— Oi, testando — Brandon acenava na tela, sorrindo encantador como sempre — Isso tá ligado?

Um garoto de longos cabelos azulados chegou atrás do moreno, abaixando-se apontando algo na tela, Hélia apareceu na imagem.

— Aqui, tá gravando —  Ambos baixaram o olhar para uma luz vermelha que piscava na parte debaixo.

Brandon sorriu.

— Ah sim — O moreno deu um tapa no braço do amigo — Valeu cara — Hélia se afastou e Brandon se ajeitou na cadeira —  Muito bem... — O moreno piscou enquanto sorria galanteador — Diário de bordo 2, Brandon falando...

Já fazia um mês inteiro que estavam no espaço, estavam bem, havia bastantes suprimentos e ainda não haviam chegado ao seu destino, à nave era rápida, mas aparentemente o portal ficava muito mais longe do que imaginavam.

Os garotos não tinham muito que fazer enquanto viajavam pelo espaço, então apenas treinavam e faziam reuniões diárias apenas para saber a situação geral, fora isso nada fora do normal acontecia. No entanto aquele dia fora uma exceção.

— E então como estamos? —Timmy entrou na cabine de controle encontrando apenas Brandon e Hélia.

O ruivo assim como os dois outros garotos presentes usavam roupas casuais, não viam necessidade de usar os uniformes, ainda mais que a nave os mantinha seguro de tudo que se encontrava do lado de fora. Timmy usava uma calça moletom cinza folgada e uma camisa de manga longa azul, enquanto segurava uma prancheta que mostrava imagens hologramáticas da quantidade de comida e água que ainda tinham e uma estimativa de tempo de duração.

— O mesmo — Brandon suspirou cansado, com os braços cruzados atrás da cabeça, deitando-se na cadeira — Apenas o espaço frio e vazio, e às vezes com muito lixo.

Brandon usava um casaco por cima de uma regata escura e calças compridas confortáveis o suficiente para que ele pudesse dobrar as pernas.

— Sem danos, problemas ou nada de anormal ainda — Hélia falou sentando-se de perna cruzada na cadeira, com seus cabelos soltos.

Hélia usava apenas uma camisa simples, de mangas curtas e uma calça moletom como a de Timmy, mas em Hélia as roupas pareciam muito mais sofisticadas, como se tivessem sido feitas para ele.

Timmy sorriu.

— Mais um dia ótimo — Falou anotando algo em sua prancheta digital — Continuem monitorando e se acontecer algo, me avisem.

Os garotos assentiram e Timmy se retirou. Brandon bufou impaciente.

— Que tédio — O garoto murmurava girando a cadeira.

Hélia riu com o comportamento infantil do amigo

Brandon gostava do fato de não estarem correndo perigo e etc é claro, mas eles eram especialistas, guerreiros, viviam na adrenalina, então estar a um mês sem fazer mais nada além de acordar e dormir era novo para ele.

Claro, ele às vezes treinava com o Sky ou Riven, para ser manter preparado e com reflexos, mas não passava disso, treinamentos e mais treinamentos. Brandon sentia falta de muita coisa, mas ele sabia que grande parte da falta que sentia das coisas, era culpa da ansiedade sobre o que os aguardava quando chegassem à ilha.

Ele havia aceitado ir, não queria mudar de ideia ou dar para trás, mas  ele não sabia o que pensar, Timmy falou a consequência de querer trazer alguém de volta a vida, estava disposto a ir até o fim, mas tinha medo de nunca mais ser o mesmo, e queria sentir tudo por uma última vez.

Ás vezes ele fechava os olhos e lembrava-se dos beijos com Stella, da montaria com dragões de Fonte Rubra, do seu quarto no dormitório, dos seus pais, das aventuras que viveu com o seu time, e quando abria os olhos tudo sumia. Brandon tinha medo de fechar os olhos e não ver mais nada.

Ele estava tão preocupado com isso, que não estava nem acreditando que estava tendo pensamentos tão reflexivos e profundos. Nem parecia ser ele mesmo.

Mas então Hélia o trouxe de volta ao mundo real.

— O quê? O quê? — Brandon levantou atônito da cadeira, caindo para o lado.

— Volta logo para o seu lugar — Hélia gritava, Brandon nunca havia visto o garoto gritar antes.

Brandon piscou, voltando ao seu lugar.

— Relatório — Hélia gritou mais uma vez.

Brandon abriu um holograma da nave bem a sua frente, a barreira de proteção piscava, e em várias partes diferentes o brilho se intensificava, indicando os pontos onde estava sendo atingida mais fortemente.

— Campo de força em 76% e baixando, transferindo força do propulsor para o escudo, não há aberturas no casco ou falha de qualquer sistema da nave, tudo está intacto, estamos aguentando bem — Brandon gritava, e ele nem sabia o por que, e não sabia nem o que estava acontecendo, até olhar para frente.

