não encarar Naruto. Estou chocada comigo mesmo por ter me declarado daquela forma, porém as palavras tinham apenas fluído de mim como se devessem ser faladas, como se fosse o certo a ser dito.  

Saio do banheiro domingo à noite pensando em qual seria a melhor forma de evitá-lo, porém quando chego no meu quarto eu o vejo lá. Arregalo os olhos imediatamente e então percebo que a janela está aberta.  

“O que está fazendo aqui?”, pergunto assustada fechando a porta para que nem meu pai, minha irmã ou meu primo saibam que ele está aqui.  

“Eu queria falar com você.”, noto que Naruto está embaraçado com a sua atitude e tento com toda a minha força não o achar adorável. 

“E você resolve que entrar pela janela é a melhor opção?”, sussurro de volta e percebo que ele não havia refletido direito sobre sua ação.  

“Eu sinto o mesmo por você! Eu não consegui te dizer isso na sexta, mas eu sinto o mesmo.”, a toalha que eu estava usando para secar o cabelo cai da minha mão e Naruto se aproxima aos poucos de mim. “Eu estava tentando te dizer isso, mas creio que eu não me expressei da melhor forma.”  

O loiro segura uma mexa do meu cabelo molhado entre as mãos antes de encostar sua testa na minha, olhando no fundo dos meus olhos. 

“Eu te amo”, ele sussurra para mim.  

Meu grito mudo de amor