Encontros Proibidos escrita por Eli DivaEscritora


Capítulo 1
Só fachada


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, boa leitura ;*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762637/chapter/1

― Elisabeta! ― minha mãe disse em um tom alto quando eu passava pela sala de casa.  

― Sim, mamãe. O que houve? ― respondi com calma, eu não queria discutir com ela logo cedo.   

― Posso saber onde a senhorita foi essa manhã? ― Ela me examinou com o olhar e a entonação da voz ficou agitada.

― Eu fui falar com a Luísa, não precisa ficar toda alterada.

― Bom, até pode ir visitar sua amiga. Mas gostaria de ser avisada quando você sair. Você sabe como o seu pai é.  ― Minha mãe me analisou, sem desviar o olhar. ― Aliás, seu pai está providenciando um noivo para você.

― Como? ― Pisquei perplexa. ― Ele não pode fazer isso e também não tem esse direito ― retruquei um pouco exaltada. ― Eu já tenho dezenove anos, acredito que perante a lei já sou maior de idade.

― Eu sei disso. Porém, ele só quer o melhor para a sua vida, Elisabeta.

― Eu também posso cuidar do que é melhor para mim, ― disse zangada.

― E eu sei bem o melhor que ele quer, o status. ― Balancei a cabeça negativamente.

― O seu pai só quer um futuro bom para você. ― Ela olhou fixamente para mim.

― E eu não quero isso? Agora, se um futuro bom quer dizer que eu terei que casar com alguém que eu não goste ou ame, eu sinto muito. ― Suspirei.

 

― Eu não vou aceitar que o papai faça isso. ―  As palavras escaparam em um tom alterado, já que eu estava exaltada com a conversa de nós duas.
  

Para mim, esse assunto não tinha mais sentido algum. Por isso, resolvi encerrar a conversa e voltar para o meu quarto. Talvez no meu quarto eu poderia ter um pouco de sossego, mas eu estava muito indignada. Como que o meu pai pode saber o que é melhor para mim? Somente eu tenho essa capacidade e para algumas pessoas dessa cidade isso não fazia sentido, mas para mim, sim. O meu pai tem muita influência nessa cidade e se eu decidir sair de casa para fazer alguma coisa que ele não aprovasse eu me daria mal, pois era só ele dizer algo e eu estaria ferrada. Por isso, eu estava guardando dinheiro para sair de casa. A vida aqui nessa casa está impossível, por isso fiz a única coisa que poderia me distrair nesse momento: liguei o computador para conversar com a Luísa, minha melhor amiga. O aplicativo Bud-on era o que nós usamos para nos comunicarmos e servia para o celular também. Somente ela tinha o poder de desviar a minha atenção dessas coisas e eu estava necessitando muito de uma distração.    

Lu: Elisa, preciso te contar uma coisa :)
Você: Nossa, está feliz! O que foi loira?
Lu: Eu e o Beto vamos ficar noivos s2
Você: Uau! Que demais, parabéns!!
Lu: Obrigada!! Eu nem acredito! ♥
Você: Posso imaginar, mas me conta os detalhes?
Lu: Ai amiga, agora não posso, eu preciso ir...
Você: Hum, ok. E aquele negócio do voluntariado que a gente conversou?
Lu: Não se preocupa, vamos fazer. Amanhã eu conto tudo para você sobre o noivado, beijos Elisa ;*

 

Ela não me deixou responder nada, quando pensei em dizer algo ela ficou offline. Observei que a minha outra amiga estava pelo chat e iniciei um papo com a Ana, porém eu esperava ansiosa para que o Téo entrasse logo. A espera por ele estava grande, já era tarde da noite e nada dele. Quando o Téo apareceu eu já estava me arrumando para dormir, ele havia demorado para falar comigo porque ele a mãe ficaram resolvendo umas coisas na mercearia deles. Antes da gente se despedir, marcamos de nos encontrar no dia seguinte e quando cada um desligou os aparelhos eletrônicos, eu me organizei para deitar. Porém no meio do caminho observei o meu reflexo no espelho. Os meus cabelos escuros contrastavam com a minha pele tão branca, embaixo dos meus olhos castanhos havia olheiras, eu precisava ter uma boa noite de sono, o que ultimamente não estava acontecendo, o meu nariz era fino e arrebitado e a boca fina. Nesse momento, examinando o meu reflexo eu precisava muito mais do que oito horas de sono.    

 

― Está saindo cedo? Por quê? ― Minha mãe apareceu do nada quando eu passava pela sala, até levei um susto.

― Estou indo tomar café na padaria ― respondi sem vontade, eu não estava a fim de discutir novamente com ela.   

