— Ele ainda está lá? – Sakura sussurrou.

Ino olhou rapidamente para o refeitório e virou para si.

— Ele está vindo pra cá – avisou.

“Finalmente!” exclamou em pensamentos. Sakura esperou uns segundos e começou a andar rápido em direção a bancada com o café da manhã, com pressa para mostrar que estava atrasada e que tinha plena consciência do fato.

Ino ia em seu encalço.

— Sakura – ouviu Sasuke lhe chamar com deleite na voz. – Bom dia amor da minha vida.

— Sasuke, menos, por favor – ela suspirou.

— Me desculpe – ele não parecia nem um pouco arrependido.

Sakura tentou se controlar, faziam poucos dias que estavam namorando e já não aguentava mais aquilo, Sasuke parecia ter perdido a personalidade por causa da "paixão" e isso a irritava.

Ele se aproximou subitamente e Sakura arroiou a boca com pão pra prevenir ele de beijá-la.

O sinal tocou. "Ainda bem" sentiu alívio.

Naruto chamou Sasuke da entrada do refeitório.

— Vai lá – Sakura o incentivou, como sua boca ainda estava cheia de pão saiu algo mais como “bau wa”.

— Nos vemos depois – ele acariciou uma de suas bochechas antes de ir em direção ao amigo.

Ino ria silenciosamente ao seu lado.

— Vai rindo – Sakura brigou depois de terminar de engolir.

— Foi mal – ela se desculpou, mas não parou de rir imediatamente.

Foram andando até suas respectivas salas.

— Por quanto tempo você acha que vai conseguir evitar que ele te beije?

— Pelo máximo de tempo que eu puder evitar.

— Você sabe que é impossível vocês não se beijarem, certo?!

— Nem começa com isso.

— Só estou dizendo – ela ergueu as mãos em rendição.

A filha da Rainha Má vinha lhe enchendo a paciência com isso, que era só dar um selinho que tudo se resolvia e não era bem assim, se ela beijasse Sasuke uma vez se quer ele iria querer mais, tinha certeza disso.

"Só mais duas semanas", torceu os dedos. Mas sabia que até lá Sasuke não desistiria de conseguir um beijo seu.

— É só um beijo – Ino falou.

— Não é só um beijo – negou. Sasuke estava sob feitiço, sentia que estava se aproveitando dele dessa forma e ele já a detestaria o suficiente por enfeitiçá-lo, quem dirá se se beijassem sob feitiço. – Vamos pra aula, já estamos atrasadas – deu o assunto por encerrado.

— Por que será que estamos atrasadas? –- ironizou e Sakura simplesmente a ignorou.

.

.

.

Quarta-feira – Aula de História Real

— Lembram do trabalho em dupla que teriam que fazer? – perguntou a professora Shizune para a classe. – Pois então, formem suas duplas agora e depois um de cada dupla virá aqui na frente pra que eu sorteie seu conto.

"Dupla?" Sakura se perguntou em pensamentos, podia ver pelo canto do olho que Sasuke virou pra si do outro lado da sala.

A filha da Malévola se virou rapidamente para Ino, só que alguém havia sido mais rápido: Sai. Sakura suspirou, como é que pediria pra Ino fazer dupla consigo se aquela podia ser uma chance dela se resolver com o filho da Branca de Neve?

Olhou a sala discretamente pra não esbarrar o olhar com Sasuke. Ainda estava "brigada" com Shikamaru e ao que parecia já tinha uma dupla: Temari. Kiba estava sentado ao lado de Matsuri. Gaara ou Kankuro? Nem pensar que faria dupla com um dos irmãos.

Estava ficando sem opções.

Karin estava sentada na frente sozinha, “de maneira nenhuma”, faria dupla com Sasuke se fosse preciso para evitar a ruiva entojada, o clima entre elas não andava nada bem, Sakura podia ver o ódio da garota emanando dela sempre que se cruzavam.

Até que viu Neji bater o caderno em uma mesa. "Hinata!", pensou aliviada. Foi rapidamente em direção à garota notando a tensão que ela emanava, Neji devia ter dito ou feito algo pra deixá-la daquela forma.

— Hinata – Sakura chamou. – Você não desistiu da nossa dupla, não é?!

Puxou uma cadeira vazia pra sentar ao lado dela.

Hinata lhe lançou um olhar agradecido.

— Não – gaguejou.

— Eu ia fazer dupla com a minha irmã – Sakura pode sentir a raiva na voz do garoto.

