Solo Per Me escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 2
Chopes, velas, microfones & macacos


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!
Eu nem consigo dizer quão feliz eu fiquei com o feedback dessa fanfiction, não esperava tanto amor!
Muito obrigada por cada comentário que vou responder antes de postar o próximo capítulo!
Muitas músicas serão citadas, no final tem uma lista com os interpretes de cada uma. Sugiro que as coloque ao fundo, não são aleatórias.
Ademais, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761632/chapter/2

— Seja sincera! — Bianca Di Angelo alertou, seu rosto franzido em preocupação, a mão direita ainda segurando o rímel diante do espelho. — Como estou?

Thalia apertou os lábios, analisando desde os coturnos com saltos, até a maquiagem pesada que destacava os olhos negros, dando especial atenção ao vestido preto semi-transparente que deixava os detalhes do sutiã à mostra. A Grace fez uma falsa careta, balançando a cabeça em reprovação:

— Thalia! — Bianca gritou quase em pânico.

— Calma, Bia! — A Grace riu, segurando as mãos da italiana, que estava pálida e suando frio.. — Você está linda, tenho certeza que Leo vai desmaiar quando te ver!

— Nem brinca! É capaz, mesmo! — Bianca franziu o nariz e Thalia tinha que concordar que sim, era capaz de Leo desmaiar de brincadeira assim que a visse.

— E eu? — Thalia questionou, olhando-se no espelho e analisando o vestido negro, curto e leve de veludo que parecia revelar até demais do seu corpo, principalmente com um decote em “v” que ia pouco acima do umbigo. No entanto, era justamente por isso que ela o havia combinado com uma camisa jeans aberta, na altura do vestido, junto com botas de salto até a coxa. — Como estou?

— Pronta pra levar meu irmãozinho a loucura! — Bianca brincou, piscando para a amiga pelo espelho e Thalia culpou o blush pelo rubor em suas bochechas.

Faltava pouco menos de dois meses para o casamento de Jason e os Di Angelo haviam chegado para ajudar com os preparativos na semana anterior. Como Jason e Piper já haviam mudado para a nova casa no subúrbio, não fazia sentido que os irmãos ficassem em um hotel, então Thalia estava dividindo o quarto com Bianca enquanto Nico ocupava o do lado.

As batidas na porta puxaram Thalia de seus pensamentos e ela instintivamente sabia a quem pertencia, já sentindo seu coração acelerar quando Bianca mandava o irmão entrar. Thalia sentiu o estômago revirar e a boca seca ao vê-lo se aproximar, mais alto do que ela, o sorriso despojado e as roupas pretas deixando-o ainda mais bonito.

— Dio Mio! — O italiano exclamou, aproximando-se da amiga e deixando um beijo nas bochechas rosadas. — Que bela! Sou o mais sortudo da noite!

Thalia riu, enquanto Nico a fazia girar, analisando-a e sorrindo com aprovação, enchendo-a de elogios e beijos na bochecha.

— Devo lembrar que eu ainda estou aqui? — Bianca reclamou, fazendo um bico e depois girando quando atraiu a atenção do irmão. — Como eu estou?

— Nem nascendo de novo resolve. — O rapaz brincou, recebendo um tapa estalado no momento seguinte, vindo de Thalia. — Estou brincando, sorella¹.

— Você está linda, Bianca. — A Grace assegurou novamente, tentando não estremecer quando Nico abraçou-a pelos ombros, seu perfume tão característico enevoando a mente de Thalia. — Nico só está com ciúmes.

— Só de você, amore mio. — Nico replicou, tirando uma pequena mecha de cabelo que caía no rosto de Thalia. — Mas essa noite posso dizer à todos que és só minha.

Thalia riu, recebendo um novo beijo no pescoço, provocando arrepios por seu corpo.

— Por que eu tenho a impressão de que vou passar a noite inteira de vela? — Bianca suspirou, sentando-se sobre a cama e verificando o celular. — E olha que eu chamei vocês para um encontro duplo.

— Valdez vai estar por lá. — Nico replicou. — Talvez ele dê conta do recado.

— Eu só não te bato porque estão me fazendo um favor. — A Di Angelo esclareceu, verificando o celular. — Tem certeza que querem fazer isso?

