Hear the rain escrita por Mandalay


Capítulo 6
Lamentos para a liberdade




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"O que preciso agora

São sapatos que vão me levar para algum lugar

Alguns que não doam nem parem

Eu sopro a poeira e arrumo as cicatrizes

Eu quero sair"

 

Havia sido um período triste e obscuro aquele que a trouxera aquele distrito. Por um longo tempo ela nem sequer se lembrava de quem era e de onde viera, suas lembranças sendo tão nebulosas quanto as de um vidro embaçado devido a sua respiração sobre ele e enquanto lá fora chovia levemente, era quase impossível encontrar alguém desavisado andando pelas vielas onde o consultório do doutor Theo se encontrava, que era onde Alex estava, respirando pesadamente sobre o vidro da janelinha e observando a chuva lá fora. Estava ali para um exame simples, que tinha como objetivo principal dizer se ela estava livre dos efeitos daquela droga, que lhe fora dada no começo de sua jornada por aquele lugar.

Quem diria que ela acabaria sendo salva, logo quando tudo o que queria era desaparecer sem deixar vestígios. Ela não esperava ter estendidas para si as mãos de dois estranhos, dois homens que mal a conheciam mas que queriam ajudá-la.

— Alex, o doutor quer falar com você - era Nina.

A morena apenas assentiu com a cabeça, pedindo para ser guiada até a pequena sala onde Theo costumava ficar para organizar seus prontuários.

Um rangido se fez ouvir.

O olhar que o médico lhe transmitira era sem muita emoção, algo que ela esperava de um doutor tão competente quanto ele e, mesmo assim não deixava de sentir os pelos em seus braços se eriçando.

— Parece que a droga foi completamente retirada de seu organismo Benedetto. O tratamento, funcionou.

Os olhos de Alex aumentaram consideravelmente de tamanho.

— Mesmo? De verdade?

Ela ainda estava insegura e se-

— Você ainda tem alucinações?

Ela se pôs a pensar em sua última recaída, a última vez que vira Barry e todo aquele sangue. Tudo isso havia sido deixado para trás, e por mais que temesse que a praga voltasse, ela nem ao menos se lembrava de quando tremera feito bambu ao vento, como costumava fazer no começo do tratamento.

Alex respirou fundo.

— Não. Não mais.

O médico esboçou um breve sorriso.

— Então se considere curada.

Ela nunca se sentira tão leve. Aquele era um fardo a menos retirado de seus ombros.

Ao abrir a porta, vozes podiam ser ouvidas do outro lado. Se ela não estava enganada, estavam apenas os três no consultório. Nina estava acompanhada.

Worick e Nicolas a aguardavam na recepção, ao lado da enfermeira prodígio.

— Então Ally?

— Como está se sentindo?

— O que o doutor disse?

Eram perguntas demais juntas para ela processar. Logo agora que acabara de saber que um dos seus grandes problemas fora resolvido, ela precisava respirar um pouco!

Depois de exalar o ar de seus pulmões, ela respondeu:

— O doutor disse que estou completamente curada.

Nina foi a primeira a comemorar, dando um abraço apertado na cintura da mais alta.

— Que bom! Precisamos fazer algo para comemorar sua recuperação!

— Ei, Nina! Não vá roubando as minhas ideias! - choramingava Worick que fora o segundo a abraçá-la.

E enquanto tinha o loiro colocando-a em um cobertor de calor que era seu abraço, Alex procurou por alguma reação no rosto de Nicolas, porém este apenas encarava a janela.

Aquilo a deixara com uma pontinha de desânimo em seu peito.

Depois de se despedirem e acertarem o pagamento, o trio que compunha os faz-tudo seguiu em direção ao pequeno prédio em que moravam.

A chave que ela ganhara meses atrás ainda pesava em seu pescoço. Ela não queria se separar deles, não ainda.

— Bom, é melhor que você descanse bem esta noite. A cama é sua e o sofá é meu.

Ela apenas assentiu ao decreto de Worick com um sorriso cansado nos lábios, se dirigindo ao único quarto da residência.

Mais tarde naquela noite, Alex acordara por algum motivo, não por conta de um pesadelo como de costume. Quando abrira seus olhos se assustara com a vista em sua frente.

Agachado bem próximo ao seu rosto estava Nicolas.

Seus olhos negros a encaravam como se procurassem por algo ali.

— N-nicolas? O que houve, aconteceu algo?

Ele negou com a cabeça. Pedindo que ela não saísse da cama.

— Então, o que esta fazendo aqui?

"Queria confirmar se estava tudo bem mesmo"

Ela o encarou confusa.

— Bem?

"Se o que você disse era verdade. Hoje você não teve pesadelos"

Então ela fora capaz de compreender o que o espadachim queria dizer.

Com uma delicadeza e audácia além do que ela era capaz de imaginar que possuía, Alex segurou as mãos de Nicolas e assentiu com olhos marejados.

"Eu estou bem, de verdade Nicolas. Sem mais pesadelos", fora tudo que conseguira sinalizar com as mãos tremulas.

De repente a sensação de mãos calejadas dominaram seu rosto, ela pode sentir polegares enxugando suas lágrimas.

— VocÊ NÃO deveriA chorar, AleX.

Ele estava certo.

Ela não deveria chorar.

Não mais.


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Notas finais do capítulo

Uau, três capítulos de uma só vez! Deve ser o tempo frio de hoje que me deixou toda empolgada, mas honestamente, tudo que eu quero nesse momento é café quente e um bolo bem gostoso.

Bem, eu negligenciei algumas coisinhas para terminar isso aqui e ainda faltam dois fragmentos, mas eu só os criei para uma ideia desnecessária fazer sentido e hm, eu poderia terminar essa coleção aqui. Só não sei se o faço pra valer.

Esse é de longe o meu favorito! Queria poder escrever algo que tratasse um pouco do processo que a Alex enfrentou para se livrar dos efeitos do TB. Não lembro de ter visto um final claro dessa trajetória no mangá, apenas momentos soltos dela tendo alucinações, então resolvi dar um ponto final a isso, heh. Me pergunto se consegui passar alguma emoção com isso. Esse final ficou tão bonito, queria algo bem marcante para arrematar.

E esse trecho de I Just do RED VELVET até que venho bem a calhar.



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