Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 3
O segredo de Cris e Mabel




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Enquanto tomava seu copo de leite, Cris recordou-se da inesperada visita de Mabel.

Aos 18 anos, Mabel estava terminando o ensino médio no Colégio na Suíça. Mas, ao contrário do que se poderia esperar, ela veio visitar o pai, Gibby, aparentando tristeza e abatimento.

Cris não deixou de reparar que havia algo errado com Mabel e perguntou a ela a respeito, sutilmente, algumas vezes, mas ela apenas respondia que era cansaço.

Chegou o dia da partida de Mabel, de volta à Suíça. Ela estava no seu antigo quarto no apartamento do oitavo andar do Bushwell. Cris passou pelo corredor e ouviu um choro entre soluços. Deu uma leve batida na porta e entrou.

Mabel estava aos prantos, deitada na cama, abraçada ao travesseiro. O rapaz a abraçou e indagou o que houve. A moça então contou toda a sua história:

— Cris, eu me envolvi com um professor do Colégio – entre soluços – Mais velho que eu e casado!

— Bel, você não pode levar um relacionamento desses adiante. Para o seu bem – falou Cris, fazendo carinho nos cabelos longos e loiros dela.

— Eu sei! Mas, agora é tarde demais! Se descobrirem, a minha família vai me odiar e eu vou ser expulsa do Colégio faltando pouco para me formar, por violação a normas de conduta.

— Mas, alguém sabe disso além de vocês?

— Não! Mas, em breve, não terei mais como esconder – chorando mais ainda.

— Como assim?

— Cris, você é a primeira pessoa para quem conto isso, por favor, não conte a ninguém...

— Claro, pode confiar em mim.

— Eu estou grávida!

— Bel, isso é realmente complicado. Ainda mais na sua idade! Mas, eu acho que você deveria contar aos seus pais.

— Como? Eles vão querer saber quem é o pai?

— Você não diz.

— Eu tenho uma ideia melhor. Eu vou me livrar dessa criança. Preciso que você me ajude.

— Eu não vou te ajudar a matar uma criança.

— Se não me ajudar, vou fazer sozinha! Eu não posso ser mãe solteira aos 18 anos. Além disso, eu nunca vou conseguir amar essa criança como ela merece.

— Por que não? É sua filha!

— Eu realmente comecei um romance com esse professor, mas, era só uma paquera e convites para lanches. Eu sabia que ele era comprometido e, no fundo, eu só gostava desse jogo de sedução. Acontece que um dia ele me convidou para estudarmos na biblioteca até mais tarde, como uma monitoria. A biblioteca fechou, era tarde e ele me chamou para a sala dele, nos escuros e vazios corredores do Colégio.

— Mabel, não vai me dizer que esse cara te obrigou – falou Cris, com evidente irritação na voz.

— Obrigou! Eu era virgem! Ele trancou a porta da sala dele, me jogou em cima da mesa dele, tampou a minha boca, me segurou e consumou o ato. Dessa violência resultou a criança no meu ventre. Entende por que preciso me livrar dela?

— Ainda assim, não entendo. Bel, eu vou contar um segredo. Eu sou filho de um ato de violência.

— Como assim, Cris?

— Eu achei o diário da minha mãe, recentemente, nas coisas deixadas para mim, por ela. Meu pai e ela realmente namoraram, mas ele a embebedou na noite em que fizeram sexo, quando ela acordou teve o maior susto e sentiu que não queria ter feito aquilo.

— Nossa, Cris. Coitada da Faye.

— Ela era só uma menina, mais nova que você, mas não desistiu de mim. Não quero que desista do seu filho, também.

— Cris, eu não posso... Por favor, me ajuda... – chorando e abraçando o moreno – Eu não tenho mais ninguém para pedir ajuda. Meus pais não entenderiam.

— Eles vão entender se você falar com eles.

— Você não entende! Será um escândalo! Eu vou acabar expulsa do Colégio, sei que vou, a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco, não vão acreditar na minha história e falta tão pouco para eu me formar. Podemos procurar uma boa clínica de aborto, você vai comigo e...

— Não, Bel! Se eu assumir seu filho, você não desiste dele?

— Você não precisa fazer isso por mim.

— Eu quero fazer isso por você.

— Você é o namorado da Belinha e sempre me viu como sua irmã, ninguém vai acreditar que você é o pai do meu bebê. Melhor nos livrarmos do problema simplesmente.

— Não chame seu filho de problema, Bel. É uma vida. Não veio da forma mais bonita, mas está aí, dentro de você, sendo gerado. É uma pessoa. Abortá-lo é o mesmo que matá-lo. Não vou ser um assassino ou permitir que você seja. Eu tenho uma idéia para que todos acreditem que eu sou o pai.

