Contos Avessos escrita por Littlefox


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá! Turu bom com vocês?
Então, eu finalmente tomei vergonha na cara e estou aqui começando a postar a coletânea rsrsrs
A primeira história, que obviamente é essa (Ah vá, Izadora) é gaalee e foi inspirada em uma tirinha que eu vi no grupo do nyah, infelizmente eu perdi o link da publicação, então se vocês acharem no grupo por favor me mandem o link.
Sem mais delongas, espero que gostem!



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Era a primeira vez em que Lee era autorizado a sair sozinho. Ficara tão animado com a recente liberdade que recebera que nadou para longe o mais rápido que conseguiu sem nem ao menos ouvir o resto do discurso sobre como deveria tomar cuidado perto dos recifes e em hipótese alguma se aproximar dos habitantes da superfície. Tinha em mente que não podia chegar tarde, era perigoso demais.

Agora, já bem longe de Atlântida – mais do que seus pais gostariam – , analisava o pequeno objeto pontiagudo que encontrou flutuando perto de onde se encontrava. Não podia nem ao menos questionar alguém sobre o que era aquilo, já que não havia ninguém por aquelas bandas, além de um pequeno cardume de robalos que estavam ocupados demais discutindo sobre a direção que iriam tomar para dar um pouco de atenção à Lee.

— Saia de perto desta armadilha de homens, Suigetsu! – um dos peixes que estavam a frente do cardume vociferou e então Lee percebeu que um robalo mais novo estava ao seu lado, bem próximo aquela coisa esquisita. O peixinho voltou para perto dos outros com os olhos arregalados e eles continuaram seu caminho até sair do campo de visão do tritão.

“Armadilha de homens?”, pensou intrigado. Já havia ouvido falar das famosas emboscadas que os superficianos costumavam fazer e o quão perigosas elas eram, mas aquela coisinha minúscula era uma piada por parecer tão inofensiva. Esperava algo mais grandioso pelas histórias que seu pai costumava lhe contar, agora todas elas pareciam exagero de Gai.

Aproximou o rosto do objeto desconhecido e percebeu a linha quase transparente que o prendia, subindo até a superfície. “ Então não está flutuando.”
Nadou em volta do anzol, estudando-o minuciosamente. Estava um tanto curioso sobre o que ele fazia e, ignorando as palavras de Gai, aproximou-se ainda mais e tocou-lhe a ponta afiada com cuidado para não se ferir. O anzol subiu levemente deixando Lee ainda mais confuso.

Então, em uma atitude um tanto irresponsável, Lee puxou a corda com força e a mesma subiu em alta velocidade em direção ao seu rosto abrindo um corte em sua bochecha direita. O tritão viu seu sangue se misturar na água ainda boquiaberto em um misto de susto e indignação. Estreitou os olhos, procurando onde havia ido parar o anzol e percebeu que ele já estava quase fora da água. Estava tão indignado com aquela situação que não poupou esforços e seguiu-o nadando o mais rápido que conseguia atrás do objeto.

Pouco se importava se alguém o veria, estava machucado e muito possesso pela falta de consideração. Enfrentaria o Kraken se fosse preciso, mas faria aquele monstro superficiano se desculpar propriamente e ai dele se não o fizesse.

Não foi surpresa nenhuma ver a surpresa estampar o rosto do humano, só não contava perder a pose imponente por ele ser tão atraente.

Gaara só queria ter alguns minutos de paz quando resolveu sair para pescar, isolando-se em um canto afastado de tudo e todos. Era uma atividade que já estava acostumado a fazer, principalmente para fugir da realidade em que vivia.

Desde pequeno fora acostumado à todos os fins de semana sair para pescar com seu pai. Atividade que aguardava ansiosamente todos os dias da semana. A pesca, para ele, era equivalente a ir a um parque de diversões, tinha adoração pela água cristalina, pela vida marinha e pela imensidão azul à sua frente. O mar era sua segunda casa.

Infelizmente, com o falecimento de seus pais, a única coisa que lhe restara foi a pesca. A atividade, que praticava todos os fins de semana tomou espaço durante os dias úteis tomando as quartas e as quintas, depois de algum tempo, também tomou as segundas e as terças. Agora, Gaara se via saindo em direção ao mar todos os dias de sua semana, tentando preencher o vazio em seu peito, o que o oceano fazia muito bem, já se tornando sua principal moradia.

