Akai Ito, o fio vermelho do destino. escrita por LethFersil


Capítulo 2
Hallelujah


Notas iniciais do capítulo

Esse é o primeiro capítulo de verdade, espero que gostem :)

Como eu não tenho muita criatividade para nomes de capítulos, escolhi o nome das músicas que me inspiraram para escrever a história, então pode ser que o capítulo combine com a música.



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Acordei no outro dia sem vontade de levantar, rolei na cama, até perceber que levantar seria inevitável. Fui tomar café da manhã de pijama, com o rosto inchado de tanto chorar e os olhos tão pequenos que mal conseguia enxergar direito, todos me olhavam, mas ninguém dizia nada. Nem comi direito, estava enjoada. Estar triste e com raiva sempre me deixava assim, apática após surtos de raiva. Voltei ao meu quarto e deitei na cama de bruços como sempre, sobre um travesseiro, pensei que esse travesseiro poderia ser o Kei, chorei e lembrei que Kei sempre teve essa mania de sumir.

Depois do encontro no karaokê, eu marquei de sair com ele, e depois saímos de novo e de novo e outra vez e assim foi, saíamos quase todos os dias para restaurantes, parques de diversões, karaokês, mas ele nunca me convidou para ir a sua casa e ele não entrou na minha casa, era mais uma amizade do que outra coisa.

O primeiro beijo foi durante um piquenique em um parque. Ele me convidou e achei que era coisa de criança, mas nenhum cara me chamou para fazer algo assim, então aceitei. Levamos comidas, bebidas e aquela toalha quadriculada clássica. O dia estava ensolarado, era primavera e a convivência com mais brasileiros havia melhorado a fluência de Kei na língua portuguesa.

Entre tantos assuntos que poderíamos abordar naquele dia, o escolhido por Kei foi relacionamentos anteriores:

 - Alice – ele hesitou antes de perguntar - você já amou alguém?

Não esperava por uma pergunta tão direta como essa e tentei responder da forma mais prática possível e é claro que falhei:
 - Eu já namorei um cara...

 - Não, Alice... – me interrompeu sério enquanto olhava nos meus olhos – Acho que não entendeu minha pergunta, então vou repetir. Você já amou alguém?

Não houve como fugir dessa pergunta, assim como nunca consegui fugir de nada relacionado a Kei, tive que mergulhar no lamaçal que eram meus relacionamentos para responder sem assustá-lo:

 - Acho que não. Já fui muito amada, mas eu nunca me prendi, nunca fixei raízes ou pensei em casar. Namorei um cara que me amava muito. Mas... Eu fiz besteira.

 - Você se arrepende?

 - De ter namorado com ele não, foi bom, é bom ser amada. Mas me joguei por impulso naquele relacionamento e depois percebi que estava fazendo alguém sofrer com toda a minha indiferença. Ele não merecia aquilo, tentei terminar com ele de diversas formas, mas ele não queria. Então o fiz me odiar. – suspirei e percebi que Kei estava tenso, obviamente eu havia falhado em não assustá-lo - E você, Kei?

 - Sinceramente, estou com medo Alice.

 - Do que?

 - De me decepcionar.

 - Comigo? – Questionei em sobressalto.

 - O que você fez para o seu ex-namorado te odiar?

Gelei com a pergunta, mas pelo rumo da conversa preferi não mentir:

 - Eu o traí... Com o melhor amigo dele. – Kei me olhou com repulsa – E... Depois disse ao meu ex que... O amigo dele era melhor.

 - Uma decisão do coração. Imprudente. É disso que tenho medo.

 - Tem medo de mim?

 - Alice...

 - Eu faço valer a pena.

Me aproximei devagar olhando em seus olhos e o beijei, segurando bem forte sua nuca com a minha mão direita e a esquerda desceu o ombro dele até suas costas, ele colocou uma mão na minha cintura e a outra no meu rosto, ele fez um carinho tão gostoso no meu rosto, que eu até perdi a concentração, abri os olhos e olhei nos dele e dessa vez foi ele quem me beijou.

Depois desse piquenique ele sumiu. Eu ligava e ele não atendia, mandava e-mails e ele não respondia. Fiquei decepcionada com aquela atitude dele, eu gostava tanto dele, nossas conversas fluíam bem, ele me tratava com tanta delicadeza e doçura, como se gostasse de mim de verdade e depois que me beijou desapareceu. Não tive outra escolha, fui ao bar Karaokê novamente com Lydia, na esperança de reencontrá-lo, fiquei com medo de estar apaixonada, decidi perguntar a Lydia como era isso já que ela amava meu irmão:

 - Lydia... Quando você soube que amava meu irmão?

