Every Single Stupid Word escrita por Marylin C


Capítulo 1
I. You push all my buttons down


Notas iniciais do capítulo

Primeira semana: A primeira vez que nos falamos.



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A moça de olhos verdes desceu da moto, tirando o capacete enquanto andava até o banco. Detestava ter que ir até o HBSC para resolver as pendências da faculdade, mas não tinha outro jeito. Parou no vidro da frente do banco tempo suficiente para ajeitar os cabelos ruivos antes de adentrar o estabelecimento, gemendo baixo ao notar a fila enorme que serpenteava por todo o ambiente. Procurou o final dela, onde um rapaz muito alto com uma caixa de violão nas costas olhava para o céu cinzento de modo sonhador. Ela tocou-lhe o ombro, e ele se virou abruptamente para então abrir um pequeno sorriso em cumprimento.

— Com licença, mas o que aconteceu pra ter essa fila enorme aqui? — indagou, ao que ele deu de ombros antes de despentear mais os cabelos negros e responder:

— Pelo que entendi, houve uma confusão e só tem um atendente aqui. E a maior parte das máquinas está em manutenção.

— Péssimo. — ela reclamou, olhando o relógio em seu pulso ansiosamente. — Eu claramente vou me atrasar pra aula, de novo.

— O que você estuda? — ele quis saber.

— Música. — a ruiva respondeu com um sorriso e um olhar para o violão nas costas dele. — Estudo piano na Universidade de Hogwarts.

— É aqui perto, não?

— É sim, mas eu pretendia ir na casa de um colega meu para… — ela se interrompeu ao ouvir a melodia de seu toque de celular. — Desculpe. — pediu antes de atender — Oh, Severus! Desculpe, mas não vai dar pra passar aí. A fila do banco está enorme, e eu não posso me atrasar mais ou a Minerva me mata. Você tem como pegar o metrô, certo? — ela fez uma pausa, certamente ouvindo o amigo reclamar mas concordar em encontrá-la na faculdade. — Ótimo! A gente combina de gravar essa música depois, certo? Desculpa mesmo!

— De onde é o seu sotaque? — foi a próxima pergunta dele quando ela desligou, ao que ela sorriu mais.

— Irlanda. Cresci lá, numa cidadezinha do interior. Mas achei que já tinha conseguido disfarçar o sotaque, faz três anos que moro aqui.

— Ninguém perde o sotaque tão fácil assim. — ele riu — Mas a culpa é parcialmente minha por reconhecer, tenho um ouvido realmente bom.

— Você também toca? — ela indagou, indicando o violão. Ele assentiu.

— Não estudo numa faculdade assim chique, mas faço música sim. — replicou, ao que ela riu. Um riso fácil que fez o coração dele disparar.

— Não é chique, eu ganhei bolsa de oitenta por cento. Senão ainda estaria em casa treinando escalas no piano velho do meu pai. — deu de ombros. — Oh, acho que é sua vez.

— Pode ir na minha frente, meu negócio vai demorar um pouco. — ele fez um gesto para a atendente de sorriso plástico que chamara o próximo, ao que ela agradeceu e despediu. Ele a seguiu com o olhar depois que ela foi atendida, observando-a sair do banco e por o capacete vermelho para sair voando com uma moto prateada. Suspirou, pensando que aquela era uma garota realmente bonita, antes de se aproximar da atendente e tentar resolver a confusão que seu melhor amigo arrumara com o dono do apartamento que eles alugavam.

Foi só quando saiu do banco que notou que o relógio da alma gêmea em seu antebraço, os números pretos digitais, tinham reiniciado. E que não tinha perguntado o nome da ruiva que levara seu coração junto com ela.

 

Procuro a moça do sorriso grande que estava no HBSC da Oxford Street ontem às 13:45.

Galera, vamos ajudar o colega aqui a achar uma moça que estava no HBSC da Oxford Street ontem às 13:45. Ela é baixinha, tem cabelos ruivos, olhos muito verdes e um sorriso lindo que eu não consigo esquecer. Disse que estuda piano na Universidade de Hogwarts. Se não me engano, dirige uma moto prateada e usa um capacete vermelho. Conversamos um pouco na fila do banco, mas eu não sei seu nome. Ela tem um sotaque irlandês que eu achei muito lindo. Gostaria de ser amigo dela XD Vamos compartilhar aí gente. Se você sabe/conhece quem é, ajuda a gente a se ver de novo.