— É?! – debochou. – Mas eu pedi primeiro.

Viu um tremor passar pelo corpo dele antes de ele se endireitar e falar para Hinata.

— Vai mesmo me trocar por ela? Já se esqueceu de que eu tenho algo... para você – não parecia que ele ia dizer isso, mas percebeu Hinata se encolher com a ameaça velada.

Sakura fechou os olhos e se concentrou puxando um feitiço da mente.

— Preste atenção, pois não vou repetir, quero que você saia já daqui – entoou.

Dito e feito, Neji saiu rapidamente da frente das duas.

— Como fez isso? – Hinata se espantou.

— Magia – Sakura deu de ombros.

— Obrigada – ela agradeceu. – Mas não precisava, não quero que se meta em confusão por minha causa.

— Ele estava te ameaçando – apontou arqueando a sobrancelha incrédula.

Hinata foi salva de se explicar porque bem nesse momento Sakura sentiu duas mãos lhe acariciando os ombros, sabia bem de quem eram: Sasuke, já estava familiarizada com o toque das mãos dele.

— Faz dupla comigo? – ele pediu baixando a voz em seu ouvido.

— Não dá, vou fazer dupla com a Hinata – estremeceu ao sentir o hálito dele tão perto, tinha cheiro de hortelã e Sakura reparou que ele estava mastigando uma bala.

— Isso, troca o melhor amigo pela namorada – Naruto cruzou os braços brincando.

— Não tem problema Sakura – Hinata disse timidamente. – Pode fazer dupla com o Sasuke se quiser.

— Nada disso – Sakura negou rapidamente. – A gente já combinou, além disso – acrescentou para Sasuke o cutucando de leve no peito –, você me distrai.

— Tem razão – Sasuke suspirou concordando. – Eu não conseguiria me concentrar no meu dever com você ao meu lado, ia preferir te admirar o tempo inteiro – pegou uma das mãos dela delicadamente e depositou um beijo no torço.

Sakura sorriu sem graça ao comentário, mas tocada pelo gesto simples. Percebeu que vários olhares estavam nos dois. O filho da Cinderela olhou com divertimento para a filha da Rapunzel, ao que ela corou.

— Vai fazer dupla com seu melhor amigo – Sakura o empurrou delicadamente. – a gente se vê depois.

— Vamos Romeu – Naruto o puxou para longe.

Hinata sorriu discretamente.

— O príncipe Sasuke é extremamente atencioso, não é?

— É – Sakura não negou ao se ajeitar na cadeira. – Eu não estou... acostumada com isso.

.

.

.

Karin via toda aquela cena de longe.

— Ai que raiva – despejou para Neji. – A gente pega castigo por se beijar no meio da sala e os dois não?!

— Fica tranquila, a gente vai dar o troco – ele apertou a mão dela.

Já sabia exatamente o que ia fazer.

— Sakura não é nada sem a magia dela – Karin virou interessada ao escutar aquilo.

— O que você tem em mente? – perguntou avidamente, como queria acabar com a felicidade da filha da Malévola.

— Espere e verá – respondeu enigmático.

.

.

.

— Você pode fazer dupla comigo, Ino? – Sai lhe perguntou delicadamente.

A filha da Rainha Má sentiu a garganta e se virou para Sakura, mas a amiga não estava mais sentada em seu lugar. Olhou ao redor da sala e a garota de cabelos cor de rosa parecia ir em direção a... Neji e Hinata.

Desviou o olhar da cena e se voltou para o filho da Branca de Neve, ele tinha um brilho esperançoso no olhar, como poderia quebrar aquilo?

— Sim – respondeu delicadamente.

— Obrigado – ele agradeceu antes de puxar uma cadeira e sentar ao seu lado.

Ficaram num silêncio incômodo, um sem saber ao certo o que dizer ao outro.

.

.

.

Sakura ficou surpresa que Sasuke e Naruto tenham ficado com o conto da Bela Adormecida. Só sabia o básico que lhe contaram, que Malévola se sentiu ofendida por ser a única não convidada para o batizado da Princesa Aurora e por isso jogou uma maldição na criança ainda pequena: cresceria linda, inteligente e a moça mais gentil do reino, mas aos dezesseis anos furaria o dedo em uma roca e cairia num sono profundo e só acordaria quando recebesse um beijo de amor verdadeiro.

Malévola podia não acreditar em amor verdadeiro, mas ele existia e assim a princesa acordou e viveu feliz para sempre com seu amor. “E juntos tiveram Karin” pensou, se isso era bom para eles ou não, Sakura não sabia dizer.

