A discussão que se seguiu na sala depois da revelação que Vanessa fez e para o horror de sua mãe a transformação da xícara num ratinho branco, foi maior do que todas que ela presenciara em casa até então. Incredulidade, raiva, espanto, raiva e quase nenhuma aceitação. Por parte dos pais pelo menos, por que saber aquilo tudo, para Letícia, era como se tudo fizesse sentido de uma forma que ela jamais imaginaria. Vanessa explicou a existência dos bruxos e do mundo magico e também que as coisas que ela fazia involuntariamente era seus poderes se manifestando por ela não ter o controle e na escola que estava sendo convidada para entrar, Castelo Bruxo, ela iria aprender a usa-los com responsabilidade. Uma parte do peso enorme que tinha sobre si mesma sumiu de uma hora pra outra. Ainda sentia muita raiva, tristeza e ansiedade por tudo que tinha passado, mas pelo menos ela sabia que não era um monstro. Os pais no entanto, era preciso de mais esforço para que aceitassem que a filha deles tinha super poderes. Depois de todas as discussões e um casamento mais que arruinado, aquilo foi a gota d’água para eles e então tomaram a decisão de se separar. Nos dias que sucederam á visita de Vanessa seu pai já tinha se mudado. Ela o via nos finais de semana num apartamento pequeno alugado. Financeiramente as coisas iam ficar apertadas, pois mesmo pai e mãe trabalhando, tinham que sustentar suas respectivas casas. Mesmo assim conseguiram entrar em um acordo, a mãe de Letícia abriu mão da pensão da filha se o pai custeasse os materiais da tal escola. Pelo que Vanessa tinha dito os bruxos tinham um banco, o Gringotes e se Gilberto quisesse poderia abrir uma conta para Letícia lá, onde trocaria o dinheiro trouxa pelo bruxo, a Coroa Bruxa. Para espanto dos três, Vanessa mostrou a moeda de ouro com entalhes rebuscados. Ela garantiu que o cambio não seria tão caro, pois leis de incentivo estavam em vigor e que caso precisasse poderiam solicitar usar os Fundos de Ajuda ao Estudante Mágico, coisa que o Gilberto achou muito pertinente. Depois de ter se despedido, Vanessa disse que se encontraria com Letícia para as compras, apenas precisava esperar pelo correio. Depois de alguns dias de espera que não acabavam nunca, o que deixava sua ansiedade ainda maior, certo dia uma arara enorme e vermelha pousou no parapeito do quarto com um rolinho de papel amarrado na pata. Com o endereço em mãos ela ligou para o pai e eles marcaram de se encontrar na estação do metrô.

Letícia enxugou uma lágrima dos olhos enquanto olhava a paisagem pela janela do metrô. Assim que entrou no túnel decidiu que era bobagem ficar triste pelos pais, nunca se acertariam e também nunca precisaria voltar naquela escola e olhar na cara daquela cretina. “Bom talvez depois de aprender uns feitiços.” Pensou travessamente. Mas afastou a ideia, ela iria para um lugar melhor, tinha que ser um lugar melhor. Saiu na estação da Uruguaiana onde encontrou o pai e seguiram para o local indicado no bilhete. Seu pai ainda fez uma piada sobre fazer sentido o Camelódromo vender produtos de magia, já que ali se vendia de tudo. Letícia não via graça nenhuma nas piadas do pai.