Billy está muito feliz hoje. Primeiro, porque ele viu o menino saindo da casa e caminhando em sua direção pelo quintal. E apenas a presença dele já fez o pequeno vira-lata erguer a cabeça com alegria, enquanto o rabo balançava num movimento quase involuntário.

Um segundo depois, Billy não aguenta mais e vai correndo até o garoto. Pula em suas pernas e se aquece com a risada que ouve em resposta. É nesse momento que Billy nota outras coisas: a guia e a coleira que o menino trouxe consigo.

Billy já tinha visto aqueles objetos fascinantes outras vezes. Estão relacionados a algo que o deixa ainda mais animado. Os apetrechos servem para levá-lo para passear. E como um bom cachorro, Billy simplesmente adora passear!

— Calma aí, amiguinho. Assim eu não consigo... — O menino ri mais alto e cai no chão ao tentar colocar a guia e a coleira no agitado animal.

Billy parte para cima dele e lambe o rosto risonho com vontade. O coraçãozinho bate apressado e a urgência para ganhar as ruas aumenta num nível insuportável. Ele late com impaciência.

E teria latido de novo e dificultado ainda mais o trabalho do menino, caso o homem — que mora com eles e com a mulher da casa — não aparecesse na sequência e tomasse as rédeas da situação.

Billy não tem medo dele; nutre respeito. O que, para um cachorro, é quase a mesma coisa.

O homem é mais sério e firme do que o menino e a mulher jamais serão com ele. Geralmente o trata bem. Às vezes, soa distante e um tanto indiferente. O mais importante, no entanto, é que exala um espírito de liderança que Billy não consegue ignorar. Por isso, o cachorrinho procura se acalmar um pouco e deixa que o homem o ajeite para passearem logo.

Imaginem qual não é a decepção do pequeno Billy quando descobre que esse não é um passeio como os outros. Para começar, eles não o levam para correr no parque próximo da casa. Ao invés disso, Billy se vê num lugar estranhamente familiar, preso numa sala sem graça, na companhia de outros animais e humanos que não dão a mínima para ele.

Para piorar, um sujeito aparece em uma das portas de repente e mostra os dentes malignos para ele. Billy por fim se lembra que já esteve ali antes. Não se recorda com detalhes — pois era ainda mais novo —, mas ele sabe que essa não é a primeira vez que está enrascado.

Sem que possa lutar contra a armadilha, Billy é levado a outra sala. Com seus instintos já bem aguçados, o cachorrinho tem um mau pressentimento. Mau pressentimento que se confirma quando ele percebe o tal sujeito aproximando algo pelas suas costas.

A pontada da agulha pode ter sido delicada. O desconforto, completamente suportável. Porém, a decepção dói em Billy e o deixa frustrado. Esse não é o passeio pelo qual ansiou. Ele foi enganado!

Ao seu lado na sala do veterinário, Miguel consola o amigo:

— Eu também não gosto de injeção, Billy. Mas o papai disse que é para o seu bem. Para você não ficar doente, entendeu?

O cachorrinho não entende. Contudo, ele é capaz de sentir o amor gentil no tom de voz do seu pequeno dono. Por isso, lambe a mão dele com gratidão.

O que nenhum deles sabe nesse momento é que mesmo as agulhas são falhas. E que não existem agulhas para todos os males. Na verdade, elas são bem poucas se pensarmos bem.

É por isso que, às vezes, os animais ficam doentes.

E, às vezes, as pessoas ficam também.