Sanguis Amoris escrita por Stormy McKnight


Capítulo 2
Capítulo 2 - Dois pássaros em uma gaiola


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem? Desculpa a a demora para atualizar.

Esse é o segundo capítulo de Sanguis Amoris.

Boa leitura!



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Sanguis Amoris



2 - Dois pássaros em uma gaiola



Eu sai do meu quarto e fui para a sala do trono. Lá, eu me apresentei para o meu pai e minha mãe adotiva, e fiz uma reverência.

 

Eu então me voltei para a visitante que era mantida pelos guardas de meu pai. Nós nos fitamos.

 

O silêncio dominava a sala real. O meu pai resolveu quebrá-lo dando uma ordem aos guardas.

 

— Guardas, descansar. Deixem-nos!



Os guardas assim responderam sem questionar o seu soberano.

 

Então a sala ficou praticamente vazia com apenas eu e a Lumen, e os meus pais.

 

A Lumen então se focou na roupa que eu usava, uma blusa de decote transpassado branca e transparente com uma saia da mesma cor com botas de bico pontudo.



— Bela roupa, princesa… a mesma comentou.



— Obrigada. Mas eu não gosto de formalidades… — devolvi.



— Porquê? Você vive em um palácio, cercada de servos que fazem suas vontades…



— Quem é você, Lumen? — Pergunta retórica.



— Meu nome é Nimrod Woodley. E eu sou uma Lumen, sim.




— Então, qual o motivo de sua visita?



— Nós temos uma rixa antiga, e muitos Lumens no passado chegaram a tentar apaziguá-la, mas falharam. Bem, eu sou a atual líder dos Lumen, e vim tentar mais uma vez por um fim nessa rixa familiar.



Refleti sobre as palavras daquela Lumen por um tempo.



— Eu vou ser direta. Eu estou aqui para propor um novo acordo — ela comentou.



— Direta...achei que vocês Lumen não fossem disso. Mas...diga suas intenções. Eu serei toda ouvidos. Apesar de que o meu pai não age da mesma forma…



— Eu proponho ser sua escrava em troca da paz entre nossas linhagens. Eu farei o que desejares.



Todos foram surpreendidos pela proposta da Lumen.



— Esperem um segundo! — a rainha e minha “mãe” interrompeu.



A rainha se levantou de seu trono e veio caminhando até onde eu estava, com seu vestido longo verde de decote transpassado, preso com uma fita na cintura.



Então eu me voltei para a rainha que meu pai escolheu.



— Mãe? — falei com ironia — Digo, minha senhora?



— Thayla...minha querida filha, e sobrinha — A rainha Semiramis me cumprimentou.




— Há algo de errado? — eu quis saber.



— Sim, eu não confio nessa invasora Lumen. A proposta parece ser muito atraente...é muito fácil simplesmente aceitá-la como escreva. Assim, do nada. Isso pode ser um golpe dos Lumen para nos eliminar — Semiramis explanou.



Todos ao redor ficaram com repulsa depois de ouvirem as palavras da Rainha.



— Mas...a proposta parece ser razoável — eu rebati.



Foi então que a rainha virou a cabeça na direção do meu pai que estava sentado no seu trono.



— Como você pode, Tamuz? Confiar à nossa filha a tarefa de negociar com o inimigo? Você é o Rei! Você deveria lidar com política. Ela é apenas uma criança imatura! — a mesma esbravejou.



Então o rei se levantou do trono.



— Qual é o problema, minha rainha? Eu acho que Thayla é madura o suficiente para negociar… — O rei se defendeu.



— Não, ela não é. E você quis mandá-la no seu lugar para ficar sentado nesse seu trono sem fazer nada, esperando que os outros façam o seu trabalho por você — a rainha contestou.



— Bem, eu...peço desculpas. Eu...confesso que é verdade o que está dizendo. Foi um deslize da minha parte. Não acontecerá de novo...eu juro!



— Eu deveria governar esse reino no seu lugar. Você é um inútil. Por que eu fui casar com você? É verdade que eu o cobiçava desde que você era casado com minha irmã, Cleo..eu queria você para mim, eu sempre o amei. Eu juro, mas...parece difícil ficar ao seu lado...você parece não valer nada!





Então, minha tia realmente amava o meu pai? Então ela tinha sentimentos pelo meu pai dentro daquele coração de pedra?



Eu acho difícil de acreditar. Eu sempre gostei da minha tia, e eu já desconfiava antes que o casamento dela com o meu pai foi só para manter a ordem no reino e a linhagem dos Umbra Veil.

