Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 22
Um dia de lazer


Notas iniciais do capítulo

Cap. pequeno, mas o próximo será grandinho!
Beijos!



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Das poucas vezes que estive no carro de Bryan, nunca o vi escutar música, e, pensando bem, nem mesmo CDs ele possuía no carro.

—Você não é fã de música, certo? – Indaguei bisbilhotando a área em foco; o lugar que, geralmente, é destinado a CDs.

—Pode não parecer, mas adoro música.

—Sério? – Olhei-o duvidosa. –Não têm CDs aqui.

—Não costumo escutar música no carro.

—Fala sério! É o melhor lugar para aumentar o som! E com esse carro...! – Bryan me observou, ligeiramente. –Você tem tudo para ser feliz nessa vida, mas... não vejo um terço de felicidade em você.

—Vai reprimir novamente a maneira que governo meu dia a dia?

—Desculpe, só estou sendo sincera!

—Você precisa guardar um pouco dessa sinceridade às vezes. Já pensou nessa possibilidade? – Perguntou com ira e sarcasmo. –E precisa parar de julgar o comportamento dos outros. É irritante!

—Tem mais coisas para despejar em mim?

—Ah! Não tenha dúvidas! Eu poderia apontar seus defeitos o dia inteiro!

—Não são tantos assim! Você só se sente conflituoso quando estou por perto!

—Conflituoso?

—É isso mesmo! Eu devo ser a única pessoa na face da terra que tira você desse seu mundinho vegetativo!

—Ah! Você está absolutamente enganada!

—Não tô nada!

—Você acha que sabe muito sobre mim, mas não sabe de nada! Dedica-se a me julgar o tempo inteiro, mas não age como se quisesse me conhecer!

—Como pode dizer isso? É você que me espanta quando me aproximo! – Ele tinha me deixado verdadeiramente zangada. –O motivo de Eu ter aceitado a sua proposta foi para arrastá-lo para um dia fora do seu cotidiano escravo! Eu não faria isso se não estivesse atenta a você!

A discussão havia chegado ao fim. Não sei bem que efeito meu desabafo causou em Bryan, só tive certeza de que o silêncio que pairou sobre nós tinha deixado nossa atmosfera tão densa a ponto de sentirmos o peso.
Não vi o momento que chegamos à praia. O carro estacionou, de frente para o oceano, e Bryan saiu dele. Calado, ele andou até o parapeito do muro que nos separava da areia, e observou o vai e vem das ondas em total silêncio.
Fiquei realmente confusa com o que Eu deveria fazer naquele momento. Tempos atrás, quando Eu era simplesmente uma garota meio rebelde, meio insensível, não saberia como agir, mas, inacreditavelmente, isso estava mudando.
Em um impulso só de coragem, saí do carro, fechando a porta deste devagar, duvidosa se era certo Eu interromper o momento de reflexão que Bryan se permitia ter. Andei devagar, contando cada passo curto, quando cheguei ao lado dele, e nada disse. O mar era o meu foco, mas a falta de iniciativa era minha maior urgência.

—Bryan... – Falei seu nome, quase em um sopro falho. –Eu...

—Você não deveria ter desperdiçado uma proposta interessante só para me arrastar para cá. – Disse ele, virando-se para mim. –Uma garota da sua idade não perderia a chance de está em um shopping agora, comprando roupas de grifes com cartões ilimitados.

—Já deu para perceber que não sou uma garota comum.

—Eu diria nada comum.

—Talvez. – Sorri para ele, e, meio desajeitado, Bryan também sorriu, me deixando inexplicavelmente maravilhada. –Você não sorri muito. Deveria sorrir mais, tem um sorriso impecável!

—Obrigado.

—É a primeira vez que você me agradece. – Fingi perplexidade. –Vale à pena está aqui, não é?

Ele voltou a focar o mar azul. –Muito. Eu nem me lembrava mais que era possível tirar um dia de lazer na semana. – Seus olhos observavam as pessoas ao nosso redor. –Essas pessoas parecem tão despreocupadas. É como se as obrigações rotineiras não existissem para elas.

—Você falou obrigações... E é dessa forma que as pessoas encaram seus dias pesados: como uma obrigação. Sendo assim, podemos dizer que também temos a obrigação de nos divertir! Vamos procurar roupas mais leves.

—Você já está querendo demais!

—Você está de terno e gravata! – Apontei para o seu corpo, muito bem coberto. –Vai parecer um sem noção na praia, vestido como um papa-defunto!

Ele não tinha escolha, por isso me seguiu até a loja mais próxima.

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Fingindo está completamente focada nos belos vestidos pendurados nos cabides, espiei sem relutância todas as vendedoras em cima de Bryan, bajulando-o descaradamente. Em um instante, uma pilha de roupa se formou ao redor dele, e nada parecia agradá-lo.

—Que tal isso? – Apareci de surpresa, lançando nos braços dele uma bermuda surfista e uma regata cavada. –Esses chinelos ficarão ótimos. – Entreguei o par de chinelos decorados a ele. –E óculos de sol sempre caem bem. – Confusão determinada. –Obrigada pela atenção, meninas.

Elas suspiraram decepcionadas e uma a uma foi voltando aos seus postos.

—Isso não combina comigo.

—Jura? Quer que àquelas loucas venham decidir por você?

Claro que ele não recusaria minha ajuda, embora reclamasse do estilo de roupa que vestiria em breve.

—Vou me trocar.

Ele seguiu para o vestiário masculino, e Eu fui ao vestiário feminino.
Como em todas as vezes que Eu ia à praia, usava a parte de cima do biquíni, e um short jeans curto, por que dificilmente, a água salgada do mar me atraía para banhos. Prendi o longo cabelo em um rabo de cavalo alto e me olhei incontáveis vezes no espelho, atrás de imperfeições que só as neuróticas encontram.

—Está pronta?

Era Bryan e ele tinha se vestido rápido demais.

—Já vou. – Uma última olhada e tudo certo. –Como ficou? – E eis que dei de cara com o senhor perfeito, naturalmente longe da figura séria demais dos palitós.

—Se você rir Eu te levo para casa agora! – Ameaçou constrangido.

—Vai ficar perfeito com uma prancha debaixo do braço. – Provoquei achando graça da cara azeda dele. –Que foi? –Foi então que percebi que seus olhos castanhos estavam sobre mim, claramente.

—Vou pagar as roupas.

—Tá. – Falei, meio acanhada. –Será que exagerei na escolha do short? – Perguntei a mim mesma, vendo minha imagem refletida na vitrine. –Ei! Moça!

—Sim? Posso ajudá-la?

Arrastei a vendedora para um cantinho mais discreto.

—Pareço vulgar?

Ela me analisou. –Claro que não! Você está linda! Tem um corpo muito bonito!

—Não acho que seja verdade, mas agradeço o elogio.

—Como não acha? Não fisgaria aquele pedaço de mau caminho se não fosse uma mulher atraente.

—Ele não...

—Algum problema? – Bryan se aproximou.

—Não é nada. Eu só estava dizendo a sua namorada que ela tem um corpo muito bonito.

Bryan e Eu nos olhamos, visivelmente constrangidos.

—Vamos. – Ele tomou a iniciativa de sair da loja.

—Voltem sempre! – Disse a vendedora. –Aproveite o dia, senhorita. — Cochichou, quando por ela passei.


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