Logo a frente deles, havia um mar de destroços de meteorito, se estendendo em todas as direções como uma enorme muralha quebrada em mil pedaços, o problema é que esses pedaços eram quase do tamanho da nave, na qual se chocavam com toda força.

Os alarmes zuniam pela ponte, os escudos estavam aguentando mas quando passavam por uma rocha, logo atrás vinha outra muito maior, a cada novo impacto a força do campo diminuía e Brandon não poderia repor com a força do propulsor ou de qualquer outro sistema novamente, senão ficariam a deriva, era arriscado até atirar naqueles imensos blocos de pedra, os estilhaços poderiam enfraquecer ainda mais o campo de proteção da nave.

— O que está... — Sky entrou na ponte correndo, com Riven e Timmy logo atrás, interrompendo a própria fala ao ver as pedras na sua frente.

— O campo de força está cedendo, não podemos explodir essas pedras e não vejo caminho que de para contornar — Hélia gritava tentando manter o leme firme.

Brandon desviou o olhar para os garotos que haviam acabado de entrar, cada um tomou uma posição, mas dava para ver que não sabiam o que fazer.

E então Brandon se lembrou do treinamento com os dragões.

— Eu já sei — Brandon gritou olhando para Hélia — Preciso que mantenham a gente firme, Riven assuma minha posição.

Brandon falou levantando-se, correndo para uma parede ao lado de Hélia, ao espalmar a mão, um armário se abriu e Brandon pegou cinco comunicadores, dividindo-os entre os garotos.

— Mantenha a linha aberta — O moreno correu para a porta, enquanto a nave tremia a cada nova colisão.

— Espera o que você vai fazer? — Sky se segurou, quando mais uma rocha fez a neve estremecer.

— Vou até o propulsor e transferir a energia de todos os sistemas para ele, só da pra fazer manualmente, vai  ser um salto de fé, mas é a única chance.

— Você propõe uma queda de todos os nossos sistemas de defesa em um ambiente hostil? —Riven falava irritado, enquanto se segurava no painel de controle onde Brandon estava.

O moreno sorriu e sai correndo.

O especialista corria pelos corredores da imensa nave, deslizando e se segurando onde podia a cada novo choque, e então uma voz ecoou em seus ouvidos.

— Os escudos estão em 50% — Riven soava agressivo — O que quer que vá fazer, é melhor fazer logo — Desligando em seguida.

Brandon entrou desesperadamente no elevador, indo para o andar das máquinas, quando a porta abriu, a baforada de ar quente quase o derrubou, o moreno colocou um braço na frente do rosto, se protegendo do ar quente do lugar, enquanto corria tentando não esbarrar em nenhum cano fumegante.

— Brandon —A voz de Sky soou no seu ouvido — Você está bem?

— Poderia estar melhor, mas tô vivo — O garoto ouviu o loiro rir do outro lado, e continuou — Estou quase lá, aguentem mais um pouco, estejam prontos ao meu sinal para aceleração máxima.

— Certo — Sky afirmou e desligou.

Após andar mais uns metros, ele finalmente a viu, uma imensa placa de pontos brilhantes com uma chave circular no meio, se aproximou com dificuldade e uma balançada quase o fez ir de encontro a um amontoado de dutos fumegantes.

— Timmy — Brandon gritou, apertando no fone.

— Estou aqui cara — Timmy falou, parecendo aliviado.

— Ótimo — Brandon chegou perto da imensa placa, segurando a chave com força — Pronto?

— Esperando seu sinal — Timmy afirmou.

Brandon torceu mentalmente para que aquilo realmente desse certo e que ele não virasse um especialista frito e matasse todos na nave.

É, o que poderia dar errado?

O garoto respirou fundo, contando até dez mentalmente e então gritou.

— Agora — Girando a chave.

Todas as luzes se apagaram e os sistemas fizeram um barulho engraçado enquanto eram desligados, e por um segundo desesperador nada aconteceu.

E então Brandon foi jogado para trás, batendo suas costas nos botões e alavancas da placa de controle, fazendo uma careta, e em um segundo depois o garoto estava caído no chão e tudo se iluminou e as máquinas voltaram fortes como uma locomotiva, só que espacial. E alguém falou em seu ouvido.

— Você conseguiu — Timmy falou eufórico do outro lado.

Brandon sorriu.

— Mais um dia ótimo — O moreno falou ofegante, escutando Timmy rir do outro lado.

— E foi isso garotas, eu sou incrível — O garoto fez uma pose heroica em frente à tela — Nos vemos em breve — O garoto sorriu, estendeu um dos braços na direção da tela e tudo ficou escuro.