— Tem certeza que quer parar aqui, senhora? É uma área perigosa.

Disse o taxista, preocupado, ao parar em uma das entradas que davam acesso á Comunidade.

— Sim, aqui mesmo, tome.

Vanessa respondeu ao entregar o dinheiro da corrida e descer do carro amarelo. Assim que ela fechou a porta do passageiro o motorista arrancou com o taxi, cortando entre um ônibus e uma van lotação que passava por ali.

Olhando em volta, Vanessa não pode deixar de transparecer um misto de tristeza e fascinação pela forma com que os trouxas das camadas mais pobres do Rio de Janeiro viviam. Mesmo que muitos ali vivessem em meio a condições precárias e violência, podia-se notar alguns sorrisos aqui e ali, pessoas conversando, mães passando com seus filhos e crianças com mochilas nas costas vestidas com seus uniformes da prefeitura que pareciam voltar da escola. Nessa ultima ela pensou com alegria, pois a pessoa que viria ver talvez já estivesse em casa e ela não queria se demorar, já que teria que fazer outras duas visitas parecidas com àquela. Mas essa era especial por motivos muito particulares.

Depois de atravessar a rua, Vanessa abriu despreocupadamente sua bolsa e pôs as mãos dentro, tirando logo em seguida e fechando a bolsa. Satisfeita, entrou numa rua mais larga, depois seguiu por uma viela estreita subindo por um comprido lance de escadas de cimento. Não parava para conversar e também não era incomodada por ninguém, na verdade parecia mal ser notada pelas pessoas em volta a despeito da forma extravagante e elegante com que se vestia. Usava um vestido longo de seda estampado e um turbante, justinho á cabeça, combinando. Como adereços usava um colar, braceletes e brincos de ouro e esmeraldas  além de calçar sandálias que também tinha esmeraldas encrustadas pelas tiras de couro. Mesmo depois de ter errado o caminho um momento e ter parado numa rua onde um grupo de homens vendia o que parecia ser drogas ela deu meia volta e não a incomodaram. Depois desse momento de distração voltou para o caminho certo e se viu num corredor estreito formado por casas de ambos os lados. As casas geminadas tinhas portas de metal e janelas com grades, algumas tinham vasos com samambaias e outras plantas próximo ás paredes. Em uma das portas se encontrava um menino negro e magricela sentado curvado na entrada olhando fixamente seus tênis novos. Como estava de cabeça baixa só percebeu Vanessa quando essa lhe fez sombra. Quando o garoto olhou pra cima, Vanessa teve certeza que encontrara o lugar certo. Sorrindo disse.

— Boa tarde, Felipe, me chamo  Vanessa Pereira, por um acaso algum responsável se encontra?