 

― Ok, eu tenho o direito de saber aonde a minha filha vai, certo?  Além do que seu pai ainda não saiu para ir na prefeitura, então me perguntei o que você estaria fazendo na rua tão cedo.



― Tá certo, você até tem o direito de querer saber, mas não é justo você e o papai tentarem me controlar o tempo todo ― eu disse enquanto caminhava até a porta.

― Isso se chama preocupação de pais ― ela afirmou por último.

 

A nossa conversa foi encerrada assim que eu abri a porta e me encaminhei para a rua. Ao seguir para o encontro eu só conseguia refletir sobre a “preocupação” que a minha mãe mencionou, eu enxergava de outro jeito, principalmente pelo fato de o meu pai ser contra as minhas escolhas, qualquer coisa que eu gostaria de fazer ele vetava. Ele podia ser machista, ignorante e ultrapassado quando se tratava sobre a minha vida. Eu tentei tirar esses pensamentos da minha cabeça enquanto caminhava até o local que eu e o Téo combinamos.

 

― Oi meu amor, que bom que você já chegou. ― Abracei com força o homem de cabelos escuros e cacheados.

― Oi amor, está tudo bem? ― Teodoro questionou ao perceber minha atitude.

― Eu não consigo mais ficar naquela casa ― respondi ressentida.

― Falta pouco para a gente conseguir juntar uma poupança boa ―  ele disse acariciando meu rosto. ― Precisamos continuar a ser fortes.

― Você tem razão, mas é que está difícil, sabe? Não posso sair nem com as minhas amigas direito e se eles pudessem me deixavam trancada em casa.

Ele se aproximou e começou a beijar os meus lábios repetidamente enquanto falava:

― Aguenta só mais um pouquinho? Logo estaremos livres. ― Ele sorriu quando eu baixei a minha guarda.

 

Dessa vez iniciamos um beijo longo, repleto de saudade e com paixão ao mesmo tempo, mas foi interrompido segundos depois já que nós dois precisávamos voltar para a nossa realidade.

― Eu preciso ir, o meu pai já deve estar indo para a prefeitura e se ele chegar antes de mim, eu estou ferrada.

― Tudo bem, eu também tenho que ir trabalhar na mercearia da mamãe.

― Mas antes, a gente se vê na praça no mesmo horário? ― eu disse enquanto os lábios dele encostaram nos meus, para um último beijo de despedida.

― Claro ―, ele correspondeu ao meu beijo. ― só uma última coisa, quando é que você vai na Lu?

― Vish, não sei. Mas posso combinar com ela alguma coisa. Por quê?

― Hum, estou com saudades de você. A gente podia marcar algo para fazer.

Sorri feliz, já fazia um tempo que a gente não saia juntos, pois é bem complicado fazer alguma coisa com os meus pais querendo saber todos os meus passos.

― Sim, seria ótimo. Vou falar com a Lu e mando uma mensagem para combinarmos tudo.  

― Tudo bem amor, nos falamos depois então. ― Ele beijou a minha bochecha em sinal de despedida.

 

Cada um foi para lados opostos, somente para disfarçar, já que nós dois trabalhávamos na praça. Na verdade em cidade pequena tudo gira ao redor da praça, por isso eu segui o meu caminho até a prefeitura e ele iria para a mercearia que ficava alguns metros de distância do meu destino.

 

― Isso são horas, Elisabeta? ― O meu pai olhou o relógio e depois me encarou.

― Foram só cinco minutos ―  respondi com toda a calma que eu tinha naquele momento.

 

― Para quem saiu “cedo” de casa ― ele fez as aspas com as mãos, ― estava aonde esse tempo todo?

 

Respirei fundo, soltando o ar pela boca, será que era possível um pai ser assim com uma filha? Às vezes eu ficava me perguntando se em toda família é desse jeito. Porque a minha paciência em relação a essa “preocupação” deles me deixava irritada.

― Tomei café na rua, caminhei ― eu disse ainda, com a pouca calma que me restava.

― E demorou meia hora nisso?

― Eu ando e mastigo muito devagar, agora o senhor vai fazer mais interrogatório ou posso ir para a minha mesa? ― Eu o encarei séria.

― Pode ir.

Caminhei até a minha mesa sem vontade e ao chegar lá sentei na cadeira refletindo, por que em cidade pequena a família sempre trabalha junto? Eu não podia ser a única que achava isso errado, eu já não aguento o meu pai dentro de casa, imagina ter que conviver com ele no trabalho também. Isso é tão errado. Entretanto, eu precisava do dinheiro para ter uma vida longe dos meus pais, então esse sacrifício era necessário. Após alguns minutos sentada, eu só conseguia pensar no Téo e o serviço ainda não colaborava para me distrair, já que estava tudo tão calmo. Aliás, não podia reclamar desse trabalho, auxiliar o papai na prefeitura em geral é tranquilo.

