Era nosso terceiro ano consecutivo ali. Como minha irmã tinha entrado na faculdade, aproveitamos o momento para viajar em família e curtir um pouco uns aos outros antes de termos que nos separar outra vez. Aparentemente, ninguém deixou o objetivo claro pra ela, porque ela não tirou os olhos do celular por um segundo sequer.

Mal vi Danilo nos primeiros dias; ele estava sempre correndo por aí com algo nas mãos, ora toalhas, ora produtos de banheiro, ora um rodo ou uma vassoura. Nas poucas vezes em que nos esbarrávamos, acontecia uma tímida troca de olhares e seguíamos nossos caminhos. Havia alguma coisa diferente, mas eu não sabia dizer o quê. Percebi, porém, que sentia falta de ver seu rosto emburrado atrás do balcão.

Estava apenas no começo a minha obsessão por romances policiais. Levei O Código da Vinci com a esperança de lê-lo se ficasse entediada, mas quase acabei com ele em algumas horas! Se continuasse naquele ritmo, não me sobraria nada para ler na viagem de volta. Por isso, na minha primeira manhã de domingo ali, resolvi abandonar Robert Langdon logo que acordei, deixar minha família dormindo e descer para tomar o café.

Ah, deixe-me contar sobre o café daquela pequena pousada... O cheiro de pão na chapa inundava a cozinha assim que o sol nascia, e nesse momento a mesa da cozinha já tinha se transformado num banquete de castelo. Bolos, frutas, suco e chá, tudo o que eu podia imaginar, eles tinham.

Naquele domingo específico, eu estava extremamente de mau humor. Uma noite mal dormida por causa de uma irmã que adora deixar a luz do celular na cara dos outros é um sinal de férias agitadas.

— Bom dia — cumprimentei automaticamente ao chegar. Esperava que mais alguém já estivesse ali, mas Danilo e eu estávamos sozinhos no cômodo. Um olhar dele foi suficiente para que todo o sentimento ruim evaporasse.

— Que cedo — retrucou ele, passando margarina em um pão. — Você sempre acorda depois das dez.

— E você presta tanta atenção assim no meu horário de sono? — debochei.

— Tenho que trocar os lençóis. — Ele deu de ombros.

Dei risada.

— Ok, você ganhou essa. — Foi só aí que resolvi olhar pro relógio, e quase morri de susto; não eram nem seis horas da manhã! — Meu Deus, eu vou voltar pra cama.

— Não! — disse ele, alto demais, depois colocou as mãos na boca. — Opa. Já que você tá aqui, pode me ajudar ou pelo menos me fazer companhia — pediu, com cara de cachorro que caiu do caminhão da mudança.

Me aproximei e comecei a ajudá-lo a cortar os pedaços de bolo, as tiras de queijo branco e as fatias de pão. Arrumamos sobre a mesa a geleia, a margarina e mil opções de refrigerantes e sucos.

— Até que ficou bonito. — Sorri. — Digo, o café da manhã.

Ele deu uma mordida no pão que estava arrumando antes.

— É, nada mal.

— Diz aí, eu sou uma ótima cozinheira — ironizei.

— Mas você não cozinhou nada! — riu ele.

— Detalhes, detalhes. Apenas detalhes — rebati.

Ele passou um longo momento me olhando; encarei de volta quase sem piscar. Por fim, ele riu mais uma vez e, num gesto espontâneo, mexeu no meu cabelo.

— Certo, obrigado pelo super café da manhã, ó, fada poderosa!

— Gosto assim! — Ri de volta.

O momento durou pouco, mas acabou se tornando o terceiro motivo.