As Joias do Carrasco escrita por Jupiter vas Normandy


Capítulo 8
Dentro de uma jaula.


Notas iniciais do capítulo

Henlo, friends.
Tá, eu até que demorei, MAS não tanto quanto eu poderia ter demorado, então é uma vitória! XD De pouquinho em pouquinho eu vou conseguir :v
Ainda sem ação, porque o Vermont ainda tá meio se recuperando. Vamos ver se esse povo passa a se cuidar mais, né?
O cap começa com edição feita pelo Eu Voltei ♥ Mais uma vez, obrigada! ♥



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— Você só pode estar de brincadeira... — Erin murmurou, assustando Catarina, que não esperava encontrá-la na enfermaria àquele horário. Aquele turno era de Lucius. Catarina sabia os horários de Erin, pois a médica era o mais próximo de uma amiga que ela tinha na Cidadela. — Você está mesmo me evitando?

— Erin, eu juro... — Ela se virou, encontrando a Dra. Walker sentada atrás de uma mesa, assinando uma papelada. Catarina estava pronta para se defender e questionar a mudança de turnos quando notou, sob o aro dos óculos de Erin, um curativo curto na lateral de seu rosto. Ela se sentou à mesa, apontando para o curativo, com um semblante preocupado. — O que foi isso?

— Não mude de assunto. — Erin cortou. — Você está me evitando? Isso é sério? Não somos crianças.

— Eu tinha uma questão com Lucius...

— Catarina.

A Magni silenciou, sabendo que não poderia evitar o assunto por muito mais tempo. Ela manteve os olhos na mesa, esperando que Erin não começasse algum sermão. Estava passando por muita coisa, e não tinha paciência para ouvir nada agora, mas também não queria destratar Erin.

— Vamos ter que conversar sobre isso, mais cedo ou mais tarde. Eu acho que quanto mais cedo, melhor. — Catarina assentiu. — Por favor, sente-se ali. Vamos fazer os exames.

— Mas agora?

Agora, Catarina — respondeu, intransigente. — Você não veio para isso?

— Certo... — Catarina sentou-se onde fora indicado, enquanto Erin preparava o material para coleta de sangue. — Desculpe se pareceu que eu estava lhe evitando.

— Mas estava.

— Estava... Desculpe. Isso foi muito repentino, eu tinha... eu tenho muito para pensar — murmurou, observando Erin colocar as luvas, e, por um instante, Catarina viu que a mão direita de Erin parecia apresentar pequenos cortes recentes. Erin já estava pronta, sentou-se à sua frente com a agulha em mãos. Catarina estendeu o braço para ela, e quando Erin se aproximou, viu novamente o curativo, no lado direito de seu rosto. Isso chamou sua atenção, pois era o mesmo lado que a mão ferida. Teve a impressão de que Erin se defendera de algo. — Mas o que aconteceu com você? Você se feriu?

— Não foi nada. — Erin respondeu, sem vacilar, dando de ombros.

— Erin.

— Realmente não foi grande coisa. Eu tive uma discussão com Rowena no gabinete do Pretor.

— Rowena agrediu você? — Catarina perguntou, com espanto.

— Mais ou menos. O Pretor intensificou o racionamento de algumas substâncias, mesmo para as grandes famílias. Ela veio me questionar, eu tentei explicar a situação, mas ela não gostou e atirou um copo na minha direção. O copo quebrou na parede, então eu me cortei um pouco, mas não foi nada demais.

— É claro que foi demais! Minha nossa, eu pensei que Rowena estivesse limpa!

— Eu também. Acho que ela só aprendeu a disfarçar. O Pretor achou melhor que eu trocasse de horário com Lucius por um tempo, para não acontecer de nos encontrarmos de novo.

Era absurdo para Catarina imaginar que Rowena chegara a esse ponto. Ela era uma garota tão gentil. Não cresceram próximas, mas nunca teve problema algum com ela, mesmo antes de assumir a posição de Portadora da Joia do Ar. Ela vivia sorrindo e se divertindo com o irmão e os amigos dele. Catarina realmente tinha pena dela.

— Mas e você? Já falou para o Tiberius sobre a gravidez?

— Eu disse que ainda tenho muito para pensar! — Catarina se irritou com a brusca mudança de volta para aquele assunto. — Erin, eu vou contar quando for a hora.

— A hora vai ser quando não der mais para esconder? Eu sei que a joia lhe protege da radiação, mas não tem como ter certeza de que é seguro para seu bebê.