Thalia deu de ombros, tentando fingir que não estava ansiosa para ter um encontro oficial com Nico, ainda que fosse como um favor para Bianca e na companhia de Leo Valdez, que, com certeza, a constrangeria.

— Ainda não entendo por que não vão sozinhos. — Nico replicou, ainda abraçando Thalia. — Vocês já saíram antes, não é?

— Sim, mas como amigos e nunca sozinhos. — Bianca explicou para o irmão, mas nem Thalia conseguia ver muita lógica nisso. — A verdade é que eu gosto do Leo. Só que praticamente nunca conversamos pessoalmente e eu estou nervosa…

Bianca confessou e Thalia deu um sorriso pesaroso para a amiga. Ela sabia que Bianca e Leo haviam se tornado próximos depois das últimas férias da italiana nos Estados Unidos e em como o contato era apenas pela internet.

Ela entendia, em parte, esse nervosismo de reencontrar alguém tão querido pessoalmente, toda a tensão que envolvia, o medo de silêncios constrangedores, não saber como se portar.... a verdade é que Thalia sentia isso toda vez que Nico estava presente fisicamente e, até se acostumar com a presença dele novamente, já era hora dele partir.

— Vai dar tudo certo, Bia. — Thalia disse para a amiga, repetindo para si mentalmente como um mantra. —  Leo deve estar muito mais nervoso que você.

— E por que acha que eu estou com medo?! — Bianca retrucou, jogando a cascata negra de cabelos para trás e se pondo de pé. — Vamos, Leo disse que está quase chegando.

 

(...)

 

Pela primeira vez na vida, Thalia não havia odiado completamente ir em algum lugar que Leo Valdez havia escolhido, então ela só podia supor que aquele lugar havia sido recomendado por Jason e ela podia ver o porquê. “Dionisíaco” era um barzinho há poucas quadras do apartamento, o ambiente escuro e aconchegante combinava com Bianca, enquanto o karaokê era perfeito para Leo, que não tinha medo de chamar atenção.

— Ok, Nico, fale a verdade. — Leo pediu, entornando o segundo copo de chope e ficando ainda mais faladeiro. — Você e Thalia, são ou não um casal?

— Nós somos amigos, Valdez. — Thalia revirou os olhos, querendo dizer o contrário.

— Ni-co. — Leo ordenou, seus cachinhos negros balançando enquanto ele agitava a cabeça para ignorar as palavras de Thalia. O italiano apenas riu, seu braço em volta dos ombros de Thalia de uma maneira que até poderia soar possessiva, se ele não fizesse isso sempre. — Porque, assim… a única vez que eu tentei abraçar Thalia, ela me deu um soco no estômago. Ainda dói! Então, como você consegue abraçar ela? Como ela gosta de ser abraçada por você?

— Ela não gosta. — Nico admitiu, rindo e deixando um beijo molhado na bochecha da amiga, que fingiu uma careta. — É só que ela desistiu de reclamar depois de tanto tempo.

— Nico é a pessoa mais carente que eu conheço. — Thalia resmungou, sendo apertada em um abraço pelo amigo. — Eu tentei de tudo, mas não consigo afastá-lo!

Reclamou dramaticamente, não querendo admitir em como gostava do contato com o corpo dele.

— Thalia adora morder Nico para ele parar. Mas suspeito que ele goste disso. — Bianca confidenciou em um tom malicioso. Depois da primeira hora do encontro, ela estava mais relaxada ao lado de Leo, o álcool ajudando a se soltar, e Thalia tinha tinha que admitir que eles formavam um belo casal.

A pele de Leo era só um pouco mais bronzeada que a da italiana, uma das marcas da herança latina, seus olhos castanhos estavam sempre focados em Bianca como uma verdadeira adoração e ninguém conseguia fazer mais piadas do que Leo Valdez, o que fazia Bianca sorrir a cada frase, por mais boba que fosse. Ele era adorável, com o porte magro e baixo, além das feições élficas, mas nada superava seu jeito positivo chegando a ser irritante para Thalia, que o amava como ao irmão, depois de tantos anos de convivência.

— Mas, voltando a sua pergunta, Valdez — Nico disse, apertando o braço em volta de Thalia. —, esse é nosso primeiro encontro, na verdade.

