Dentuço escrita por Wi Fi


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762281/chapter/2

Lydia ouvia música enquanto se arrumava. Havia acabado de sair do banho. Eram cinco e quarenta da tarde, e Mordred viria buscá-la em meia hora, para irem ao cinema ver um filme de terror qualquer.

Já tinham se passado quatro meses desde o estranho primeiro encontro dos dois, e estavam namorando já havia um mês.

Ela também não fazia ideia de como isso tinha acontecido. Depois do primeiro encontro, Lydia o havia ignorado por uma semana, tentando organizar os pensamentos. Saiu com alguns outros homens, mas nenhum se comparava a Mordred. Haviam ficado horas a conversar sobre todos os assuntos mais interessantes – passaram de literatura para música, e felizmente Lydia descobriu que o gosto musical de Mordred era tão variado quanto o dela, mesmo que gostassem de artistas muito diferentes. Falaram sobre política, religião e, também compartilhavam os mesmos pontos de vista.

Passaram a se encontrar com frequência, sempre durante a noite, em pubs e baladas underground que Lydia nem sabia que existiam. Em um desses encontros, enquanto uma banda local tocava uma balada romântica, Mordred fez a fatídica pergunta e agora eles eram oficialmente um casal.

Lydia estava feliz com o novo relacionamento. Mordred era uma pessoa muito interessante, e mesmo que ele tivesse parecido sério e misterioso no começo, quando estavam juntos ele parecia sentir-se mais confortável e relaxado. Ele contava algumas coisas sobre sua experiência passando por várias épocas diferentes, e ver os costumes e pensamentos mudarem.

“Veja só: os anos passam, pessoas morrem e pessoas nascem. A Terra gira e a Humanidade avança. Seria covardia da minha parte ficar para trás.”

“Então é por isso que você usa aplicativos de namoro?”

“Ei, um cara pode ficar solitário.”

O celular de Lydia parou de tocar música por um segundo e um barulhinho de sino indicou que estava recebendo uma ligação. Ela terminou de colocar sua blusa e pegou o telefone. O visor dizia “Dentuço” e mostrava uma pintura antiga de Mordred vestido em roupas da época vitoriana.

— Olá, Lyddie – disse o vampiro – Já estou indo para sua casa, tudo bem?

— Não é muito cedo para você estar acordado? – Lydia perguntou, quando atendeu.

— Sim, é, mas olha para fora.

Ela virou-se em direção à janela e abriu as cortinas. O céu estava completamente nublado, nenhum raio de sol tinha coragem de aparecer. Parecia que era de madrugada.

— O dia está lindo – Lydia comentou, ironicamente.

— Está mesmo. Eu posso sair tranquilamente.

— Tudo bem então. Olha, eu estou me arrumando, vou deixar a porta aberta para você entrar.

***

Depois de alguns minutos, um carro buzinou algumas vezes do lado de fora da casa de Lydia. A chuva caia pesadamente do lado de fora. Ela deixou de lado os seus brincos – que ela ainda não tinha conseguido colocar – e foi até a porta, ainda usando chinelos que faziam um par engraçado com sua roupa arrumada.

Ela abriu a porta – que ela tinha deixado destrancada, como tinha dito antes, e viu Mordred, parado de pé na chuva, ao lado de seu carro, perto da cerca do jardinzinho que ficava à frente da porta, segurando um guarda-chuva que não o cobria totalmente.

— Ei! Sai daí, vai ficar todo encharcado! – ela gritou, para ser ouvida por cima do som da tempestade.

— Eu não posso!

— Por que não?

— Eu tenho que ser convidado a entrar!

Lydia cruzou os braços e revirou os olhos.

— É claro que tem.

— É sério! – Mordred exclamou, exasperado.

— O que acontece se você tentar entrar sem ser convidado?

Sem responder, Mordred esticou uma perna e tentou pisar na grama do jardim. Imediatamente ele foi ricocheteado para trás, como se alguém o tivesse empurrado, e bateu na porta de seu carro. Lydia, como qualquer boa namorada, deu risada.

— Ok, ok. Lorde Mordred Bellamy Ludwig III, por favor, entre em minha humilde casa – ela disse, fazendo uma reverência.

Mordred então repetiu o movimento de colocar o pé no jardim, muito cuidadosamente, e quando viu que estava tudo bem, correu até a porta da namorada.

