Seasons of Love escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 4
IV. Verão




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Você já passou por um campo de girassóis no inverno? É uma das imagens deprimentes que eu já vi na vida, junto com o seu rosto no dia em que você partiu meu coração. Absolutamente tudo está morto. A própria alma da natureza parece ter sido roubada, fazendo com que o corpo desistisse de lutar e murchasse. Todas as plantas mortas são tristes, mas acho que nada é tão triste quanto um campo inteiro de girassóis decadentes.

Por outro lado, no verão, é a visão mais bonita do mundo. Dá para ver os girassóis em toda a sua glória, eretos e orgulhosos, sabendo exatamente quem são. O sol os traz de volta à vida e aquece o que se achava que permaneceria congelado para sempre, e eles retribuem o favor seguindo-o e descongelando os corações dos desiludidos, como eu.

No verão, eu estava me sentindo como um campo inteiro de girassóis. E, no verão, eu finalmente te vi de verdade.

Não me refiro à imagem que eu tinha de você quando estávamos juntos, do meu amor-mais-que-perfeito, nem o vilão em que eu te transformei depois que terminamos. Estou falando da única versão de você que era verdadeira: o menino tão perdido quanto eu que só estava tentando fazer o seu melhor, e que não tinha culpa se o seu melhor não protegia os meus sentimentos. Depois de tanto tempo, eu entendi. Você nunca foi o sol. Como eu, você era só mais um girassol no campo.

Não sei exatamente o que me levou a essa conclusão. Talvez tenham sido as longas tardes que eu passei deitado ao ar livre com Gabriel, a mão dele sobre a minha, fazendo planos para uma estação bem, bem distante. Talvez tenha sido o dia em que o apresentei à minha família, e, embora ninguém soubesse bem como reagir de início, um peso pareceu ser removido dos meus ombros. Talvez tenha sido o dia em que eu olhei para você e, pela primeira vez em muito tempo, não senti vontade de te sacudir pelos ombros e perguntar por que você fizera o que fizera comigo.

Ou talvez – e isso me parece mais provável – tenha sido o dia em que eu disse a Gabriel que o amava, e falei com sinceridade. Nós não estávamos juntos há tempo o suficiente para justificar uma declaração dessa magnitude, mas eu juro que não planejei nada; só escapuliu, no meio de uma dessas conversas em dias ensolarados. E, quando ele disse “eu te amo” de volta, eu esqueci completamente como era sentir frio.

Eu costumava achar que precisava te esquecer, mas, no verão, descobri que não era bem isso. Porque, quando meus pais te convidaram para a minha festa de aniversário surpresa, não doeu tanto quanto eu esperava. Porque eu tive a coragem e a decência de dizer a Gabriel que precisava de um momento com você, e, quando ele sorriu e me disse para ir em frente, eu tive a bravura de realmente ir até onde você estava, parado sozinho perto da entrada, com o maior sorriso no rosto e dois copos de refrigerante na mão. Era minha vez de acenar a bandeira branca.

— Eu sei que eu não deveria ter vindo – Foi a primeira coisa que você falou, assim que eu me aproximei o suficiente para ouvir. – Mas o seu irmão insistiu, e, bem, eu pensei que...

— Tudo bem – falei. Ofereci um dos copos, e você aceitou. – Eu fico feliz que você tenha vindo.

Eu provavelmente não deveria ter rido tanto da sua expressão, mas você vai ter que me perdoar por essa. Ainda era bom saber que eu conseguia te compreender.

— Fica? Eu achei que você me odiasse.

— Eu odiei – admiti, porque qual era o sentido de mentir, àquela altura? – Por alguns meses.

Você ficou em silêncio por alguns instantes, e eu senti saudade de quando eu conseguia ler a sua mente. Então, você disse:

— Eu nunca tive a intenção de te machucar.

— Eu sei – respondi. – Agora, eu sei.

— E eu sinto sua falta.

Confesso que essa não era a resposta que eu estava esperando, mas ela me agradou bastante, porque eu também sentia a sua. Não daquela forma dolorosa e apocalíptica dos primeiros meses, mas da sua presença, de como nós costumávamos confiar um no outro.

— Eu também – disse. Estendi a mão. – Amigos?

Você olhou de relance para Gabriel, que tivera o bom senso de não ficar encarando a conversa.

— Seu novo namorado está bem com isso?

— Gabriel? – Ri. Era tão claro que você não o conhecia. – Ele sabe que meu coração só pertence a ele.

Para a minha surpresa e alívio, você sorriu e apertou minha mão.

— Ele é um cara legal. Você acertou, pelo menos com ele.

O aperto de mão pareceu muito distante; eu te puxei para um abraço apertado. Havia familiaridade no gesto, mas, agora, eu estava feliz por não ser mais a mesma coisa de antes.

— Não seria a primeira vez – murmurei.

E a parte engraçada é que eu fui sincero, tão sincero quanto quando disse a Gabriel que o amava. Por mais bizarro que pareça, eu não me arrependo do que houve entre nós. Doeu, certo, e deixou algumas cicatrizes, mas, pelo menos eu aprendi que o tempo sempre passa. As estações mudam, os sentimentos mudam, mas isso não significa que as pessoas não possam ficar. E, se elas também mudarem, bem – eu tenho certeza de que estamos melhor desse jeito.


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Notas finais do capítulo

Eu só escrevi esse capítulo e postei, não deu tempo revisar por causa do prazo, então avisem se tiver qualquer erro.



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