P.S.: Se ela tiver namorado/a, não precisa ficar bravo/a, e me desculpem... Se ela não tiver, podemos ver um filme no cinema, ou comer uma pipoca aqui em casa, ou dividir um pacote de salgadinho, biscoito ou a vida...

James Potter, às 17:24.

O rapaz moreno suspirou depois de clicar o “Enter”. Aquilo soaria desesperado, mas situações desesperadas exigem medidas desesperadas. E ele sabia que seus fãs não o deixariam na mão.

James fechou o notebook, largando-o ao seu lado sobre a cama. Pegou seu violão e começou a dedilhar distraidamente, pensando em olhos verdes emoldurados por cabelo ruivo e em um sorriso incrível. Ele detestava esperar em filas, mas aquela ruiva o fez perder a noção de tempo. E ainda possuía um agravante: o relógio da alma gêmea, gravado em seu antebraço esquerdo como uma tatuagem, tinha zerado no momento em que ela apareceu. Ele não tinha realmente visto isso, mas o leve ardor que sentiu denunciou que aquela ruiva era, na opinião do relógio em formato digital, a pessoa com quem James deveria passar o resto de sua vida.

— Merda. — resmungou quando errou a nota de uma simples escala, ao assustar-se com o som de seu telefone tocando. Pôs o violão de lado e atendeu, ouvindo a voz animada de Remus Lupin:

Finalmente consegui acabar de editar seu último vídeo!

Parabéns. — James replicou, desanimado. Quase podia ver o amigo revirar os olhos.

Qual é, James! O áudio estava péssimo, sem coincidir com a imagem. E ainda tive que fazer o efeito em preto e branco que você pediu, além de cortar todas as falhas e reuni-las no making of. Sinceramente, eu esperava um pouco mais de consideração.

— Não estou com humor para isso, Moony. o tom repreensivo que seu amigo usara na frase anterior se extinguiu, dando lugar ao conselheiro particular que vivia no rapaz loiro:

É por causa da garota ruiva que é sua alma gêmea? Relaxe, você vai encontrá-la. O relógio não recomeçou a contar?

— Sim, mas...

Mas nada! Seus fãs vão ajudar a encontrá-la, não tenha dúvida. Agora vá responder todos os milhares de comentários na postagem que você fez sobre ela e os do vídeo que acabei de enviar. — e com essa ordem desligou. James sorriu minimamente, pensando em todas as pessoas que admiravam o seu trabalho, e retornou ao notebook. Mal abriu sua conta do YouTube, porém, o celular tocou de novo. O rapaz perdeu a pouca cor de seu rosto ao ler o nome no identificador de chamadas, e forçou um sorriso animado antes de atender:

— Olá, pai!

— Onde diabos está você? Tínhamos combinado um almoço de negócios com os publicitários, lembra? — a voz irritada de Fleamont Potter se fez ouvir. James suspirou.

— Desculpe, pai. Eu esqueci totalmente. —“Ou simplesmente não quis ir,” pensou consigo mesmo.

Assim não dá pra te ajudar, filho. — o comentário do homem irritou o rapaz de uma maneira incrível, que o levou a comentar:

— Não é como se eu quisesse ou tivesse pedido a sua ajuda, é?

Ouviu seu pai respirar fundo, imaginando as veias de seu pescoço saltando com o esforço de não discutir.

— Nos vemos depois, James. — se despediu em tom seco antes de desligar. O rapaz moreno jogou o telefone novamente na cama, puxando o notebook de volta para si. Seu pai nunca tinha sido uma pessoa muito complicada, mas valorizava o trabalho e não a boa música.

— Que se dane. — falou em voz alta, voltando aos comentários do vídeo que Remus tinha postado e tentando não pensar em olhos verdes.

***

— Droga, droga. Mil vezes droga! — a garota resmungava para si mesma, correndo como louca pela Oxford Street enquanto seus cabelos ruivos despenteavam-se com o ar frio de Londres.