— Não é não. — Bianca corrigiu o irmão. — Lembra daquela primeira vez que a gente saiu juntos? Eu, vocês e Jason?

Thalia franziu a testa, tentando pensar em qual das vezes que aquilo havia acontecido. Durante a adolescência eles saíram muito juntos, chegando a fazer pequenas festas e se meter em confusões. Mas a primeira vez… Ah, sim, ela se lembrava daquela primeira vez que saíram sem os país. E ela não queria se lembrar.

No! — Nico resmungou em italiano.  — Eu me recuso a dizer que aquilo foi um encontro! Dio Mio! No!

— O que aconteceu? — Leo perguntou surpreso com o mau humor de Nico e as risadas das garotas.

— Para de drama, Neeks! — Thalia replicou, beliscando-o na barriga. — Foi pior pra mim!

— Aquilo não foi um encontro! — Nico ralhou novamente. — Eu me recuso!

Camomillati! —  Bianca ordenou, “acalme-se”. — Foi só um encontro!

— Não foi só um encontro. — Nico replicou, tão agitado ao mover os braços que nem mais abraçava Thalia. — Se fosse um encontro, isso significaria que não foi só nosso primeiro encontro, mas meu primeiro encontro e eu me recuso!

— Qual o problema? — A Grace fez um bico, fingindo pesar. — É tão ruim assim que seu primeiro encontro tenha sido comigo?

— De jeito nenhum, mia bella. — Nico replicou, um pouco mais suave depois da queixa dela. — O problema é aquele ser nosso primeiro encontro. Foi um desastre!

— O que aconteceu?! — Leo questionou pela quinta vez, se sentindo abandonado.

— Thalia vomitou em Nico. — Bianca contou, quase gargalhando do desespero alheio.

— Bianca! — Thalia ralhou. — Não é tão ruim quanto parece e eu quase vomitei nele, tem uma diferença aí.

— Que tal me explicarem a história toda? — Leo replicou e Bianca começou a contar.

Thalia se lembrava daquele dia, ela devia ter por volta dos seus doze, treze anos e havia sido a primeira vez que havia tido permissão para sair sem qualquer adulto, na companhia de Jason e Bianca que sequer haviam chegado aos dezesseis.

Eles haviam ido ao California Adventure, um dos melhores parques Disney e, o que Thalia mais havia gostado daquela vez, foi que Jason não havia dado uma de “irmão-super-protetor” como se ela fosse uma criancinha.

Ele havia entendido que Thalia jamais entraria nas mesmas atrações que ele — Jason simplesmente adorava altura, praticamente todos os brinquedos que gostava incluíam quedas drásticas que davam dor de barriga em Thalia só de estar há menos de dez metros — e não a havia forçado, escolhendo seguir com Bianca enquanto Thalia e Nico se aventuravam mais no terror, que era o que realmente gostavam.

— Não sei se você sabe, mas Thalia morre de medo de altura. — Bianca contou para Leo e a Grace deu língua pra amiga, por mais que o pavor não fosse segredo para ninguém. — E eu ainda não entendo porque Nico teve a brilhante ideia de irem na montanha-russa.

— Na verdade, ele me convenceu a ir na roda-gigante. — Thalia se intrometeu, corrigindo a amiga. — Eu ainda não sei como, mas me convenceu. E, quando eu vi, estávamos no carrinho da montanha-russa e eu só conseguia pensar em Premonição Três!

— Nós íamos na roda-gigante. — O italiano se defendeu. — Mas Jason e Bianca estavam indo também. Você não se lembra? Você mesma que disse que não ia entrar lá com eles.

— Eu disse? — Thalia franziu a testa, não se lembrando muito bem.

Si, si. — Nico confirmou, fazendo uma careta como se estranhasse ela não se lembrar da história. — Você ‘tava com medo deles se beijarem. Lembra?

— Bianca e Jason?! — Thalia fez uma careta, olhando para a amiga que riu sem graça, olhando de soslaio para Leo, igualmente desconfortável. Leo e Jason eram melhores amigos. — Acho que não, Neeks.