Catarina não respondeu. Ninguém, nem mesmo Erin, sabia do segredo dos Magni, aquela pequena trapaça. A situação era ainda mais arriscada do que Erin pensava, pois a joia não protegia Catarina, já que ela não era realmente a Portadora. A joia pertencia a Tiberius. A única proteção de Catarina contra a radiação, quando saíam da cidade, era aquele fino traje, que nas duas missões fracassara em manter um de seus companheiros seguros. Na primeira missão fora Tony, que caíra no rio e a água poderia ter sido um problema, se não fosse a presença da Joia da Terra para protegê-lo. Na segunda, Vermont se feriu na queda do penhasco, e o tecido entre as placas da roupa havia se rompido. Catarina tentava se manter em segurança, mas não era impossível que algo assim acontecesse com ela, e não era mais apenas a sua integridade que estava em risco. Realmente precisava discutir com Tiberius o que fazer, mas ainda havia tantas outras questões entre eles.

— Por favor, Erin, deixe isso comigo. Eu vou contar quando for a hora.

Erin não gostou de ouvir isso, mas concordou. Terminou de identificar as amostras de sangue coletado, e finalmente deixou Catarina ir.

 

~*~

 

Calisto andava de um lado para o outro pelos corredores, sem ao menos perceber os locais pelos quais passava. Quando encontrava outras pessoas, mal as notava, apesar dos olhares desconfiados que lançavam para ela. Calisto estava ocupada demais para notá-los, ela se concentrava em dissipar a raiva que sentia.

A raiva e a irritação não lhe eram comuns; desde que se lembrava, sua personalidade sempre foi dominada por uma calma quase sobrenatural. Ela possuía dúvidas, medos e um pouco de rancor, mas, em geral, esses sentimentos eram como a fumaça capturada em um invólucro de vidro, incapaz de sequer arranhar a superfície. Então, quando esses sentimentos eram intensos, fortes, Calisto não sabia como agir, ela não tinha aprendido isso enquanto crescia, e acabava transformando-os em uma inquietação enérgica: Calisto estava andando há mais de uma hora, procurando algum lugar onde pudesse acalmar sua mente ou, ao menos, gastar aquela energia.

Uma pessoa observadora já teria percebido. Calisto sempre tinha um tom de voz firme e um semblante calmo, mas, ao mesmo tempo, sempre estava tamborilando os dedos na lateral do corpo, nas superfícies de mesas ou esfregando os dedos uns nos outros. Os gestos, a movimentação, pareciam ser a única forma que seus receios tinham de alcançar o exterior e serem notados. Não pelo rosto ou pela voz, mas nas mãos era possível ver o que ela realmente sentia.

Calisto teve a impressão de passar por um rosto familiar, mas continuou firme, sem reconhecer. A leve, porém persistente, dor de cabeça, que não tinha nada a ver com seus sentimentos, também a estava desconcentrando. Ouviu a voz familiar chamar seu nome, mas continuou andando até se encontrar nas escadarias desativadas dos bunkers sob o Palácio da Fênix, onde sentiu subitamente o vigor desaparecer, embora a inquietação permanecesse. Calisto se sentou nos degraus, adiando o aborrecimento de encontrar o caminho de volta para seu quarto, com os braços em volta do corpo sentindo a animosidade de uma discussão acalorada ainda presente, mas não houve discussão alguma. Tudo que Calisto havia feito foi ouvir em silêncio uma ameaça que lhe pareceu estranha demais para o momento, e a perplexidade a impediu de reagir.

Alguém se sentou ao seu lado.

— Calisto? Você está bem? — Era Vermont, que havia sido liberado da enfermaria em poucos dias, mas Erin tinha mantido a proibição de esforço por mais um tempo. Como Calisto não respondeu, ele perguntou de outra maneira. — Algum problema?

— Sim — respondeu objetivamente.

— Ah. Tudo bem... Eu posso fazer algo? — Ela negou com a cabeça, decididamente. — E você quer falar sobre esse problema? — Vermont insistiu, quando percebeu que ela não continuaria falando.

— Não.

— Ok...

Vermont continuou sentado ao seu lado, olhando para a parede vazia. Calisto percebeu que seu silêncio ainda era um convite, um lembrete de que ele ouviria se ela quisesse falar, mas Calisto preferia não falar nada. Ainda sentia aquela agitação, e falar sobre ela não faria o sentimento desaparecer, apenas aumentar, e ela não queria isso. Não queria nada que pudesse anuviar sua mente e entorpecer seu raciocínio, mesmo a raiva. Não queria que aquele impulso voltasse, que fizesse ela se levantar e guiasse seus passos de volta ao gabinete de Rower, pois não sabia o que poderia fazer quando o encontrasse. Ela poderia dar uma resposta curta para suas ameaças, ou poderia gritar e deixar toda a frustração fluir. Ou talvez ela não dissesse nada, e Rower saberia de seu descontentamento por meios menos pacíficos.

