Branco negro escrita por Ráilla Giovanna


Capítulo 2
Capítulo 2




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Inuzuka precisou olhar cinco vezes o próprio relógio. Realmente eram quatro da manhã? Não, mas realmente, realmente mesmo, tinha alguém jogando pedras na sua sacada?
Sim, e ambas Tsume e Hana fariam de conta que não ouviram nada.

Kiba abriu a porta e a janela, de queixo caído quando Shino passou por ela.

—O que você tá fazendo aqui?!

—Avisei que mais tarde viria em sua casa. –Shino se explicou, indo sentar-se, como sempre, na cama do amigo (ele ainda não sabia se podia chamá-lo assim).

—Mais tarde quatro horas da manhã?!

—Fiquei enrolado com o trabalho. Me fale sobre Kabuto.

—Não tem o que falar, sério, cara. Desencana disso. Mas... Já que eu não vou mais conseguir dormir, conta sobre seu intercâmbio.

Shino deixou de lado que ainda não dormira em dois dias, e os dois passaram o restinho da madrugada conversando.

Pela manhã, Shino provou o que não comia á meses: comida caseira. Ele sabia do orgulho de Kiba, eles eram próximos o suficiente pra se conhecer bem, então tinha certeza de que o Inuzuka não diria nada tão cedo. Mas ele não deixaria que aquilo piorasse, que acabasse na delegacia como um homicídio, ou pior, suicídio. Ele não desgrudaria de Kiba até que o convencesse de prestar um belo de um B.O. contra Kabuto (coisa que um estudante de Direito deveria ter feito á séculos, mas Shino não o julgaria).

Tsume e Hana passaram todo o café da manhã esfregando na cara de Kiba que Shino já trabalhava, enquanto ele nem estava formado, mas ele foi salvo por Naruto, que chegava pra seguirem pra faculdade. Shino não gostou de eles serem tão próximos, mas manteve aquilo pra si mesmo, também. Sabia que era infundado, era só bobeira.

***

—Não acredito que você ainda não o beijou! –Neji, estagiário do próprio Shino, quase gritou. –vocês eram praticamente apaixonados, na escola!

—Eu não gosto mais assim dele, ok? Nem ele gosta de mim. Crescemos –AHAM, Neji pigarreou. — , nós dois. Acho que ele está com o Naruto.

—Eu sabia. Quatro anos na Austrália te estragaram. Naruto namora com o Sasuke, retardado.

—EI! Eu ainda sou seu superior. Pegou as provas do caso 112?

—Peguei, Sai já tinha tudo analisado.

Os dois se encararam por sobre a mesa, e Neji observou quando Shino começou a ler o caso. A especialização forense permitiu que ele conseguisse o emprego que sempre quis, com a área em que sempre quis estar. Só precisava ajudar todos que pudesse, e estaria realizado. Já Neji, não. Neji só queria ver o circo pegar fogo, e aproveitava o estágio pra isso.

Ainda não acreditava que fora (muito) ultrapassado pelo Aburame, mas não deixava de se alegrar pelo amigo. Tenten também estava feliz, trabalhando junto de Rock Lee para Kurenai e Hiashi. A turma deles estava praticamente formada, só precisavam apresentar os TCC e alcançar suas médias. Neji se orgulhava disso também, como representante.

Shikamaru, outro dos adiantados como Sasuke, entrou na sala pequena.

—Meu pai, digo, o comandante, está pedindo os arquivos do último efeito Werther. Cara! Isso de trabalhar pra ele é complicado.

—Beijar a Temari nos cantos não é, né? –Neji riu quando Shikamaru ficou vermelho e girou nos calcanhares, saindo com raiva.

—Todo mundo namorando e eu aqui.

—Todo mundo mesmo, até juntos e ao mesmo tempo. Você perdeu muita coisa. Sinto muito, Shino.

O Aburame sentiu o estômago revirar. Kiba teria participado daquilo?

—É brincadeira!

Neji estava rindo, mas o peso subitamente sumiu dos ombros de Shino, e ele quase sorriu. Mas, obviamente, não era ciúmes.

—Não todos... Em três, ás vezes, ou quatro... Se bem que naquela festa...

O peso voltou. Shino fechou a cara e focou somente nos papéis á sua frente.

***

Já era a quinta pessoa que chamava Kiba de idiota. Sakura interrompeu a aula de Anatomia no seu último dia de revisão, só pra dar um tapa na cabeça dele (e, por causa de Kabuto, já estava doendo).

Ela, Ino, Hanabi, Hinata, todas as meninas, e a maioria dos meninos. Ele só precisou dizer ao Naruto que não espalhasse (ou seja, que a Ino não soubesse), mas mal a primeira aula tinha acabado e todos já estavam puxando o Inuzuka pelos cantos, dando tapas e muitos sermões.

Tinham as mesmas reclamações.

“Você me passa três meses reclamando de saudades, quase quinze anos dizendo estar apaixonado, e não beija ele QUANDO ELE APARECE ÁS QUATRO DA MANHÃ NO SEU QUARTO?!”

Naruto até gritou “VAI Á MERDA!”, quando soube da história.

