À Procura de Adeline Legrand escrita por Biax


Capítulo 84
Emoções


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi!

Perdones por não ter postado, não tive tempo de escrever :B

Agora, vamos ao restante das cartas!

Boa leitura!



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Por que eu estava com vontade de abraçá-lo? Não foi ele que passou por tudo aquilo, e ainda assim eu sentia uma necessidade de mostrar apoio.

Resolvi me concentrar naquelas fatias de pão antes que eu falasse ou fizesse alguma besteira. Natanael não precisava saber das minhas loucuras. Ainda. Comi duas fatias generosas, bebi um pouco de chá, parti para o bolo de chocolate e finalizei com o restante da bebida já morna. Limpei as mãos em um guardanapo e voltei para as cartas, que estavam acabando. Mais uma carta apagada e fui para a próxima.

“... julho...

... Heloise,

Alexander nasceu de madrugada, apressado igual a pequena Heloise. Nos deu um tremendo... Ele está bem, Louise também... disse que quer fechar a fábrica e com certeza eu concordo... Me pergunto se a guerra realmente irá parar algum dia...

... enquanto isso, damos um jeito...

... Berger.”

 

“12 de setembro de 1918

Querida Heloise,

Esta é quarta vez que estou tentando escrever. Precisei me trancar no quarto porque simplesmente não aguento... Não está sendo fácil superar a perda... Como eu poderia... sabendo que... Essa maldita doença... eu nunca devia ter deixado que ela e Alexander fossem até a cidade... Eu preciso ser forte, preciso apoiar meus filhos... mas é difícil. Eu sei que eles não foram os únicos... mas por quê? Por que justo eles? Não consigo... resposta. Sinto falta deles a cada segundo...”

 

Mas... o que aconteceu? Louise e Alexander morreram? Como?

— Você chegou na parte em que Louise e Alexander morrem, não é? — Natanael perguntou vendo minha expressão completamente perdida e inconformada. Eu afirmei. — Meu pai disse que eles morreram de gripe espanhola. Provavelmente os dois foram fazer compras no centro e entraram em contato direto com o vírus... Não tinha como escapar.

Larguei a folha no colo e segurei a cabeça com as mãos, sem acreditar naquilo. Mal conseguia imaginar como Nathaniel devia se sentir. Perder a esposa e um dos filhos...

Meus olhos se encheram de água. Eu não conseguia acreditar. Nathaniel passou por tantas coisas e ele... Ah, Deus.

E eu não poderia fazer nada. Não poderia ajudar em absolutamente nada. Por que eles tinham que sofrer desse jeito? Por quê...?

— Heloise... — sussurrou Natanael, sem saber o que fazer para me confortar, visivelmente tocado pela minha reação.

— Desculpe, eu... — Engoli com dificuldade pelo nó na garganta. Funguei, limpando as lágrimas com os pulsos. — Tudo bem. — Suspirei e guardei a carta, pegando a próxima.

“10 de janeiro de 1919

Querida Heloise,

Decidi que estava na hora de voltar para casa. A guerra finalmente acabara, deixando milhares de sequelas. O que nos resta é reconstruir tudo. Meu apartamento estava intacto, não sei como, mas foi uma surpresa ótima. Com um pouco de dinheiro que me restou, consegui começar uma pequena reforma no meu consultório. Resolvi atender os sobreviventes da guerra e ex-soldados. Sinto que preciso ajudar de alguma forma e acho que essa é uma boa maneira de começar.

Estou reconstruindo nossas vidas. Meus filhos estão crescendo e se tornando cada vez mais independentes. Tenho muito orgulho de como eles são fortes. Sei que todos têm um futuro brilhante. Me pergunto se... algum dia, algum filho, neto ou tataraneto te encontrará. Será que é loucura minha imaginar algo assim? Quem sabe.

Com saudades, Nathaniel Berger.”

Pode ser loucura para quem ler isso, Nath, mas você acertou.

De três dos últimos envelopes, dois estavam vazios, me sobrando o último. Respirei fundo antes de abrir a folha. Me deparei com um desenho de uma mulher, de costas, sentada em uma banqueta de piano, tocando o instrumento. Era eu.