 - Não sei só amo – me olhou animada enquanto falava - Mas... É o Kei?

 - Ele fez aquele clima todo pra me beijar e depois ir embora! Isso não é justo!

 - Relaxa amiga, vocês nem transaram, foi só um beijo não tem nada demais.

 - Relaxa amiga? – respondi indignada - Eu falei do Pedro pra ele e depois ele veio com um papo de ter medo das decisões do coração...

 - Ele está apaixonado e não quer ser ferido.

— Ai ele some e eu fico doida preocupada, não consigo me concentrar em nada na faculdade, ando esquecendo minhas coisas pelo Campus, um dia desses até esquecer de comer eu esqueci.

— Sumir não foi a melhor atitude que ele poderia tomar, mas você não deve ficar se punindo porque ele não teve responsabilidade afetiva com você. Esquece isso. Olha quantos caras lindos tem aqui, fica com um.

 - É uma boa ideia – suspirei – Não fico com ninguém há três meses...

 - Castidade não é a sua praia... Acho que você deve estar apaixonada mesmo.

 - Ele me tratou diferente, Lydia. Como ninguém me tratou antes, como se eu fosse útil, como se eu fosse importante, não só pra sexo mais pra vida toda. – fiquei pensativa por alguns instantes e então afirmei - Mas... Ele foi embora, bola para frente.

Não deixei Lydia falar, andei até o bar, lá havia um homem que me encarava, puxei conversa com ele e em menos de trinta minutos lá estava eu, no banheiro unissex do bar me agarrando com um completo estranho.

E depois de tudo terminado, ele se vestiu, me olhou com um jeito cínico e disse:

 - Se você quiser de novo, sabe onde me achar.  

Saiu do banheiro e me deixou lá, eu arrumei o meu vestido e peguei minha calcinha do chão e fiquei pensando que o Kei seria mais amável comigo, seria mais doce, não me trataria como... Só mais uma que peguei está noite. Sentei-me no chão do banheiro e comecei a chorar. Eu nunca tinha me importado com isso, na verdade, amor pra mim era uma grande perda de tempo. Mas o Kei, ele era especial, acho que ele queria mais de mim do que eu poderia oferecer. Me levantei do chão, lavei meu rosto na pia, e sai. Encontrei a Lydia aos beijos com um cara, não era meu irmão. Ela não o amava, eu sabia disso e não a julgava, ele a traía também. Com toda a certeza, ela não sabia responder minha pergunta e não mentiu. Avisei Lydia por mensagem no celular que iria embora e na saída do bar vi aquele cara que estava comigo no banheiro se agarrando com uma garota no estacionamento, ignorei, peguei meu carro e sai. Eu estava bêbada, mas fui mesmo assim, cheguei em casa bem, atropelei uma lixeira quando fui estacionar mais nada de muito grave. Me senti mal por vários dias depois que isso aconteceu, não sai mais com Lydia, ficava em casa, lendo, estudando para as provas da faculdade e ouvindo música, me tornei quase uma eremita. Depois de dois meses eu viajei para Angra dos Reis e também fui para ilha particular de um investidor da empresa do meu pai, lá aconteceria uma festa de uma semana de duração, não queria ir, estava em uma fase introspectiva e meu ex-namorado estaria lá com a atual noiva. Um cenário imperfeito pra mim. Enfim, fui e fui sorrindo a mando da minha avó. Na primeira noite de festa, eu fui com um vestido longo e preto, tomara que caia de um tecido leve e rendado nas costas, fiz um coque com o meu cabelo, uma maquiagem leve, só usei meu clássico batom vermelho, minha marca quase registrada. Lydia e o meu irmão não foram, só fomos eu, meu pai e minha avó. No meio da noite depois de alguns copos de vinho, entrei em um iate enorme que estava parado na orla da praia, estavam dando uma festa lá, não sabia que aquela festa não fazia parte da festa na ilha, como disse antes, a ilha era particular, por isso entrei no iate, lá havia muita bebida, e pessoas orientais, me senti deslocada, mas depois da primeira taça de champanhe me senti em casa, andei pelo iate enquanto ele saia de perto da ilha e olhei de longe, um homem que eu conhecia... Era Kei, andei até ele e pensei em mil coisas para dizer, gritar, bater, xingar, mas a única coisa que consegui dizer com os olhos marejados foi:

— Kei...

Ele me olhou assustado, como um incrédulo vendo Deus:

— Alice? O que faz aqui?