Longe de se acalmar, Calisto se pôs de pé em um impulso. Precisava manter as emoções sob controle, ou realmente acabaria voltando para o gabinete do Pretor e acertando um soco no rosto de Rower. Ela passou as mãos no cabelo solto, forçando-se a sentar novamente nos degraus.

Vermont, que ainda estava presente e para quem a cena repentina não fizera o menor sentido, inclinou-se para a frente buscando olhar Calisto nos olhos.

— Eu acho que preciso ser um pouco insistente agora... Aconteceu alguma coisa? Você está bem?

Calisto não respondeu de imediato, e quando o fez, sua voz saiu trêmula e baixa.

— Tenho medo de ter feito tudo errado... vindo aqui... — Só então Vermont percebeu que Calisto estava contendo as lágrimas, seus olhos úmidos refletiam a pouca iluminação do ambiente.

— "Aqui", em Aurora? Por quê?

— Eu saí hoje. Sozinha. Já estou aqui há muito tempo e precisava ver se a minha família estava bem. Eu não achei que tinha problema, já que qualquer um pode entrar ou sair, eu mesma tinha vindo para cá algumas vezes antes de invadir a Cidadela. — Vermont assentiu, ouvindo-a com atenção. Tudo parecia normal até o momento. Apenas a Cidadela tinha um controle maior sobre a entrada e saída de pessoas, mas a Cidade Baixa era aberta, mesmo o povo de Calisto a atravessava de vez em quando. Mas a presença deles era bem rara, pois o povo de Aurora era geralmente hostil com os andarilhos.

Calisto continuou a história. Ela falou sobre como a general parecia estar preparando um grupo de soldados para procurá-la, e que apesar de ter sido compreensiva, o que Vermont estranhou, a general insistiu para que Calisto fosse ver o Pretor. Com quatro soldados ao seu redor, Calisto passou quase uma hora apenas ouvindo as reclamações de Rower sobre sua fuga, sem nem poder se explicar.

— Ele me disse... Ele disse que eu não tenho permissão de sair do Palácio da Fênix. Eu não tenho a permissão nem de andar pela cidade. E isso não é uma punição por hoje, é o meu "estado" desde que eu entrei aqui. Se eu quiser ver minha família, devo pedir a permissão dele, para que ele me deixe ir. Para que ele me deixe ir! Vermont, você entende como isso soa?

— Eu entendo. É péssimo.

— Se ele acha que eu vou pedir, está louco. Sei que ele adoraria me seguir quando eu fosse até minha família, saber onde eles vivem. Ele quer uma vantagem sobre mim. Ele acha que é meu dono?

— Eu sei que é horrível, Calisto. E eu com certeza acho que Rower é um ser desprezível, como qualquer pessoa sensata acharia, mas ainda assim, era uma reação esperada. — O jeito como Calisto virou-se subitamente, encarando-o pela primeira vez durante a conversa, fez Vermont logo se explicar. — Eu não estou defendendo ele! De modo algum! Mas ele só disse...

— Ele me ameaçou! Se eu sair mais uma vez... Se eu sair do Palácio, não é nem mesmo da cidade, sem que ele saiba aonde estou indo... Então não sairei mais a lugar algum. Foi isso o que ele disse, as mesmas palavras. O que isso quer dizer?! Ele vai me prender? Com que direito... O que ele acha que eu sou... — Agora ela estava realmente chorando, e perdera o pouco da postura contida. Estava quase gritando enquanto murmurava frases incompletas. Para Vermont, que só conhecia a figura calma e confiante que ela geralmente se mostrava, era estarrecedor.

— Calisto... — Vermont a segurou pelos ombros, a voz em tom tranquilizador buscava acalmá-la. Ele temia que atraíssem atenção se ela gritasse, já que a área deveria estar desocupada. Mas nem mesmo Vermont sabia o que dizer. Percebeu que Calisto não estava só irritada, estava com medo, ofendida. Não era apenas uma ameaça, era uma sórdida demonstração de poder. Rower queria lembrar Calisto que sua situação ali era uma "regalia", que a qualquer momento ele poderia retirar. Vermont não pôde deixar de pensar se a discussão na enfermaria, quando Calisto impediu Rower de tirar a Joia da Água dele, motivara o Pretor a ser mais intransigente. Vermont se sentiu um pouco culpado com essa ideia.

