Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 12
Quem nunca fez besteiras?


Notas iniciais do capítulo

Cap. fresco! Espero que gostem! Bjs!



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Antes mesmo do meu corpo vulnerável chegar ao chão, Bryan me amparou em seus braços. Meus olhos cansados observavam os olhos confusos dele.

—E-estou bem. – Gaguejei num impulso louco de sair do agarro de dois braços fortes.

—Calma aí! – Ele não me deixou escapar. –Você está claramente aturdida.

—Pode ser, mas... – Olhei em volta, quase desesperada. –Você não precisa me segurar assim. – Sentir-me como um bebê frágil ajudou meu raciocínio lógico de fugir daquele lugar.

—Vou deixá-la naquele sofá.

Ele cumpriu a promessa. Bryan andou comigo nos braços por uma distância de cinco metros. Durante o percurso, que me pareceu uma eternidade, tentei ao máximo conter a vontade de pular para o chão, e andar com minhas próprias pernas. Era algo constrangedor para mim e até mesmo mimado. Era íntimo demais e sufocadamente físico.

—Pronto! Já chegamos! – Minha perna direita chegou antes ao estofado de couro. Visto de longe, minha reação seria cômica.

—Vou chamar William para...

—Não! – Gritei. –Aquele cara não tem que saber como estou e do que preciso.

Outra guerra de olhos se iniciou entre nós dois. De repente, Bryan estava visivelmente atordoado.

—William saberá o que fazer. – Frisou ostentando a mesma idéia. –Além do mais...

—Ele ligaria para a minha mãe ou para o Reitor e aumentaria meu problema. – Mesmo zonza, levantei, decidida a descer trinta andares escada abaixo. –Já passei tempo demais nesse lugar.

—Onde está indo? – Observou Eu me aproximar da porta de acesso às escadas. –Você desmaiará antes mesmo de andar dois lances de escadas!

—Vou ficar bem. – Agarrei a maçaneta, Bryan, agarrou meu braço, bloqueando meus passos. –Vou levá-la à minha sala. – Olhei para ele bruscamente. –Quando se sentir melhor você poderá ir.

—Poderá? – Indaguei não gostando do tom de persuasão. –Olha aqui, cara!

—Seu tom de voz não me assusta. – Disse emburrado. –Deveria agradecer por ter alguém atento a seu bem estar!

—É fofo sua preocupação, mas – fui irônica. – você sabe que ainda sou parte de sua responsabilidade por ter me conduzido para cá, então, seu espírito responsável não me deixará partir nessas condições. – Bryan respirou profundamente. Eu o irritava. –Tudo bem. Você me paga o almoço e Eu te libero dessa obrigação estranha.

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Um banquete variado fora entregue na sala, pela secretária que me observava avaliativa, afinal, era conflituoso para ela assimilar a idéia de que uma adolescente qualquer roubava a atenção do seu chefe.

—Está tudo bem, senhor? – Perguntou duvidosa.

—Não comente isso com ninguém. – Ignorara a pergunta.

—Com certeza. Com licença. – Eficiente ela se retirou.

—Por que ela comentaria que você está alimentando uma adolescente faminta? – Provoquei de boca cheia. –Deve ter bons fofoqueiros aqui, certo? – Ele nada disse. –Você não vai comer?

—Concentre-se na refeição. Você não vai querer passar o dia todo aqui, não é?

—Talvez não fosse má idéia. – Outra provocação, e um Bryan menos amigável me encarou. –É óbvio que Eu nunca me encaixaria aqui!

—Não tenho a menor dúvida!  

Ele duvidava do meu potencial. –Não falo isso pela exigência, mas por que Eu não suportaria trabalhar com pessoas que se acham o centro do universo! – Enchi a boca. –Sou muito boa no que faço!

—Por que não tenta engolir e depois falar?

—Está fugindo do assunto. — Engoli, forçosamente. –Sabe... Estando aqui tenho uma visão mais realista sobre a Engenharia. – Falei avaliativa. –Parece que fiz uma boa escolha.

Bryan se interessou pelo meu desabafo, ainda que não quisesse demonstrar.

—Você está fazendo Engenharia?

—Civil.

Ele demonstrou confusão. –Por que você escolheria Engenharia Civil e não Administração ou algo menos trabalhoso?

—Está me julgando?

Ele relaxou na cadeira. –Não é um julgamento, é uma visão de perfil.

—Parece um julgamento e não gosto que me julguem!

Bryan deu meio sorriso. –Teria se dado bem na Advocacia.

Fiquei atrevidamente embaraçada com seu meio sorriso, seguido de um comentário que encarei como um elogio.