— Eu lembro. — Nico reclamou, fechando a cara. — Você estava com raiva porque todo mundo ‘tava namorando e passou a noite inteira reclamando sobre como beijos eram nojentos e como você nunca beijaria ninguém de jeito nenhum. Você não falou de outra coisa naquela noite. Então quando viu Bianca e Jason na fila da roda-gigante, você começou a pirraçar pra não irmos.

— Eu fiz isso? — Thalia questionou, incrédula de não se lembrar. Vagamente uma lembrança lhe veio, Nico com seus treze anos e muitas espinhas perguntando o que aconteceria se ele beijasse ela e depois a cara dele de dor, ao levar um soco no braço.

— Isso é algo que Thalia faria. — Leo ponderou, fazendo um coração com as mãos assim que a amiga lhe lançou um olhar ameaçador.

— Terminando a história… — Thalia interferiu, querendo já mudar de assunto. — Nós fomos naquela maldita montanha-russa, foi a pior experiência da minha vida e, quando nós saímos dela, eu fui correndo pra uma lixeira e vomitei nela. Não em Nico.

— E todos nós tivemos que ir embora às pressas. — Bianca suspirou. — Sem falar nas broncas que eu e Jason levamos por deixar vocês sozinhos e por Thalia ter passado mal. Como se nós tivéssemos culpa, claro.

— Nico passou a noite toda se sentindo culpado e cuidado de mim. — Thalia sorriu para o amigo, pegando a mão dele entre as suas e apertando em agradecimento.

— Agora eu entendo a revolta de Nico. — Leo comentou. — E eu achando que o meu primeiro encontro havia sido ruim.

— Não foi um encontro. — Nico corrigiu. — Esse sim é nosso primeiro encontro.

— Essa coisa de encontro é muito confusa. — Thalia reclamou. — Nós saímos juntos várias vezes.

— Mas essa é a primeira vez que chamamos de encontro, então é um encontro. — Nico concluiu, fazendo Thalia rir e beijá-lo na bochecha.

— Tudo bem, primeiro encontro. — Ela concordou, sendo abraçada novamente por Nico e deitando a cabeça no ombro dele enquanto Leo começava a contar a própria experiência de primeiro encontro, que acabava com uma casa pegando fogo.

 

(...)

 

Thalia raramente havia visto Bianca sorrir tanto quanto naquela noite. Cada vez que ela olhava para Leo, as bochechas ficavam coradas e toda a atenção era voltada para o rapaz, deixando Nico e Thalia em seu próprio mundo e seus próprios assuntos, enquanto Bianca e Leo discutiam que música iriam cantar juntos. Thalia não queria nem ouvir, Leo era muitas coisas, que iam desde um ótimo engenheiro mecatrônico até um ótimo cozinheiro, mas uma coisa que ele não era, era afinado.

— E vocês? — Leo perguntou, balançando os cachinhos negros enquanto falava. — Já sabem o que vão cantar?

— Eu dispenso. — Thalia declarou, antes mesmo de Nico se pronunciar. — Você já me viu em um karaokê, Valdez?

— Na verdade não. — Leo deu de ombros.

— Pois é, porque Thalia Grace e karaoke nunca estão na mesma frase. E vamos deixar as coisas assim.

— Nem por mim, amore mio? — Nico questionou, o tom baixo bem perto do ouvido de Thalia, mas audível para o casal na frente deles. — Podemos cantar nossa música.

— Vocês têm uma música? — Leo perguntou em um claro tom de malícia, mas Thalia não olhou para ele, seus olhos fixos em Nico.

— Você diz aquela música patética que ouvimos no baile da escola? — Thalia questionou, erguendo a sobrancelha. — A que dançamos?

— “More Than Words”? — Bianca perguntou, acrescentando em um tom de chacota. — Nico ouviu essa música um mês inteiro depois daquele baile.

Seria imaginação sua ou as bochechas de Nico ficaram coradas? No entanto, ele não retrucou a irmã e sim Thalia.

— Não, mia bella. — O italiano replicou, passando o polegar sobre o queixo de Thalia em uma carícia leve, seus rostos próximos. — Essa não é nossa música.