 



Um silêncio mortal preencheu o ambiente, até ser quebrado por uma queixa da rainha.




— Se eu não tivesse casada com você, o reino de Ravenhorn, estaria condenado, já que a última rainha, e minha irmã, faleceu… — a mesma lembrou.



— Sim, minha querida esposa...eu sei. Eu amava muito a sua irmã... — ouvi meu pai murmurar.



— Basta! — ouvi a voz da Capitã da guarda interferir — Não estamos aqui para lavar a roupa suja um do outro.



A atenção foi voltada para a Capitã que havia chegado na sala e se aproximava do Rei e sua rainha.



— Almarah! — Exclamei ao vê-la se apresentar.



— Escutem aqui vocês dois! Com todo o respeito que eu tenho por vocês, meu rei, minha rainha, mas...estamos aqui para tratar de uma negociação com o inimigo. E vocês parecem se distanciar da questão aqui — A Capitã chamou a atenção.



— Almarah tem toda a razão — meu pai assentiu.



— Tem toda razão, Capitã. Mil perdões por meu comportamento — a rainha se desculpou fazendo uma reverência em seguida.



— Se vocês que são nossos monarcas e representam o povo de Ravenhorn, especialmente a linhagem dos Umbra Veil, não conseguem tomar uma decisão, eu tomarei! — Almarah deu um presta na discussão.



— Desculpa interromper, mas eu gostaria de saber o motivo de nós sermos rivais há anos dos Lumen. Digo, o que eles fizeram para nós os odiarmos tanto? A resposta para isso definirá se devemos aceitar ou não a proposta dos Lumen — eu os cortei.



Meu pai e a rainha ficaram disputando para ver quem contava primeiro.





— Eu vou contar o motivo, pois eu sirvo a guarda desde que eu era uma jovem guerreira.



Todos paramos para ouvir a Capitã contar sua versão sobre aquela rixa delicada entre Umbras e Lumen.



— Nós crescemos juntos. Fomos criados pela mãe natureza a partir de pequenas plantas que foram brotando da terra e nos formando dentro de seus botões. Os elfos que não recebiam luz solar para se desenvolver, ficaram com suas peles escuras. Mas, isso não quer dizer que eles não poderiam sair no sol.



— Enfim, os elfos que receberam a luz solar intensamente, tinham peles bem pálidas. Eles eram albinos.



— Então, o que aconteceu, foi que quando essas duas espécies chegaram à idade adulta, os elfos de pele escura começaram a ansiar pela luz do luar, que refletida em seus corpos, os deixava mais brilhantes e com uma aparência jovial. Eles não envelheciam por fora, somente por dentro…



— Já os elfos que receberam a luz solar intensa, anseiam pelo sol e envelhecem de forma mais acelerada que os que não receberam a luz solar.



— No final, os elfos de peles escuras, resolveram se fechar em castelos para preservar sua beleza dos raios solares e continuarem jovem se banhando na luz do luar todas as noites. Apesar de poderem sair no sol normalmente.



— E os elfos de peles albinas, resolveram gozar de sua liberdade de poder sair ao sol e absorverem a luz solar em seus corpos, tornando - os puros e livres.



— Nossa! Essa história é muito interessante. Nunca tinha ouvido antes… — comentei.



— Resumindo, o motivo de estarmos brigados há anos com os Lumen, é porque nós queremos manter nossa juventude, ao contrário deles, que são livres e envelhecem mais rápido. Então, o seu avô, Thayla, criou uma lei que decretava que os Umbras não poderiam ter nenhum tipo de contato com um Lumen. E todos deveriam seguir a regra.



— Mas, eu quero ser livre como os Lumen! Eu não gosto de ficar fechada em um quarto vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana...eu quero poder ir aonde eu quiser, me divertir por aí… sei lá, fazer coisas que eu não posso...




— Eu entendo, Thayla. Mas, isso infelizmente é contra as regras! Bom, a menos que você se case com um Lumen para honrar as duas raças, o que ainda sim é uma afronta, pois ambas as raças não se misturam, nem devem se misturar, você poderá ser livre como deseja…



— Mas isso é muito cruel, Almarah. Eu a respeito muito, mas...por que temos que viver separados? Por que nos fechamos para o mundo? Eu aprendi que o mundo é um lugar cruel, mas nem todas as pessoas que vivem nele, são cruéis...ou precisam ser cruéis!



— Não dê ouvidos à ela. Apesar de nossas raças serem rivais, eu acredito em você, Thayla...desculpa, eu acho que não deveria ter pronunciado o seu nome. Eu ainda não fui apresentada a você — a Lumen interrompeu.