Cris contou o seu plano a Mabel e ela concluiu:

— Parece-me bom, mas isso vai acabar com a sua reputação. Carly e meu pai vão achar estranho o nosso envolvimento e a Belinha vai te odiar para o resto da vida.

— A Belinha é forte, decidida e tem um futuro brilhante pela frente. Ela vai me superar. Não sou tudo para ela. Eu sempre a admirei por essa força.

— Já eu sou fraca e preciso de você, não é?

— Não, Bel. Você está fraca nesse momento, não é fraca. Está precisando de mim e eu vou te proteger como sempre fiz a vida inteira.

Os dois se abraçaram. Em seguida, colocaram o plano em prática.

Carly e Gibby chegaram em casa, chamando por Mabel e Cris. Ao não encontrá-los, subiram até o quarto da moça, logo após procurarem no quarto do rapaz.

O susto dos dois foi enorme ao verem Mabel e Cris, apenas com roupas íntimas e um fino lençol por cima, dormindo abraçados.

— O que você fez com a minha filha? – gritou Gibby, exaltado.

Carly ainda estava em estado de choque, mas temeu pelo filho dizendo ao marido:

— Calma, Gibby! Não faça nada sem pensar – abraçando-o a fim de que não pulasse em cima de Cris.

Mabel se sentou e Cris também. Ela falou:

— Pai, eu e o Cris estamos apaixonados. Ele não fez nada que eu não quisesse.

Carly estranhou:

— Cris, você está apaixonado pela Mabel? Ela é sua irmã! Você namora a Belinha!

— Mabel e eu não temos parentesco, vocês sabem disso. Aconteceu, mãe. Não me orgulho disso, mas aconteceu.

No mesmo dia, Cris mandou a mensagem que dilaceraria o coração de Isabelle. Esperaram algumas semanas e anunciaram à família a gravidez de Mabel.

O casamento veio logo, antes que a barriga ficasse grande demais. Numa celebração simples no cartório e com pequena recepção no apartamento da família, para poucos convidados.

Até o nascimento de Ellie, Cris nunca havia tocado Mabel e assim prosseguiu nos primeiros meses de vida da menina. Mas, aos olhos de todos, eram uma família de verdade, tendo que passar os dias em representação diante de Gibby, Carly e Sophie, com os quais residiam. Davam selinhos o tempo todo, abraçavam-se e dormiam na mesma cama, como irmãos, por muito tempo.

Mas, sem perceber, Cris foi enxergando Mabel cada vez mais como sua esposa e menos como sua irmã. Recebeu Ellie, desde o nascimento, como sua filha. Assim que a viu, pela primeira vez, saindo de dentro de Mabel, sentiu o amor de pai nascer também.

Trabalhava e estudava duro, a fim de crescer na vida e manter a sua família. Quando chegava em casa à noite, cansado, encontrava a alegria de Ellie e o companheirismo de Mabel. Ali estava a sua força para continuar.

Certa noite, reparou no quanto Mabel era bonita dentro de uma curta camisola de seda. Os olhares do marido não passaram despercebidos a ela, que se sentou na cama ao lado dele, bem perto. Ele instintivamente se afastou um pouco. Ela indagou:

— Você não me quer perto de você?

— Não é isso, Bel. Não é você. Sou eu. Não quero perder o controle. Eu te devo respeito.

— Eu sou a sua esposa. Não teria nada demais. Eu também te quero – aproximando-se de Cris e beijando os seus lábios e em seguida aprofundando o beijo com a sua língua.

O rapaz correspondeu ao beijo. Era a primeira vez que se beijavam para valer. Antes, apenas selinhos na frente dos outros.

O corpo do moreno aqueceu ao beijo e aos toques dela, que passava as mãos pelos cabelos, pescoço e costas dele. Logo, ela se sentou no colo dele e o clima esquentou ainda mais.

Em pouco tempo, Cris já havia deitado Mabel na cama e tirado a camisola e a calcinha dela, únicas peças que vestia. Livrando-se das próprias vestes e consumando o ato sexual.

Depois disso, o casamento tornou-se real. Seria a primeira de muitas noites como aquela.

Cris chegou a acreditar que Mabel poderia ser o seu amor, mas, revendo Isabelle, depois de tantos anos, sentia-se confuso e angustiado.

Terminou de tomar o leite, depois de tantas lembranças e voltou para o quarto. Deitou-se ao lado de Mabel e a abraçou. Ela representava a sua vida real, por escolha própria.


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