Chegou sem fôlego ao This & That Café, onde sua amiga Alice se encontrava atendendo a executiva que geralmente parava lá para um chá. O dono da cafeteria a olhou severamente enquanto Lily corria para pegar seu avental azul tentando deixar seus cabelos um pouco mais apresentáveis, mas nada disse. Lily Evans estava atrasada. Mais uma vez.

— Passou a noite tocando, Lils? De novo? — a garota de curtos cabelos negros perguntou à amiga depois de terminar de atender um estudante que entrara, reparando nas profundas olheiras por baixo dos olhos verdes.

— Eer... Sim. Tinha uma melodia de Bach que eu simplesmente precisava aprender, e... — ela parou de falar ao ver a senhora que sempre chegava com sacolas e sacolas de compras adentrar o estabelecimento. Adiantou-se para ela, segurando as compras enquanto ela se sentava e pedia o típico chá de morango com croissant. Lily notou o relógio de alma gêmea no antebraço esquerdo da senhora; marcava que ela iria encontrar a alma gêmea em menos de cinco minutos.

— O tempo está bom hoje, não é? — comentou a cliente alegremente, olhando para a janela. Quatro minutos.

— Sim, está. Parece que a chuva deu uma trégua. — ela replicou, anotando o pedido da mulher. Três minutos e meio.

— Espero que fique assim até a noite. Preciso fazer uma caminhada pelo parque. Gosta do parque, moça? — Dois minutos.

— Gosto sim, senhora. Moro próxima a ele, na verdade. — Lily respondeu com um sorriso. Vinte e sete segundos.

— Verdade? Deve ser ótimo. Eu moro a dez quarteirões de lá, então tenho que andar bastante. Você... — a senhora parou de falar ao ouvir uma batida na janela ao seu lado. Ao virar-se, viu um senhor usando um chapéu panamá branco enquanto segurava um buquê de margaridas. — Oh, George!

A idosa levantou-se para receber o marido, que sorridente entregou-lhe as flores e pediu um chá de limão a Lily. Os dois permaneceram conversando enquanto a garçonete se retirava, suspirando enquanto ditava os pedidos para Alice. Olhou para o relógio da alma gêmea em seu próprio antebraço. Um ano, vinte e sete dias, três horas e vinte minutos até ela encontrar a sua.

— “Se tu vens às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.” — a garota morena comentou ao reparar no olhar perdido da amiga.

— O Pequeno Príncipe, Lice? Sério? — Lily foi tirada de seus devaneios para replicar, rindo um pouco. A outra deu de ombros, um sorriso amarelo em seus lábios finos, antes de terminar de arrumar as xícaras na bandeja da amiga ruiva. Ela levou o pedido até o casal de idosos, que a agradeceram com sorrisos igualmente amáveis.

A cafeteria This & That era uma das poucas que sobrevivia à febre de Starbucks, principalmente por causa de seus preços inferiores, clientes fiéis e ambiente relaxante. As mesinhas eram de madeira polida e lustrosa, em formato hexagonal. Bancos confortáveis em marrom ao longo das paredes, além das cadeiras altas ao lado do balcão e baixas para as mesas eram onde os clientes sentavam-se, geralmente preferindo o lado da parede que era um janelão que dava para a rua. A um canto perto da entrada, um belo piano de cauda complementava o espaço junto com as luminárias localizadas sobre cada mesa e o piso estampado em bege. Lily, nos dias mais vazios do café ou quando simplesmente um dos clientes a pedia, era paga um extra para sentar-se ao piano e tocar uma melodia.

— Toque algo para nós, ruiva? — pediu o senhor sentado junto à esposa, sabendo que a garota seria recompensada mais tarde. Ela sorriu e se dirigiu ao piano, perguntando-se o que deveria tocar para aquele casal de velhinhos.

L is for the way you look at me... O is for the only one I see… V is very, very extraordinary… E is even more than anyone that you adore… — cantarolou enquanto tocava os acordes de acompanhamento, fazendo o casal idoso levantar-se e começar a valsar lentamente. Pôde ver Alice sorrindo atrás do balcão, o celular erguido: sem dúvidas gravando um vídeo para mandar para o marido, Frank Longbottom, com alguma legenda brega como “isso vai ser a gente daqui a 40 anos”. Até mesmo o dono do café, Tom, batia os pés ao ritmo da música e tinha um meio sorriso no rosto ao olhar para o próprio relógio da alma gêmea.

