Olhe pelo vidro, encontre o erro

Dentro do passado, sabendo que

Somos jovens - Natural (Imagine Dragons)

— Droga de cerveja. — Gargalhei alegremente ao ver minha mãe resmungar sentada no sofá da sala. O sol entrava alegremente, dando um pouco de cor a minha pele pálida.  — Não ria de mim, querida. Você ficará pior na sua primeira ressaca.

— Eu espero que não. — Phil se intrometeu, entregando um comprimido e um copo de vidro com água até a metade para Renée, que colocou na boca sem nem pensar duas vezes.  — Mas quando acontecer, eu vou está aqui, só espero que você não beba como sua mãe.

— Querido marido, eu não sou uma alcoólatra.  — Minha mãe falou, devolvendo o copo, agora vazio, para ele. — Mas obrigada  por cuidar de mim, meu amor.

— Na saúde e na doença, lembra? — Abri um sorriso ao ver que minha mãe estava em boas mãos. Eles se olharam carinhosamente, Phil passou sua mão levemente na bochecha direita da Renée, e a beijou rapidamente antes de ir colocar o copo na pia.

— Eu o amo. — Declarou ela, como uma criança apaixonada, mesmo tento anos de casamento.

— Eu sei.

— Você devia sair querida.

— Está tentando me expulsar de casa, mãe?! — Coloquei minha mão em cima dos seios, fazendo uma expressão de surpresa.

Eu sabia que era isso.

Minha mãe é fácil de ler, e eu sabia desde o início que ela estava querendo me empurrar para passear, provavelmente com medo que eu vire o que era quando o Edward foi embora. Eu não quero isso. Naquela época eu estava apenas respirando, e não vivendo. Então acho que minha mãe está tentando me dar essa oportunidade.

— Sim, meu amor, é isso que eu estou fazendo. Eu preciso ver você sair para namorar, ir para festas e beber como uma irresponsável. Preciso que você viva. 

— Você que manda.

— E se o Phil perguntar, eu não sei de nada. Para onde vai? — Seus olhos praticamente brilharam quando eu levantei do sofá, indo até o quarto. — Não me diga! E também não me fale a hora que você vai voltar. Mas fique viva.

— Pode deixar mãe. — Neguei algumas vezes com a cabeça enquanto subia as escadas animada.

Tudo bem. Ser irresponsável.  Eu consigo fazer isso, certo.

Eu sobrevivi a um vampiro sádico. Eu consigo fazer isso.

Andei com passos decididos até o closet, ficando confusa ao ver a quantidade de roupa nova que, com toda a certeza da minha vida não estava lá ontem quando olhei.

— Desde quando eu tenho pares de tênis de marca?! — Sussurrei ao vê-los com a etiqueta ainda, em cima das caixas. — Droga mãe.

Amarrei o cabelo em um coque devido ao calor. Puxei do cabide uma blusa grande flanelada vermelha, a jogando na cama em seguida. Peguei também uma das peças novas de uma das blusas curtas que minha mãe tinha comprado, tinha renda e uma alça fina, porém só ia até um dedo abaixo dos seios. Seja irresponsável…

Peguei também um par de short jeans que era um pouco alto, aquilo certamente tamparia meu umbigo.  

Puxei um dos tênis vermelhos, vestindo tudo em seguida, já que eu já tinha tomado banho quando acordei. Dobrei a manga da blusa flanelada, que por acaso tampava o short. Procurei por meu celular e um pouco de dinheiro, colocando ambos no bolso do short.

— Eu estou indo. Não me esperem. — Me despedi, vendo um sorriso no rosto da minha mãe, apesar dela ainda estar com os olhos inchados devido a ressaca.

Pude ouvir minha mãe comemorar, dizendo que eu provavelmente teria minha primeira ressaca.

A maioria das pessoas pareciam não se conhecer, e algumas até riam e falavam sobre a temperatura calorosa da cidade, rindo juntas. Parecia não ter muita gente da minha idade, sempre mais velhos, e eu logo vi que era porque não se tinha muita coisa para fazer na área. Algumas lojinhas de presentes e de plantas, algumas até de roupa.

Passei em uma loja de eletrônicos, sorrindo para o atendente tatuado que parece bastante interessado em seu celular.

Comprei um fone de ouvido e conectei no telefone, voltando a andar normalmente.

Meus fios castanhos se balançavam de um lado para o outro quando eu desviava de algumas pessoas. Eu andei por um tempo, entrando em algumas lojas e até comprei um livro de mitologia grega, mas quando meu estômago deu sinal de vida, eu caminhei até um bar, mas parecia um restaurante. Logo pude perceber que era os dois quando vi algumas pessoas bebendo álcool no balcão e outras sentadas na mesa, almoçando.

O lugar era claro e arejado, tinha algumas paredes escuras e as mesas eram de madeira. Caminhei até uma das mesas, sentando em uma das menores de dois lugares.

O cardápio já estava na mesa, e rapidamente uma garçonete sorridente veio. Ela parecia ter a minha idade, seus fios cacheados estavam presos em um coque, e seu sorriso branco entrava em um lindo contraste com sua pele morena.

