Ragnarok escrita por Terra Branford


Capítulo 2
Capítulo 2: Indiscrição




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***** Asgard *****

— Você seria a? – Loki olhou em dúvida para a jovem pequena e delicada que estava o seguindo desde que tivera a fatídica conversa com Odin.

— Sigyn Chere, uma das conselheiras do rei, meu senhor. – ela respondeu com uma voz melodiosa.

Sigyn, ele repetiu mentalmente, como se ensaiasse dizer o nome dela, mas não ousou pronunciá-lo.

— Não é jovem demais para tal função?

Um riso divertido surgiu nos lábios da mulher.

— Acho que tenho idade suficiente para isso. – ela retrucou com certa petulância e o mesmo olhar firme de antes, de quando estava na presença de Odin.

Loki achou aquilo deveras engraçado, eram poucos aqueles que o respondiam olhando em seus olhos, e ainda mais com tamanha insolência e indiferença.

— Então acho que não tem feito um bom trabalho como conselheira.

Ainda o encarando a jovem sorriu.

— Por que diz isso, senhor Loki?

— Odin parecia completamente perdido. – ele disse o óbvio.

— Acho que a palavra certa seria desconcertado. – ela interviu – Com sua presença e a certeza de que não você não entenderia suas reais intenções.

— Reais intenções? - Loki riu.

— A de um pai preocupado com aquele que possivelmente será o próximo rei de Asgard.

Aquela resposta pareceu agradá-lo, pelo menos a seu ego, embora ele não acreditasse de fato nela.

— Meu pai lhe confidenciou isso, o que acho meio que impossível, ou se trata de sua opinião pessoal? – ele perguntou em tom de zombaria.

Ela ergueu levemente o rosto na direção dele, como se precisasse o observar melhor, um brilho de divertimento era visível nos olhos castanhos e por um momento Loki se sentiu incomodado com o olhar dela.

— O senhor é provavelmente o filho mais bem informado e político dele, esta fora a anos e conhece melhor as questões de Asgard do que aqueles que aqui estão... – ela dizia com confiança quando ele a interrompeu.

— E quem lhe disse essas coisas?

Ela apontou para o final do corredor de onde vieram.

— O rei, ou acha mesmo que ele não percebe os reais feitos, virtudes e defeitos de quem o cerca?

— Odin? – ele achou aquilo no mínimo exagerado.

O sorriso desafiador voltou aos lábios da mulher.

— Muitas vezes os pais não revelam muitas coisas que pensam aos próprios filhos, o rei não foge a regra.

A insolência dela ao se referir ao rei o deixou sem fala, e ele ficou sem saber o que dizer, mas Sigyn parecia não se importar com aquilo. Ele ficou ainda mais sem reação quando a viu andar calmamente em sua direção.

— Ele não o quer em Jotunheim porque precisa do senhor aqui ou em Muspelheim, precisa de alguém competente para a retaguarda, Balder e Thor são apenas guerreiros e Tyr não tem muito jeito para a coisa.

Para sua surpresa, a proximidade dela o deixou inquieto, e ele se viu obrigado a parar de encarar os olhos dela, mas não conseguiu, muito menos evitar as palavras que saíram da sua boca, antes que ele se desse conta.

— Talvez, só talvez, você esteja certa Sigyn...

— Eu não costumo errar. – ela respondeu com um olhar petulante.

Ele riu.

Loki não estava acostumado a lidar com situações como aquela, Sigyn, parecia querer desafiá-lo desde o momento que começou a falar, seu olhar estava em chamas e parecia incitá-lo a fazer algo, a perder a sanidade aos poucos.

Ele viu sua mão vagando sozinha para os cabelos loiros presos em um coque frouxo, os olhos delas continuavam o desafiando, mas nada comparado ao riso que ele escutou escapar dos lábios finos e rosados.

Loki ouviu o som de passos pesados se aproximarem e se afastou dela antes que fizesse uma loucura. Logo surgiu em sua frente Tyr, seu irmão.

— Loki! Como é bom vê-lo novamente irmão.

— Digo o mesmo. - Loki sorriu minimamente, agradecendo mentalmente pelo aparecimento dele.

 

 

***** Jotunheim *****

Os cabelos negros de Lothur estavam esparramados em um travesseiro verde e seu corpo pálido estava envolto em uma confusão de cobertas. Sif descansava em seu peito e sentia o ir e vir de sua respiração entrecortada, desejando que pudessem ficar assim juntos para sempre, mas lamentavelmente momentos como aquele estavam se tornando cada vez mais raros.

Lothur acariciava o ventre dela, imaginando como seria o rostinho de seu filho ou filha, mesmo sabendo que faltavam muitos meses para a criança nascer. O moreno estava exausto e mais do que tudo completamente satisfeito, mas lá no fundo, verdade seja dita, estava feliz por ter feito Sif desistir da ideia de fazerem amor no laboratório, não que não tivesse gostado da ideia, mas pelo bem de suas preciosas pesquisas e pelo que conhecia de sua insaciável esposa não sobraria muito de seu material de estudo ao final daquela manhã, visto que com apenas alguns beijos e toques mais ávidos ele já havia visto muito de seus estudos serem esparramados pelo chão em vidros e coisas quebradas. E Lothur não estava disposto a ver tudo ruir.