Céus, estava cercada de românticos.

***

— É por isso que eu preciso encontrá-la, Pads! — James argumentava, mostrando o relógio de alma gêmea em seu antebraço enfaticamente. — Ele zerou quando conversei com ela e só fui perceber isso quando ela já tinha ido embora!

O rapaz de cabelos negros olhou-o, deitado displicentemente no sofá do apartamento que dividia com o melhor amigo, e deu uma curta risada de escárnio.

— Qual é, Prongs! O relógio começou a contar de novo, certo? — apontou para os números, que marcavam cinco dias, vinte e três horas, três minutos e quinze segundos até que James encontrasse sua alma gêmea novamente. — É só esperar a hora que ele mostrar, ué.

— Não é assim que funciona, Sirius. — James replicou, empurrando as pernas do amigo para o lado para jogar-se no sofá também. — Não sei se você já notou, mas quando você toma uma decisão, ela influencia no tempo que o relógio marca. Então eu tenho que achar ela logo, pra poder vê-la antes!

Sirius tinha sim notado, mas não seria ele a dizer a isso a James. Passara anos falando para si mesmo que não se importava com toda essa baboseira, mas o imperceptível movimento que fez na manga esquerda de seu casaco mostrava o contrário. Ele suspirou, revirando os olhos.

— Não sei por que você se importa tanto com isso. Mas, já que não tem jeito de você me deixar em paz, vou te ajudar.

— Até parece que você quer mesmo que eu te deixe em paz, Pads. — James riu, alcançando o notebook na mesinha de centro e então abrindo sua postagem. Choviam comentários e fotos de moças ruivas, mas nenhuma era a que ele queria. Conteve um gemido de frustração e passou o computador para Sirius, que o apoiou sobre a barriga e começou a averiguar.

— Sabe, talvez possamos fazer um pouco de trabalho de campo. — Sirius sorriu seu sorriso arteiro que fazia muitas (e muitos) suspirarem de desejo, abrindo o Google Maps e procurando a Universidade de Hogwarts. James o olhou sem entender, ao que o rapaz de cabelos longos mais uma vez revirou os olhos. — Você não entende nada de encontrar pessoas, não é?

— Não, eu não tenho um crush cada vez que eu saio de casa que nem certas pessoas. — foi a resposta, ao que Sirius gemeu como se tivesse sido atingido.

— Nossa, não precisa ser agressivo assim só porque não possui meus poderes de stalker. — ele deu de ombros — E depois, Sirius Black não tem crushs. Sirius Black tem leves quedas por pessoas lindas. Que geralmente resultam em beijos na boca e em outros lugares que…

— Informação demais, Sirius! — reclamou James, tapando as orelhas como se fosse uma criança. — Eu sinceramente não estou interessado na sua vida sexual.

— Mas você quer que eu ache a sua ruiva, não quer? — o rapaz com o notebook riu, fazendo o amigo suspirar.

— Não entendo por que eu me digno a ser seu amigo.

— Porque eu sou obviamente maravilhoso. E porque somos vizinhos e melhores amigos desde sempre. — Sirius afirmou. — Quer minha ajuda ou não?

— Quero, por mais que eu odeie admitir isso. — James descansou a cabeça no sofá, desistindo.

— Ótimo, então você vai ouvir tudo sobre a noite incrível que eu tive com aquele estagiário do seu pai enquanto eu analiso os arredores da Universidade de Hogwarts à procura de possíveis lugares que sua ruiva possa frequentar. — ele disse, sua voz um tom mais aguda que o normal com a animação. O músico de óculos revirou os olhos e pegou o violão que estava encostado no sofá para dedilhar algumas escalas.

— Por falar na empresa dos meus pais, você não tem trabalho hoje? — perguntou, ao que Sirius deu de ombros.

— Meu turno vai ser o da noite hoje, troquei com Emmeline porque ela não quer ver o Diggory.