Thalia tentou pensar em qual música ela relacionava a Nico, era até patético a quantidade que ela escutava e só pensava nele, mas agora nada lhe vinha à mente, porque nenhuma ela havia confessado que a fazia pensar nele. No entanto, o olhar dele dizia que ela sabia, que ela deveria saber a qual música ele se referia, e tudo o que Thalia conseguia pensar eram nas tardes que passavam deitados no chão, ouvindo mais e mais CDs de rock, há mais de dez anos.

— Pense bem, mia bella. — Nico repetiu, mas ele não sabia quão difícil era pensar quando ele estava tão próximo, quando Thalia se sentia tão tentada a selar os poucos centímetros entre seus lábios. Ela fechou os olhos, buscando se concentrar, tentando pensar nas músicas que mais ouviam.

November Rain? I Want You Around? — chutou, mas Nico apenas riu, balançando a cabeça e se afastando aos poucos, tirando até mesmo o braço ao redor dos ombros dela.

No, no. — Ele alcançou a caneca de chope e levou aos lábios, deixando-a intrigada.

— Não vai me contar qual é? — Ela questionou, cruzando os braços e o encarando.

— Só se você cantar comigo. — Nico barganhou, a caneca ainda perto dos seus lábios, os olhos em Thalia.

— Nem morta. — Thalia ralhou e Nico apenas se virou para a irmã e Leo, que conversavam baixinho, como se encerrasse o assunto.

Thalia odiava quando ele fazia isso.

Ela suspirou, sabendo que não adiantaria suplicar, mas também recusando-se a se dar por vencida. Segurou as mãos de Nico sobre a mesa, atraindo de volta seu olhar e tentou sorrir o mais persuasiva possível.

— Não vai mesmo me contar? — Ela ergueu a sobrancelha e Nico se aproximou mais, o calor emanando dele e a aquecendo.

— Só se cantar comigo, amore. — Ele replicou em seu sotaque rouco.

— Por quê? — Thalia questionou. — Eu sou péssima cantando, você já ouviu.

— Eu gosto de ouvir sua voz. — O italiano continuou, sua mão esquerda envolvendo as de Thalia enquanto a direita fazia um pequeno carinho no queixo dela. — Eu gosto de tudo em você.

Ele se aproximou mais, deixando um beijo na bochecha da amiga antes de descansar o queixo na curva do pescoço dela, sua respiração causando arrepios em Thalia, junto com a mão direita que agora afagava sua nuca.

Ela prendeu a respiração, ciente de cada reação que seu corpo tinha com o toque de Nico, rezando para que ele não percebesse, ao mesmo tempo que desejava por mais.

— Agora entendi o que Jason disse. — Thalia ouviu a voz de Leo e tentou ignorá-lo, abaixando o rosto para que os fios negros escondessem sua face, enquanto Nico continuava com as carícias. — Achei que eles ficariam de vela, não a gente.

— Eles são sempre assim. — Bianca riu. — Desde pequenos, Thalia e Nico vivem seu próprio mundo.

Thalia pensou em reclamar, mas a sensação de Nico passando o nariz lentamente por seu pescoço a fez esquecer de como pronunciar qualquer palavra.

— Não pensei que fossemos ficar de vela no nosso primeiro encontro. — Leo resmungou.

— Talvez possamos fazer algo a respeito disso… — Bianca sussurrou e logo depois eles ficaram calados, apenas a música ao fundo sendo audível junto com ruídos molhados.

Nico riu, causando mais cócegas em Thalia, sussurrando em seguida:

— Quando eles pararem de se agarrar, me avise. Não quero ser traumatizado pelo resto da minha vida.

— E você me implicando por não querer ver Jason e Bianca se beijando. — Thalia fez chacota. Nico se moveu um pouco, seu rosto de frente para o de Thalia dessa vez, suas testas se tocando e os olhos castanhos parecendo ainda mais escuros na pouca luz do bar.

— Você realmente não lembra daquele dia? — O italiano questionou, seu tom baixo para só ela ouvir, a expressão estranhamente séria. — De não querer ir na roda-gigante comigo?

Thalia apertou os lábios e meneou a cabeça, enquanto Nico desviava o olhar para o chão. Ela o tocou na face, uma leve carícia na bochecha onde uma barba rala era áspera contra seus dedos, atraindo de volta a atenção de Nico junto com o sorriso de canto, o sorriso tímido, que ela tanto amava.