Naquele dia os peixes pareciam ter desaparecido completamente. Estava ali há horas e nada de fisgar nem uma sardinha sequer. Já estava quase desistindo quando sentiu a vara pender para baixo levemente, de forma quase imperceptível. Puxou a vara para cima, com o intuito de instigar o peixe a morder a isca.

Parecia ter funcionado, já que quase foi levado para dentro da água com o outro puxão. Afoito, trouxe o anzol para superfície o mais rápido que conseguia, mas desanimou ao perceber que estava tão leve quanto antes. Provavelmente o peixe havia comido a isca e fugido.

Suspirou colocando a isca no anzol para mais uma vez joga-lo na água, mas não pode fazê-lo. Sua frente estava bloqueada por um rapaz com uma expressão indignada. “Como ele veio parar aqui?” pensou confuso, mas logo que olhou para baixo sua pergunta foi respondida. Deu um pulo para trás, quase virando o bote dentro da água, seu rosto tão pálido quanto uma folha de papel sulfite.

Ele estava cara a cara com um tritão. Um tritão extremamente irritado. Suas preocupações se dividiam entre “Como ele pode ser real?” e “Eu vou viver para contar essa história?”

— O que está fazendo? – Lee perguntou com os olhos estreitos, deixando seu rosto bem próximo ao de Gaara, em uma pose ameaçadora.

— O-o quê? – questionou em um misto de desconcerto e medo, seu corpo tencionado com a proximidade da criatura que a poucos minutos atrás nem pensava em ser real.

— Perguntei o que está fazendo! Acha que está tudo bem ficar fazendo não sei o que com esse... Esse... Esse treco! – exclamou enraivecido gesticulando para o anzol. – Isso pode ferir alguém! Me feriu! – disse apontando para o corte em sua bochecha.

— M-me D-desculpe! – Gaara respondeu ainda um pouco aturdido. Virou o corpo e começou a procurar o kit de primeiros socorros que sempre carregava em seu pequeno bote ainda sob o olhar curioso de Lee. – Aqui. – disse assim que alcançou a pequena maleta branca com uma cruz vermelha em seu centro.

Abriu-a fazendo que alguns dos diversos band-aids caíssem na água, culpa de suas mãos trêmulas. Mas ninguém está em posição de julga-lo, é difícil não ter uma reação diferente quando se está tão perto de uma criatura mitológica de mau humor.

— O que é isso?

— Posso? – disse apontando para o ferimento na bochecha de Lee. O tritão apenas o olhou desconfiado enquanto Gaara pregava o curativo em sua bochecha. – Pronto.

— O que você fez?
— Eu coloquei um curativo no seu machucado. Não foi minha intenção feri-lo, me desculpe.

— E qual era sua intenção? – perguntou com as mãos na cintura. – Porque as pessoas não saem por aí jogando essas coisas na água se a intenção não é machucar alguém.

— Eu estava pescando. – disse um pouco envergonhado com o sermão que estava ganhando.

—Pescando?

— Sim, você não sabe o que é pescar? – Perguntou confuso e viu Lee movimentar a cabeça negativamente.

"Como eu vou explicar isso?” 

— Bom... Isso é um anzol. – disse apontando para o pequeno objeto metálico em sua mão. – Você coloca uma isca nele e espera que o peixe morda. Quando ele morder, você o puxa para a superfície e...

— Puxar para superfície?! – Lee gritou com o semblante assustado. Sabia muito bem que peixes não tinham as mesmas habilidades de seu povo em respirar na superfície, o que resultava em uma morte lenta e desesperadora para seus amiguinhos. – Que tipo de monstro você é?!

— N-Não n-não dessa forma! Eu faço pesca esportiva, eles são soltos depois!

— E você se acha no direito de assusta-los desse jeito?! O que você acharia se alguém te tirasse da sua casa e te pusesse em um ambiente totalmente inóspito para sua espécie e tudo que você conseguisse pensar é que vai morrer?!

— Eu paro, eu sinto muito! – respondeu com as mãos em frente ao corpo em sinal de rendição. Definitivamente não queria morrer pelas mãos daquele tritão, apesar de acha-lo uma gracinha irritado daquela forma.

— Acho bom mesmo!

— Eu realmente sinto muito, não era minha intenção machucar ninguém! Eu nunca havia pensado dessa forma.