— Por quê? — James franziu a testa.

— Porque ela terminou com ele ontem, Prongs! Seja um pouco mais antenado nas fofocas da sua futura empresa, por favor. — ele prendeu os cabelos negros em um rabo de cavalo displicente antes de voltar-se para o amigo, os olhos azuis-acinzentados semicerrados e acusadores. — E você não vai me distrair do assunto. Eu vou contar como foi minha noite com o Stephen e você vai adorar ouvir!

— Ninguém quer saber disso, Sirius! — uma terceira voz foi ouvida da cozinha, seguida do som da porta batendo. Sirius voltou-se para o computador rapidamente, bem a tempo de fingir que não se importava nem um pouco com a entrada casual de Remus Lupin no apartamento que dividia com James.

— É exatamente isso que estou falando pra ele desde que cheguei! — James reclamou, empurrando o amigo para o lado para deixar o recém-chegado jogar-se no sofá com os dois amigos. — Muito obrigado, Moony.

Remus riu, largando a bolsa no chão e chutando os próprios sapatos para longe. Tirou o violão do colo do amigo de óculos, deitando-o sobre a mesinha de centro antes de se esticar ele mesmo sobre James.

— Nunca entendo como esse sofá sempre coube nós todos, além de Peter. — comentou, pondo as pernas para cima do braço acolchoado do sofá e a cabeça sobre as pernas do amigo. Sirius tirou uma mão do teclado para distraidamente acariciar os fios loiros, ainda prestando muita atenção no notebook para falar algo.

— Pois é, principalmente com essa sua mania de se esticar todo, que nem um gato. — James reclamou, rindo. Remus deu de ombros com um sorriso, fechando os olhos inconscientemente para apreciar o carinho que recebia. — Como foi o trabalho hoje, Moony?

— Eu odeio reuniões com clientes, alguém deveria aboli-las. — o rapaz gemeu. — Não entendo por que aquele alemão insiste em marcar reuniões quando o assunto delas pode ser resolvido com uma simples mensagem!

— Oh, os ossos do ofício de ser freelancer. — Sirius falou sarcasticamente, fazendo Remus rir.

— Pois é. Mas e então, Padfoot? Encontrou a ruiva do James? — perguntou. Ele tinha imaginado que James iria pedir ajuda ao mestre stalker de plantão, já que seus fãs falharam naquela missão.

— Tenho uma ideia de onde ela pode ir. — ele replicou, inserindo um tom de drama ao acrescentar — Cumprirei esta missão nem que eu tenha que morrer por isso!

Remus e James reviraram os olhos de um jeito parecido, rindo. Sirius continuou analisando o mapa, os dois amigos entabulando uma conversa sobre os próximos vídeos que o músico queria fazer e quanto tempo de edição ele levaria. Algum tempo depois, o rapaz de cabelos claros levantou-se para atender um cliente ao telefone e aproveitar para pedir uma pizza. Tinha acabado de falar com o atendente da pizzaria quando notou o relógio da alma gêmea em seu pulso. Duas semanas, cinco dias, quatorze horas e seis minutos.

“Mais perto do que longe,” ele pensou consigo mesmo.

— Será que ainda tem daquela cerveja que Peter trouxe daquela vez? — ouviu a voz antes de ver Sirius abrindo a porta da geladeira, abaixando-se para procurar nas prateleiras mais baixas. A figura esguia e bem feita dele, com alguns fios negros saindo do rabo de cavalo e a calça apertada que usava marcando os lugares corretos, fez Remus ofegar. Sempre soube que ele era bonito, especialmente por causa da quantidade enorme de pessoas que dizia isso, mas…

— Você não vai trabalhar bêbado, Sirius. — disse, tentando voltar a pensar racionalmente. Os olhos azuis encarando-o não ajudaram nem um pouco, juntamente com a expressão infantilmente emburrada.

— Só uma latinha, Moony. Poooor favooooor! — Sirius alongou as vogais do pedido, fazendo Remus revirar os olhos.

