Se pudesse voltar para o dia em que disse sim, para o dia em que o aceitei, para o dia em que disse que o amava, eu voltaria, até mesmo para o dia em que nos conhecemos, evitaria tudo aquilo.

Mathew não era aquilo. Não aquele monstro, não daquela forma. Ele nunca mataria alguém, não levantaria a mão para qualquer animal, muito menos para mim.

Eu queria acreditar mesmo que só um pouco nele, mesmo que só naquilo que eu ainda tinha um pouco de fé. Meus olhos tinham visto os corpos despedaçados, meu nariz havia sentido o cheiro do sangue e meus lábios seu gosto, mas ainda assim, não havia uma forma de alguém tão doce quanto Mathew ter-se tornado naquilo e, mesmo que houvesse, a culpa era minha.

Se... ao conhecê-lo eu não tivesse insistido naquela amizade, Mathew estaria vivo e bem agora, não teria deixado de ser alguém para se tornar algo, se não fosse por mim e pelo amor que tanto cultivou, ele estaria aqui e não eu. Seu amor fez com que não quisesse ver o meu tempo passar, ver a pequena chama de vida em meu corpo se extinguir. Seus sentimentos fizeram-no cego à vida e ao quão pouco interessada ela estava quanto aos nossos desejos.

Eu devia ter notado! Deveria ter percebido mesmo que a mínima mudança em seu comportamento, deveria ter percebido que aquele rapaz era um bruxo ou o que quer que fosse, porém eu deveria ter percebido que ele o estava fazendo mal! Se não tivesse sido tão egoísta, nada disso teria acontecido!

— Mathew, como foi amar alguém como eu?

Quando pedi à menina Chise que me ajudasse, que nos matasse, eu nunca imaginaria que ela nos salvaria, quis apenas que a dor dele cessasse e ela o fez — no entanto, diferentemente de tudo o que imaginei durante todos esses anos de contenção, ela nos salvou. Se nós agora não sentimos mais dor, nem tristeza ou aflição, é tudo por causa dela: da pequena maga.

— Como não amaria? - Estendendo sua mão até alcançar a minha, ele entrelaçou nossos dedos. - Nós vamos nos separar agora, Mina, mas eu ainda quero me desculpar, por tudo o que eu fiz.

— A culpa foi minha

— Não foi, eu me deixei enganar, eu não quis aceitar e então... E então, por puro egoísmo, eu te matei. Me desculpa, não, me perdoa. Eu me arrependo de tudo. Me arrependo de matar todos aqueles gatos, o que foi que eu fiz, Mina?! Eu matei os animais que tanto te faziam feliz, eu sou um monstro...

— Está tudo bem agora, aquele não era você, não fez aquilo sozinho. A culpa não é sua. Mathew, quando nos separarmos, quero que veja o quão feliz você me fez. Só tivemos um momento ruim e mesmo assim você ficou comigo até o final. Eu não poderia encontrar ninguém melhor que você ou que me fizesse tão feliz. - Eu só me arrependo de ter aceitado casar contigo e te prender naquela casa, me arrependo de ter te impedido de seguir sua vida e de ter filhos, me arrependo de ter nascido; se eu não tivesse, você ainda estaria aqui... Mathew?

Um vento muito forte levantou meus cabelos e senti que deveria andar. Puxei-o comigo e vi a forma com que folhas coloridas se desprendiam de nossos corpos; parecíamos um. As folhas desmembravam nossos corpos e mesmo assim, eu ainda me sentia completa.

Mesmo em nosso último segundo, não soltamos nossas mãos, não me senti sozinha, foi como se estivéssemos pegando no sono, aconchegante e tranquilo como sentar ao sol. Foi assim que deixamos de existir...

Mesmo com um final como aquele e com as inseguranças, eu realmente não me arrependia verdadeiramente de nada.