Shizune estava arrumando todas as coisas que ela e mestra possuíam antes de partirem para outro lugar. Esses momentos sempre a deixavam estressada, porque sempre haviam coisas demais para ela resolver antes de partirem.

Enquanto tentava dividir o espaço da mala de Tsunade entre roupas e bebidas, ela achou um guardanapo amassado e com letras embaraçadas escritas por todo ele. Curiosa, Shizune começou a ler.

Vovó,

Estou escrevendo essa carta nem sei bem do porquê. A única coisa que sei é que já acabei com o estoque de bebidas do bar em que estou, então preciso fingir que estou fazendo algo de útil com a minha vida antes de voltar para casa.

Resolvi finalmente desabafar e quem melhor para isso do que com a minha avó?

Sinto tanta falta dos seus abraços apertados quando eu visitava a senhora. Ainda me lembro de como ficava irritada quando o vovô me deixava fazer bagunça, você sempre chamava minha atenção mas depois me abraçava e enchia de beijos.

Sinto falta dos seus conselhos, de como me fazia pôr os pés no chão e pensar melhor antes de fazer alguma besteira. Não é como se eles me impedissem de fazer elas, mas me ajudavam a medir os “estragos” antecipadamente.

Achei que nunca sentiria falta da senhora falando um “Eu avisei, querida...”, com aquele tom de reprovação, balançando a cabeça de um lado para o outro e depois abrindo um sorriso, me chamando para um abraço enquanto falava “Vai ficar tudo bem”.

Nunca pensei que eu chegaria no ponto em que estou: fugindo dos meus problemas como uma criança assustada. Nunca pensei que sairia de Konoha desse jeito. Nunca pensei que traria Shizune comigo com a desculpa de ser minha aprendiza, quando na verdade eu só não suportava a ideia de ficar sozinha. Nunca pensei que conseguiria escrever tudo isso de madrugada, bêbada, em um bar qualquer.

Vovó, eu quero tanto um abraço seu agora.

Espero que a senhora não se sinta sozinha, espero que estejam te tratando bem e que tenha adotado uma neta com os mesmos fios vermelhos que o seu (prometo não ter ciúmes dessa pimentinha). Mesmo longe, vovó, eu ainda me preocupo com todos e tento saber das novidades.

Falando no seu cabelo, espero que um dia eu ainda possa pentear ele de novo e fazer aqueles coques no alto da sua cabeça que eu acho tão lindos. Lembra quando você fazia minhas maria-chiquinha e colocava aqueles enfeites?

Vovó, ainda tenho tantas coisas para falar, mas não posso fazer isso. Por mais que eu queira continuar aqui, bebendo e ignorando a minha vida enquanto escrevo essas palavras tortas, eu preciso ser forte.

Espero que eu ainda consiga voltar para Konoha em tempo de ouvir um grande sermão pelo meu comportamento. Vai valer a pena porque eu tenho certeza que vou ganhar um abraço depois, vovó.

Da sua eterna netinha, Tsunade.

Talvez ainda desse tempo de enviar, antes de saírem daquela cidade. Talvez ela recebesse a tempo. Talvez Tsunade aceitasse um abraço de sua aprendiza enquanto esperava o abraço de sua avó.