Reborn escrita por ninoka


Capítulo 6
Capítulo V - Do céu para o inferno


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!!



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“Que bom que já se sente melhor…”, disse o homem, sentado no umbral da janela do Castelo, descontraidamente; e sorriu. 

Link estava há alguns poucos metros, reclinado sobre a cadeira acolchoada do escritório o qual pertencia àquele homem com quem conversava; o homem na janela; General Maga, líder das tropas Hylian. 

“Meus homens me disseram que ele usava um tipo de máscara incomum, como a que Kohga usava. É possível que estejamos lidando com algum tipo de sucessor; o novo líder do Yiga Clan”, Maga era um homem que mirava quase as quatro décadas. Tinha um pouco de pelo no rosto e braços fortes -- o que lhe concebia um aspecto viril que, no entanto, era facilmente quebrado em poucos minutos de diálogo. Sua fala era madura, porém energética, jovial e, até, carinhosa. 

“Você não faz nenhuma ideia para onde ele possa ter fugido?”, Link dedilhava o braço de carvalho da cadeira, parecendo ignorar a constatação de Maga minutos atrás (o que não era verdade. Essa era só sua forma de absorver informações. Em silêncio).  

“Ele desapareceu com um feitiço de fumaça. Não houveram rastros”, suspirou o general, apoiando a cabeça sobre o vidro da janela e desviando o olhar.    

“E… como ele conseguiu entrar?”

“Nenhuma pista”

Link ficou em silêncio, apenas mirando o outro lado da sala; a flâmula azul pendurada na parede, o símbolo da família real bordado ao centro. 

“Me pergunto se ele apenas esperou que baixássemos a guarda depois das comemorações pra que… “, falou Maga, sem completar. 

Link de repente se levantou. Maga sabia o que aquilo significava; franziu a testa em preocupação.

“Não precisa ir sozinho. Posso providenciar alguns homens pra te acompanhar”

“Me sinto bem melhor agora”, disse Link. Impossível não notar a secura em sua voz, a melancolia, o abatimento que o tomava.  

“Bem… Só tente não fazer muita movimentação suspeita. A população não pode ter conhecimento do que está acontecendo, principalmente logo depois da Grande Festa... Isso poderia arruinar toda a paz que viemos lutando para conquistar durante esses últimos dois anos”

 

***



A tecnologia de teleporte do Sheikah Slate era algo que Link idolatrava. Viajar por milhas sem gastar um mísero rupee ou horas de viagem é algo que não só o herói de Hyrule, mas qualquer um, ambicionava ter. 

O fato é que o destino às vezes é muito conveniente. Havia pouco tempo, desde um misterioso incidente que nem Hylia era capaz de explicar, que o tablete Sheikah não acendia mais. Isso levava embora, além das várias e formidáveis tecnologias portáteis, a magia do teleporte. Por essas, tragicamente, longas distâncias voltaram a ser longas e inconvenientes distâncias para Link.

E foi só durante o final da tarde que Link finalmente conseguiu chegar à Hateno Village. Ele desceu de Truffle e guiou-a paternalmente pelas rédeas.

No portal da vila tinha sempre o mesmo homem, de ancinho e chapéu de palha, guardando seu território. Ele já reconhecia o herói de longe -- e quem não reconhecia? --, e fazia questão de cumprimentá-lo com um aceno de cabeça. Link respondeu o gesto com as mãos e adentrou a vila. 

A aldeiazinha, ao decorrer dos dois anos, teve um crescimento relatável de moradores, recorrente do número de imigrantes que, sem a presença da Calamidade, decidiram mudar de vida e botar o pé na estrada -- agora mais segura.  Maior população, o comércio ascendeu em escala. E agora, cheia de riquezas, Hateno havia se tornado uma vila observada (criminosamente falando). Afinal, a era da Calamidade se foi, mas a maldade e a cobiça sempre existiram e sempre existirão enquanto houver humanidade. Por isso ainda existe a Guarda Real; por isso ainda existem armas; e por isso o homem de chapéu e ancinho não sai da entrada da vila. Por isso. 

Costumeiramente, caso não fosse na recorrência de uma invasão, Link apenas viria até Hateno para checar a pequena choupana que mantinha ali -- o que tinha se tornado uma coisa rara, já que agora praticamente todo seu enxoval estava guardado sob o Castelo. Mas, naquela situação, seus intuitos eram outros.  

A vila estava num dos seus dias mais calmos; era um dia chuvoso, afinal. Ora garoava, ora parava. Crianças correndo com o bucho inchado pós-almoço, aldeãs conversando nas janelas, mosquinhas zonzando restos de lixo. Nada muito diferente do que se espera dos efeitos que um céu cinza-frio pode causar. 

Mas Link botava um acréscimo às razões para as coisas estarem como estavam: aquele era um dia triste. Deveria ser um novo recomeço, o primeiro dia dos tempos de Paz; mas provavelmente ninguém se sentia assim. Ninguém sabia realmente o que estava acontecendo. Talvez pensassem que era como uma ressaca das comemorações; talvez pensassem que aquilo era a paz. Mas, no fundo, sabiam: havia uma melancolia coletiva no ar.  

De praxe, Link cumprimentou as moças que fofocavam entre si. Subiu uma seção elevada da vila onde ficava seu antigo carfofo, e estacionou Truffle sob uma macieira dali. 

Ao topo da vila, num pico bastante isolado, estava seu objetivo: o laboratório de Purah. 

