Fascinação escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 8
Ato 7: Reação em Cadeia.


Notas iniciais do capítulo

Hello!

Eis um milagre, consegui atualizar essa bagaça em menos de um mês, nem eu consigo acreditar que isso foi possível. Agradeçam a um dos meus amigos que passou a insistir para que eu escrevesse um pouco todo santo dia (admito que algumas vezes eu escrevia na pura base do ódio, mas aqui estamos nós).
Enfim... espero que façam uma boa leitura. ♥



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Eles precisaram ser mais cuidadosos daquela vez, era claro. Salazar não sabia quantas pessoas estariam efetivamente procurando por ele, sua mãe não costumava mover uma legião dos companheiros para encontrá-lo, principalmente porque Esdras estava em movimento. Imaginava que na cabeça dela aquilo significava que não havia para onde fugir, e não existia uma necessidade real de fazer todos pararem o que estavam fazendo para buscá-lo. Mas isso não evitaria dela entrar no assunto com alguém e essa pessoa ajudá-la.

O garoto se movimentava correndo por trás das barracas, observando os membros do circo que passavam a sua frente e voltando a correr, puxando Tray consigo. As vezes não havia muito o que fazer… Blake acabara vendo-o e ele estendeu uma mão num aceno para cumprimentá-la, fingindo que nada havia acontecido. Sendo a pessoa tímida e reclusa de sempre, a moça não fez mais que observá-lo de maneira questionadora e acenar de volta. Pelo visto ainda não havia cruzado com sua mãe, caso contrário teria ido até eles.

Mesmo assim, essa abordagem não duraria muito. Quanto mais pessoas o percebessem, mais informações chegariam a sua mãe. Fugir em um espaço onde havia tantas testemunhas oculares era mais difícil do que ele julgara a princípio.

— É mais difícil do que eu pensei. — ele acabou externando seus pensamentos, após esconder-se atrás da barraca do grupo teatral. — Quando estamos ancorados, muitos dos membros saem para repor os nossos recursos e fazer suas próprias coisas. Então fica mais vazio.

— Bem, é de se esperar… não seria melhor esperarmos uma chance melhor?

— Eu não sei… eu estou com medo. — ele mordeu o lábio inferior e encolheu um pouco os ombros. — E se eles levarem você embora enquanto estivermos dormindo, por exemplo?

— Acho meio cruel. E bastante improvável.

— Mesmo que seja! Nós já chegamos até aqui, vamos continuar. Se falharmos, pensamos em outra coisa. — Salazar inspirou e expirou lentamente, passando os olhos ao redor e vendo que podiam seguir. A tenda mais próxima agora era a de Flamie, faltava muito pouco. — Ærith…

Ele viu a elfa e colocou a cabeça para trás quase que imediatamente.

— A elfa que espirra água nela?

— Sim… ela não vai deixar que cheguemos muito perto, parte de sua função é manter Flamie controlada.

Tray estreitou seus olhos para a criatura delicada, ela estava com um borrifador na mão, como em todas as outras vezes que a vira de relance. De fato, Ærith estava sempre com Flamie, e mesmo nos espetáculos onde a permanência no palco de alguém fora a artista principal era proibida, a elfa ficava nos bastidores. Uma cuidadora confiável. Seria difícil afastá-la.

— Você acha que consegue resolver com Flamie sozinho? — ele perguntou, o que fez Salazar se sobressaltar.

— Uh, bem… eu não sei. Só preciso provocá-la um pouco, não é? Acho que consigo!

— Certo… eu vou chamar a atenção da Ærith.

— Tem certeza?

— É claro, você não precisa ter todo o trabalho. — o garoto piscou para ele e saiu de trás da barraca casualmente, indo em direção a entrada da Artista das Chamas. Salazar viu-o trocar algumas palavras com a elfa, gesticulando um pouco e apontando em uma certa direção de maneira insistente. Não conseguia escutar sobre o que falavam, mas surtiu efeito, Ærith olhou algumas vezes para trás antes de enfim decidir seguir Tray, e o garoto teve sua oportunidade para esgueirar-se até a tenda e adentrá-la.

O que viu não era nada muito além do esperado, Flamie estava sentada em um amontoado de almofadas enquanto usava um pente prateado para desembaraçar os cabelos coloridos. Ela parecia estar um tanto quanto incomodada em fazê-lo, porque tinha uma ruga de estresse saltando em sua testa toda vez que encontrava algum nó. Salazar não pôde evitar se lembrar das vezes que deixara seus cabelos mais cumpridos e a mãe precisava fazer o mesmo. Ele acabara pedindo para cortá-los curtos justamente para evitar tais complicações. Ainda assim, ele sempre gostara mais deles quando estavam bem longos.