Agora Kiba estava mais cansado ainda. Não podia nem ter vida pessoal?! Esse era o preço de ter amigos?
Que bando de abutres, só queriam que ele contasse detalhadamente um sexo quente e surpresa no meio da madrugada. Estavam decepcionados, apenas. Mas Kiba tinha certeza, Shino nunca sentiu nada por si, nunca sentiria e nada aconteceria. Ele seria eternamente sua paixão platônica. Infelizmente, ele não podia contar o real motivo de Shino ter aparecido, pois não tinha mais nada, era só por causa de Kabuto. Talvez Kiba devesse até agradecer.

Mas... até a amizade deles estava diferente.

E foi pensando nisso que ele pegou a moto, naquela noite. Com Akamaru internado, Kiba ia e voltava sem Hana. Toda a pressão (e Kabuto) do dia e da noite, o fez pesar a mão no acelerador. Depois do terceiro semáforo, Kiba, de jaqueta e capacete escuro, não viu o carro escuro pedindo caminho pela esquina da esquerda. A falta de atenção atrapalhou os dois motoristas, mas pro Inuzuka foi pior.

Bateu com a moto no pneu esquerdo do carro, praticamente de frente, e ele teria voado sobre o carro, se não estivesse apertado o guidão com tanta força: seu primeiro acidente.
A batida fez ele baixar os pés no chão, mas as pernas tremiam demais pra aguentar o peso, e ele caiu de lado. A porta do carro abriu.

—Você está bem?!

Ele não podia acreditar naquilo. Shino o perseguia?

—KIBA!

E o que Hana fazia na rua, áquela hora da noite?!
Os dois correram pro homem caído. Kiba notou vagamente que os cabelos da irmã estavam bagunçados como se...

—Shino? E... Kiba? Você bateu nele! –o Inuzuka sentiu a irmã procurar ferimentos pra cuidar, mas por sorte não era nada tão sério. Infelizmente, ela viu algo pior. –Kiba... o que são esses machucados...?

Ela levantou a viseira do capacete, mas não o tiraria. Era médica, façam-me o favor, tinha a noção básica de primeiros socorros. Shino começou a entender o acidente, pois sequer imaginava que tinha batido em Kiba (na verdade foi o contrário) mas viu que ele pedia ajuda com o olhar. Ele cobraria o favor, mais tarde.

—Culpa minha. Nós brigamos.

Hana deu-lhe seu pior olhar. Ela levantou o irmão depois de checar tudo o que podia.

—Vamos ao hospital.

—Não, estou bem.

—Vamos ao hospital. –e foi Shino quem falou, dessa vez.

***

—Sempre corre assim?

Kiba olhou pra Shino, que estava ao lado dele na UTI. Ele realmente não estava machucado demais, mas estar num hospital revelou os outros machucados do nosso Inuzuka, e a raiva de Hana e Shino estava em seu ápice.

—Ás vezes. Estresse piora.

—Vai falar sobre Kabuto?

—Não vai largar do meu pé enquanto eu não falar?

—Não.

O Inuzuka soltou um longo suspiro, e começou a falar. Quase na metade de seu discurso, Hana apareceu, depois de assinar os papéis pra liberação do irmão, e ficou ouvindo enquanto confirmava suas suspeitas. Ela sabia que algo estava errado, e sabia que Shino nunca o machucaria. Sua irritação com o outro foi apenas por eles mentirem pra si.

E foi só naquela noite que Shino colocou juízo na cabeça do melhor amigo... Podia mesmo chamar ele assim?

***

Mais uma vez naquele mês, Kiba acordou com pedras sendo atiradas na janela.

Não... Não acordou, pois estava ansioso demais pra dormir, estava esperando por aquele sinal, e levantou tão rápido que quase caiu da cama. Abriu a janela pra Shino.

—Como está pra amanhã? –Shino sentou na cama, e Kiba sentou ao lado dele. Shino e Hana pegaram tanto no seu pé, que, após registrar uma queixa formal na delegacia, Kabuto recebeu sua demissão. Infelizmente ele não gostou e pediu um processo. Depois de dois recessos, aquela seria (eles esperavam) sua última tentativa, e Kabuto teria que pagar.

Fora tudo isso, Shino aparecia quase toda as madrugadas, quando nenhum estava cansado demais e quando Kiba não teria provas, ou quando Shino não estava em algum caso complicado, isso por praticamente dois meses.

—Ótimo! E você?

—Kiba, tenho uma pergunta.

—Qual?

Aquilo martelava na cabeça do Aburame desde que reencontrou o melhor amigo... Podia mesmo...?

—Ainda é meu melhor amigo?

—Oi?

A expressão de confusão de Kiba respondeu suas dúvidas. Certamente, depois de ficar fora por tanto tempo...

—Não, eu entendo, tudo bem. –Shino sorriu forçado. –Naruto é um ótimo melhor amigo, até.

—Não é obrigado termos apenas um melhor amigo, Shino, e você nunca deixou de ser o meu! Na verdade...

—O quê?

—Se não houvesse esse muro em volta de sua sexualidade, seríamos até mais.

Tantos anos de espera, e só naquele momento Kiba sentiu o peso do segredo saindo de si, e ele quase sorriu – não fosse o medo e a ansiedade que sentia da resposta do outro.

—Não tem um muro!

—Tem um muro.

—Não tem!

—Então você é simplesmente bobo. Ou... Não gosta de mim como eu gosto de você. Tudo bem, deixa pra lá. –Kiba também forçou um sorriso, mas o sorriso sumiu...

Não dava pra continuar sorrindo quando Shino o surpreendia com um beijo, gelado e ao mesmo tempo quente.


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