— Desculpe por isso – ele murmurou – São ossos do ofício.

— Nah, relaxa. Vem, pode ficar no meu quarto enquanto eu termino de me arrumar.

Mordred segurou na mão da namorada e deixou que ela o guiasse pela casa. Sua jaqueta de couro estava molhada e deixava pingos de água caírem pelo corredor, mas pelo menos ele conseguira limpar a lama de suas botas no tapete de entrada.

— Por que não ficou no carro me esperando? – Lydia perguntou.

— Eu tenho claustrofobia.

— Não acredito. Você bebe sangue humano, mas tem medo de lugares apertados?

— Me lembram caixões – Mordred explicou, com uma careta.

O quarto de Lydia era arrumado e a luminosidade não era muito forte. Ela gesticulou para que Mordred sentasse na cadeira cor-de-rosa que ficava ao lado da escrivaninha enquanto ia para o banheiro, passar maquiagem.

O vampiro olhou ao redor. As paredes eram em tons pastéis – cores que ele agora sabia que sua namorada adorava, e eram repletas de painéis com fotos de Lydia com os amigos e a família. Mordred ainda não tinha sido apresentado a nenhum deles, e não sabia exatamente o que pensar do assunto. Faziam décadas que ele não tinha um namoro sério, e o mundo mudara muito desde então. Mas Lydia queria levar o relacionamento devagar, e assim os dois ficavam satisfeitos.

— Ai, merda— Lydia resmungou, do banheiro.

— Tudo bem aí?

— Eu odeio passar delineador.

Mordred se levantou e foi até o banheiro, que ficava logo ao lado, e a cena que encontrou o fez dar risada.

Lydia tinha se sentado em cima da pia para poder se maquiar melhor, mais perto do espelho, mas agora estava de braços cruzados – gesto que ela fazia sempre que estava contrariada – e tinha um risco negro de maquiagem que saia de seu olho esquerdo e ia até a orelha.

— Quer ajuda, querida? – Mordred se ofereceu.

Ela resmungou alguma resposta, mas o vampiro só ignorou e pegou um pouco de algodão. Molhou-o com água e começou a limpar o delineador do rosto de Lydia, que não protestou.

— Como você passa maquiagem tão bem? – ela perguntou – Quer dizer, você não aparece no espelho, nem em fotos.

— A arte de passar maquiagem sem ver o próprio reflexo é algo que passa de vampiro para vampiro – Mordred explicou, enquanto erguia o queixo de Lydia para obter um ângulo melhor e passar lápis de olho nela – Tive muitos anos de tentativas e erros para aprender a técnica.

— Você poderia me ensinar essa técnica?

— Se demorou décadas para um vampiro aprender, imagina uma humana...

— Ei!

Lydia soltou uma exclamação, ofendida, mas Mordred já sabia que ela nunca estava realmente brava. Ele continuou seu trabalho cuidadoso e consertou o desastre que Lydia havia feito com o delineador em seus olhos. Ela virou-se para olhar no espelho e viu que até que estava bem.

— Mordred, você deveria abandonar o seu antiquário e começar a trabalhar como maquiador profissional.

— Eu acho que os clientes iriam se assustar um pouco com os utensílios que flutuam no espelho – respondeu Mordred, enquanto brincava com um batom, fazendo-o pular de uma mão para a outra. Como seu reflexo não existia, parecia que o objeto se movia por conta própria – Vem, temos que acabar logo ou vamos nos atrasar para o filme.

Ficaram alguns minutos em silêncio de novo. Mordred estava realmente concentrado em sua tarefa – tinha os olhos semicerrados e comprimia os lábios enquanto pintava os lábios de sua namorada com batom vermelho escuro, como se fosse um artista da Renascença.

Voilà. Está linda – ele disse, satisfeito. Lydia conferiu novamente o resultado no espelho e bateu palmas.

— Você é o melhor namorado do mundo.

E então lhe deu um abraço apertado. Mordred sorriu e também a apertou contra o peito. Era bom sentir, um coração que ainda batia.

Um trovão soou à distância, e Lydia soltou um gritinho de susto.

— Começo a achar que talvez não seja uma boa ideia sair de casa nessa tempestade – Mordred disse – Podíamos ficar aqui. Netflix?