— Uh, é só você, Sala. Que milagre te ver por aqui, depois de tudo que a Art fica resmungando o tempo todo. O que era mesmo? “Fique longe do fogo”?

— “Fique longe do fogo, e isso inclui Flamie.”

— Isso, isso. — o pente enganchou nos cabelos e ela fez uma careta para o mesmo, tentando soltá-lo. Sem sucesso.

— Você não acharia melhor usá-los curtos?

— Eu gosto deles longos, além disso eles combinam comigo e com meu Número. Não tem a menor chance de eu cortá-los!

Salazar sorriu um pouquinho ao ouvi-la. Sempre achara Flamie divertida, apesar de seu gênio ser terrivelmente difícil de lidar. Ele realmente queria ter mais momentos assim com ela, e talvez por conta disso sua mente estivesse negando-se a lhe dar algo para chateá-la. No momento, não conseguia pensar em nada. O que era um problema, afinal de contas fosse qual fosse a desculpa que Tray usara para tirar Ærith dali, não funcionaria por muito tempo.

— E então… o que você veio fazer aqui?

Ele ficou em silêncio fitando-a por algum tempo e começou a corar de vergonha quase que imediatamente. — Eu, eu… então sobre… aquela parte nova do seu Número…

— Ela é fantástica não é?

— É horrível. — ele disse, rapidamente. Se arrependeu no mesmo minuto. Flamie havia tentado retirar mais uma vez o pente de seus cabelos, e assim que ela escutou aquelas duas palavras, seus olhos voltaram-se para ele como dardos letais.

— Se você está treinando com aquele imbecil do Gael, deveria parar. Sério, sua piada não teve graça.

— Não… não é uma piada. É realmente… horrível. — Mentira, tudo o que aquele ser a sua frente fazia prendia seus olhos e deixava-o admirado. Mas ele precisava incitá-la a causar uma confusão e nada mais vinha a sua cabeça para irritá-la do que falar mal de seu trabalho.

Os olhos sagazes dela pareciam soltar faíscas, mas Salazar sabia que era apenas impressão sua. Porque o que realmente era preocupante era a coluna de fumaça subindo sobre sua cabeça. Pequena a princípio, era verdade, mas não demoraria para aumentar. Ele sabiamente recuou um pouco em direção a saída.

— Garoto, você não sabe o que está falando… deve estar enxergando mal, pobrezinho. — ela apoiou os pés descalços contra o chão, ficando de pé. Flamie era mirrada, mas era maior que ele mesmo assim. E se ela sentada já era muito intimidadora, em pé a sua frente era ainda mais.

— Uh, bem… seu Número é muito longo e contêm muitas partes repetidas. As pessoas ficam encantadas logo no começo, mas… depois elas acabam se afastando porque perdem o interesse.

— Isso nunca aconteceu, seu fedelho! — Ela deu passos em sua direção e praticamente rosnou. — O que você está querendo, me falando essas coisas? Quer arrumar uma briga!?

O tom de voz dela foi aumentando gradativamente enquanto se aproximava dele e a última frase saiu praticamente com um grito. Okay, aquilo chamaria muitos membros para perto. Salazar precisava sair dali, imediatamente, mas subitamente a jovem fechou seus dedos ao redor do punho dele, antes que ele tivesse tempo de se esquivar. Salazar sentiu o calor que saia de sua mão, que ia intensificando-se. Ele tentou se desvencilhar, mas não conseguiu.

— Você… está me machucando… Flamie…

— Você pediu por isso, não pediu!? — ela encarou-o de cima, agora bem próxima ao seu rosto, era como se estivesse perto de um rio de lava ou de uma fogueira, ela nem precisava começar a pegar fogo de verdade para que ele sentisse o desconforto. Pela primeira vez na vida, Salazar realmente entendeu o porquê sua mãe dizia que era perigoso. Ele recuou um passo e encolheu-se, respirando apressadamente, os olhos começando a se encherem de lágrimas.

— Me… me desculpe… eu sinto muito, Flamie. Você é… é maravilhosa, de verdade. — ele tremia tanto que as palavras iam saindo cortadas enquanto falava. — Por favor… está doendo…

A Artista das Chamas resmungou, um som que parecia um chiado de algo muito quente sendo atingido por água fria, e soltou o braço dele. Ela recuou, a esse ponto a coluna de fumaça já estava causando uma névoa dentro da tenda, mas o fogo de fato não veio.

