Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 18
A verdade sempre aparece




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Isabelle continuou cuidando de Ellie nas semanas seguintes com carinho e iniciou uma especialização no período da noite. Estava gostando da sensação de voltar à sala de aula, de conhecer novas pessoas e de ter uma rotina fora de casa.

Porém, ela começou a perceber que Ellie vinha sempre da creche com manchas roxas pelo corpo, começando a suspeitar que ela apanhava das outras crianças. Informou sua desconfiança a Cris, que falou com a professora, a qual negou qualquer agressão. A loira não ficou satisfeita e decidiu ela mesma acompanhar Cris e Ellie à creche, falando para a professora, Margareth, de pouco mais de 20 anos:

— Ellie tem manchas roxas pelo corpo e a senhora nega agressões de coleguinhas. Eu sei que ela não se machuca quando está fora daqui, porque eu cuido dela! A senhora tem que ficar mais atenta, afinal, não é justo que ela venha para cá para ser machucada, onde deveria ser cuidada!

— Primeiramente, não é senhora, ainda sou senhorita. Em segundo lugar, eu sou muito atenta e posso garantir que aqui ela não apanha ou se machuca. Da mesma forma que os pais desconfiam de mim sem provas, posso desconfiar dos pais, afinal, vocês podem estar batendo nela ou negligenciando cuidados de modo que ela se machuque, pois ela só passa o período da manhã aqui.

—Como ousa? Nós deixamos Ellie aqui por confiarmos! Ela vai pra casa desse jeito! Pode olhar, ela tem manchas roxas por todo o corpo! Em vez de nos acusar, deveria verificar quem a machuca aqui!

Isabelle já estava exaltada e Cris tentou contornar a situação:

— Senhorita Margareth, não queremos brigar, é apenas um pedido, de mau jeito, para que preste mais atenção na interação dela com as outras crianças, porque ela realmente tem manchas roxas que desconhecemos a origem.

— Está bem – respondeu a professora, secamente – Agora tenho que entrar e iniciar as atividades com as crianças.

— Claro – concordou Cris.

Isabelle ainda olhava desconfiada para dentro da sala, mas Cris a puxou pelo braço:

— Melhor irmos.

Quando entraram no carro, o rapaz começou a rir:

— Você é uma mãe muito raivosa, uma verdadeira leoa defendendo a cria.

— Não sou a mãe de Ellie.

— Mas, não negou quando a professora fez essa afirmação.

— Ela não tem nada com isso. Também podia desmerecer a minha fala se soubesse que não sou a mãe dela. Estou realmente preocupada com esses hematomas na menina.

— Você seria uma mãe realmente incrível, ainda que explosiva – rindo mais uma vez.

Isabelle não conseguiu sorrir à fala de Cris, sentiu uma pontada de dor no peito, lembrou-se que poderia ter sido mesmo uma mãe incrível para o bebê que perdeu tão precocemente, então, mudou de assunto:

— Mabel deu notícias?

— Não. Falei com a Melanie outro dia. Ela disse que a filha está realmente internada e sem previsão de alta.

— Que pena.

— Pois é.

Alguns dias depois, Cris bateu à porta da família Puckett Benson tarde da noite. Sam abriu e ele parecia desesperado com Ellie no colo, envolta em uma manta, perguntando:

— A Belinha está?

— Sim, ela já foi dormir. O que aconteceu?

— Minha filha está com 40 graus de febre!

— Então é melhor levá-la ao médico.

— Eu vou fazer isso, mas ela não para de chamar pela Belinha. Se não for pedir muito, gostaria que sua filha me acompanhasse.

— Está bem, eu vou chamá-la.

Isabelle levantou-se rapidamente, nervosa, ao saber que Ellie estava com tanta febre.

Vestiu-se rapidamente e acompanhou Cris. Enquanto o rapaz dirigia para o hospital, ela levava a menina nos braços, via as faces da pequena bastante vermelhas, enquanto ela balbuciava coisas incompreensíveis, teve vontade de chorar, mas, conteve-se, pensando que devia ser forte pela pequena.

Chegaram ao hospital e a menina foi rapidamente encaminhada para o pediatra, após um rápido exame clínico, pediu encaminhamento para exames laboratoriais. Informou que começaria a administrar um remédio para diminuir a febre e que a pequena deveria ficar em observação enquanto os exames não ficassem prontos.

O dia já estava amanhecendo quando o médico apareceu, chamando Cris e Isabelle para conversar no consultório:

— Eu tenho uma notícia que é difícil para qualquer pai e mãe ouvir, mas, vocês precisam ser fortes por ela, nem tudo está perdido. Está no começo e um transplante poderá reverter o quadro facilmente...

— Dr., eu estou muito nervoso. Por favor, fale logo o que a minha filha tem – pediu Cris.

— Está bem, serei direto, a menina está com leucemia.

A notícia caiu como uma bomba para Cris que não conteve as lágrimas. Isabelle também começou a chorar, abraçando o rapaz em consolo. O médico prosseguiu:

— Mas, um de vocês certamente será compatível com a menina. Pai e mãe são os potenciais doadores mais adequados de medula óssea, pela proximidade genética.