— Não vai mesmo cantar comigo? — Nico sussurrou, sua mão na nuca de Thalia em um carinho leve.

— Ah, não, Neeks

Per favore, amore mio… — O italiano pediu, a voz rouca enquanto deslizava o nariz pelo o de Thalia em um “beijo de esquimó”. — Não está curiosa para saber qual é a nossa música?

— Você joga muito baixo, Di Angelo. — Thalia reclamou, estreitando os olhos enquanto o sorriso de Nico se alargava e ele dava um beijo na bochecha de Thalia, aceitando uma rendição.

— Ei, casal vinte! — Bianca chamou. — Sei que estão no mundo de vocês, mas chegou a nossa vez no karaokê.

Thalia gemeu, afastando-se de Nico e encarando o casal a sua frente. Ela realmente não queria ouvir Leo cantando.

— Sem reclamar! — A Di Angelo entoou. —  Vamos cantar “Meant To Be”!

— E eu farei a parte da Bebe Rexha! — Leo sorriu, já segurando a mão de Bianca e a puxando.

— Ai.meus.ouvidos! — Thalia reclamou, mas tudo o que Nico fez foi se levantar e a puxar para perto do palco, onde poderiam dar mais apoio aos amigos. Ele a abraçou por trás pela cintura, seus corpos colados enquanto a luz ambiente abaixava mais, flashes coloridos iluminando Leo e Bianca se preparando, mas tudo o que Thalia conseguia sentir era o corpo de Nico colado ao seu.

Eles cantaram tão ruim quanto Thalia imaginava que seria, Bianca começava a rir tanto com Leo que perdia o ar e mal conseguia cantar, enquanto Leo performava, arrancando mais gargalhadas e assobios da pequena platéia. Para piorar, pediram bis e o casal ficou bem feliz em repetir, dessa vez com o clássico Wannabe, das Spice Girls. Quando pediram pela terceira vez que continuassem, Thalia começou a choramingar para ir embora.

— Não quero ficar surda! — Ela pediu para Nico, mas ele apenas riu, estranhamente quieto.

— Vamos sentar um pouco. — Ele convidou, a guiando de volta para a mesa, parecendo disperso em pensamentos.

Thalia deu mais um rápido olhar para o palco, onde os acordes de Meant To Be recomeçavam, mas outro casal tomava o lugar de Leo e Bianca. Thalia pensou em mencionar que esperava que o novo casal fosse melhor, porém, Nico estava parado, olhando fixamente para as mãos em cima da mesa, tão distante que seus pensamentos pareciam na Itália.

Neeks? — Thalia chamou, o tocando no braço e ele a olhou, parecendo confuso. — Tudo bem?

Ele apertou os lábios e assentiu com a cabeça, forçando um sorriso.

— Não se preocupe. — Assegurou, segurando as mãos de Thalia e as levando aos lábios, deixando um beijo delicado.

— Você está muito quieto hoje. — A Grace comentou, preocupada com o amigo. — O que aconteceu?

Nico respirou fundo, como se tomasse coragem e se virou para ela, sorrindo de canto.

— Eu estive pensando no que você disse, sobre morar com Hazel e Frank e… Acho que não vou mais para Nova Orleans.

Thalia sentiu seu coração acelerar, duas hipóteses ecoando em sua mente.

— Não? — Ela perguntou nervosa, apertando suas mãos unidas enquanto Nico balançava a cabeça. — Vai voltar pra Itália?

Perguntou pesarosa e quando Nico fez que não com a cabeça, ela sentiu sua pulsação tão rápida que perdeu o fôlego.

— Então…? — Thalia começou, arregalando os olhos quando Nico abriu um sorriso e assentiu. Ela não perdeu tempo: Se atirou nos braços do melhor amigo e o apertou, seu peito parecendo que ia explodir de alegria.

— Eu ia perguntar se Bianca te contou, mas acho que a resposta é óbvia! — Nico riu, quando Thalia enfim se afastou.

— Isso é sério?! — Ela questionou. — Vai mesma ficar em Los Angeles?!

— Só se tiver um espacinho aqui pra mim.