***

Depois de percorrer duras milhas repletas de areia quente do deserto, uma moça recoberta de panos e véu marrons ultrapassou uma dupla de moças-guarda, atravessando por baixo do aro de entrada de Gerudo Town e adentrando a cidadela. 

Gerudo Town -- você já sabe -- é habitada por um contingente exclusivo de mulheres e a presença de homens é algo substancialmente proibido. 

Soldadas, professoras, confeiteiras, curandeiras, chefes, feirantes, mineradoras, estudantes, mães, avós, irmãs, tias -- as mulheres dominavam tudo ali. Mulheres de todo porte; altas, baixas, magras, gordas, parrudas, bronzeadas, esbranquiçadas, umas mais ruivas, outras menos ruivas... Crianças barrigudas que corriam libertas e ingênuas, babadas de fruta e pregando peças; adolescentes que não conseguiam decidir entre priorizar estudos ou arranjar esposo; mulheres adultas, donas de si; e anciãs -- espertas, com um repertório de aventuras abarrotado de boas histórias e, comum e consequentemente, exaustas. Esse era o tipo de gente que se via passar pelas vielas de Gerudo Town, de um lado para o outro, nas tendas ou no chão, nos comércios ou no bar. Mulheres. Era assim que o sistema mantinha seu equilíbrio.  

Em meio a todas, a moça das indumentárias cor de avelã se guiava discretamente em seu caminho; uma forasteira, nada de muito novo. Os panos cobriam do cabelo até a ponta do tornozelo, braços, cabelo, lábios; tudo exceto os olhos. E que olhos! Havia uma camada negra esfumada ao redor destes, algo como carvão triturado, delineando-os. A cor dos olhos era de um aparente castanho escuro, mas que, num mínimo contacto com luz, era possível se atrever a ver duas esferas rubras e brilhantes.

Naquele momento, a forasteira subia o escadão alto que levava ao salão real.

Riju estava ali, assentada no trono de ouro enquanto velada por um grupo de guardas e refrescando-se com uma folha comprida.  

A moça adentrou o salão e se dirigiu até o centro deste, onde criou uma reverência.

“Uma visitante?”, Riju perguntou, as pernas imponentemente cruzadas, “De onde vem? Como se chama? Como posso ajudá-la?”

A moça apanhou a ponta do manto que cobria seu rosto e o puxou para trás, expondo o cabelo branco e a face pálida. Os olhos, vermelhos, impossíveis de não se reconhecer: Uma Sheikah.

“Lady Riju, peço perdão pela vinda repentina. Sou Kobo, do clã Sheikah. Estou aqui por ordens de Mestra Impa”

“Impa?”

“Isso mesmo”, fechou os olhos, “Preciso entregar uma mensagem à senhora. Uma mensagem particular”

 

***

Todos estão enlouquecendo!”, Purah disse, enquanto retirava uma pequena pilha de documentos da mesa e repunha uma xícara quente no lugar. 

O laboratório estava num estado mais caótico do que era comum. Relatórios, manuais de instrução, livros, atlas, fichas, agendas e rabiscos; entulhados sobre a mesa, no chão, nas prateleiras, e em qualquer espaço que fosse possível atolar de papel. O coque e os óculos de Purah estavam completamente tortos, o cabelo pro alto e armação vermelha mal colocada sobre o rosto pálido tremiam toda vez que ela embriagadamente gesticulava com o bule de café na mão. Symin ia de um lado para o outro, cheio de olheiras, engolindo enciclopédias enquanto desviava habilmente com os pés pelo acervo de papel e informação.  

Purah tinha razão: Estavam todos enlouquecendo. 

“Ficamos preocupados com você, Linky”, suspirou, empoleirando o bule quente num pedaço livre do chão. “Até agora não consigo acreditar que tudo isso aconteceu”, refletiu, melancolicamente. 

Link assoprou o chá com o ar frio da boca -- o líquido virou um vórtex -- e bebericou um gole. “O que pensam em fazer?”

Como se aguardasse por aquela pergunta, Purah uniu as pontinhas minúsculas dos dedos umas às outras: “Nós pensamos em criar uma central que reúna informações via Guardians. Mas ainda precisamos elaborar um sistema para transmitir os dados captados pelos visores.”

“E de um lugar para estruturar uma Central.”, pontuou Symin, ao longe, de um lado para o outro, lendo. 

“Exato”, concordou Purah, consertando o óculos no nariz (finalmente!), “Mas sequer conseguimos desinfectar uma quantidade decente de Guardians!”

Link bebericou mais e parou: “Quero ajudá-los.”

Symin e Purah se entreolharam no mesmo momento -- uma mescla de espanto e apreensão.  

“Como?”, perguntou Purah. Symin retirava os óculos e limpava-os no tecido da roupa.

“Com o que for preciso”, Link colocou a xícara vazia sobre o pires e, no exato momento em que as louças se tocaram, houve um estampido violento do lado de fora. A mesinha, o chão e as pilhas de papel tremeram. Purah (que era tão minúscula quanto o utensílio) se entortou para baixo na intenção de reter o bule e sua tampa contra o chão e evitar uma catástrofe de chá por toda a papelada, isso enquanto Symin dava uma de malabarista, indo de um lado para o outro e esticando os braços para apanhar os exemplares que caiam para fora das prateleiras instáveis. 

Aliviado o abalo, os três correram para bisbilhotar. Entreabriram a porta frontal do laboratório, temerosos, e notaram que a agitação tinha tomado conta do vilarejo lá embaixo. Não foi necessário grande esforço para enxergarem, ao centro da vila, uma alta concentração de fumaça subindo e se dissipando pelos ares.  

 


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