― Elisabeta, preciso que você cuide das correspondências, veja o que eu preciso responder urgente e as outras eu vejo depois. ― Ele apareceu no meu campo de visão, realizando suas solicitações.

― Ok, vou providenciar ― respondi começando a organizar as correspondências.

Assim que ele entrou em sua sala, apareceu um homem.

― Olá, posso ajudá-lo?

― Sim, eu tenho uma reunião com o seu Pedro ― o senhor de meia idade se pronunciou.

― Claro, vou avisá-lo.

Depois que anunciei o homem para o meu pai, voltei a fazer as minhas tarefas. E quando estava bem concentrada a Lu ligou para mim.

― Oi amiga, estou ligando para avisar do meu noivado ― a loira comentou do outro lado da linha. ― Na próxima semana, você está convocada para aparecer às dezoito horas lá em casa.

― Uau, que chique. Nem acredito que você já vai noivar ― mencionei contente.

Não sabia o porquê de estar tão surpresa com essa notícia, já que em cidade pequena as pessoas se casam bem cedo.

― Ai Elisa, você sabe que eu e o Beto não queremos esperar mais dois, cinco anos para casar.

― Claro que sei e estou muito feliz. Aliás, vocês possuem muita sorte.

― Pense positivo amiga, um dia você e o Téo também vão estar bem felizes desse jeito.  

 

― Falando nisso, será que você poderia me acobertar? Eu vou para a sua casa primeiro, e depois se a minha mãe ligar você diz para os meus pais que eu estou na sua.

― Posso, você e o Téo estão pensando em algo? ― ela disse em um tom divertido.

― Sim, estamos querendo sair, já faz muito tempo em que não fazemos nada.

 

― Ah claro, aí você me manda uma mensagem ou algo do tipo para avisar o dia, horário e essas coisas ― ela explicou. ― Mas agora preciso ir, beijos amiga.

 

― Beijos, eu aviso sim, até mais. ― Nós desligamos o telefone e eu voltei para os meus afazeres.

 

Retornei a separar as correspondências e quando terminei coloquei as urgentes na sala no meu pai, pois ele estava na sala de reunião com aquele senhor que havia chegado antes. Eu contei cada minuto do meu dia para encontrar com o Téo, aliás eu até pensei em escapar no horário do almoço, mas poderia ser muito arriscado, já que o restaurante que eu vou é o único do centro da cidade, portanto o papai poderia facilmente investigar os meus passos. Cidade pequena é o que dizem, não dá para esconder por muito tempo algum segredo. No meu intervalo do horário do lanche, caminhei até a praça e sentei em um dos bancos. Isso também era arriscado, mas o papai tinha tanta coisa para resolver na prefeitura agora que ele não iria sair tão cedo. Nosso encontro não foi tão longo o quanto eu gostaria, ele sentou ao meu lado e ficou mexendo em seu celular, fingindo falar com outra pessoa e eu fiz a mesma coisa. Como a cidade é um pouco do interior, os avanços da tecnologia demoram para chegar, por isso a internet é lenta e às vezes o sinal não pega. Portanto, marcamos por mensagem os últimos detalhes para a gente sair, conversamos mais um pouco pelo celular, pois apesar de estarmos longe do meu pai, a cidade é pequena, todos se conhecem e o que mais gostam de fazer é falar da vida dos outros. Por isso, se a gente tentar ficar invisível quem sabe ninguém fale nada. Quando o horário do café estava terminando nós nos despedimos apenas com o olhar, nada de toques, beijos, para não chamar a atenção de ninguém.   

Ao final do dia eu estava exausta, o retorno para casa não foi muito demorado, já que eu morava perto da prefeitura. Peguei o meu celular para enviar uma mensagem no Bud-on para a Lu assim que entrei no meu quarto.

 

Elisa: Amanhã, depois do trabalho. Beijos loira.


Guardei o celular no meu bolso e desci para o jantar. A minha felicidade em poder me encontrar com o Téo era grande, porém eu tinha que esconder, fingir que não estava acontecendo nada senão meus pais iriam notar alguma coisa. Por isso, quando desci as escadas simulei mais uma vez no dia de hoje uma tranquilidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam do pai da Elisa? E da mãe dela? Da Lu e do Téo?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Encontros Proibidos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.