Então eu me voltei para ela.



— Eu sou Thayla Allaros. Filha do rei Tamuz Allaros e...da rainha Semiramis Allaros. Que na verdade é minha tia, mas como minha mãe biológica faleceu, ela tomou o lugar dela como rainha e mãe — eu explanei para a Lumen.



Nimrod então se voltou para mim. Eu fiquei olhando nos olhos dela por um tempo e..eu não conseguia ver nenhuma maldade nela, nenhuma malícia...eu vi nela perdão, serenidade, conforto, paz…



Foi quando meu coração começou a bater acelerado e eu senti uma paz dentro de mim. Parecia que de alguma forma, nós havíamos nos conectado espiritualmente.



Eu não consegui resistir. Eu corri na direção dela e abracei, depois nós nos beijamos na frente de todos ali. E isso fez com que os outros Umbra ficassem devastados e com ainda mais raiva por nós quebrarmos as regras.



— Capitã, mande seus homens prenderem a invasora Lumen! — ouvi a rainha exclamar.




Nós nos afastamos bruscamente e eu olhei para a Capitã.



— Almarah! Você é minha amiga, faça alguma coisa! — supliquei.



— Eu sinto muito, Thayla! Eu acredito em você, mas eu preciso cumprir uma ordem — A Capitã falou relutante.



Então os guardas da Capitã vieram e nos pegaram pelos braços.



— Não, me soltem! Thayla! Eu quero ficar com você! — Nimrod exclamou enquanto se debatia para se soltar dos guardas.



— Nimrod! Não! Por favor! Soltem ela! Façam o que quiserem comigo, mas soltem ela! — Eu exclamei.



— Guardas! Levem as duas para o calabouço e as tranquem lá! — Almarah demandou — Levem elas daqui!



— Eu sinto muito, minha filha. Isso é para o seu próprio bem — meu pai balbuciou enquanto assistia os guardas nos levarem dali.





Então, fomos para o calabouço. Os guardas nos puseram em duas celas separadas e nos trancaram.






Nós imploramos batendo nas barras de metal das celas para que eles nos soltassem, mas eles viraram as costas para nós e subiram a escada até o andar superior. Eles nos deixaram sozinhas naquelas celas.



Então, ambas começamos a verter lágrimas e murmurar em nossas celas segurando as barras de metal da entrada.



— Por quê?! Por quê?! — eu exclamava já começando a me afogar nas minhas próprias lágrimas…



— Eu não imaginei… que isso fosse acontecer… — ouvi a voz de Nimrod.



Nossas lágrimas iam caindo em bica e molhando o chão da cela.



Por que parece errado amar alguém que você ama? Alguém que você sente que lá no fundo parece te completar, apesar da aparência? Digo, o mais importante não é o interior das pessoas? Será que as aparências realmente importam?



Umbra, Lumen, qual é a diferença? Como a Capitã Almarah disse, nós nascemos juntos. O que nos diferencia um do outro é o quanto recebemos de luz solar. Mas aparentemente, os Umbras são mais vaidosos que os Lumen. E eu e Nimrod somos exceções à regra.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado^^

Esse capítulo é dramático e metafórico. A parte em que a Capitã da guarda Umbra, explica a origem das duas raças com uma recebendo luz do sol e a outra não, é inspirada na experiência onde se tem duas plantas e ai enquanto uma é tratada com palavras bonitas e com amor, a outra é tratada com xingamentos. Depois de uma semana mais ou menos, a flor que foi tratada com xingamentos, fica feia e a que foi tratada com amor, fica bonita. No caso dos Umbra e Lumen é mais ou menos por ai, os Umbra são vaidosos, orgulhosos de si, enquanto que os Lumen são mais humildes e por receberem mais luz solar, eles envelhecem rápido, e isso os torna feios aos olhos dos Umbra, por isso os Umbra querem preservar a beleza.

Os questionamentos da Thayla no final são baseados em algo que eu passei. E tecnicamente, esses questionamentos são apenas uma crítica social as diferenças sociais. Eu por exemplo, sofri com uma rixa familiar como a Thayla sofre, e por causa disso, eu não pude ficar junto com a pessoa que eu gostava. Daí veio a inspiração pra essa trama, pois o meu passado é como Romeu e Julieta, e aqui eu quis fazer uma versão Yuri desse clichê romântico, com duas raças élficas que são mitologicamente rivais uma da outra, os Elfos Negros e os Elfos Brancos. Sendo que os Elfos Negros não são muito vistos na fantasia. Os mais populares são os Elfos Brancos.

E acho que é isso. Até a próxima postagem!



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