— Eu pensei... — Calisto recomeçou, agora sua voz era quase um sussurro — que estávamos trabalhando juntos. Mas essas missões... Ele só está me testando. Ele quer saber como pode me usar. Porque eu não sou uma pessoa. — Calisto levou a mão ao peito, agarrando o tecido da camisa. Quando tocou a joia presa na carne, porém, seu toque suavizou, quase como um gesto carinhoso. — Por causa disso... Por que eles sempre me veem como uma coisa? Algo para ser usado quando eles decidirem? Eu não sou uma ferramenta... Eu não sou uma ferramenta.

Vermont continuava em silêncio, Calisto precisava ser ouvida mais do que precisava ouvir. E Vermont percebera que havia muito mais rancor na sua voz, pois ela não falava apenas de Rower. Ele deslizou a mão do ombro de Calisto e a puxou para perto, em um abraço. Não se conheciam a tanto tempo, mas não era a primeira vez que conversavam tão abertamente. Ninguém mais os ouviria daquela forma. Mesmo assim, não compartilhavam tudo. Vermont mantinha seus segredos, e Calisto também. Certas coisas ela nunca mencionava. Agora, enquanto a abraçava, Vermont sentia sob seus dedos a pele rígida de uma grande queimadura no braço de Calisto, e era apenas um dos exemplos. O corpo dela era coberto de cicatrizes, que a camisa sem mangas deixava à mostra pela primeira vez. Algumas pareciam normais para quem tivesse crescido na floresta, resultado de quedas, acidentes ou encontros com animais hostis; outras, como aquela queimadura, ou a longa linha irregular na base do pescoço, que parecia muito ter sido causada por uma faca, sempre deixavam Vermont curioso. Mas se ele precisasse saber, Calisto teria lhe contado, então ele não insistiria. Mas o jeito como ela falava deixava evidente que não era apenas de Rower que ela se ressentia. Aquelas eram marcas de encontros anteriores com pessoas que também a enxergavam como um objeto a ser possuído.

— Talvez meu irmão estivesse certo. Eu não devia ter vindo aqui pedir ajuda.

— Você falou com ele hoje? — Calisto negou com a cabeça.

— Ele não estava lá. Os outros disseram que ele foi até a Velha Cidade há alguns dias. Eu digo antes, ele achava uma péssima ideia que eu viesse até aqui. Eu tento não pensar nisso, mas acho que entrei direto em uma jaula. E não vejo grande vantagem em estar aqui.

— Nós ainda estamos no começo, Calisto. Não pegamos o jeito ainda, mas estamos fazendo um bom trabalho. Esses portais são realmente perigosos, precisam ser fechados novamente.

— Existem muitos mais do que os que conseguimos fechar, e não podemos controlar o que passa por eles antes de chegarmos. Carter lhe falou sobre a mulher do Desconhecido? — Vermont assentiu, concordando. Calisto apoiou a cabeça nas mãos, com um suspiro cansado. — Quando você vai poder voltar a participar das missões?

— Quando me liberou da enfermaria, a Dra. Walker insistiu que eu esperasse pelo menos mais uma semana, então daqui a três dias já estarei livre.

— Que bom. Os portais estão ficando difíceis de ignorar.

Era um pequeno eufemismo. Desde que começara a fechá-los, sentia com mais insistência a presença dos portais, e Calisto tinha certeza que isso estava ligado as dores de cabeça incessantes que sentira durante esse período sem as missões. Ainda não sabia se isso significava algo, então resolveu não contar a ninguém por enquanto.

 

~*~

 

— Aqui está... Eu não entendi bem o que você queria, então trouxe os dois livros que eu tinha. — Sybeal falou, entregando os dois exemplares para a Dra. Walker. Nenhum dos dois era realmente um livro: um era um registro de atividade dos primeiros profissionais a estudarem o coração do Carrasco, quando ainda estavam limitados ao subsolo, imaginando se um dia voltariam a ver a luz do sol; o outro parecia um diário, e Erin não reconheceu o nome do escritor. Ele tinha sido Pretor e os textos falavam sobre tudo no bunker, mas um capítulo curto falava da descoberta dos poderes das Joias e de sua ligação com certas pessoas.

— Obrigada, Sybeal.

— Espero que seja útil. Mas o que você está estudando mesmo?

— Bom, ainda não tem uma hipótese definida...

— Entendi, você não sabe o que está pesquisando — Sybeal interrompeu, desviando os olhos do balcão cheio de amostras de solo e plantas. Com a mudança de horário de Erin, seu tempo livre não se encontrava mais com o de Sybeal, então Erin ficou de pegar os livros com Sybeal no laboratório de microbiologia e bioquímica.