Desviou a atenção para Hinata, ela havia ido até a professora que segurava um vidro cheio de papeizinhos e a filha da Rapunzel tirou o conto da Pequena Sereia. Sakura tentou conter a careta, mas não conseguiu.

— Sério? Eu odeio a Úrsula – despejou. Odiava a vilã desde que ela havia tentado lhe matar.

— Por quê? – Hinata perguntou timidamente.

— Ela e minha mãe se odeiam – foi a resposta que deu. – E, claro, também odeio a filha dela.

— A Úrsula tem uma filha? – questionou surpresa.

— Sim, não sabia?! – Hinata negou. Com a cabeça. – O nome dela é Konan – disse com desprezo na voz. – Acho que ela é uns dois ou três anos mais velha que a gente.

Pensar na vilã era também lembrar da própria mãe, Malévola nunca lhe contara o porque da rixa entre a duas, aliás, sua mãe nunca lhe contara nada sobre sua vida antes da ilha. Suspirou frustrada.

— Vamos logo fazer isso.

— Uma pena a filha da Pequena Sereia não estar aqui – lamentou Hinata. – Ela podia nos ajudar.

.

.

.

Sakura se surpreendeu quando Lee, o filho do Chapeleiro Maluco lhe disse que a Fada Madrinha estava lhe chamando até sua sala para conversarem. Trocou um olhar preocupado com Ino.

Assim que terminou de almoçar a filha da Malévola foi até lá.

— Licença – falou depois de bater e ouvir um “entre” dela.

— Feche a porta – a Fada pediu. – Sabe por que lhe chamei aqui? – ela estava sentada em sua cadeira do outro lado da mesa.

— Não – mas suspeitava.

— Me chamaram a atenção para o fato de que você está utilizando demais os seus poderes e pior, de maneira inadequada.

— Quem foi que disse isso? – sentiu a raiva florescer.

— Não preciso que ninguém me diga, eu sinto – e olhou diretamente nos olhos da garota desafiando-a a negar. – E a última vez que senti foi hoje, na aula de história, você fez alguma coisa com Neji, eu senti o rastro de sua magia nele – Sakura engoliu em seco.

A Fada Madrinha era capaz de sentir rastros de magia? Isso quer dizer que... ela poderia saber sobre o museu, há tempos ainda por cima.

— Sim – ela voltou a chamar sua atenção. – Eu sei que você mentiu sobre o museu, você tocou tudo naquela sala – ela arqueou a sobrancelha. – Sei também que desativou as câmeras de segurança, agora para que eu não sei.

Sakura nada respondeu. “Merda!”

— Eu tenho tanta esperança em você Sakura – a Fada suspirou cansada e massageou a testa com as pontas dos dedos.

Sakura então percebe que nunca havia prestado atenção em o quanto ela era velha.

— Esperança de que? – Sakura pergunta confusa.

— De que me ajude – respondeu sinceramente. – Eu não vou aguentar por mais muito tempo sozinha.

Sakura ficou um pouco nervosa com o rumo da conversa, não estava entendendo nada.

— O que sabe sobre a política de reinos? – Tsunade lhe perguntou repentinamente.

— Não muito – respondeu.

— Me diga o que sabe – ela pediu.

— Agora? Eu tenho aula daqui a pouco.

— Só me diz o que sabe.

— O Rei Fera e a Rainha Bela são os reis mais importantes e seu sucessor é o Itachi já que ele é o primogênito, o Sasuke vai ser o próximo conselheiro real...

— Só isso? – a Fada tinha o semblante angustiado e Sakura deu de ombros. – Queria muito que você não tivesse desistido de Princesologia.

Sakura se controlou para não revirar os olhos. Fora ela mesma que a incentivara, ou era só para questionar o conteúdo da aula? Não estava entendendo nada.

O sinal tocou e Sakura se levantou indo em direção a porta.

— Por favor Sakura, eu tenho mais um pedido – se voltou pra Fada curiosa. – Quero que não utilize seus poderes nos próximos dias.

— O que? – exclamou chocada. – Por que?

— É seu castigo por não dar o devido valor ao poder que possui e por utilizá-lo com arrogância, agora pode ir para sua aula.

— É sério isso? – se indignou ao perceber que ela falava sério.

— Sim – disse resoluta. – Quero ver como se sai sem utilizar magia. É uma ordem, Sakura.

Sakura travou o maxilar e saiu a passos duros da sala.