— Pois deveria, onde já se viu?! Afinal, qual é a graça de fazer isso? Ver o sofrimento alheio realmente agrada tanto vocês? Estavam todos certos, sua raça é realmente monstruosa. Só salva a aparência, você até a bonitinho mas é podre por dentro!

— Você... Me acha bonitinho?

— Essa não é a questão! – corou virando o rosto para o lado.

— Eu costumava pescar com meu pai.

— E cadê o outro monstro?

— Ele morreu.

— Oh. Eu... Sinto muito por isso. – sussurrou baixando um pouco a guarda. Ao notar que estava se compadecendo com o inimigo, pigarreou e voltou a postura altiva de antes. – Queria poder dizer que ele foi para um lugar bom mas não tenho tanta certeza. – virou o rosto para o lado com descaso e só voltou a encará-lo quando o ouviu gargalhar.

— Ele era um bom homem. Nunca matamos nenhum peixe, isso eu posso prometer.

— Então por quê continua fazendo?

— É uma forma de ficar perto deles, eu acho. Não me sinto bem onde estou, aqui é o único lugar em que me sinto bem, onde a dor não é tão grande. – disse com um olhar perdido e Lee sentiu seu peito apertar.

Talvez ele fosse uma exceção a regra, parando para analisá-lo não se parecia em nada com o que falavam de seu povo. Nem em aparência nem em personalidade.

— Sua mãe também morreu?

— Sim. – Aquilo fez Lee sentir-se mal pelo ruivo, decidiu ser um pouco mais amigável, afinal, ele havia se desculpado pelo erro.

— Então...

— Gaara.

— Então Gaara, você nunca machucou nenhum peixe?

— Não, e nem pretendo.

— Me conte mais sobre essa tal de pesca esportiva. – disse subindo no bote – e quase fazendo com que ele virasse – se sentando próximo à Gaara.

— Bom, é basicamente a mesma coisa que a pesca comum, mas ao invés de consumir o peixe nós os deixamos livres. Eu gosto porque posso conhecer novas espécies.

— Talvez você possa usar um anzol menos afiado da próxima vez. – Lee sugeriu, com um sorriso no rosto.

— Bem, acho que posso tentar. – deu de ombros. O tritão olhou em volta em curiosidade, até avistar um balde e ter uma brilhante idéia.

Debruçou-se no banco até conseguir alcança-lo e pulou na água abraçando-o deixando um Gaara confuso para trás.
Olhou em volta a procura de peixes, mas não haviam cardumes próximos. Passou minutos apenas esperando, angustiado, por algum sinal de vida. E se Gaara partisse antes que ele voltasse a superfície? Aquele pensamento o deixou inquieto. Já estava prestes a desistir quando ouviu uma gritaria se aproximando.

— A gente não tá perdido! Eu sei exatamente para onde nós estamos indo. – O maior entre os peixes borboleta afirmou enfurecido para os demais.

— Ei! Vocês aí! – Lee gritou acenando para os peixes, que se aproximaram – Preciso de um favor.

— O que você precisa, querido? – uma das participantes do cardume perguntou solicita.

— Preciso que entrem aqui! – apontou para o balde.

— Você acha que nós somos otários, seu filhote de camarão?! Eu conheço isso aí, é armadilha de humano. Não entro nem se cortar minhas barbatanas!

— Por favor, é importante! Dou minha palavra que nada vai acontecer a vocês.

— Como se sua palavra valesse alguma coisa! Vamos embora, pessoal! – começou a nadar na direção oposta, mas parou quando percebeu que ninguém lhe seguia. – O que vocês estão fazendo?!

— Eu confio no menino – respondeu com a mesma calma de anteriormente –, e os outros também. Ele não parece o tipo de pessoa que faria mal a ninguém, se ele precisa de ajuda nós iremos ajudá-lo!

— Quem vê cara não vê coração! Ele vai enganar vocês.

— Você pode ficar aí ou pode vir conosco.

— Quando nós estivermos encrencado eu vou ter o prazer de falar que avisei! – resmungou entrando no balde também.

Lee, que apenas observava a cena, voltou a nadar a superfície em direção ao bote de Gaara. Deu um susto no rapaz quando emergiu bem próximo ao seu rosto, pois o ruivo procurava por Lee desde que ele havia sumido. 

— O que você...