Com dificuldade e após inúmeras tentativas Lothur conseguiu convencê-la a deixar aquele lugar e seguirem para o quarto deles, onde para a sua satisfação haviam passado as últimas horas se amando.

Ele gostava de dias simples como aquele. O dois já estavam juntos a pelo menos 8 anos, 4 destes casados, e se lhe perguntassem Lothur ainda não saberia dizer o que Sif havia visto nele, só sabia que era grato por ela ter enxergado algo.

Voltando mais ainda no tempo ele se recordava do dia que a conhecera ainda no colégio, Sif estava deslumbrante como sempre fora, já ele era um adolescente desengonçado, e como muitos outros se apaixonou por aquela garota à primeira vista. Mas como não se apaixonar por ela? Para ele Sif era de longe a garota mais bonita do colégio, além de ser inteligente, extrovertida e de ser provavelmente a pessoa mais popular de lá. Já Lothur era um cara estranho e solitário, despertava normalmente dois tipos de reações nas pessoas a sua volta: desconforto e estranheza.

O desconforto vinha devido a quem ele era e o que a história trágica de sua família representava para aquelas pessoas. Sua família era um assunto incomodo até mesmo para ele, todos sabiam quem havia sido o pai dele, sobre os estudos de magia, os sonhos que não se tornaram realidade e o fim trágico que tivera na mão dos asgardianos.

A estranheza vinha da sua estreita, mas inusitada rede de amizades no colégio. Recluso, Lothur não era do tipo que iniciava sozinho uma conversa com algum estranho, tinha poucos amigos, na verdade apenas um, o capitão do time de Hóquei do colégio. Nem o próprio moreno sabia ao certo quando a amizade dos dois havia começado, provavelmente depois de alguma briga, o outro era um encrenqueiro, e graças a isso Lothur usufruíra de anos de paz no colégio, ninguém implicava com o amigo do capitão.

“O amigo do capitão”, era assim que as pessoas o tratavam no colégio.

Ele não se importava, estava bem daquele jeito, solitário. No entanto, quando viu Sif pela primeira sorrindo bem diante de seus olhos não resistiu ao ímpeto de tentar falar com ela. Soltou um tímido “Olá” de repente, um tímido cumprimento que de fato nunca chegou aos ouvidos de Sif, ele não percebeu isso na época e esperou ansiosamente que ela o respondesse de alguma forma e quando Sif passou ao seu lado sem se quer olhar em sua cara Lothur se sentiu tão rejeitado que demorou muito tempo  para ter coragem de falar com ela novamente, pelo menos dois anos.

Os anos haviam se passado depressa e de repente era o último ano dela no colégio e ele nunca mais veria Sif, ela certamente iria fazer algum curso na renomada Universidade de Jotunheim, já ele veria seus sonhos de se tornar um cientista morrerem em pouco tempo, Lothur nunca teria condições de pagar uma universidade.

Na época aquele pensamento o deixou desolado, era como se sua vida estivesse acabando ali ainda em sua adolescência, aquela possibilidade triste o fez ter coragem de tomar uma atitude, com toda coragem que existia em seu ser ele resolveu convidar Sif para o acompanhar no baile de inverno da escola, nunca houve se quer qualquer esperança por parte dele de que ela aceitasse aquele convite esdrúxulo, mas ele o fez porque não queria viver com a sensação de que pelo menos não havia tentado.

— Olá, Sif... – ele a chamou na época com suas bochechas um pouco coradas.

A garota o observou com seus intensos olhos verdes, como se não acreditasse que o garoto estava falando com ela.

— Oi. – ela respondeu sorrindo – Você é o garoto da iniciação cientifica, o amigo do capitão, você é o... É...

— Lothur. – ele completou tímido – Me chamo Lothur, sei que não nos conhecemos direito, mas eu sempre a observo, quer dizer, eu sempre a vejo por aí. Não que eu fique perseguindo você mas, na verdade eu fico, quero dizer eu... Eu só queria....

Ele parou de falar quando percebeu que ela ria, se sentiu um verdadeiro idiota e teve vontade de sair correndo, mas não pode deixar de sorrir quando ouviu a voz dela.

— Você é engraçado, Lot - e a forma carinhosa como ela o havia chamado o deixou sem fala.

A forma como ela contraiu e pronunciou seu nome fez o coração dele palpitar, Lothur nunca havia tido um apelido antes, bom pelo menos ele não considerava “amigo do capitão” como um.

— Queria me dizer alguma coisa? – Sif o incentivou, como se de alguma forma soubesse que ele não sabia o que dizer.

— Eu... Eu estive pensando, se por um acaso, se você não se importasse, você não gostaria de ir ao baile de Inverno comigo?

Definitivamente aquela já havia sido a conversa mais longa que ele tinha tido com uma garota, já estava pronto para escutar um não quando ela o surpreendeu.

— Claro, será um prazer.

— O que? – foi a única resposta que ele conseguiu dar na época - Você pode repetir?