Virei a folha, encontrando apenas um pequeno parágrafo.

“Acabei me esquecendo de muitas coisas, mas outras ainda são claras como se tivessem acontecido ontem. Ainda vejo claramente você tocando piano em sua festa de despedida, fazendo todos chorarem com a música... Espero te encontrar, Heloise, em algum lugar onde possamos aproveitar de verdade a companhia um do outro. Um lugar onde não precisemos nos preocupar com o tempo, com épocas diferentes ou qualquer outra coisa. Ainda sinto sua falta.”

Deixei a folha no chão e me levantei, caminhando para o outro lado do sótão para perto de uma das janelas. Puxei os cabelos para trás e olhei para o teto, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Eu sinto muito, Nathaniel, por tudo o que aconteceu. Sinto muito por não ter te ajudado em todos esses momentos... Eu sinto. Muito.

Ouvi uma movimentação. Passos.

— Você... quer um abraço...? — Natanael questionou baixinho, hesitante.

Se você me abraçar capaz de eu não te soltar mais, menino.

Me virei e fui de encontro a ele, o abraçando pela cintura. Ele me cercou com seus braços e eu me segurei para não chorar mais. Continuei apenas fungando ocasionalmente, aproveitando a sensação daquele abraço quente. Ficamos assim por algum tempo, até que Natanael suspirou.

— Eu nunca vi alguém reagir assim ao ler essas cartas... Imagino que seja mais significante para você...

— É... — cochichei com o rosto colado em seu peito. — Muito. Eu... me imagino no lugar dele...

Natanael fechou mais o abraço, encostando o rosto em minha cabeça, como se quisesse me fazer sentir melhor, o que funcionou. Eu me sentia bem ali, completa, mesmo sabendo que ele estava fazendo aquilo apenas para que eu ficasse bem, o que já era suficiente.

— O que vocês estão fazendo? — Ouvimos a voz de Maria, de repente, e nos soltamos rapidamente, virando para ela assustados e envergonhados.

— Ela… estava emocionada com as cartas… — explicou Natanael. — Sabe, como quando você assiste Enrolados e pede um abraço.

— Hm… — Maria considerou, se aproximando de mim devagar. — Tudo bem, professora, não tem problema chorar.

Sorri. — Eu sei. E não precisa me chamar de professora fora da escola, pode me chamar pelo nome.

— Então, posso te chamar de Lolo? — Ela inclinou a cabeça levemente, fazendo uma carinha pidona e fofa.

— Claro, pode sim. — Dei risada, vendo seu irmão erguer uma sobrancelha.

— Vou fingir que você não fez essa cara de cachorro abandonado — repreendeu ele, e acabou rindo.

— Não tem problema, eu gosto de apelidos — falei sorrindo, puxando Maria para um abraço, que ela correspondeu com ânimo.

Natanael pareceu achar graça da cena e ficou nos olhando, admirando nossa interação. Depois que nos soltamos, suspirei.

— Melhor arrumar a bagunça que eu fiz… Acho que já deu de cartas por hoje.

Guardei a última carta que li, organizei os envelopes e voltei todos para dentro da caixinha de madeira enquanto os dois irmãos brincavam de cosquinhas. Voltei a caixa menor para dentro da maior e fechei, pensando se eu leria todos aqueles textos de novo algum dia sem sentir um certo peso no coração.

— Eu ficaria horas aqui vendo vocês brincarem, mas eu preciso voltar para casa — anunciei assim que Maria parou de gargalhar.

— Mas já? — Ela perguntou, fazendo um biquinho.

— Sim, preciso cuidar dos meus gatos.

— Você tem gatos?! Será que algum dia… eu posso ver eles?

— Claro, algum dia eu peço permissão aos seus pais para que você os conheça.

— O Nate pode me levar! — E ela encarou o irmão, voltando a fazer aquela cara.

— Não faz essa cara, hein. — Ele riu. — Eu não sou seu pai.

— Mas é meu irmão! — Maria falou com graça.

— Depois você conversa com eles. — Peguei a bandeja do chão, com as louças vazias, e Natanael se aproximou. — Pode deixar, eu levo.