— Não. Pegue um refrigerante se quiser, mas minha consciência nunca iria me perdoar se eu te deixasse tomar algo alcóolico antes de trabalhar. — afirmou, empurrando o rapaz para fora da cozinha. Os dois pararam ao ver James muito concentrado em uma melodia no violão, dedilhando-o sem parar enquanto cantarolava baixinho algo desconhecido para ambos. Sirius foi quem teve presença de espírito o suficiente para ligar o gravador do celular, deixando-o sobre a mesinha de centro antes de se dirigir para o quarto no final do corredor. Era comum James absorver-se em uma nova música e depois esquecer de anotá-la, então os melhores amigos sempre tinham os gravadores à mão caso ele se enfiasse num de seus surtos criativos.

Remus hesitou antes de seguir Sirius, levemente preocupado com a recém-feita descoberta de que aquele rapaz ridículo com quem crescera era… Como poderia descrever? Lindo? Não, era óbvio que Sirius era lindo. O que o pegou de surpresa foi a resposta do seu corpo à beleza dele. Ele estava claramente atraído pelo amigo e não tinha o que fazer sobre isso.

Suspirou ao passar pela porta do quarto do rapaz de cabelos negros, percebendo que estava obviamente se dirigindo à própria morte.

***

Lily entregou os cafés para as duas garotas com uniformes de colegial com um pequeno sorriso, notando que ambos os relógios delas estavam zerados. Voltou para o balcão para pegar os brownies delas, e então Alice a cutucou. A moça ruiva olhou por cima do ombro para ver a amiga indicar com os olhos a pessoa que acabara de adentrar o café. O rapaz, de cabelos negros cortados até os ombros e óculos escuros, sentou-se em uma mesa mais afastada, porém próxima da janela. Tirou os óculos e passou a mão pelos cabelos, tirando o celular do bolso para fazer uma ligação. Os olhos azuis acinzentados observavam o ambiente desinteressadamente, e Lily pôde notar as maçãs do rosto altas e a jaqueta de couro e jeans apertados, que davam a impressão de que ele era um príncipe que tinha fugido de casa para ser um rockstar.

— Realmente… — comentou em voz baixa com Alice — Ele é muito lindo.

— Vai atender ele. — a amiga mandou, ao que Lily revirou os olhos. Ela ia mesmo ir até ele - não porque ele era bonito, mas porque era um cliente, como insistiu para Alice mais tarde, quando uma das garotas a chamou.

— Você sabe tocar Life of The Party, do Prongs, no piano? — ela perguntou. A ruiva abriu um sorriso amarelo. Quem diabos era Prongs e por que ela deveria saber tocar algo dele?

— Desculpe, não sei. Mas se me derem as notas eu consigo tocar. — respondeu, ao que a garota bateu uma palma alegre e alcançou o celular, digitando freneticamente até encontrar o que queria. Entregou o celular para ela, aberto em uma página de cifras, e Lily deu uma curta olhada antes de ir até o piano. Escutou por alguns segundos a música do link que a garota tinha colocado antes de por o celular sobre o anteparo usado para partituras para começar a tocar. A melodia não era difícil, e a letra era interessante. Nunca tinha ouvido a música até aquele momento, mas tocava piano há tempo suficiente para fazer esse tipo de coisa.

As duas garotas cantavam animadas, ela pôde ouvir enquanto tocava. Mas quando olhou para o lado, notou o rapaz muito bonito com uma câmera na mão enquanto olhava abismado para ela e batia o pé no ritmo na música. Ele tirou várias fotos com a lente apontada para a direção em que ela estava, fazendo-a franzir a testa e desconcentrar-se totalmente da música. A acabou abruptamente, para a tristeza das garotas, e andou diretamente até ele.

— Com licença, eu poderia ver as fotos? — pediu, tão firme quanto educada. O rapaz abriu um sorriso culpado e deu de ombros, passando a câmera para que ela pudesse ver sua própria imagem tocando de vários ângulos e luminosidades diferentes. As fotos estavam muito bonitas, ela teve que admitir. Mas ainda assim… — Por que tirou fotos minhas sem minha permissão? — perguntou, cruzando os braços depois de devolvê-lo a câmera.