— Não diga essas coisas rudes nunca mais. — ela praguejou, e então sua raiva amainou um pouco. Salazar sentiu o calor ao seu redor regredir consideravelmente até uma temperatura aceitável. — Sinto muito. Deixe-me ver se não ficou com bolhas.

Ela não tocou-o, mas Salazar obedientemente virou os pulsos de uma maneira que ela pudesse ver melhor. Tivera o ímpeto de sair correndo, mas suas pernas tremiam tanto que se pudesse dar qualquer passo, cairia. Flamie observou as marcas causadas pelos seus dedos, era uma queimadura, mas leve. Não formara bolhas. Só precisaria de alguns medicamentos para cuidar daquilo.

— Oh, que bom… foi superficial. — ela fez um gesto na direção dele para tocá-lo, mas parou-o e desceu sua mão novamente, sem fazê-lo. — Olha, sinto muito de verdade, se eu o assustei. E por isso também. Eu não consigo controlar esse meu lado. Deve ser por isso que sua mãe sempre diz para ficar longe, ela meio que tem razão.

Salazar usou as mãos para limpar as lágrimas que haviam escapado durante seu momento de pavor, seus pulsos doíam, mas ele pôde ver que ela estava arrependida. Desviava o olhar e sua expressão era melancólica. O garoto sentiu-se mal por ela, por alguma razão. Ele percebeu o quão terrível deveria ser não poder se aproximar demais dos outros por correr o risco de feri-los, mesmo que fosse sem querer.

— Tudo bem… eu acho. — ele fungou. — Me… me desculpe pelo que eu disse, era tudo mentira. Eu apenas… — ele calou-se, e deu um novo passo para trás, mordendo o lábio inferior. — Precisava que você… causasse uma confusão. Então eu te irritei de propósito. Não deveria ter feito isso, sinto muito.

Ela balançou a mão como quem diz para esquecer aquilo.

— Vou pedir para Ærith cuidar dos seus pulsos… onde ela está, afinal? — olhou ao seu redor, incomodada. Então voltou a observá-lo diretamente, com certo questionamento. — Você disse que eu precisava causar uma confusão? Por que?

O garoto piscou os olhos para ela, um pouco mais calmo, e ficando corado logo depois, ele fora pego. Era um péssimo mentiroso no fim das contas, e correra perigo a toa. Pelo visto a fuga não iria para lugar algum, mas ele poderia tentar convencê-la a ajudar? Flamie era legal, ela poderia ficar do lado dele e de Tray, não é? Ou ao menos não contar aos outros o que estava acontecendo realmente…

— Bem, eu…

— Ele queria fugir comigo. Mas enquanto Esdras carrega a Tenda Mestra, não há lugar para ir. — a voz de Tray veio por trás dele. Entretanto havia algo diferente nela dessa vez. Talvez seu tom, ou mesmo uma rouquidão diferente. Sala olhou por cima do ombro para o amigo, e havia um sorriso em seu rosto, mas não era a expressão angelical de sempre. Era… perverso.

— Tray, vamos parar por aqui, podemos tentar outro dia. Flamie é legal, não é justo que usemos ela desse jeito.

— Justo…? Quando foi que debatemos sobre justiça para os outros? Era o que você queria, não era? — ele questionou Salazar, lenta e pacientemente. Flamie aproximou-se ainda mais, ela estava incomodada e a fumaça voltou a escapar dentre os seus cabelos, manchando os panos acima.

— O que vocês dois estão aprontando?

— Como eu disse…

— Uma fuga. Mas não há fuga sem uma comoção, e você precisa fazer seu papel devidamente, Flamie. Vocês dois precisam.

— Tray… do que está falando? Vamos abortar a missão, desse jeito não vai funcionar!

— Eu não sei o que você acha que é o meu papel, garotinho, mas você está começando a me irritar com isso de algo que eu devo ou não fazer. — Flamie cortou. Salazar sentiu o calor ressurgir atrás de si e recuou para o lado de Tray.

— Flamie, ele não está dizendo por mal. Tudo fazia parte do…

Do plano.

O plano de Salazar.

Mas, parando para pensar, quem sugeriu usarem Flamie fora Tray… não é?

Um medo ainda mais intenso desceu pelo seu corpo, ele sentiu seu estômago dar um nó… por que aquela situação parecia tão errada? Tão… fora de controle?

