— NÃO ME VENHA COM SUA HIP...— parei de gritar ao ver pela minha visão periférica uma sombra pequena atrás da parede. Olhei para o local vendo a minha menina encolhida e os olhinhos cheios de lágrimas. Respirei fundo para me recompor e sorri para ela, vendo o corpinho dela relaxar. Me ajoelhei e chamei-a com a mão. Minha pequena coruja deu um soluço e saiu correndo em minha direção, se jogando nos meus braços. Aconcheguei ela no meu peito, passando a mão no seu rosto, traçando assim seus delicados traços. Observei minha filha por um tempo, olhando como ela era tão linda. Acho que toda mãe é assim. Se não é, eu devo ser bem retardada mesmo. Eu olho para a Mel com todo amor do mundo. E eu fico embasbacada com qualquer feito dela. Eu babo só de ver ela toda embonecada. Eu a amava tanto. - Minha princesinha, já te disse o quão linda você é?— ela assentiu tão minimamente que eu quase não percebi. - Você é tão linda e fica ainda mais linda quando sorri. Então me diga, porquê está com os olhinhos cheios de lagrimas e não com aquele sorrisão que mamãe tanto ama?— Minha menina se afastou de mim e deixou algumas lágrimas caírem dos seus olhos tão lindos.

— Eu não gosto quando você e papai estão brigando mamãe.— Apesar de Melissa ter 5 anos, já sabia falar tudo. Só palavras grandes que a pequenina se embolava. E já entendia tudo. Só briguei feio com Paul 2 vezes. E eu tive o azar de Mel ter presenciado uma vez. Não porque eu quis, longe de mim. Pois nunca fui uma mãe desnaturada e não será agora que serei. Mas foi porque achei que ela já estava dormindo. Entretanto ela teve um pesadelo e acordou indo a minha procura, presenciando assim a briga. 

—Mas mamãe não tava brigando meu amor. Apenas falou alto um tiquinho só.— Dei um beijinho de esquimó nela e cheirei a cabecinha dela. Não sei se é apenas eu, mas eu me acalmo sentindo o cheirinho de bebê que vem das crianças. - Vá para o seu quarto me esperar tá meu anjinho? Vou terminar de falar com seu pai e subo para ficar com você.— Ela assentiu, me deu um beijo e um abraço apertado. Deu boa noite para o pai dela e subiu as escadas arrastando Sr. Floph pelo chão. Sorri de lado para aquilo, lembrando que ela ganhou o urso de pelúcia quando tinha 2 aninhos. Minha mãe que deu para ela e minha garotinha nunca mais se desgrudou dele. Olhei para a escada verificando se tinha alguém ali. Quando não encontrei, virei para o jumento do meu marido com um olhar mortal.

— Paul, vou te falar apenas essa vez. Você vai assinar essa merda de divorcio. Só para você ter uma ideia, não passa nem na minha cabeça a chance de voltarmos e ficarmos juntos novamente. E antes que abra a boca... Não, eu não tenho ninguém. Eu não te traí. Muito pelo contrário, você que me pôs um par de chifres.— Ele abriu a boca para falar e eu interrompi, já tendo ideia do que seria. - Não me interessa que foi apenas uma vez. Estou me lixando para isso. Nosso casamento não está dando mais certo e eu não quero mais brigas e nem ver Melissa triste. Eu odeio ver minha menina daquele jeito.— Passei a mão no cabelo em sinal de frustração e respirei antes de continuar - Então assine logo essa bosta e me deixe livre de você. Não te proibirei de ver nossa filha. Pode vê-la quando quiser, mas aqui eu não fico mais.— Molhei meus lábios secos com a ponta da língua e fiquei esperando a resposta dele. Enquanto estava ali esperando ele dizer algo, passou um flash pela minha cabeça. Lembrei de quando eu conheci ele. Quando comecei a namorar com ele aos 21. Lembrei de quando fui falar com meus pais e pedir a aprovação deles. Dei uma risada um pouco alta. Veja bem, hoje em dia é bem difícil você ver adolescentes indo perguntar a seus pais se eles aprovavam. Imagine ver um jovem maior de idade fazer isso. Apesar de eu estar apaixonada por Paul e achar que ele era o homem da minha vida, eu sempre procurei conversar com meus pais primeiro. E se eles tivessem rixa, eu escolheria meus pais. Nem pensaria duas vezes. Eu já vi pessoas que escolheram os namorados e abandonaram a família e se deram mal na vida. Eu não queria isso para minha vida. Então sempre procurei ser o mais certa e estar sempre do lado de minha família. Meus pais aceitaram e eu fiquei mais que feliz. 2 anos depois, paul me pediu em casamento e eu logo aceitei. Não me arrependo disso, até porquê ele nunca foi um marido miserável. Muito pelo contrario, ele foi um marido maravilhoso. Eramos amigos, cúmplices e apaixonados. Isso foi até ele conhecer Vanessa e ter me traído com ela. Não que depois disso ele me tratou mal. De jeito nenhum. Ele me tratou com respeito e até conversou comigo sobre o que aconteceu. Só que depois de uma traição, nada volta a ser como era antes. Então eu pedi o divorcio, só que ele não queria aceitar.

— Olha Bella, já que você quer tanto isso, eu te darei. Só quero que me perdoe e que possamos ser amigos.— Encarei ele por um tempo e caminhei até ele puxando para um abraço apertado.

— Veremos, okay? Agora assina essa merda logo e cai fora.— Ele olhou para minha cara incrédulo e eu dei risada- Brincadeira. Amanhã mesmo eu vou embora tá? Vou dormir com Mel e amanhã resolvemos como será.— Ele deu um sorriso amarelo e me deu as costas seguindo em direção a saída. Balancei a cabeça e fui rumo ao quarto da minha menina. Respirei fundo antes de entrar e coloquei um sorriso no rosto. Não me importava com meu casamento indo para o ralo, nem mesmo o quão abalada eu estava. Pois naquele momento, tudo o que importava era a minha menina.