Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 46
Culpa


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Mais um cap. Beijos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767717/chapter/46

 

Eu já estava pronta para dormir quando alguém bateu na minha porta.

—Estou indo!

Avisei tirando a toalha dos cabelos molhados.

—Desculpa interrompê-la.

—Só estou secando os cabelos. Entra.

Convidei Eva para entrar. Aquela mulher um tanto tímida e, levemente estranha, tinha se tornando minha melhor amiga dentro daquela casa.

—O senhor Griffin pediu para você se aprontar para o jantar.

—Não estou com fome. Diga a ele que irei para a cama.

—Ele já lhe espera na sala de jantar.

—Uh. – Revirei os olhos. –Acho que não tem problema descer de roupão, não é? Será apenas meu pai e eu naquela mesa enorme!

—Mas, e se vier alguém? De fato, pessoas ricas não gostam de chegar de supetão na casa dos outros, no entanto, isso pode acontecer.

Suspirei alto. –Ok! Desço em cinco minutos.

Apesar de todas as aulas sobre postura e elegância, Eu, Stella, ainda tinha preguiça de me arrumar como uma lady. Aparentemente, era uma tarefa fácil, entretanto, era algo demorado e muito trabalhoso ao pensar o que seria ou não apropriado para a ocasião.
Desviando de tantas regras complicadas, acabei vestindo uma saia jeans e uma regata branca. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo alto e calcei as pantufas.

—Perfeito!

A casa estava, definitivamente, assombrada pelo silêncio. Eu estava adorando não ter que cruzar com Kristen ou Stephany, mas a falta de gente naquele lugar gigantesco era meio assustador.

—Oi.

Cumprimentei William, aparentemente à minha espera.

—Oi. – Ele sorriu, achando engraçado minha comunicação vaga.

—Você parece bem vestido, Eu, no entanto, estou muito simples.

William não usava paletó, mas o traje social estava presente na figurada bem arrumada.

—É força do hábito. – Ele me deu o braço para acompanha-lo. –Se você gosta de se vestir assim, deveria comprar mais roupas iguais a essa.

—Você está me dando um péssimo conselho.

—Por que seria?

—Por que estou tentando ser como as mulheres do seu meio social.

—Você não precisa ser como elas. – Disse me observando de esguelha. –As pessoas falam o tempo todo sobre moda e roupas de marcas, mas isso não define ninguém.

—Você está certo! – Aquilo era maravilhoso de se ouvir! –Esse tempo todo achei que você não se importava com minha aparência moleca.

—E não me importo, desde que você saiba o que está fazendo com sua imagem.

—Como assim? Isso me pareceu um pouco suspeito.

Ele achou graça.

—Só quero que você seja você mesma.

E foi assim que seguimos para a sala de jantar, esbanjando bom humor e alegria.

Algum tempo depois William olhou as horas. Devo dizer que ele estava muito preocupado com o horário.

—O que há de errado?

—Não é nada. – Ele estava inquieto.

—Está esperando alguém? – Perguntei espreitando sua inquietude.

—Desculpem a demora.

Foi um choque tremendo ver Bryan cruzar a porta. Minha reação foi observá-lo se aproximar da mesa, sério e distante.

—Chegou na hora certa. – William o cumprimentou. –Fico feliz que tenha vindo.

—Eu não recusaria um convite seu. – Olhei-o desajeitada. –Stella.

Engoli a seco. –E aí?

Eu estava completamente nervosa. Por mais que eu me esforçasse, não conseguiria bancar a garota granfina. Para o meu completo desconforto, Bryan se sentou na minha frente, tendo apenas William entre nós. Daquele ângulo seria impossível não vê-lo. Maldição!

—Ainda não tivemos a oportunidade de falarmos sobre meu divórcio com sua mãe.

Bryan não estava disposto a falar sobre aquele assunto, era perceptível sua tentativa de desvio.

—Com todo respeito William, isso não me diz respeito. – Ele parecia franco. –Minha mãe ficará bem.

Senti o ar definhar entre nós. O que deu em William para atrair Bryan para lá? Já não estava sendo difícil dizer Adeus a ele?

—Claro. – William bebeu do vinho branco. –Mas, Bryan... vou deixar claro de que sua mãe sabia sobre o contrato pré-nupcial. Ela assinou nosso acordo de livre e espontânea vontade.

—Sei disso. – Respondeu observando meu pai, seriamente. –Mas... você poderia ter esperado que ela e Stephany se acomodasse em outro lugar. Não estou dizendo que você as expulsou, mas não deu a elas suporte algum.

—O que você queria que eu fizesse? – A pergunta de William deixou tudo ainda mais estranho. –Você me conhece muito bem. Jogo limpo com as pessoas, mesmo que elas não gostem da minha franqueza.

Então, mais uma vez, enxerguei a escravidão nos olhos de Bryan. Ele era o único relutante a enxergar a verdadeira face de Kristen.

—Você veio até aqui defender a sua mãe? – Questionei despertando a atenção dele. –Quem você acha que me difamou na mídia?

Bryan suspirou alto. Ele não tinha como escapar daquela verdade.

—E o que você fez a respeito disso? – Perguntei me inclinando na cadeira. –Você acha certo que pessoas que não sabem nada sobre nós especulem coisas nojentas ao nosso respeito? – Perguntei chateada. –O que vai fazer sobre isso, Bryan?

—Não se preocupe com sua imagem. Há pessoas trabalhando na reversão desses boatos.

—Não se trata disso! E a sua mãe? Ela vai sair em pune de tudo isso?

—Não posso colocar minha mãe na cadeia por causa de algo assim! Ela errou! Agiu em um momento de fraqueza!

