"A manhã cinza

E o vento passam por nosso país

Mas a moça repousa

Nos braços de seu amado

E agradece muito à noite fria e ao vento por isso"

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Lá fora, o mundo desaba em uma chuva forte e implacável. Posso ouvi-la golpeando o telhado com seus punhos prateados, criando com o uivo do vento uma aura de pesadelo.

A despeito disso, aqui dentro há paz.

Ao meu lado, ele dorme sonhos tranquilos, alheio ao clima hostil que ganha espaço no universo de fora de nossas janelas.

Ainda não sei como conseguimos, mas aqui estamos: juntos. É tudo o que sei. É tudo o que preciso saber.

Nossa história, assim como a tempestade que ruge lá fora, começou sem que percebêssemos. Talvez antes mesmo do fatídico momento da troca de olhares, dos sorrisos bobos, das borboletas no estômago.

Foi resultado de uma série de decisões que pareciam inofensivas, incapazes mesmo de mudar o fim daquela tarde, quem diria de todo o curso de nossas vidas...

Ninguém, nem mesmo nós, sonhadores que somos, seria capaz de imaginar que um amor tão forte nasceria de um encontro casual à beira do lago após um passeio no bosque.

Não achei que teríamos sucesso. Por inúmeras vezes, imaginei que seriamos apenas mais um casal em meio a tantos outros impossibilitados de viver sua paixão, mas ele deu a ideia e eu aceitei.

Fugimos de meu casamento arranjado e nossas famílias, que não toleravam nossa união. Deixamos tudo sem pensar duas vezes.

Sem olhar para trás. Sem despedidas.

Foi perigoso, mas nós passamos por todas as dificuldades e aqui estamos.

Eu faria tudo de novo apenas para vê-lo repousar tão calmo com o brilho do fogo que ainda queima na lareira a iluminar seu rosto. Para vê-lo sorrir. Para tê-lo em meus braços.

— No que está pensando, meu amor? — ele pergunta antes mesmo de que eu me dê conta de que está desperto, ainda sonolento e com o sorriso travesso pelo qual me apaixonei meses atrás brincando nos lábios.

Deito-me em seu peito e sinto seus braços me aninhando. No momento, o som mais importante do mundo é o das batidas tranquilas de seu coração.

— Nada, querido. — Ele me beija na testa e me aconchega em seu abraço. Lá fora, a chuva continua a rugir, mas mal consigo me concentrar nela. Afundo-me nas cobertas e no cheiro dele e sussurro, com delicadeza, antes de me entregar ao mundo dos sonhos: — Volte a dormir.