21º Capítulo

“Aiii não Ana. Mas nem pensar…” – disse , logo assim que percebi o seu plano.

-“Ai Inês vá lá. Ao menos experimenta!” – suplicava ela.

-“Ana estamos em pleno inverno e queres que vá com esse vestido? Se é que posso chamar isso de vestido… mal o vejo de tão curto que é!” – ela olhou para mim indignada com as sobrancelhas erguidas e com a testa franzida. Deve-se ter apercebido que eu tinha razão, porque depressa a sua testa voltou a estar lisinha.

-“Bem… se calhar tens razão. Mas tens de ir bonita á festa, isso é garantido!”- exclamou ela, novamente animada e cheia de energia para percorrer mais lojas.

Eu não sei em quantas lojas entrámos e saímos até esta busca á “ roupa para festa ideal” ter terminado. Cheguei a casa já estava escuro  - ok, no inverno escurece muito cedo, mas digamos que cheguei a casa já eram 22h16m e a minha tia estava preocupadíssima comigo. Lá lhe expliquei o quanto sofri nas mãos da Ana até aquela hora e a sua preocupação desvaneceu-se , dando lugar a um grande sorriso.

-“Querida mostra-me lá esse vestido que tanto demorou a ser encontrado.” – os seus olhinhos até brilhavam de alegria . Como sentia saudades de ver o mesmo brilho do olhar na minha mãe.

-“ Tia se não se importa , prefiro que veja tudo no dia da festa. É já depois de amanha. Com os acessórios e o cabelo arranjado, sabe?” – pedi-lhe meio sem jeito. Sentia-me tão cansada… mas agradecida por a Ana ser uma chata persistente. O vestido era mesmo lindo. Ambas encontrámos o vestido perfeito.

-“Oh minha querida… claro que não me importo. Já vi que estás cansada.” – deve ter-se apercebido que bocejei – “Afinal amanha de manha ainda tens aulas não é?”

-“Sim. Amanha ás 8h15m tenho que estar nas aulas… Bem tia vou me deitar ‘tá?”

-“Claro… mas não queres jantar? Eu guardei para ti.”

-“Obrigada tia. Mas jantei com a Ana no mc donalds. Fica para o meu almoço amanha.” – disse-lhe sorrindo e dando-lhe um beijo –“ Boa noite tia. Até amanha!”

-“Boa noite minha linda. Sonhos cor de rosa” – disse beijando a minha testa. Tanto carinho , fez-me lembrar a minha mãe e uma dor grande se alojou no meu peito. Mas disse para mim mesma que não iria chorar.

Fui vestir o pijama e tratar da minha higiene pessoal – algo importante a nunca esquecer . Guardei o vestido e as outras compras no roupeiro e fui para a cama.

Estava quase a adormecer quando o telemóvel vibrou. O meu coração começou a acelerar. Será que era o Sérgio? Será que ele me queria dizer que queria ter me convidado mas só não o fez pelo amigo?

“Uma mensagem nova de João” , assim que vi de quem era, fiquei logo triste. Claro que o Sérgio não me iria mandar uma sms, muito menos a dizer-me tudo aquilo que eu queria que ele dissesse. Acorda Inês – pensei para mim.

Abri a mensagem: “Olá Inês… desculpa sei que já é um pouco tarde. Só te quero dizer que vais adorar a festa e estou super feliz por ires comigo. Eu adoro-te! Boa noite , dorme bem. Beijos ”

O João era um querido e eu só esperava que ele não me adorasse do modo que a Ana pensava e, que eu começava a suspeitar.

Decidi não responder á sms, pois senão nunca mais adormeceria. Amanha agradecia-lhe a mensagem. Voltei a pousar o telemóvel na mesa de cabeceira , e deitei a minha cabeça sobre a almofada fofinha . Sentia-me relaxada, finalmente tinha um momento de descanso depois de esta tarde tão infinita.

Já era de manhã quando recebi um telefonema. Com pouca vontade , ainda um pouco ensonada peguei no telemóvel e atendi.

-“Estou?” – perguntei com a voz a falhar.

-“Inês?” – despertei instintivamente, sentando-me na cama. Aquela voz era mais que familiar.

-“O-olá Sérgio!” – disse meia gaga. Fantástico agora ele ia achar que eu era uma totó.

-“Bom dia Inês. Queria te fazer um convite!”

-“Já vais tarde” – pensei, pelos vistos um pouco alto de mais.

-“O quê? Como assim já vou tarde?”-perguntava ele confuso.

-“Oh não era contigo. Desculpa! Diz.” Fez-se um silêncio do outro lado da linha. Será que ele já estava arrependido de ter ligado? Ai Inês estragas sempre tudo!

-“Queria saber se querias ir dar uma volta comigo hoje?”

-“Hoje? Na escola?!” – não estava a perceber este convite. Devia estar a gozar comigo.

-“Não tola.” – riu-se – “ Queria mostrar-te um pouco de Tavira hoje. Queres?”

-“Sim!” – ok. Se calhar respondi um pouco rápido. Agora ele ia pensar que eu estava desesperada por estar com ele. Não é que não ansiasse por isso, mas ele escusava de saber.

-“ Óptimo. Então depois de almoço vou buscar-te a casa ok?” – sentia-me como se fosse explodir de alegria a qualquer momento. Ele queria estar comigo , ele afinal queria estar comigo.

-“Ok. Por volta das 14h?” – perguntei.

-“Sim. Vá beijinhos. Até já linda.” – sentia-me feliz. Parece, que afinal, tudo estava a começar a compor-se. Eu ia passar a tarde com o Sérgio. Não a fazer um trabalho, mas a passear com ele. Mas onde será que ele me ia levar?