— Claro que não sei, são seres de outra dimensão, eu quero saber de tudo. Mas aqueles animais mortos não pareciam afetados pela radiação, e deve ter uma razão mais lógica do que "a magia" que Calisto fala das joias. Vou me concentrar nessa parte.

— Boa sorte com isso. — Sybeal podia ter soado ríspida, mas desejava de coração que Erin descobrisse algo útil com aquelas informações. Uma memória repentina atraiu sua atenção. Seu pai sendo coagido pela Guarda Pretoriana de Vauxhall a destruir a própria pesquisa, logo depois sendo levado para nunca mais voltar. Amos Skinner tinha sido bem sucedido com suas pesquisas, e o tratamento que desenvolvera para os efeitos da radiação estavam até surpreendendo. Mas algumas palavras erradas o colocaram na mira do antigo Pretor, e tudo acabou antes mesmo de começar.

— O que está fazendo aqui? — Uma voz severa chamou a atenção das duas para a mulher na entrada do laboratório. Os cabelos escuros estavam presos em um coque bem firme, o rosto naturalmente sisudo não tentava disfarçar o desagrado, e ela apoiava o peso do corpo em uma bengala fina e elegante com a mão direita.

— Olá, Dra. Vermont. — Erin cumprimentou, se afastando da bancada onde se apoiava, ficando ereta, tentando parecer menos casual. — Eu vim apenas pegar um livro com a Sybeal, mas é bom vê-la, eu queria mesmo saber do seu estado, saber se os analgésicos ainda são suficientes, depois do racionamento do Pretor...

— Se eu precisar dos seus serviços, Dra. Walker, pode ter certeza que eu ainda consigo andar até a enfermaria. — Marie Vermont interrompeu a médica, com uma expressão impaciente no rosto. — Até lá, poupe-me de sua... solicitude. Se já pegou os livros que queria, pare de distrair a srta. Skinner e vá desperdiçar seu tempo em outro lugar, sozinha, sem atrapalhar o trabalho de ninguém.

Já acostumada ao temperamento da supervisora, Sybeal nem mesmo levantou o rosto das amostras que analisava. Poderia ter dito algo, ou tentado dizer que Erin não estava atrapalhando, mas sabia como aquilo terminaria. Marie Vermont a interromperia a apontaria dezenas de transgressões aos métodos e normas de laboratório que apenas a sua mente atenta e mordaz era capaz de perceber.

Não. Não se discute com Marie Vermont. Todos sabem disso. Então Sybeal ficou em silêncio, enquanto Erin se retirava, torcendo para que a Dra. Vermont estivesse com um humor "menos pior" naquele dia. Deixando a bengala apoiada na mesa, ela pôs o jaleco, os óculos e tomou todas as precauções exatamente como mandava o manual. Era a mesma coisa todas as manhãs, geralmente ao mesmo horário. Marie era bastante metódica, mas às vezes se atrasava algumas horas ou faltava devido ao seu estado de saúde. Pegou novamente a bengala e passou por Sybeal sem se importar em olhar para ela.

— Há um erro no seu relatório, os resultados não estão coerentes, reveja os cálculos. Traga-me as amostras de solo preparadas ontem, da 70 à 100. E cuide das suas amizades no seu tempo livre, não aqui.

Com isso, Marie Vermont foi para a sala ao fundo, separada por um vidro, e não disse mais uma palavra até o encerramento das atividades de Sybeal, quando lhe deu instruções para as atividades do dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Sim, gente, mais um capítulo falando de NADA, mas eu adoro, sabe? Eu gosto de mostrar os personagens secundários/recorrentes, às vezes até mais do que as cenas de ação. Mas as vezes fico com a sensação de que estou enrolando... e.e Eu sei que vocês não podem dizer se é enrolação ou não porque a história tá na minha cabeça, eu que devia saber quais cenas são necessárias, mas ainda quero saber o que vocês acham? Esses caps são maçantes?
Momento da autocrítica: Poxa, eu reli, reescrevi e tudo a cena da Calisto e do Vermont e continuo achando forçadassa, meio artificial esse diálogo, mas eu precisava dessa cena e já estava querendo postar há muito tempo.
Recapitulando, então: Vem aí um baby Magni? Calisto tendo quase um colapso nervoso porque Rower é um babacão? Vermont filho sendo um amorzinho e Vermont mãe sendo uma pessoa bem mais ou menos?
Até o próximo cap, quando voltamos para as missões. Sem spoilers, mas provavelmente Calisto vai terminar de surtar :v