— Eu não sou a mãe dela – informou Isabelle – Embora quisesse muito – confessou, chorando.

— E eu não sou o pai biológico – contou Cris.

Isabelle se surpreendeu com a revelação. Apesar de Cris já ter lhe dito isso no dia em que fizeram amor no carro dele na praia, não havia acreditado.

— E onde estão os pais biológicos da menina? – perguntou o médico.

— Minha ex-esposa está internada numa clínica psiquiátrica – explicou Cris – Não falo com ela há meses! Está incomunicável. Não conheço o pai biológico da Ellie, só sei que é um professor Suíço.

— A situação é realmente complicada. Quanto antes fizermos o transplante, melhores são as chances de Ellie – falou o médico.

Isabelle se manifestou:

— Sou prima da mãe dela, tem alguma probabilidade de eu ser compatível?

— Sim, sempre tem. Não tão boas como na hipótese de genitores, mas há! O pai adotivo, mesmo sem laços biológicos, numa sorte, também pode ser compatível. Por vezes, estranhos tem melhor compatibilidade que membros da família, por isso a importância do cadastro de doadores de medula.

— Eu quero fazer os testes de compatibilidade – declarou Cris.

— Sim, claro. Também vou fazer o pedido no cadastro de doadores de medula. Temos algumas alternativas.

— Eu vou falar com a avó materna dela e tentar trazer a mãe dela pra cá o mais rápido possível – disse Cris.

— Isso é realmente importante – concordou o médico.

Cris e Isabelle saíram tontos do consultório do médico. A moça ligou para a mãe, contando o ocorrido e o rapaz para Melanie, mas a ligação deste só caía na caixa postal, deixando-o ainda mais nervoso.

Ele sentou-se no sofá da sala de espera e caiu em prantos. Isabelle o abraçou, dizendo:

— Eu também estou sofrendo muito, você sabe que amo a sua filha como se fosse minha. Mas, vamos confiar que vai dar tudo certo! Eu estou aqui com você para o que der e vier. Ellie vai ficar boa. Ela é tão pequena, tem tanta vida pela frente.

— Eu salvei a vida dela uma vez, mas, agora, me sinto tão impotente, porque não posso salvá-la de novo!

— O que quer dizer?

— Mabel queria abortá-la. Disse que Ellie é fruto do estupro de um professor!

— Nossa! – foi tudo o que Isabelle conseguiu dizer, diante do choque da revelação.

— Então, eu disse a Mabel que me casaria com ela e assumiria o bebê se ela não o matasse!

— Por isso você terminou tudo comigo?

— Sim, por isso! Eu me coloquei no lugar do bebê que estava sendo gerado, porque minha mãe biológica não desistiu de mim, mesmo após ter sido abusada pelo meu pai! Se eu vivi, queria que aquele bebê tivesse uma chance também!

— Eu nunca soube de nada disso, por que não me contou?

— Seria mais difícil desistir de você, me afastar, se você não me odiasse. Eu sei que você insistiria na nossa relação e eu não conseguiria seguir em frente.

— Eu poderia me afastar por um tempo e...

— Você não conseguiria!

— Verdade, eu não conseguiria!

— Doeu demais te deixar para trás. Você sempre foi o grande amor da minha vida! Mas, meus instintos protetores afloraram diante da revelação de Mabel! Eu queria cuidar dela, que até então era a minha irmã mais nova, frágil, necessitada de proteção, vítima de um abuso, e também do bebê, que teria poucas chances de nascer diante de tudo. Eu não pensei muito bem, maquinei um jeito de todos acreditarem que eu era o pai do bebê e logo coloquei em prática. Pensei que você era forte o suficiente para se virar sem mim e que naquele momento, eu poderia salvar duas vidas. Eu sei que fui um idiota! Muitas vezes eu me arrependi, pensei em você, imaginei que seu tivesse agido diferente, poderíamos estar casados e ter filhos. Mas, bastava olhar para Ellie, que o arrependimento passava! Ellie é a minha filha desde que nasceu e não há nada mais importante no meu mundo do que ela!

Isabelle abraçou Cris e falou:

— Agora eu entendo tudo. Perdoe-me por ter pensado tão mal de você, quando, na verdade, você é um homem muito digno, que teve um gesto muito nobre. Poucas pessoas no mundo teriam a sua coragem. Eu te admiro muito por isso.

— Eu é que te peço perdão, por ter te causado tanto sofrimento, por ter te feito acreditar que não fui fiel, que desprezei o seu amor, quando, na verdade, não deixei de te amar um segundo sequer por todos esses anos.

— Apesar da mágoa, eu também nunca deixei de te amar, Cris.

Os dois ainda choravam, mas, fitaram-se, muito emocionados e aproximaram-se para um beijo apaixonado. Tomaram os lábios um do outro, sentindo as lágrimas nos seus rostos molhados e aprofundaram o beijo com as suas línguas na mesma sintonia.

Foram interrompidos pela enfermeira, que os chamou para os exames de compatibilidade para doação de medula óssea.


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