—Ontem eu fui visitar minha mãe. – Todoroki comentou casualmente enquanto, sem qualquer esforço perceptível, aniquilava o personagem de Yoarashi no game de luta que jogavam. Era sua quinta vitória consecutiva, e o outro rapaz já naturalmente tomado pelo espírito de competição, tentava com todas aa forças ao menos quebrar aquela humilhante sequência de derrotas. Ele se mexia muito, resmungava, apertava com força demais os botões. Aquele controle certamente não duraria muito se continuasse a ser tratado daquela maneira. Todoraki achava aquele tipo de comportamento divertido.

Todoroki achava Inasa divertido.

—E como foi lá?

—Normal... Mas eu finalmente contei para ela que estou namorando.

Nesse momento, todo o ardor passional se esvaiu do peito maior, deixando no lugar um frio tão aterrador que chegava a doer. E ele nem estava sentado do lado direito de Todoroki para justificar todo aquele frio. Tudo que ele conseguiu fazer foi soltar o controle contra seu colo e olhar para o perfil ruivo, querendo certificar-se de que seus ouvidos não estavam lhe pregando uma peça cruel.

—...você está namorando? 

Dessa vez foi Tododoroki que parou de jogar e resolveu encarar Inasa, quase não acreditando na cara de desolação e incredulidade que o moreno detinha.

—...eu estou namorando você, não...?

Alguns segundos se passaram, mas pareceu muito mais do que isso graças ao silêncio constrangedor que se instalou. Yoarachi chegou a abrir a boca umas três vezes, mas como não conseguia falar nada, fechou-a em seguida.

Se não bastasse o choque por aquela revelação – como assim ele estava namorando com Shouto?  Desde quando? –- outra coisa que o surpreendeu foi a mudança facilmente notada na face quase sempre inexpressiva. Shouto estava visivelmente envergonhado e consternado por aquela situação – até suas bochechas estavam coradas, algo que Inasa jamais havia testemunhado.

—Eu sinto muito pelo mal-entendido, acho melhor me retirar agora. –O meio-ruivo disse seriamente, já recuperando a compostura e se levantando da cama do moreno, ansioso para se livrar daquela situação constrangedora.

—Não! Shouto! Espera! – O maior se levantou prontamente e o deteve, segurando seu braço. –Eu... Err... Por que você...? – Nossa, como ele podia ser tão ruim com as palavras?

—Você vive dizendo que gosta de mim. Claramente eu me equivoquei a respeito do tipo de 'gostar', e compreendi seus convites para passeios como encontros, e seus elogios como flerte. Novamente, eu sinto muito, e garanto que esse tipo de mal-entendido não se repetirá.

—Ahh... bem... Eu... Talvez, você não tenha entendido errado...  porque eu gosto de você! De verdade! Mas eu não fazia ideia de que as minhas ações estavam deixando tão na cara... por isso, nem me passou pela cabeça que para você pudesse estar sendo algo mais, e eu achava que você nunca ia se interessar por mim, então, eu... Eu estava feliz em ser apenas seu amigo! Mas se eu puder ser seu namorado, isso seria muito, muito melhor!

Diante daquela declaração, Todoroki suspirou sonoramente e sem pensar abraçou com força o outro rapaz, afundando seu rosto no peito musculoso, inspirando o cheiro dele em meio a um soluço engasgado.

—Hei, Shouto...? Você  está chorando? –O maior tentou afastar Todoroki para confirmar sua suspeita, mas o menor não permitiu, mantendo o abraço firme e o rosto escondido. –Eu sinto muito por ser tão lerdo, me desculpa! Eu juro que vou me esforçar para ser um bom namorado, então, por favor, não fica triste!

—Eu não estou chorando... Eu só queria muito te abraçar. –Ele confessou em um sussurro. –Eu estou aliviado...

—Por quê?

—Porque em todo esse tempo você nunca tentou me beijar, nem fazer nada mais que namorados fazem... Eu estava achando que você não gostava mais de mim e ia terminar comigo a qualquer momento.

—Shouto... Desde quando você passou a considerar que a gente estava namorando?

—Quando você me chamou para o cinema, encostou a cabeça no meu ombro e me abraçou.

—Ah! Mas eu te falei que foi porque eu peguei no sono! Eu não consigo assistir documentários!

—Sim, mas eu pensei que você estava inventando uma desculpa.

—Eu jamais faria isso... embora, pensando agora, eu gostaria que tivesse feito. –Ele comentou coçando a cabeça, pensando a respeito. –Isso faz uns três meses, não?

—Vai fazer quatro meses dia 13.

—Quer dizer que eu desperdicei quase quatro meses de beijos seus?

—Bem... Você pode sempre tentar correr atrás do prejuízo.