— Eu vi o iate parado e entrei...

Kei me pegou pelo braço e me arrastou para longe de todos, dizendo:

— Você é louca?

Olhei para a mão dele segurando o meu braço e depois o encarei com raiva, esperei que ele notasse o meu desagrado com a atitude dele, o que não aconteceu então puxei meu braço violentamente e respondi:

— Só porque eu vi um iate parado e entrei?

— Olha... - disse ele impaciente- Você não entende...

— Me explica então. – cruzei os braços - Começando pelo motivo de você sumir, não responder meus e-mails nem atender meus telefonemas?

— Alice...

— Não tem explicação, não é! Tudo bem, eu vou embora, pulo no mar e volto nadando pra ilha. 

Tirei meus sapatos e me apoiei nas grades do iate, ele parecia querer realmente que eu fizesse isso, então eu fiz. Pulei pra fora do iate e comecei a nadar. Neste exato momento começou a chover, eram dias chuvosos mesmo, a ressaca do mar tornava difíceis meus movimentos, como se já não fosse ruim ter que nadar até a ilha, olhar Kei no iate me admirando com um copo de uísque na mão era terrível, a situação conseguiu piorar com uma câimbra que me impedia de nadar e logo me levou ao afogamento. Após alguns minutos de sofrimento na água desmaiei e acordei na praia da ilha, Kei havia finalizado a respiração boca a boca que me salvou, e quando viu que eu estava acordada me abraçou forte, me disse algumas coisas em japonês que mais tarde eu fui descobrir o que era "Você é louca, louca, louca":

— Alice, o que você tem na cabeça? Minhocas?

— Tenho você.

Ele me olhou incrédulo por alguns segundos até que sorriu um sorriso que misturava alegria e alívio, sorria até fechar aqueles olhinhos pequenos e me beijou. Foi naquela areia molhada de chuva que tudo aconteceu. O diferente que eu sempre imaginei. Os olhos dele fixos nos meus, os sorrisos, as palavras, parecia tudo tão mágico... Era o céu na terra. Aquela não era a minha primeira vez mais eu adoraria que fosse.

E era por isso que eu não entendia o motivo da partida dele, ele me prometeu que nunca me abandonaria e agora... Simplesmente some. Afundei minha cabeça no travesseiro e chorei um choro abafado e doído, como sofrimentos emocionais conseguem doer no corpo, eu não sei, mas eu sentia meu coração bater devagar, a batida era lenta, mas forte e a cada batida eu sentia uma dor agonizante que me dava vontade de gritar, mas eu não conseguia fazer isso. E viver cada minuto era insuportável pra mim. E então eu só queria que aquela dor passasse, fui ao banheiro e procurei por qualquer medicamento para dor que pudesse fazer aquilo parar, não encontrei, mas encontrei alguns soníferos, peguei um punhado de comprimidos e engoli com água, não sei quantos eram, mas deixei o frasco vazio no chão do banheiro quando voltei ao meu quarto, e me deitei na cama, como quem morre mesmo, com os braços cruzados, fui adormecendo aos poucos, perdi a consciência.

Acordei no hospital, tomando soro, meu pai estava comigo, segurando firme minha mão. Minha avó dormia em uma poltrona e pelo vidro da UTI eu via Lydia e Christian sentados do lado de fora. Meu pai me olhou e disse:

— Minha garotinha... Minha menininha... Você sempre foi tão forte e agora se entrega desse jeito?

— Eu só queria fazer essa dor passar. Tem algo de errado nisso?

— Você tem noção de que quase morreu?

— Pai – respondi cansada e revirando os olhos - eu só queria fazer isso parar.

— Ele foi embora filha – meu pai disse friamente – e duvido que ele volte. Você precisa ficar equilibrada agora. Precisa melhorar logo.

— Eu o amo, pai. – Disse ainda cansada e contendo as lágrimas. Foi neste momento que meu pai revidou com ainda mais frieza.

—Se ele sentisse o mesmo não teria ido embora.

Fiquei em silêncio deixando apenas as lágrimas caírem, esse choro silencioso rapidamente se converteu em um choro quase convulsivo cheio de soluços descontroláveis. Meu pai tentou me acalmar, mas não conseguiu e então tive que ser sedada. 

Acordei novamente e dessa vez Lydia estava ao meu lado com uma carta na mão, ela me deu e disse:

— Estava na sua casa, seu pai foi lá ontem à noite. Disse que só havia está carta com o seu nome, nada de roupas ou objetos dele. Tinha algo mais com a carta, mas seu pai escondeu de mim.