— Eu disse sim. – ela respondeu rindo.

Lothur não acreditou de princípio naquilo, e por alguns dias pensou que Sif fosse uma daquelas garotas esnobes e estivesse apenas se divertindo as suas custas, mas quando o dia do baile chegou ele se sentiu nas nuvens, estava acompanhado pela garota mais bela da escola e como se não bastasse aquilo Sif ainda o beijou no final daquela noite, o seu primeiro beijo.

E desde então os dois estavam sempre juntos.

Sif não se importava com quem ele era, não ligava para ele ser um jovem estranho, sempre ficou ao lado dele desde aquele baile. Lothur mais do que nunca a amava e se sentia o homem mais feliz do mundo quando Sif o beijava com ardor. Os pais dela não gostaram muito daquele relacionamento, porém Sif era determinada e conseguiu que eles o enxergassem com o tempo da mesma forma que ela.

Se não fosse por Sif, Lothur tinha certeza que nunca teria ido tão longe, e graças a ela, hoje ele estudava aquilo que mais queria: a magia.

— No que você está pensando? – a voz doce de Sif o chamou de volta ao presente, só então ele reparou que ela o observava com curiosidade.

— Em você. – ele respondeu com uma voz sonolenta.

— Sei. – ela soltou uma risadinha e voltou a se deitar sobre ele.

Por alguns minutos os dois ficaram em silêncio e Lothur sentiu o cansaço acumulado nos últimos dias se manifestar em seu corpo, de repente seu corpo parecia pesar uma tonelada e aos poucos suas pálpebras começaram a se fechar, ele estava quase dormindo quando sentiu Sif se remexer.

— Lot? – ela o chamou.

— Hum. – ele respondeu com um tom preguiçoso.

— Não está curioso para saber como foi a ofensiva? A nossa vitória na colônia de Midgard? A recuperação de nossas terras?

Incomodado Lothur abriu os olhos, não gostava de falar sobre invasões, guerras e afins, ainda mais quando Sif participava delas.

— Steve me contou a respeito...

— Utilizamos a magia de gelo que você desenvolveu, não tivemos baixas de nosso lado, foi extremamente fácil recuperarmos o território que é nosso por direito.

“Não tivemos baixas de nossos lados”. Aquela frase ficou presa na mente dele, o atormentando, alguém provavelmente deve ter morrido naquele dia e a culpa daquilo era dele. Ele engoliu em seco, um mal estar se apossando de seu corpo repentinamente, contrariando sua própria mente que o tentava convencer o tempo todo de que a morte de outros eram irrelevantes diante sua causa, da causa de seu país.

— Não gosto de te ver envolvida nessas coisas Sif. – ele disse depois de um tempo - Algo podia ter dado errado, poderia ser perigoso para você e nosso filho.

— Não sou do tipo que se esconde, além disso estou grávida e não doente.

Lothur suspirou.

— É o meu dever, além disso confio em suas invenções.  – ela soltou uma risada – E mais do que tudo é meu dever lutar por Jotunheim, por um mundo livre.

Lothur voltou a suspirar, odiava política e todo esse campo de negociação que Sif conhecia tão bem e ainda tinha aquele quê de culpa atormentando sua mente. Ele não gostava de políticos, com exceção de sua esposa os consideravam corruptos e interesseiros. Sif era diferente, ela era uma guerreira antes de tudo.

A guerreira que representava o seu povo ao mundo. Já ele...

— Me desculpe. – ele pediu de repente, pondo para fora um pouco do pesar que crescia em sua alma.

Sif se levantou o observando com ternura, o conhecia o suficiente para entender o porquê daquele pedido de desculpas.

Lothur se culpava por tudo que estava acontecendo, se não tivesse insistido nessa ideia de magia junto com alguns conhecidos talvez esse clima de guerra não existisse no momento.

— A guerra não é culpa sua Lot, não seja bobo, você fez coisas maravilhosas. – ela acariciou o rosto dele – Você trouxe esperanças a aqueles que não tinham mais nada, conseguiu curar doentes em estado terminais, deu vida para aqueles que só viam a morte, graças aos seus estudos. Tem que se orgulhar disso.

— As pessoas fora de Jotunheim não veem as coisas assim... – murmurou.

— São um bando de ignorantes e covardes. – ela o beijou – Eu tenho orgulho de você e quero que continue o que está fazendo. As armas é apenas uma questão de segurança...

Ele abriu a boca para dizer algo, me desistiu no caminho, não queria continuar aquela conversa, impaciente tentou mudar de assunto.

— E que história era aquela de um loiro dando em cima de você, Sif?

A mulher riu.

— Você ainda não esqueceu isso. – ela voltou a exibir um riso divertido – Não seja ciumento, não tem com o que se preocupar, não gosto de homens loiros e ainda mais musculosos.

— Musculoso? Quem é esse cara?

Ela riu.

— Não sei, acho que o nome dele era Thor.


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Notas finais do capítulo

Sinto que assim como Loki, Lothur já odeia o Thor hahahahaha e ele nem apareceu na fic ainda rsrs



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