— É claro que tem! — Thalia replicou, lhe dando um tapa no ombro e depois o abraçando.

— Até que enfim contou pra ela. — Bianca riu, sentando-se de frente pra eles. — Estou esperando a noite toda!

— Bianca me contou. — Leo sorriu, estendendo a mão para Nico. — Bem vindo a cidade dos anjos, Di Angelo!

— Valeu, cara. — Eles trocaram um high-five, mas Thalia não conseguia parar de sorrir para o melhor amigo.

— Isso é perfeito, não? — O Valdez continuou, abraçando Bianca pela cintura enquanto falava. — Thalia está procurando alguém pra dividir o apartamento e quem melhor do que você?!

— Leo tem razão! — Bianca concordou. — Lembra daquela vez que nós moramos juntos? Quando éramos pequenos?

— Vagamente… — Thalia tentou revirar a memória, mas se lembrava apenas de festas de pijamas e castigos em conjunto, o que não era diferente do que teve na adolescência.

— Vocês moraram juntos? — Leo se surpreendeu.

— Quando eu tinha uns oito anos… — Bianca respondeu, não querendo entrar muito no assunto. — Meus pais estavam com uma crise no casamento e ficamos alguns meses com a Tia Beryl, mas deu tudo certo no final.

— Dessa vez vai ser bem mais divertido. — Nico completou, sorrindo para a amiga. — Isto é, se Thalia me aceitar, claro.

Thalia queria gritar que era claro que sim, a ideia de estar o tempo todo com Nico, lado a lado, parecia incrível. No entanto, não podia deixar tudo isso transbordar, por isso apenas sorriu de canto e deu de ombros:

— Você se encaixa nos requisitos, Di Angelo? — Ela questionou, um sorriso de flerte ao erguer a sobrancelha.

— Vai conseguir cumprir a regra, fratello²? — Bianca implicou e, por um momento, passou pela cabeça de Thalia ele dizer que não.

Claro que ela abriria uma exceção, ele era seu melhor amigo, não iria deixá-lo na rua só porque ele tinha um relacionamento, mas a simples ideia de vê-lo  com outra pessoa, beijando ou abraçando alguém da forma como ele fazia com ela… Thalia sentiu quase a dor física do ciúme e do medo, mas se obrigou a manter o sorriso, não deixando transbordar seus sentimentos.

— Não se preocupe, sorella¹. — O italiano replicou, seus olhos fixos em Thalia e novamente ele a acariciava na bochecha, um sorriso malicioso nos lábios. — Se for pra quebrar a regra, pode ter certeza que será com Thalia.

Thalia não soube dizer se seus amigos replicaram a declaração, ela só sabia que seu coração estava acelerado quando Nico se inclinou e lhe deixou um beijo longo na bochecha, perto da boca, um flerte que Thalia quase suplicava para ser verdadeiro.

 

(...)

 

— Faltam vinte minutos pro bar fechar e eu reservei a próxima música pra vocês. — Bianca avisou, já ouvindo os protestos de Thalia. — Nem adianta, Lia, eu não só quero ver meu irmãozinho cantar no meio de todo mundo, como também quero saber qual é a música de vocês! Então você vai cantar sim, nem que eu tenha que te amarrar!

Thalia ainda tentou dizer não, mas foi arrastada por Leo e Bianca até o palco, enquanto Nico conversava com os responsáveis.

— E se eu não souber a letra? — Thalia replicou quando o italiano se negou a dizer o nome da música mais uma vez.

— É a nossa música, amore mio, você sabe a letra.

Ela apenas revirou os olhos azuis e tentou não prestar atenção na plateia ao redor do palco — uma multidão composta por dez pessoas bêbadas — enquanto as luzes coloridas os cercavam e os primeiros acordes soavam, a melodia inconfundível de “Do I Wanna Know” ecoando pelo bar.

Have you got colour in your cheeks? —Você está com as bochechas coradas?”, Nico cantou e, então, as bochechas de Thalia realmente ficaram vermelhas enquanto sentia seu coração acelerar com a voz rouca e o sotaque italiano dando ainda mais charme aos versos.