Eu peguei a carta e abri:

“Alice,

Você deve me odiar agora e eu entendo, na verdade quero que me odeie, que queira a minha morte, minha cabeça em uma bandeja de prata, fico melhor, me sinto melhor se eu pensar assim, pois se eu tiver certeza que você está sofrendo pela minha partida, tudo que eu tenho feito será em vão. Você tocou no meu coração um acorde divino, inaudível aos ouvidos e invisível aos olhos, mas isso não importa, não mais. Meu amor sempre foi sincero e forte, mas havia algo que eu não poderia te dar e então decidi desistir disso.

Você estava reinando no meu coração tão intensamente que me senti novamente dividido entre decisões racionais e emocionais. Preciso me decidir e creio que independente da minha decisão, nós dois vamos perder.

Eu costumava andar sozinho antes de te conhecer, mas quero que você saiba que como na nossa música... O amor não é uma marcha vitoriosa. Peço perdão pelos anos que você perdeu comigo, mas você é mais do que eu posso carregar. Vou para longe e, por favor, não me siga, não quero mais uma culpa nas minhas costas. Fui embora para o bem de todos, sem exceção e vou pagar pelos meus erros como acharem melhor. Mais uma vez Alice, me odeie e me esqueça, viva sua vida, arrume outro cara, ou volte a ser o que era antes de mim. Não há nada de errado com a antiga Alice, eu me apaixonei por ela e a nova Alice está perfeita, mas eu tenho que ir, desejo que eu sofra na minha carne tudo o sofrimento que estiver destinado à você emocionalmente, eu mereço, eu estou te abandonando, com sonhos e esperanças, mas imploro que as enterre comigo e siga em paz. Sobre Akai Ito... Yubi Kita."

Akai Ito... Yubi Kita... Fio vermelho... Cortarei meu dedo. Foi impossível não lembrar do dia em que Kei me contou sobre a história do fio vermelho do destino. Era um dia comum como todos os outros, eu tinha acabado de sair da faculdade depois de uma aula de anatomia das mais terríveis, era a hora do almoço e eu precisava comer algo gorduroso. Então sai do prédio da faculdade e levei apenas a carteira e o celular, precisava falar com a Lydia, então aproveitei que o sinal abriu para os carros na rua e liguei para ela da calçada, para minha surpresa ela atendeu bem rápido:

— E a aula, Alice?

— Não faz a sonsa, Lydia. Que foto foi aquela de você pendurada no pescoço do meu irmão?

— É exatamente o que parece, voltei com ele.

A voz da Lydia não parecia muito feliz com o meu questionamento e eu sabia por que, os dois terminaram o namoro aos berros na frente da casa do meu pai, para todo o condomínio ver, os dois se acusando de traição e se xingando uma cena horrível e agora estavam grudadinhos como se nada tivesse acontecido, dois sonsos:

— Depois daquele barraco ridículo. Não sei mais o que dizer.

— Então não fala nada, Alice.

— Exatamente, não vou brigar com você por causa do Christian.

O farol dos pedestres estava verde então segui falando no celular com calma para a outra calçada, quando do nada e nem sei de onde surgiu um carro que bateu em cheio nas minhas pernas. Minha visão ficou escura e só sei que fui parar do outro lado do cruzamento morrendo de dor, o carro acelerou e fugiu e eu fui levada as pressas para o hospital universitário da faculdade, que era o mais próximo.

Acordei depois de algumas horas com a perna direita engessada e o meu braço esquerdo cheiro de escoriações. Estava com dor pelo corpo inteiro e percebi isso quando tentei me mexer e acabei gemendo, neste momento percebi que Kei estava no quarto, dormindo na poltrona ao lado da cama, ele ouviu meu gemido de dor e se levantou feito um soldado da poltrona, tive que rir daquela situação e até zombei um pouco:

— Descansar, soldado!

Ele me olhou contrariado e então bateu continência e voltou a se sentar, comecei a rir, mas naquela situação até rir doía:

— Para de me fazer rir, isso doi – resmunguei.

— Prometo não te fazer rir até você conseguir rir sem morrer de dor.

Kei se levantou da poltrona e se sentou na minha cama, segurou minha mão e agora com uma expressão preocupada questionou:

— Como isso aconteceu?

— Não sei. O carro apareceu do nada e ultrapassou o sinal vermelho. Até parece que eu tinha que ser atropelada esse mês mesmo, seria a quarta vez que um carro quase me atropela naquele sinal, é bom que o carma acaba.

— Você é muito louca, Alice. – Kei respondeu ainda preocupado – Conseguiu ver o carro pelo menos?