— Então quer dizer que eu me arrumei para nada?

— E quem disse que você precisa de uma ocasião especial para usar roupas bonitas e maquiagem?

— Ninguém, mas... que tipo de pessoa se esforça tanto só para ficar em casa? – Lydia argumentou – Você por acaso usa suas camisolas vitorianas para arrumar a casa num domingo de manhã?

— Você não faz ideia de como elas são confortáveis.

Os dois riram. Afinal decidiram que o cinema estava cancelado e foram para a sala, onde deitaram no sofá, encostados um no outro, zapeando pelos filmes disponíveis.

Mordred tirou os anéis para poder fazer carinho no cabelo de sua namorada. Ela não costumava deixar que as pessoas mexessem com suas tranças, mas Mordred era cuidadoso.

— Olha, Crepúsculo – Lydia apertou um botão no controle e a capa do filme apareceu na televisão – O que acha?

— Se você colocar essa porcaria, eu vou embora.

— Ah, qual é. Não pode ser tão ruim assim.... – a humana se interrompeu quando seu namorado lhe olhou com seriedade – Ou talvez seja. Tem razão, nada de Crepúsculo.

— Obrigado, querida.

— Você nunca me chamou de “querida” antes – Lydia observou – Mas essa noite já foram duas vezes.

— Não gosta? – Mordred perguntou. Nem tinha notado o apelido carinhoso – Posso trocar.

— Não, eu gosto. Desde que eu possa te chamar de Mormor.

— Ah não – o vampiro grunhiu – Esse apelido é estúpido.

— É fofinho! Mormor.

— Nunca achei que ia dizer isso, mas prefiro Dentuço.

— Também é fofinho.

Lydia sorriu para ele, como uma criança que havia aprontado. Mordred achava que estava morto por dentro, mas quando ela fazia aquela expressão de doçura ele sentia seu coração derreter, metaforicamente falando. Ele segurou o rosto dela e a trouxe mais perto para um beijo.

Ah, aquilo sim o fazia se sentir vivo. Logo estavam novamente abraçados, e Mordred conseguia facilmente sentir o coração de Lydia acelerar. Até que...

Ai!

O vampiro se afastou, e colocou a mão no lábio, que doía.

— Você me mordeu! – ele exclamou. Lydia deu risada.

— É só para você ter um gosto do próprio veneno.

— Eu nunca te morderia.

— Sei, sei. E agora tem batom na sua boca.

Mordred tentou limpar-se, passando as costas da mão pelo lábio. Lydia voltou a deitar-se contra seu peito, como se nada tivesse acontecido, e deu mais um beijo em seu maxilar.  Por um segundo, ele temeu que sua namorada fosse morder seu pescoço.

— Sabe, o Oscar Wilde gostava quando eu usava batom – disse Mordred, para provocá-la.

— Ah, claro, porque você já dormiu com o Oscar Wilde.

— E metade dos autores que você estudou.

— Eu espero que o seu quarto naquela época fosse mais arrumado do que é agora – reclamou Lydia – Não consigo imaginar os maiores nomes da literatura inglesa dormindo naquela espelunca. Quando fomos para o seu quarto, achei que estava em uma Mansão Assombrada de parque de diversões.

— Você não estava exatamente reclamando no meu quarto.

Por esse comentário, ele recebeu um golpe de almofada no rosto. Mordred pegou uma outra almofada para se proteger, e dentro de pouco tempo eles haviam começado uma guerra de almofadas, que se tornou mais perigosa quando o vampiro decidiu fazer cócegas em Lydia. Ela ria e gritava de raiva, incapaz de se defender, e enfim se rendeu. Mordred exigiu mais beijos como seu espólio de guerra. Depois disso, seu ficou tão cheio de batom vermelho que parecia que ele estava sangrando.

Lydia acabou pedindo pizza, porque estava com fome, mas obviamente teve que comer sozinha. Como a chuva ainda estava muito intensa, ela acabou por convencer Mordred de que deveria passar a noite lá.

Lydia realmente nunca imaginou que passaria um sábado com um vampiro em sua cama.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não, eu não escrevo hentai, seus pervs, isso é o mais próximo que eu chego. Espero que tenham gostado desse casalzinho :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dentuço" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.