— Oh… acho que você finalmente começou a entender, Sala. Bem na hora, mas não vai ser suficiente… — ele continuava sorrindo, era um sorriso de um demônio, totalmente inconsistente com sua aparência. Mas Tray continuava calmo, mesmo quando Flamie estava tão perto dele, tão próxima de pegá-lo. — Não é mesmo, monstro de fogo?

— Do que você me chamou!?

— Você ouviu muito bem, Flamie. Você é um monstro… as pessoas podem até ficarem maravilhadas com seus poderes pirotécnicos, mas ninguém confia plenamente em você. Por que você acha que tem uma ajudante apenas sua que nunca sai do seu lado? Porque você precisa ser vigiada vinte e quatro horas por dia, para garantir que não ocorra uma tragédia.

— Cale sua maldita boca, o que você pensa que sabe!? — ela agarrou-o pelo pescoço. Salazar tentou segurar o braço dela para que o soltasse, mas o calor era tão forte que queimou suas palmas instantaneamente.

— Parem… parem vocês dois!

— Não há nada a ser parado, querido amigo. Você terá sua liberdade… mas não de um jeito fácil, isso nunca.

Salazar olhou ao redor, a procura de água. Água para jogar em Flamie. Ela precisava soltar Tray, ele não sabia o porquê do amigo agir daquele jeito, mas não podia deixar aquilo continuar. Em seu desespero, ele não havia sequer percebido que o pescoço de Tray não estava enchendo-se de bolhas e incandescendo como era de se esperar.

— Não sei o que você é… — ela rosnou. — Mas vou acabar com a sua raça. Vou queimá-lo até as cinzas!

— Você não conseguiria nem se usasse tudo de si para isso. — ele retrucou, e seguiu a movimentação de Salazar com o canto de seus olhos. — Você só vai encontrar água com Ærith.

— Onde você levou ela?

Ele não respondeu. Flamie estava começando a apertar ainda mais, mas nada acontecia a pele lisa e macia do garoto. A nuvem de fumaça já começava a dar lugar a faíscas e pequenos focos de chama. — O que você fez com ela?

— Você quer mesmo saber?

Salazar olhou mais uma vez para os dois, suando frio, enquanto via os focos crescerem para labaredas que foram tomando lentamente os cabelos de Flamie, até eles virarem uma fogueira. O fogo começou a pegar no tecido da tenda sobre a cabeça deles, percorrendo-o por inteiro e fazendo o ambiente ficar quente. Ele não sabia mais o que fazer, e com lágrimas nos olhos girou na direção da saída para tentar achar algum outro foco de água. Precisaria ser rápido, não fazia ideia do que Flamie seria capaz naquele estado e ele não tinha mais capacidade alguma para detê-la. Suas palmas ardiam fortemente, ao contrário dos pulsos elas haviam criado bolhas, e a dor era alarmante. Mas a esse ponto ele só conseguia pensar numa forma de parar aquela situação. Flamie estava assustando-o, mas Tray o deixara com ainda mais medo. Ele saiu no mesmo instante em que o fogo devorava o suficiente da tenda para ela se abrir e deixar visível o que ocorria lá dentro, os membros mais próximos pararam e tomaram distância, alguns começaram a correr, provavelmente na ânsia de procurar algo para apagar o fogo que começava a se alastrar pelas cordas e pela grama daquele pequeno mundo interno da Tenda Mestra.

Salazar tropeçou e rolou pelo chão, apoiando as mãos sobre o mato e sentindo-as doerem por conta disso, com sua respiração acelerada e o coração disparado, ele olhou para o meio das chamas. Elas ficavam mais e mais altas enquanto expandiam-se para todas as direções, pegando algumas outras barracas no seu caminho. Então, ele sentiu um balançar súbito, muito forte, como se todo o mundo tremesse ao seu redor. Era Esdras parando e fazendo sua magia às pressas para libertá-los, certamente. Não conseguiu ficar feliz nem aliviado com isso, porque Flamie agora era um ser de puro fogo, ainda segurando um Tray que era imune ao seu poder, e a olhava com desprezo, um desprezo mais afiado que qualquer faca que Caleb pudesse atirar.


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Notas finais do capítulo

Tray começa a mostrar sua face... e um incêndio se inicia no Circo. Senhoras e Senhores, nós chegamos ao nosso clímax!
Em breve estarei postando o Ato Final dessa pequena peça. Espero que estejam gostando até aqui e que apreciem-no, também.

Até a próxima, Kisses, kisses para todos vocês ♥



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