—Argh! – Resmunguei alto, batendo as mãos na mesa. –Você é tão ridículo! Nunca vai deixar de ser um cara manipulado pela mãe! – Levantei da mesa. Encare-o desafiadoramente. –Sua mãe é uma vadia cretina sim!

—Stella...

—Ele vai me ouvir sim, pai! – Afastei William. –No fundo, você sabe quem é Kristen realmente! – Bryan somente me olhava. Seu olhar era distante. –Ela não se importa com ninguém, nem mesmo com você! – Nervosa, virei de costas, para não mais presenciar aquele olhar vago. O que estava acontecendo com Bryan?

—Stella está dizendo a verdade. – William comentou, calmamente. –Há algum tempo eu havia perguntado a você o que realmente tinha acontecido com o seu pai. – William silenciou sua intenção por alguns segundos. –Como o seu pai morreu, Bryan?

—Por que está me perguntando isso? Já lhe contei toda a verdade!

De costas, meu coração disparou e meus olhos arregalaram. Onde William queria chegar.

—A verdade... – William se envolveu em mistério. –Uma briga familiar, que resultou na morte do seu pai, quando você o empurrou escada abaixo. – William fez outra pausa. –Por que você mentiria para a polícia?

—Do que você está falando? – Bryan parecia surpreso.

—Ninguém mais vai acreditar nessa mentira, mano.

De repente, a voz de Stephany encheu a sala. Aquela loira fingida estava lá, do lado oposto do irmão.

—O que faz aqui, Stephany?

—Vim para o jantar. – Debochou. –Stella, você deve está adorando todo esse circo.

Ela parecia mais irritante que nunca, mas havia algo nela que soava diferente.

—O que está acontecendo? – Perguntei sem nada entender.

—Nosso querido pai me chamou aqui. – Ela sorriu. –Na verdade, eu vim contar uma coisa.

—Stephany! – Bryan levantou seriamente. –Não se atreva!

—Já chega, Bryan! – Ela praticamente gritou com o irmão. –Não sou um poço de inocência e tão pouco sou bondosa, mas... – Ela respirou fundo. –Cara, acho que isso não está certo! Não posso passar o resto da vida escondendo a verdade de você.

—Que verdade? – Bryan espreitou a irmã. Era nítida a confusão no rosto dele.

—Nossa mãe não foi agredida naquele dia! Ela nunca sofreu violência alguma! Foi tudo uma mentira!

Bryan engoliu a seco. Ele estava claramente transtornado. –Continue! – Fora a única coisa que ele conseguiu expelir do nó na garganta.

—Eu presenciei muitas coisas. – Ela ficou pensativa. –Nossos pais brigavam o tempo todo por causa de dinheiro. Nosso pai estava falido, graças a esperteza da nossa mãe. – Ela observou o chão. –Eu a vi se mutilando no quarto. Ela socava a própria cara, arranhava os braços e causava hematomas por todo o corpo. Ela já sabia o que fazer quando você chegasse. – Levantou o rosto, petrificado, sem um pingo de emoção. –Bryan não empurrou meu pai escada abaixo. Foi a minha mãe. – A confissão me deixou boquiaberta. –Antes de causar o acidente, ela pôs algo na bebida dele, que o deixou sem forças. A queda foi fatal. Ela implorou para Bryan assumir a culpa e assim ele fez, acreditando que ela era uma vítima.

Engasgada naquela confissão macabra, encontrei os olhos perdidos de Bryan e vi ódio. Sua respiração era pesada, sua mandíbula se contraía.

—Nosso pai era um homem ausente, mas ele não era um monstro. – Disse Stephany, encontrando as palavras certas. –Para dizer a verdade, eu queria te contar isso há muito tempo, mas... tive medo.

Bryan, silenciosamente, caiu sentado na cadeira. Ele estava petrificado, como uma parede imóvel. Não sei o que se passava por sua cabeça, mas certeza era que ele estava retornando ao sacrifício que carregara por tanto tempo.

—Bryan... – William tocou seu ombro, lhe dando apoio. –Você tem que contar a verdade a polícia.

Bryan estava absorto em pensamentos.
Naquele momento entendi muitas coisas. O garoto de aparência forte e determinada estava afogado em um pesadelo que não era seu. Ele não podia dividir aquilo com ninguém, mesmo depois de toda a verdade vi à tona.

—Bryan... – O chamei sem jeito. Gentilmente toquei seu ombro, tentando roubar sua atenção. –Você não está sozinho.

E, naquele momento infortúnio, seus olhos se voltaram para mim, pesados de carência. Contive-me para não abraçá-lo. Eu não poderia expor meus sentimentos de mulher, nunca mais.

—Sinto muito por isso, Bryan, mas já está na hora de nos libertarmos disso. – Ao terminar de dizer algo sensato, ela estendeu a mão para William. –Fiz o que prometi a você, William, quero a minha grana.

Por algum tempo Stephany me enganou. Ela só estava dizendo a verdade por dinheiro!

—É o suficiente para você viver bem por algum tempo. – William deu o cheque a ela. Os olhos de Stephany se arregalaram, surpresos.

—Está faltando!

—A outra parte você terá quando formos à polícia. – William esclareceu.

—Ficou louco? Minha mãe vai me matar se ela descobrir! – Resmungou, desesperada.

—Não se preocupe. Você ficará bem escondida. Ninguém vai saber onde você está. – Garantiu William, acenando para dois homens entrarem. –Esses homens irão protege-la.

—Uh. – Ela abriu um sorriso desdenhoso. –Assim espero! – Antes de sair, ela me encarou atentamente. –Minha mãe nunca odiou alguém como odeia você. – Sua seriedade me incomodou. –É melhor você tomar cuidado. Ela não está para brincadeira!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stella" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.