Nossos dedos se encostaram na alça da bandeja e minhas bochechas esquentaram, me fazendo sentir extremamente boba por ter tal reação. Felizmente ele não notou, já segurando o objeto e andando em direção às escadas. Maria e eu seguimos logo atrás, indo para o andar térreo, para a cozinha onde estavam Estella e Abner sentados a uma pequena mesa no centro do cômodo, lanchando, ainda com algumas caixas ao redor.

— Já leu tudo? — Abner questionou em tom surpreso.

— Já… Acho que foi o dia mais emocionante da minha vida — brinquei, passando as pontas dos dedos debaixo dos olhos, fingindo secar as lágrimas.

— Eu também fiquei emocionada quando li a primeira vez — comentou Estella. Notei Natanael fazer uma expressão do tipo “não tanto quanto ela”.

— É… Bom, eu agradeço a hospitalidade, preciso ir para casa.

— Mãe, pai, a Lolo me disse que eu… posso conhecer os gatos dela! Vocês deixam? — Maria ficou entre eles, segurando seus braços ao mesmo tempo.

Abner me lançou um olhar e eu afirmei. — Tudo bem, mas não hoje.

— Eba!

— E nada de ficar apressando — disse Estella. — A Heloise que escolherá o dia.

— Tudo bem, tudo bem.

Dei risada. — Assim que eu decidir, te aviso, prometo. Agora eu preciso ir.

— Eu te levo até a porta! — Maria correu em minha direção e segurou minha mão.

— Obrigada mais uma vez. — Eles acenaram antes que a filha deles me puxasse de volta ao hall de entrada. Ela abriu a porta e caminhamos até a calçada.

Assim que me virei para me despedir dela, vi que Natanael também tinha vindo. Dei um abraço da garotinha e sorri timidamente para ele.

— Obrigada.

— Não há de quê. Foi legal finalmente “entregar” as cartas.

— Sim… — Eu queria muito poder abraçá-lo de novo, ter a mesma sensação de quando abraçava Nathaniel, mas eu não tinha tal liberdade com ele. — Então… até mais.

— Até.

Acenei para os dois e fui para a rua, segurando aquela vontade louca de grudar em Natanael. Tentei repassar as cartas em minha mente para me distrair no caminho para casa. Assim que cheguei, abracei meus gatos para suprir aquela vontade e eles miaram, só não sabia se era de prazer ou incômodo.

Me sentei no sofá, aproveitando o silêncio, encarando a televisão desligada, me lembrando de como o psicólogo ficou ao vê-la. De repente, me bateu uma saudade gigantesca daqueles dias em que ele esteve aqui comigo. De como dormimos juntos no sofá e ele me levou até a cama. O beijo que eu dei em seu rosto, achando que ele estava dormindo, quando se virou. Aconteceram tantas coisas que é quase pecado eu não me lembrar de cada mínimo detalhe...

Será que esse sentimento que eu tenho por Natanael seria considerado platônico? É incrível como eu me senti completa naquele abraço, ou mesmo em qualquer momento em que estivemos naquele sótão. Só que... ele não sente nada por mim. Acabamos de nos conhecer. Seria loucura achar que haviam chances de ele me olhar e sentir algo no fundo do estômago.

Eu me sentia deprimida e sem saber o que fazer com aqueles sentimentos.

Falei para Nathaniel viver sua vida. Ele o fez, mesmo que nunca tivesse se esquecido de mim. Será que ele se sentia da mesma forma? Será que ele amou Louise tanto quanto a mim? Será que, quando e se eu arranjar alguém, amarei pela metade, como parece que vai ser?

Eram sentimentos estranhos e confusos, todos regados a um amor que não teria chances de acontecer. E eu estava completamente perdida entre eles.


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Notas finais do capítulo

:(

E aí, o que acharam do restante das cartas? Quero saber!

Sobre o questionário que eu pedi para vocês responderam: Fechei hoje. No total, vinte e duas pessoas responderam, e vinte pessoas falaram que SIM, querem que a Lolo diga ao Nate sobre a viagem no tempo e sobre o relacionamento com o tataravô dele xD

Vocês imaginam como isso vai ser?

Até mais o/



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