— Se eu te contasse, você não ia acreditar. — ele respondeu, o sorriso tornando-se ousado e divertido. Lily ergueu uma sobrancelha, então olhou em volta. O dono do estabelecimento não estava em nenhum lugar à vista, e Alice estava concentrada em fazer o milkshake que outro cliente pedira. Então se sentou abruptamente na cadeira em frente à do rapaz, o queixo erguido em desafio.

— Você pode tentar. — disse, fazendo-o rir.

— Primeiro, qual o seu nome? — ele inquiriu, curioso. — O meu é Sirius Black, e é um imenso prazer conhecê-la.

— Lily Evans. E só direi se é um prazer ter te conhecido depois que me contar por que diabos tirou fotos minhas. — ela replicou, desconfortável e irritada com aquela situação toda.

— Bom, eu tenho um amigo retardado que conheceu uma menina numa fila do banco uns dias atrás. — Sirius começou — Ele só notou que o relógio da alma gêmea dele tinha zerado depois que ela foi embora, então ficou insuportável até que eu o ajudasse a encontrá-la.

— E você acha que sou eu? — Lily perguntou, a raiva dando lugar a uma imensa vontade de rir daquele absurdo todo.

— Bom, sim. Ele me disse que ela é ruiva, tem olhos verdes, sotaque irlandês e é pianista. Você se encaixa em todos esses pré-requisitos, então tirei as fotos pra mostrar pra ele. — ele deu de ombros.

— E você não vai, sei lá, mostrar minha foto por aí pra vender meus órgãos ou algo assim?

— Claro que não! Quer ver meus documentos? Eu sou um trabalhador honesto e legítimo, não vendo os órgãos de ninguém! — Sirius respondeu, em um tom dramático que fez Lily soltar uma gargalhada.

— Tudo bem, tudo bem. Mas acho que eu não sou quem seu amigo procura. — ela indicou o próprio relógio. Ele marcava que ainda havia um ano, vinte e três dias, sete horas e quarenta e dois minutos até que encontrasse sua alma gêmea. — Percebe? Meu relógio não zerou nesses últimos dias, mesmo que eu tenha realmente ido ao banco. — “E conversado com um cara bonitinho na fila,” acrescentou para si mesma, lembrando-se do episódio.

— Vou mostrar as fotos assim mesmo. — ele deu de ombros — Você é bonita. Ele pode muito bem se interessar por você e desencanar dessa menina.

Lily riu. Imaginou que deveria mandá-lo apagar as fotos, mas Sirius tinha um ar de confiança que ela achou adorável. Além de que ele provavelmente faria mais drama se ela pedisse para ele apagar as fotos. E bom, se o amigo dele fosse bonito que nem ele… Todos estariam no lucro, certo?

— Tudo bem. Pode mostrar. — ela disse afinal. Sirius comemorou, antes de guardar a câmera. — E o seu relógio? Já encontrou a sua alma gêmea? — perguntou, mais para puxar assunto que outra coisa. Ele tocou no antebraço esquerdo e estava prestes a responder quando seu telefone tocou.

— Eu já disse para não me ligar, não disse?! — reclamou irritado, para então parar para ouvir o que a pessoa do outro lado da linha dizia. Lily viu o momento que sua expressão passou de extremamente irritado para assustado, os olhos azuis arregalados. — Como isso aconteceu? —  outra pausa, onde sua expressão passou de assustado para muito preocupado. — Onde ele está? — ele foi se levantando, usando uma única mão para tomar o resto do café que pedira de um gole só e pondo a bolsa no ombro. — Chego aí em dez minutos. — e desligou, pegando um capacete que só então Lily notou que existia e então se dirigindo para ela — Me desculpe, Lily. Eu adoraria ficar e conversar, mas meu irmão acabou de sofrer um acidente e estou indo pro hospital.

— Meu Deus! O que aconteceu? — ela se levantou também, chocada. Sirius acenou com a cabeça, indicando que não fazia a menor ideia, antes de tirar a carteira do bolso e entregar-lhe uma nota de dez euros.

— Pode ficar com o troco. — ele falou antes de se apressar para fora do This & That Café, pondo o capacete e subindo numa grande motocicleta preta. Lily olhou-o acelerar para longe com preocupação, a nota de dez apertada em sua mão.


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