Thalia não podia acreditar naquilo! Não podia acreditar que aquela era a música que Nico havia escolhido para eles, mas… por quê justo “Do I Wanna Know”? Nico a havia apresentado à Arctic Monkeys, aquilo era verdade, mas isso foi depois dele mudar para a Itália, numa época que já não passavam mais as tardes ouvindo música. Além do mais, a primeira música que ele havia mandado era “I Wanna Be Yours”, será que estava se confundindo?

No entanto, os olhos de Nico mostravam uma inabalável certeza de que aquela era a música deles, ele parecia até fazer chacota, como se perguntasse como ela não saberia disso.

Por que “Do I Wanna Know”? Sua mente tentava encontrar uma resposta, ao mesmo tempo em que tentava encontrar a melhor maneira de transformar a música em um dueto, sem estragá-la ou desafinar completamente. Ela não era tão ruim cantando quanto Leo, mas estava longe de ser tão boa quanto Nico, então acabou por agir mais como uma backing vocal na primeira parte.

Então veio o final da primeira estrofe e eles cantaram juntos, Nico segurando a mão dela enquanto cantava se ele queria saber se o sentimento era recíproco e lhe dizia que a noite era feita para se dizer o que não se pode dizer no dia seguinte.

Thalia não sabia dizer como conseguiu estabilidade suficiente para cantar a segunda estrofe quando Nico gesticulou para que ela tomasse a primeira voz, ela apenas se sentia tremer com cada palavra, seu coração acelerando e sua mente dando voltas, formulando teorias que tinha medo de acreditar. Teorias que pareciam mais verdadeira a cada verso que cantavam.

 

(...)

 

— Não deveríamos esperar Bianca? — Thalia questionou assim que Nico fechou a porta do bar.

— Ela vai nos bater se atrapalharmos ainda mais. — O italiano replicou, colocando a jaqueta de couro sobre os ombros de Thalia, mesmo com os protestos dela. — Não adianta, mia bella, sabe como sou teimoso e persuasivo quando o assunto é você.

Thalia acabou aceitando, suspirando quando Nico a enlaçou pela cintura e fazendo o mesmo, sentindo o corpo dele lhe aquecendo contra o ar frio da noite. Eles caminharam a maior parte do caminho em silêncio, o que não era estranho entre eles, comentando vez ou outra sobre o céu estrelado ou sobre como nunca mais iriam com Leo em um karaokê.

Neeks… — Thalia começou quando enfim alcançaram a calçada do prédio onde morava. — Por que “Do I Wanna Know”?

— Você sabe a resposta, mia bella. — Nico replicou sorrindo de canto, de frente para Thalia, tentando colocar os fios negros atrás da orelha dela enquanto o vento os jogava em várias direções.

— Se eu estou perguntando, é porque eu não sei. — Thalia resmungou e ele riu, a acariciando na bochecha pela última vez naquela noite.

— Você sabe, Thalia. — Nico declarou. — Assim como, no fundo, você sabe porque não quis ir na roda-gigante comigo.

Thalia sentiu a garganta seca e o coração acelerado enquanto Nico fazia uma pequena pausa, seu sorriso leve e um tanto pesaroso, os olhos castanhos fixos nela. Então, ele continuou, quase em um sussurro:

— Está tudo bem você não querer saber, mio amore. Está tudo bem você ainda não estar pronta.

Ele se aproximou e lhe deixou um beijo delicado na testa: — Vem, vamos esperar Bianca lá em cima.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹ Sorella: Irmã
² Fratello: Irmão

Músicas citadas:
More Than Words - Extreme
November Rain - Guns N’Roses
I Want You Around - Ramones
Meant To Be - Bebe Rexha feat. Florida Georgia Line
Wannabe - Spice Girls
I Wanna Be Your - Arctic Monkeys
Do I Wanna Know - Arctic Monkeys

Eu ia postar mais cedo, no entanto, estou passando mal desde que acordei e só fiquei bem o suficiente pra postar agora.
Espero que vocês tenham gostado e perdoem o tamanho: O desafio tem um tema para cada capítulo e hoje foi "a primeira vez que saímos juntos", com a especificação de que tinha que ser um encontro.
Alguma ideia do porque foi Do I Wanna Know?
Enfim, até os comentários!


Roupas: https://pin.it/lrgrdvkw6q3u6n