— Olá, eu sou a Hannah, vai pedir agora? — Assenti com a cabeça, pedindo a especialidade da casa,  Hannah anotou tudo e saiu sorridente de perto da mesa. Senti meu celular vibrar e olhei para a tela, sem ter muita surpresa ao ver que era Angie ligando.

— Ei Bells, como está aí? — A voz doce da minha amiga chegou de encontro com meus ouvidos, eu praticamente podia ouvir a alegria em sua voz.

— Maravilhoso, querida amiga. Agora me diga o que te fez tão feliz?

— Não é óbvio Isa? Eu. O namorado bonito e gentil dela. — Ouvi a voz de meu amigo, soando ainda mais alegre.

— O que você fez? — Olhei ao redor, vendo as pessoas pelo bar.

— Fiz uma surpresa para ela, flores e chocolate sabe?

— Romântico.

— É eu sei, e agora ela ta caidinha por mim. — Ri baixo do meu amigo. Eles são, com toda certeza da minha vida, o casal mais estranho que eu já vi. Eric era todo engraçando, e Angel toda tímida. Mas eles se completam de uma forma tão única, que eu acho que nunca seria capaz de entender direito.

— E quando ela não foi? — Tive a alegria de ver Hannah vindo em minha direção um uma bandeja na mão, servindo em cima o prato de comida e um copo de Bourbon, que eu com certeza não pedi. A olhei confusa, me despedindo de Eric e Ang.

— Eu não pedi isso, pedi um suco.

— Eu sei, e o suco já vai sair. Mas aquele cara ali no bar te comprou isso. — Ela sorriu, praticamente saltitando perto da mesa. — Daqui a pouco eu volto aqui.

— Obrigada. — A agradeci.

Olhei em direção ao bar, tendo a surpresa de ver o homem de ontem ali, sentado com uma garrafa de bebida e um pequeno copo como o meu a sua frente. Ergui uma sobrancelha ao assim que pude ver ele olhando em minha direção e acenando de forma sarcástica.

Ele parece ser bem… Irônico.  Sorri em sua direção e ele logo veio caminhando até mim, com seu copo e a garrafa praticamente na metade. Tirou a sacola de livros da cadeira a minha frente e se sentou, colocando a garrafa e o copo a sua frente.

— Ah, claro, pode se sentar. — Disse, sarcástica. Ele sorriu de canto, virando o mais bebida em seu copo.

— Você não parece uma bruxa. — Ele levou o copo em seus lábios e virou rapidamente. — Ficou feliz demais por ter encontrado um ser como eu, então ai vai a minha pergunta. O que você é?

— Nada. Humana. A minha reação veio do fato de você ser… Diferente.

— Eu ser bonito e sexy te deixou desnorteada? Não se sinta envergonhada, eu geralmente causo isso nas pessoas.  

— Não, o fato que você não parece pálido demais e nem tem olhos coloridos. — Murmurei, pegando um pouco de comida no prato e colocando em minha boca. Ele não parecia querer ir embora da mesa, e eu realmente estava com fome, então comecei a comer enquanto ele bebia.

— Vampiros globo de luz. — Ele fez um leve biquinho em seus lábios, parecendo pensar um pouco. Hannah voltou trazendo meu suco, um pouco surpresa para ver o desconhecido sentado ali comigo, mas sorriu maliciosa em minha direção, ela perguntou se ele vai pedir alguma coisa, a qual ele negou. — De onde os conhece? Preciso saber se tem vampiros frios aqui, apesar de duvidar muito. Só se forem suicidas.

— Meu ex namorado e a família dele. — Ele me deu um olhar surpreso, acho que não acreditou que eu fosse realmente falar. — Meu sangue "cantava" para ele, ou coisa assim.

— Então você gosta do perigo?

— Alguma coisa assim. Mas sabe quando você dá tudo para a pessoa e ela simplesmente te joga fora? Eu fui o que? Um distração para e usar e largar no meio da floresta no frio depois?

— Idiota. — Ele comentou.

— Eu ou ele? — Peguei mais comida, bebi um pouco do suco, sentindo o sabor doce da fruta.

— Ele, obviamente. — Virou mais um copo. Ergui minhas sobrancelhas, ele não parecia nem mesmo "alegrinho". Imagino o quanto ele já não deve ter bebido para conseguir todo essa coisa de não ficar bêbado fácil.  — Ele te deixou mesmo em uma floresta?

— Claro. — Murmurei, bebendo mais suco. — E eu ainda acreditei que iríamos ficar juntos e toda aquela baboseira. — Ele revirou os olhos, como se já soubesse dessa história. — Sou Isabella.

— Damon. — Nós nos olhamos e eu percebi que tinha acabado de comer, e o suco estava no final, sua garrafa já estava fazia e quando Hannah chegou para limpar e tirar a garrafa, Damon me olhou e sorriu de canto antes de pedir mais duas garrafas de Bourbon. — Acho que temos muito para conversar.

— É, se você diz.