— Não, estava falando com a Lydia pelo celular.

— Distraída. Vai acabar morrendo desse jeito e você não pode morrer.

— Todo mundo vai morrer um dia, Kei – afirmei rindo – alguns antes que outros.

— Mas você tem que morrer depois de mim. Não aguentaria ver você morrer. Eu morreria junto.

Sorri apertando sua mão e tentando acalmá-lo:

— Pode ficar tranquilo que eu estou bem e inteira. Um pouco quebrada, mas bem viva.

Ele sorriu me olhando e então eu me esforcei para dar espaço para ele se deitar do meu lado, disfarcei bem a dor de estar me mexendo, mas precisava deitar no peito dele pelo menos por alguns minutos, o máximo que eu aguentasse. Ele se deitou no espaço que eu deixei para ele e eu deitei minha cabeça no peito dele, fiquei ouvindo o coração dele por alguns minutos, até que ele retirou uma linha de lã vermelha de uns trinta centímetros e ficou olhando para ela, não entendi porque ele estava com aquilo na mão e então perguntei:

— Porque está com essa linha na mão.

— Quero te contar uma história Alice. Uma lenda oriental.

— Pode contar! – respondi ansiosa.

— Calma, não pode ser afoita assim, precisamos criar um contexto.

— Então crie seu contexto.

Kei sorriu e amarrou uma ponta da linha no meu dedo mindinho e a outra ponta ele enrolou no dedo dele. Depois de ter feito isso, começou a narrar a história:

— No oriente, ali no Japão, China e afins, existe uma lenda que diz, que um Deus, chamado Xia Lau Yue, une as pessoas com um fio vermelho em seu dedo mindinho, para que fiquem juntas unidas para um amor eterno. Esse fio é inquebrável, ele pode se emaranhar, desfiar, esticar, mas nunca se romper. A pessoa que tem o fio vermelho só será feliz com a pessoa que estiver na outra ponta do fio e vice e versa. O Deus diz que um encontro é normal, mas o reencontro é o destino.

Olhei a linha que ele amarrou nos nossos dedos e sorri dizendo:

— Então isso quer dizer que...

Kei me interrompeu dizendo:

— Da primeira vez que te vi, senti uma felicidade fora do normal. Quando eu te encontrava era sempre assim, você mudava meu dia com um sorriso. Mas ai eu precisei ir embora. Vim a negócios para o Brasil de novo no Rio de Janeiro para não encontrar você, em um Iate privado para finalizar meu negócio e voltar para o Japão até que te vi andar na minha direção e eu senti toda aquela felicidade de novo, foi a primeira vez que eu senti que talvez essa lenda, pudesse ser real pra mim.

Eu sorri boba quase tudo que o Kei dizia tinha esse efeito sobre mim. Mesmo com dor me esforcei para olhar nos olhos dele e dizer:

— Eu nunca fui feliz até te conhecer.

— Se eu soubesse que alguém tão linda e tão maluca estava me esperando para ser feliz do outro lado do mundo, já teria vindo correndo para te encontrar mais cedo.

— Se eu soubesse teria ido te buscar no Japão. Nadando se fosse possível.

— Não duvido disso.

Nós dois rimos enquanto brincávamos com o fio e então Kei amarrou o fio no meu dedo anelar e disse:

— Casa comigo.

Lembrar daquilo me deu náuseas. Eu tive que vomitar, vomitei na lixeira e fiquei tonta. Lydia me ajudou a voltar para cama dizendo com uma voz alterada e desesperada:

— Você está viva, Alice. E isso é ótimo. Tem mais uma coisa que... Seu pai pediu para que eu não te contasse, mas eu não acho justo que ele faça isso com você.

— Calma Lydia! O que foi?    

— Você está grávida, Alice. E o seu pai não queria que você soubesse. Não até você se estabilizar emocionalmente.

— Quanto tempo?

— Seis semanas. Mas Alice, pelo amor de Deus eu não te falei nada...

— Falar o quê, Lydia? Que meu filho está de seis semanas? Eu já sabia que estava grávida, fiquei sabendo no pré-nupcial.

— Sério Amiga! E não me contou!

Lydia me abraçou e agora meu desabafo.  Às vezes tenho dificuldade em entender se a Lydia é burra ou se finge e isso me tira do sério. Eu sabia que meu pai estava do outro lado da porta ouvindo tudo, para não complicar Lydia eu disse aquilo. 


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Notas finais do capítulo

E novamente, sou aberta a críticas construtivas ^.^



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