—Minha mãe não entendeu minha escolha e, possivelmente, ela nunca entenda. Sinceramente, nem Eu entendi por que optei por esse curso. – Dei um bom gole no suco de laranja.

—É natural que os pais decidam escolher o futuro de seus filhos.

—Isso soou como um desabafo.

—Só foi uma observação despretensiosa. – Reagiu de imediato. –Se continuar tagarelando...

—Já estou terminando! – Ele era absurdamente sufocante. –Escuta... – Estava inclinada a voltar ao assunto que me levara com ele. –O que você acha que vai acontecer comigo?

—Do que você está falando?

—Sobre a sua irmã. – Senti meu chão se transformar em um teto de vidro. Falar sobre Stephany com Bryan seria um erro que Eu deveria evitar, no entanto, me senti encorajada. –Eu não deveria está falando disso com você, mas... não tenho muita alternativa. – Não senti minha vulnerabilidade naquela hora. Deixe-me ser guiada pelo instinto da sinceridade. –Não entendo por que ela está fazendo isso. – Suspirei cansativa. –Só quero fazer o que Eu tenho que fazer e me formar. Não quero confusões, tampouco um bando de garotos e garotas mimados me perseguindo. – O estresse me abraçou, outra vez. –Eles sequer imaginam o quanto me esforço para estar lá, longe da minha família. – Baixei a cabeça, passeando as mãos no rosto, em um sinal de nervosismo.

—É isso que você quer? – Ergui a cabeça, presa em sua pergunta. –Vou ajudá-la a sair dessa. – Meus olhos piscaram. –Sei que é estranho já que se trata da minha irmã, mas... a conheço suficientemente bem para saber que Stephany provocou àqueles hematomas. – A certeza transbordou em suas palavras. –No entanto, será melhor que você se transfira para outra Universidade.

—O quê?

—As pessoas sabem que você participou de uma invasão à minha casa. Encaram-na como uma indeliquente. Ninguém vai poupá-la de humilhações e xingamentos.

—Mas...

—Contra isso, nem mesmo o Reitor poderá intervir.

Uma enxurrada de realidade ruim ilhou o pouco de entusiasmo que se desenvolveu com a defesa de Bryan. Eu queria, a todo custo, permanecer otimista em meu próprio mundinho de autodefesa, no entanto, senti que aquele fardo seria complexo demais para Eu carregar sozinha.  Eu havia experimentado a eficácia de um bullying naqueles dias e os reflexos de tanta covardia ainda perturbava minha mente.

—Parece assustador, mas... não vou deixar o Campus. – Bryan se manteve surpreso, embora calmo. –Àquelas pessoas faz besteiras todos os dias e há gente que os acham um máximo. Eu fiz uma única besteira e essas mesmas pessoas me encaram como um lixo. – Respirei fundo, anestesiada. –Não posso fazer o que eles querem.

Bryan deixou a cadeira. Andou a janela de vidro e observou a vista. Aguardei um comentário dele ou algo que denunciasse seu ponto de vista, mas ele se calou profundamente. Eu jamais saberia o que se passou em sua mente naquele dia.

—Vou tentar amenizar as coisas para você.

Mais uma vez, ele estava sendo gentil.

—Verdade? – Perguntei dando um pulo da cadeira. –Mas... – Seria estupidez perguntar a ele como o senhor Perfeito faria tal coisa? Claro que seria! Bryan, com certeza, era um especialista em matéria de controle de popularidade. –Que estupidez minha! – Sorri abobalhada. –Você deve saber como agir com essas pessoas, afinal... – Um detalhe não passou despercebido. –Você foi como eles, não é?

Bryan se virou para mim, penetrado em minhas ações. Longos segundos se passaram em meio a nosso silêncio.

—Eu não diria como eles, mas... já fiz e disse coisas que não me orgulham hoje.

Confessar seu passado mimado e inconseqüente não foi nada fácil para um jovem que tinha a imagem assemelhada ao respeito e caráter.

—Você já... Já pensou em pedir perdão a essas pessoas?

—Isso já faz muito tempo. – Saindo do transe emocional, ele deu atenção aos papeis na mesa.

—Não importa quanto tempo passou, essas pessoas que você magoou sempre se lembrarão de como você as feriu.

Bryan se sentiu desconfortável. –Está na hora de você ir. – Foi aberta e a abriu convidando-me a sair.

—Claro. Sempre é mais fácil fugir. – Ao chegar à porta, encaramo-nos fixamente. –De alguma forma, isso também deve afetar você, até hoje, assim como eles. Pense nisso. –Motivada a encarar meus problemas, deixei a sala de cabeça erguida.

 


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