Dez e nove.

Escuridão. Pessoas. Silêncio.

Uma reflexão inexorável: o mundo se alimenta de fatalidades.

Um fechar brusco de olhos: uma tentativa de conter o pranto.

Um sussurro, “Você está pensando nele?”.

Silêncio.

Quando as esculturas iridescentes moldadas a partir do próprio corpo de Ogaki se iluminaram a partir de dentro e projetaram um céu estrelado nas paredes do museu, a morena se sentiu em paz pela primeira vez nos últimos dias. A metáfora era simples, a explicação nem tanto.

Tudo começou à bilhões de anos atrás. Segundo a Teoria do Big Bang, foram lançados no espaço hidrogênio e hélio, todos os outros elementos químicos resultaram da explosão posterior de estrelas, forjadas no interior das primeiras galáxias. Um primeiro vislumbre do Universo é passível de desencorajar-nos perante a evidência da nossa própria insignificância. Um olhar mais atento e captamos a verdade das coisas: tudo é feito de estrelas. (O ferro no nosso sangue, o cálcio nos nossos dentes, tudo isso só pode ser sintetizado na natureza em condições extremas de temperatura e pressão – quando uma estrela morre e vira uma supernova.) Portanto, todos os elementos que formam o planeta, os vegetais, as rochas, os seres humanos, são formados pelos elementos que chegaram à Terra vindos das gigantescas bolas de gás incandescente que nos inspiram todas as noites desde o infinito. Vão muito além das pautas, das páginas, das poesias. São promessas de vida, um céu de onde viemos e para onde eventualmente regressaremos.

Mais do que isso, se a Terra é praticamente um sistema fechado e seguindo a linha de raciocínio de Lavoisier, de que na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma, sendo assim, não há criação, apenas rearranjo de átomos. Logo, podemos concluir que todos os átomos existentes no planeta estiveram aqui desde o início. Isso quer dizer que os elementos que hoje compõem os nossos corpos podem ter feito parte de uma árvore, de uma pedra, ou até mesmo de outros seres humanos. É reconfortante, de alguma forma, saber que uma parte de tudo o que parte, permanece.

Dez e Dez.

Um suspiro.

“Estou. Espero que ele tenha chegado bem.”