— Olhe! – disse com um sorriso radiante.

— Eu falei! Eu falei que esse garoto ia meter a gente em encrenca! Olha só o que ele tá fazendo!

— Ora, cale a boca! Ele só quer ver vocês. – Lee vociferou encarando feio o peixe mais velho.

— Você fala com os peixes? – Gaara balbuciou atônito.

— Sim, sim. Veja, conhece esses aqui?

— São peixes borboleta, a última vez que vi um estava com meu pai. Obrigado...

— Lee. Meu nome é Lee.

— Obrigado Lee. São realmente muito bonitos!

— Pronto, agora vocês podem ir. Obrigado pela ela ajuda – disse libertando-os.– Esse não é um jeito mais divertido de pescar?

— Realmente. – respondeu em meio a uma risada. – Mas eu não posso respirar debaixo da água, muito menos tenho uma cauda para me auxiliar. – respondeu.

— Eu posso te ajudar nisso.

— Obrigado, Lee.

— Me conte um pouco sobre seu mundo.

— O que quer saber?

— Como é a... Que negócio é esse? – disse com olhos arregalados apontando para o pé de Gaara.

— Meus pés? – riu com a reação dele, tirando os chinelos e apoiando o pé direito no joelho esquerdo para que Lee tivesse uma visão melhor de seus dedos. – É como nós locomovemos na superfície, assim como vocês tem caudas, nós temos pés.

— E como vocês usam? – perguntou curioso.

— Assim – disse levantando-se e arriscando alguns passos dentro do bote. Lee se remexeu espantado em como aquilo funcionava, e aquilo fez com que o bote balanças de e Gaara caísse no colo do tritão. – Desculpe. – respondeu corando e saindo do colo de Lee o mais rápido que conseguiu.

— Sem problemas. – respondeu com um sorriso no rosto.

— Está anoitecendo, talvez eu deva ir embora. Não é muito seguro navegar por aqui a noite.

— Eu entendo – Lee forçou um sorriso – É uma pena, você foi uma ótima companhia apesar de tudo. – Lee brincou. – Queria poder conhecer seu mundo e sobre pés. – soltou um suspiro triste

— Posso arranjar um tanque e te levar para casa.

Por mais que o tom de Gaara tivesse sido brincalhão, havia um fundo de verdade em suas palavras. Ele não queria se afastar de Lee, mas também não podia tirar a liberdade do tritão.

Sabia que Lee teria de ficar confinado em sua casa, sem contato com o mundo exterior e evitava pensar no pior, como alguém descobrir que o mantinha em casa.
Não colocaria a vida dele em risco.

— Você disse que se sente sozinho na superfície. Você está totalmente sozinho lá?

— Infelizmente. – disse com um sorriso triste.

— E se eu dissesse que você não precisa mais estar sozinho? – Lee sabia o quão arriscado aquilo seria mas estava disposto a fazê-lo pelo rapaz.

— O que quer dizer?

— Que se você tivesse a chance de não estar mais sozinho, você aceitaria?

— Sim.

— Mesmo se fosse comigo?

— Principalmente com você. – confidenciou com um sorriso.

Reunindo coragem, Lee selou seus lábios nos dele em um beijo doce e derrubou-o dentro da água. Ao sentir seu corpo entrar em contato com a água gelada Gaara abriu os olhos assustado. Será que Lee havia esquecido que ele não conseguia respirar debaixo da água? Tentou alertá-lo, mas ele apenas segurou seu rosto e aprofundou o beijo.

Gaara apenas cedeu e então notou uma coisa estranha, não estava se afogando. Já estava dentro da água tempo o suficiente para que sentisse falta de ar, principalmente porque estava beijando outra pessoa. Lee cortou o beijo com um sorriso no rosto enquanto Gaara olhava para ele confuso.

— Respire. – O tritão disse com serenidade e ele obedeceu. Ficou ainda mais assustado quando conseguiu respirar normalmente debaixo da água. Seus dedos, tanto das mãos quanto dos pés criavam membranas lentamente. Levou as mãos ao pescoço e sentiu as guelras recém formadas, sorriu nadando em direção à Lee e beijando-o novamente.

Ele não sentiria mais dor, nem solidão. Ele poderia ficar onde se sentia bem para sempre. Ele finalmente estava livre. E não estava sozinho.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Até a próxima ♥



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